segunda-feira, 1 de julho de 2019

FROZEN - UMA AVENTURA CONGELANTE

NOTA 9,0

Disney reinventa conto clássico
apostando em personagens com 

conflitos realistas e brincando com os
próprios arquétipos que fizeram sua fama
Branca de Neve, Cinderela, Aurora, Ariel, Bela e Jasmini. A Disney fez e continua fazendo história e fortuna com tais princesas que se tornaram praticamente propriedades intelectuais e comerciais da empresa. Por mais que os seus contos tenham se tornados populares em todo o mundo e sofrido diversas modificações, dificilmente alguém consegue imaginar essas personagens com traços e personalidades diferentes dos apresentados pelas animações clássicas criadas pela casa do Mickey Mouse. O estúdio procurou depois trabalhar com textos originais ou adaptar contos com temáticas adultas, mas a ousadia culminou em um período muito ruim para a empresa que só conseguiu se recuperar ao se aliar a produtora Pixar. Apesar da união com a companhia famosa por suas animações moderninhas e com aventuras que aparentemente se encaixam melhor ao universo dos meninos, a ala legitimamente disneymaníaca defendia um retorno às origens afinal de contas o que não falta é conto de fadas na fila de espera para ser eternizado com a assinatura da produtora.  A Princesa e o Sapo foi um teste não muito bem sucedido. Enrolados e Valente provaram que os contos de fadas com algumas atualizações podem sim cair nas graças do público. Já Frozen – Uma Aventura Congelante veio para coroar definitivamente este bom momento para a Disney e mais uma vez reafirmá-la como grande produtora de desenhos animados. Inspirado no conto “A Rainha da Neve”, mais uma obra clássica do dinamarquês Hans Christian Andersen, o enredo acompanha os passos de Anna, uma garota otimista e corajosa, que embarca em uma aventura repleta de perigos e emoções para tentar reverter o severo inverno provocado por sua irmã mais velha, Elsa, que nasceu com o dom (ou talvez maldição) de fazer frio e gelo. No passado, acidentalmente, a chamada Rainha da Neve acabou ferindo a caçula que quase morreu congelada. Depois desse fato, seus pais a condenaram a um período indefinido de reclusão até que ela conseguisse controlar seus poderes e os trolls, seres mágicos que habitam a floresta, se viram na obrigação de apagar a memória da pequena Anna para evitar traumas. Anos mais tarde, os reis de Arendelle faleceram e seguindo a tradição a filha mais velha deveria assumir o trono. Sob pressão, Elsa até tentou uma reaproximação com suas origens, mas sem querer acabou provocando um novo acidente e então decidiu se refugiar ainda mais e partiu para as montanhas aceitando a solidão como seu destino. Anna, que cresceu lamentando a ausência da irmã em sua vida, só soube de toda a verdade sobre o drama de Elsa agora com esta nova decisão de reclusão e então decide ir a sua procura para provar a ela e a todo o reino que o seu dom peculiar não a transforma em um monstro que precisa se esconder eternamente, só era preciso aprender a dominá-lo e vencer seus próprios medos.

O longa se sustenta no contraste entre estas personagens, a coragem de uma duelando com a fraqueza da outra. A própria caracterização delas trata de reforçar estas características, sendo Anna dotada de cabelos ruivos que fazem alusão a sua impulsividade enquanto Elsa tem madeixas loiras em tom próximo do branco refletindo a sua frieza tanto sentimental quanto literal. Todavia, estas irmãs separadas por força das circunstâncias se completam e conferem certo ar de ineditismo a este trabalho roteirizado por Jennifer Lee, de Detona Ralph, que assina também a direção, mas dividindo tal crédito com Chris Buck, de Tá Dando Onda e que já havia feito para a Disney Tarzan. No conto original, datado de 1844, a trama gira em torno da secular batalha entre o bem e o mal sendo que duas crianças unem forças para vencer os feitiços da vilã que desejava ver o mundo coberto de neve por toda a eternidade. Já a versão atualizada da fábula descarta o surrado gancho do mocinho combatendo um vilão inescrupuloso para investir em uma narrativa com temas mais ousados como autoimagem, preconceito, valorização da família e livre arbítrio, além de abordar como o medo pode destruir a vida de alguém, assim a obra é um prato cheio para todas as idades se emocionarem, se divertirem e tirar algumas boas lições. A opção por uma dupla de protagonistas ao invés de um casal romântico é mais um ponto a favor da fita. Anna e Elsa têm personalidades fortes e costumam errar como qualquer pessoa, passando longe do perfil bibelô de louça das antigas princesas Disney que simplesmente sonhavam com um bom casamento, assim a empatia com o público é bem mais fácil de ser atingida. Enquanto a irmã mais nova tropeça, se descabela e dá seus chiliques demonstrando suas imperfeições com total naturalidade, Elsa mostra-se uma personagem um tanto complexa, duelando consigo mesma tendo que reprimir o desejo de levar uma vida normal, mas ciente de que seu isolamento teoricamente seria o melhor para ela e todos os habitantes de Arendelle. Aliás, o momento em que ela toma tal decisão é icônico. Acompanhada de uma bela canção, a sequência mostra a felicidade, ainda que passageira, de Elsa ao poder finalmente se libertar de amarras vivendo longe de todos. O problema é que toda vez que ela extravasa suas emoções, positivas ou negativas, ela libera gelo ao seu redor, mas neste caso sua catarse era tamanha que acabou por trazer um inverno rigoroso para todo o reino e assim surge o citado pretexto para a reaproximação das irmãs. Além de querer a correção das estações do ano, Anna quer tentar tirar a Rainha da Neve de seu mundo literalmente gelado. A introdução de canções ao longo de toda a narrativa, diga-se de passagem, deve ter sido uma forma que os diretores encontraram para manter a tradição Disney agora que a empresa tem como um dos chefes de criação John Lesseter, o homem que revolucionou o campo da animação com Toy Story e companhia bela da Pixar.

