segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

POLLOCK

NOTA 7,0

Ed Harris se preparou por
vários anos para interpretar
 artista plástico pouco conhecido
e para estrear como diretor
A vida de grandes pintores já foi retratada pelo cinema que frequentemente também abre espaço para conhecermos artistas que tiveram sua importância, mas cuja obra o tempo tratou de apagar da memória coletiva. Infelizmente o mesmo destino é dado à muitas versões cinematográficas que se propõem a invadir a intimidades desses criadores e apresentar ao mundo um pouco de seus trabalhos. Infelizmente foi esse o caminho trilhado por Pollock, drama que deu o Oscar de atriz coadjuvante para Marcia Gay Harden e que marca a estreia na direção do ator Ed Harris que também atua no filme fazendo o protagonista, o artista plástico Jackson Pollock que revolucionou a pintura ao abdicar dos pincéis e passar a utilizar diversos objetos para espalhar as tintas de forma desorganizada, assim cada traço ou borrão em suas telas eram únicos e com texturas variadas, uma técnica moderna que acabou virando moda décadas mais tarde.  Mostrando competência na frente e atrás das câmeras, Harris levou cerca de dez anos para realizar este projeto que também produziu, o tempo necessário para conseguir um modesto orçamento, mas principalmente para que ele se sentisse pronto para encarar a complexa personalidade do artista e o fato de ser o centro das atenções de um trabalho, visto que sua carreira é pautada em cima de atuações coadjuvantes elogiadas. Este trabalho é bem pessoal e ele se entregou totalmente a dura rotina de atuar e dirigir ao mesmo tempo e se arriscou ao decidir levar para o cinema um pouco da história de um dos maiores nomes da pintura moderna norte-americana. Além de estar exposto as várias críticas tão comuns às cinebiografias devido aos exageros, contemplações ou omissões que esse tipo de produção exige para se tornar viável, o ator também já devia estar preparado para as fracas bilheterias afinal Pollock para muitas pessoas era um desconhecido até então e pelo visto continua na mesma situação, só assim para explicar as dificuldades para encontrar ou até mesmo a ausência do título no mercado. É a lei da demanda e da oferta ou os resultados negativos do inverso desta regra mostrando seu poder. Baseado no livro “Jackson Pollock: An American Saga”, de Steve Naifeh e Gregory White Smith, também roteiristas do filme, a trama se concentra em um período profissional peculiar de Pollock, produtivo, mas ao mesmo tempo de certa forma fracassado, e sua relação com a mulher Lee Krasner (Marcia Gay Harden), também artista plástica e uma espécie de agente do pintor.

O longa se passa na década de 1940 em Greenwich Village, um bairro boêmio de Nova York, mas naquela época o artista era ainda pouco conhecido e vendia uma ou outra obra de arte. Talvez esse fracasso profissional o tenha levado ao alcoolismo, mas esse fato aliado ao seu egoísmo, um ponto comum entre vários pintores, só o afundavam ainda mais. As coisas mudam quando ele conhece Lee que confirma a teoria que sempre existe uma grande mulher atrás de um grande homem. As obras dos dois seriam expostas em uma mesma mostra e ela desejava conhecer o estilo de trabalho de seu contemporâneo. Maravilhada com o que viu no apartamento do artista, Lee acaba colocando a vida profissional do companheiro em ordem incentivando-o a produzir mais telas e agendando exposições e outros eventos. De quebra, ela ainda tentava transformar a rotina pessoal dele afastando-o do vício em bebidas, um problema que o levava a cometer atos impensados em público que poderiam arruinar sua imagem. O filme segue cerca de dez anos da vida de Pollock até o seu reconhecimento por uma grande revista e os críticos em geral, mas o final não é feliz. Qualquer pesquisa na internet com seu nome revelará a conclusão desta história. Em um fatídico acidente de carro em 1956 ele falece, porém, suas obras ficaram como lembranças e registros de um importante período da História da arte americana, quiçá mundial. O pintor ficou famoso com telas que se assemelhavam ao estilo moderno de artistas cubistas e surrealistas. Os especialistas diziam que ele nada mais fazia que misturar técnicas dessas duas vertentes das artes plásticas, mas anos mais tarde reconheceram seus trabalhos como representantes do expressionismo abstrato. Bem, a opinião das pessoas que sempre procuravam explicações e significados em seus borrões de tintas o deixavam irritado afinal cada um compreende uma obra de arte de forma diferente do outro e não é necessário entender o desenho conforme as ideias do criador. Os significados são inúmeros e suas percepções dependem de fatores externos, culturais e emocionais individuais, as mesmas condições que ditam como um mesmo filme pode provocar diversas reações, como neste caso em que a obra de Harris agrega elogios e críticas negativas em proporções razoavelmente semelhantes.

Apesar de Harris idolatrar o trabalho de Pollock, ele não o poupa e apresenta um retrato fiel enfatizando suas fraquezas e defeitos detalhadamente, mas os melhores momentos tanto de sua porção ator quanto de diretor são revelados quando o enfoque é o agressivo e ao mesmo tempo poético processo criativo das telas, diga-se de passagem, algumas com suas etapas de confecção captadas desde o zero até o resultado final. Como já dito, o pintor não utilizava pincéis ou ao menos não da maneira comum. Para extravasar suas emoções ele trocava as vezes as pinceladas pelo gotejamento de tinta e comumente usava facas, pás, pedaços de madeira e até areia para criar efeitos diferenciados à produtos únicos, praticamente impossíveis de serem replicados. A técnica ficou conhecida como action painting e é a essência do expressionismo abstrato que por sua vez expõem as ideias do artista por meio de imagens distorcidas. Por conta deste enfoque, obviamente a parte artística deste trabalho é primorosa. Além da bela fotografia, a trilha sonora e até mesmo os figurinos e cenários ajudam a compor um retrato fiel da época. Aliás, o estilo de roupa do casal protagonista foi minuciosamente estudado, pois eles eram considerados ousados também nas vestimentas para os padrões vigentes. Mostrando muito bem o contraponto da fúria e do êxtase do pintor quando em meio as suas criações e nos momentos em que se entregava ao vício do álcool para esquecer seus problemas, Pollock consegue escamotear o tom triste e melancólico da história verídica e imprimir certo colorido à trama, até porque Harris foi esperto e evitou os clichês de mostrar possíveis dramas e traumas que marcaram a infância e a juventude do artista plástico, preferindo concentrar as atenções em sua fase mais madura o que nos leva a crer que sua personalidade inconstante em partes é reflexo da pobreza de seu presente e da falta de expectativas para o futuro. Não foi preciso jogar as cores na tela de forma intencional para esconder a melancolia dos fatos.  A vida que elas cedem a qualquer produção estava lá, mas as tintas e as telas neste caso são elementos cênicos indispensáveis e o cineasta de primeira viagem conseguiu tirar bom proveito disso explorando adequadamente os momentos criativos de Pollock e sua inclusão no high society artístico com direito a aparição de nomes importantes do meio entre os anos 40 e 50. Pena que hoje o filme é raríssimo e usufrua dos tons acinzentados do ostracismo.

Vencedor do Oscar de atriz coadjuvante (Marcia Gay Harden)

Drama - 117 min - 2000 

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