sábado, 3 de junho de 2017

FEITA POR ENCOMENDA

Nota 5,5 Longa se apoia no carisma da protagonista e trata superficialmente tema científico

O assunto de bebês do tipo “produção independente” hoje é debatido com mais naturalidade, mas ainda assim não deixa de ser um tabu. Imagine então falar disso duas décadas atrás. Para afugentar o fantasma da polêmica, nada melhor que trazer a temática para o campo do humor, embora qualquer questão científica seja descartada ou minimizada em Feita por Encomenda, um filme que claramente se sustenta em cima do carisma e talento de Whoopi Goldberg que dá vida à Sarah Matthews, a politizada dona de uma livraria na Califórnia especializada em cultura africana. Ela sempre quis ter filhos, mas acabou ficando viúva antes de conseguir engravidar. Não se importando em enfrentar as dificuldades de ser uma mãe solteira, ela acabou recorrendo a um banco de sêmen para realizar seu sonho e de uma inseminação artificial nasceu Zora (Nia Long). Como a maioria dos casos do tipo, é óbvio que na adolescência a menina começa a questionar sua origem, a diferença é que até então ela nem desconfiava que fosse filha de pai desconhecido. A descoberta foi por um acaso. Durante uma pesquisa escolar, ela descobre que seu tipo sanguíneo não corresponde com a junção do sangue da mãe com a do falecido marido. Como toda comédia romântica tradicional, são perceptíveis só de ler a sinopse todas as peças necessárias para fazer essa engrenagem funcionar. Após muito esforço, Zora consegue arrancar a verdade de Sarah, fica em meio a uma crise de identidade e encasqueta de saber quem foi o doador do material genético. Muito facilmente ela chega até o laboratório onde foi gerada, arma um plano para ter acesso ao banco de dados e então mais uma surpresa... Para a filha e também para a mãe. A comerciante havia requisitado o sêmen de um homem negro, alto e inteligente. Bem, realmente lhe conseguiram um doador alto, talvez inteligente, mas de pele branca. Ele é Hal Jackson (Ted Danson), um vendedor de carros falastrão e metido a conquistador que chega até a dar uma cantada de leve em Zora, mas quase tem um colapso quando descobre que ela é sua filha. Ao ver o tipo de pai que tem, a menina se decepciona e sua mãe fica enfurecida pelo erro do laboratório, mas já que agora toda a verdade veio à tona o melhor seria tentar a convivência pacífica.

O roteiro de Holly Goldberg Sloan aposta em situações clichês, mas que acabam funcionando nas mãos do improvável casal protagonista. Aliás, o romance da ficção acabou tornando-se realidade e os atores namoraram durante algum tempo, o que explica a química convincente entre seus personagens que tentam várias vezes estabelecer uma relação harmoniosa em prol da felicidade de Zora. No entanto, sempre alguma coisa surge para atrapalhá-los, seja a diferença de temperamentos e ideias, o jeito namorador dele e a seriedade dela ou literalmente serem atropelados pelos animais que Hal insiste em contratar para “atuarem” com ele nas propagandas de sua loja. De qualquer forma, o final feliz está garantido para todos. Bem, Sloan tenta surpreender oferecendo uma leve reviravolta próximo da conclusão, mas nada muito mirabolante afinal o longa nasceu com todas as características de uma legítima sessão da tarde. O diretor Richard Benjamin tinha experiência no gênero familiar, já havia dirigido Um Dia a Casa Cai e Minha Mãe é uma Sereia, por exemplo. É uma pena que o inocente rótulo de produto livre para todas as idades diminui o impacto de Feita por Encomenda, já que, mesmo superficialmente, este é um dos primeiros filmes da História do cinema norte-americano a abordar de forma espontânea e natural as relações inter-raciais, ou seja, sem levantar bandeiras acerca de preconceito. Apesar da exigência da protagonista que o pai de sua filha fosse negro, uma forma de colocar seu falecido marido nesta vaga e evitar problemas com Zora futuramente, em nenhum momento a questão da cor de pele é apresentada como empecilho para Sarah e Hal ficarem juntos. Simplesmente o destino é um pouco travesso com eles. Em tempo: apesar das atenções serem voltadas para Goldberg, então colhendo os louros de Mudança de Hábito, quem rouba a cena é Will Smith em um de se seus primeiros filmes vivendo o melhor amigo de Zora que tenta ser promovido ao posto de namorado. Sua sequência ajudando a jovem a se infiltrar na clínica de reprodução é impagável.

Comédia romântica - 110 min - 1993 

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