Parece que a cada novo trabalho os estúdios estão conseguindo acertar ainda mais o passo unindo o clássico ao moderno com perfeição. As músicas adicionadas aqui não são descartáveis, pelo contrário, ajudam a contar a história de maneira leve e empolgante. Por ser inspirada em um conto de fadas, é óbvio que clichês não faltam afinal é uma trama que basicamente depende de arquétipos pré-estabelecidos para se sustentar, característica que casa muito bem com os ideais instaurados pelo Sr. Walt Disney para guiar os trabalhos de sua companhia. Assim batem ponto maldições, traições, encantos, animais falantes e criaturas dotadas de inteligência, além é claro de príncipes. Sim, os mocinhos galantes também estão presentes, mas assumem posição secundária no enredo. Hans é o príncipe da vida de Anna, um rapaz que ela conheceu repentinamente e não pensou duas vezes antes de elegê-lo sua alma gêmea. Como cresceu como se fosse filha única, a garota foi cercada de mimos e praticamente viveu enclausurada em seu castelo, assim desenvolvendo certa ingenuidade e necessidade de contato humano. É aí que sentimentos o dedinho da Pixar na obra. Diante de um amor arrebatador em tão pouco tempo as expectativas tendem a ceder pela mesmice do gancho, mas aos poucos uma reviravolta começa a ser trabalhada. Outros personagens passam a questionar a jovem sobre a furada em acreditar que a felicidade eterna pode estar em um casamento com um estranho. Aqui e ali se fala no poder do beijo de um amor verdadeiro, mas a ideia é fazer graça com as convenções narrativas que a própria Disney ajudou a perpetuar, assim constantemente o longa prega algumas boas peças, mas não descarta um triângulo amoroso. Durante a peregrinação até o esconderijo da irmã, Anna ganha a companhia do excêntrico e destemido vendedor de gelo Kristoff e obviamente o convívio mais próximo com outro homem a fará repensar na ideia de se casar com Hans, este que tem um segredo que provocará mais uma reviravolta na trama. Completam o time de coadjuvantes a simpática rena Sven e o boneco de neve Olaf, uma criatura que apesar do comportamento humanizado parece não ter a consciência de que seu fascínio pelo calor pode também representar sua morte. Criado e esquecido por Elsa, o boneco sofre de carência e está sempre em busca de um abraço quentinho. Além dos personagens dotados de personalidades mais realistas, o filme ainda é um primor visualmente. Trabalhar com boa parte das cenas desenvolvidas em cenários brancos não é fácil e é comum que as imagens se tornem chapadas, mas neste caso houve uma preocupação de criar em cima da neve. Aqui existe profundidade, um belo castelo de gelo e florestas e até um lago congelado, todas concepções visuais ricas em detalhes. Os poucos momentos de verão são representados com cores vibrantes enquanto os passados no frio tem a baixa sensação térmica acentuada com detalhes cênicos e figurinos em tons sóbrios. Realmente o filme nos faz dispensar um sorvete ou suco geladinho, mas nos faz sonhar com uma xícara de chocolate quente ou pipoca para acompanhar um programa delicioso que prova que uma receita antiga pode muito bem servir aos tempos contemporâneos, basta alguns ajustes. Frozen – Uma Aventura Congelante pode caçoar levemente da paixão à primeira vista entre um homem e uma mulher, mas nos faz lembrar que existem outras formas de amar tão importantes quanto, como o amor a si mesmo ou aos laços de sangue.

Vencedor do Oscar de animação e canção

Animação - 103 min - 2013

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