sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

BANQUETE NO INFERNO


Nota 7,0 Dentro de sua proposta, longa é um divertido revival do melhor do cinema trash 

As produções de horror trash foram bastante presentes nos anos 1980 sendo que muitas conseguiram espaço nas salas de cinema e tornaram-se clássicas dentro do universo do terror. Muito sangue, escatologia, vísceras e tudo o mais de nojento que poderia se imaginar era usado para causar medo e repulsa, mas ao mesmo tempo divertir com os absurdos das situações proporcionadas. Com público cativado, a partir da década seguinte esse subgênero acabou ficando mais restrito às videolocadoras onde não sofriam tantas restrições quanto a idade de quem poderia assistir. Mesmo assim, com o tempo produções do tipo passaram a ser cada vez mais escassas e devido a lançamentos restritos muitas pérolas não renderam o que podiam, seja financeiramente como também de repercussão. No entanto, o público está sempre se renovando não só em quantidade como também em questão de estilos como prova Banquete no Inferno, um verdadeiro deleite aos amantes de trash movies acrescido de certa dose de inovação.

Toda a ação se passa dentro de um decadente bar perdido no meio do deserto texano frequentado por tipos repugnantes. A introdução apresenta cada um deles congelando a imagem em seus rostos seguida de uma breve descrição de seus perfis. Chama atenção o fato dos personagens serem chamados por opções sugestivas às suas personalidades ou gostos como a mãe motoqueira (Diana Ayala Goldner) ou a torta de mel (Jenny Wade). É citada também a expectativa de vida de cada um deles já antevendo que a noite mostrada no filme será de contagem alta de corpos. A aparente tranquilidade dos bêbados, fracassados e pervertidos que frenquentam o local é alterada com a repentina chegada de um casal em pânico pretensiosamente chamado de heróis (Navi Rawat e Eric Dane) dizendo que sofreram um acidente de carro e foram atacados por estranhas criaturas que estão seguindo rumo ao bar e sedentas por carne humana.

Com um grupo de estranhos enclausurado num mesmo local e correndo riscos já sabemos o que esperar do desenrolar da trama. Eles precisam se unir para acharem uma maneira de fugirem em segurança, mas é óbvio que em um grupo tão diverso o caos se instaura entre eles mesmos com alguns querendo bancar os heróis, outros histéricos e também aqueles descrentes que minimizam a situação. Talvez a ameaça do lado de fora do bar seja mais inofensiva que a loucura humana que explode ante o choque da conivência forçada com estranhos, contudo, não espere aprofundamentos do tema. O roteiro de Marcus Dunstan e Patrick Melton desde o início já mostra que não deve ser levado a sério e não há lógica para a situação proposta. Tudo é uma grande desculpa para ver um grupo de pessoas se ferrando e tentar descobrir quem sobreviverá. É preciso ter estômago forte para aturar o gore e a violência gráfica bastantes explícitos, algo curioso visto que a fita é produzida pelos atores Matt Damon e Ben Aflleck que sempre fugiram do estilo. A dupla na época colaborava com um projeto para bancar trabalhos de cineastas estreantes, no caso John Gulager que depois dirigiria as continuações de O Colecionador de Ossos e também do remake de Piranha.

Por outro lado, também como produtor assina Wes Craven, mestre em terror, assim dando o aval para seu pupilo não ter pudores. Gulager então investiu pesado em efeitos artesanais para gerar cenas de ataques e de mortes impactantes sendo uma mais bizarra que a outra. Ninguém é poupado de ao menos algumas feridas com chances de infeccionar e até os estereótipos que costumam sobreviver em produções do tipo podem surpreendentemente não sobrarem para contar história. E o que queremos mesmo é que todos sejam devorados, pois o roteiro propositalmente não desenvolve nenhum perfil a ponto de torcermos para que alguém consiga escapar.  Todos são caricatos e figuras recorrentes em produções de horror. Além dos já citados temos também o metido a engraçadinho, a loira burra e gostosa, um deficiente físico, uma criança inocente, o maduro pervertido e marrento entre outro perfis manjados e que dificilmente despertam alguma empatia.

Das criaturas também sobram incógnitas. De onde vieram? O que são? Por que estão justamente no deserto? Delas só sabemos a respeito de seus apetites vorazes e que podem se reproduzir de forma instantânea como mostra uma cena cômica e asquerosa. Brincando com clichês e com ritmo frenético, o filme é de fato uma pedida e tanto para apreciadores do estilo trash e ainda com o humor negro e sarcástico como acompanhamento. Apesar de ser uma obra relativamente desconhecida, ainda gerou duas sequências que acabaram encontrando dificuldades para serem lançadas na maioria dos países, inclusive o Brasil. Acaba sendo um caso curioso.  Banquete no Inferno  é o tipo de filme certo, mas produzido na hora errada. Trata-se de uma narrativa das mais toscas e repleta de exageros, praticamente um revival de lembranças para os amantes do estilo. 

Terror - 95 min - 2005

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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