quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O ARTISTA

NOTA 9,0

De origem francesa, preto e branco
e sem um único diálogo sequer, obra
que homenageia o cinema agrada por sua
ousadia e ao mesmo tempo simplicidade
É curioso, mas em plena época em que muitos cineastas, produtores e estúdios passaram a investir pesado em histórias mirabolantes ou tecnologias de ponta e efeitos 3D para atrair o público de volta às salas de cinema ou até mesmo para injetar algo a mais na campanha publicitária de produções deficientes, muita gente do meio cinematográfico se uniu ao coro de críticos do mundo todo para exaltar O Artista, uma surpreendente obra com tom nostálgico que teria tudo para ser pisoteada por onde passasse. Isso na base do preconceito é bom deixar claro. Só vendo para crer no que este trabalho significa, principalmente para os dias atuais em que a arte cinematográfica está tão debilitada e requentada. Filmado em preto e branco, de origem francesa e sem um único diálogo durante toda sua duração, parece até que estamos falando de um daqueles filmes clássicos que vez ou outra são restaurados para serem relançados em cinematecas e salas alternativas, mas o trabalho originalíssimo do cineasta Michel Hazanavicius conseguiu preencher até mesmo as salas multiplex dos shoppings centers. Claro que isso graças às dezenas de premiações que recebeu. De todos os festivais e eventos dos quais participou a obra saiu ao menos com um troféu de lembrança, tendo sua apoteótica consagração no Oscar 2012 que curiosamente não lhe reservou uma das vagas para Melhor Filme Estrangeiro, mas cedeu à obra nada menos que dez indicações das quais cinco transformaram-se em estatuetas douradas, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. Apesar de sua origem francesa, o longa é praticamente uma homenagem à Hollywood dos primórdios do cinema, entre as décadas de 1920 e 1930, um tempo em que uma imagem literalmente valia mais que mil palavras. Hazanavicius arquitetou seu trabalho com muito cuidado para fazer o espectador se sentir feliz ao final da projeção e sonhando com um mundo idílico, uma época que infelizmente não volta mais. Apesar do caráter onírico, o enredo enfoca fatos reais e muito importantes tanto para a História da sétima arte quanto para compreendermos a modernização do mundo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O DESTINO DO POSEIDON

NOTA 8,5

Clássico representante dos tempos
áureos dos filmes-catástrofes, longa
ainda prende atenção com ótimo enredo
e atuações e efeitos visuais convincentes
Virada de ano é tempo de festejar, fazer pedidos e renovar a esperança crente que um novo tempo começará a partir de 1º de janeiro. Nessa excitação de momento, provavelmente nem os mais pessimistas tem tempo ou motivação para pensar que o pior pode acontecer poucos minutos após os estouros de champanhes e do show dos fogos de artifício. Já pensou você estar em um luxuoso transatlântico, curtindo um festão e de repente virar literalmente de cabeça para baixo e ser arrastado para o teto do salão? Pois é isso que acontece durante os festejos de ano novo retratados em O Destino do Poseidon, clássico representante dos filmes-catástrofes, subgênero tão popular na década de 1970. Ele é a prova que para fazer cinema do tipo não é preciso se tornar refém de efeitos especiais de ponta. Basta ter uma boa história para contar e criatividade em sua condução para fisgar o espectador. A trama em si é das mais simples. Durante a noite de reveillon o imponente Poseidon, um tipo de hotel de luxo flutuante, está transbordando (sem trocadilhos) de passageiros que no melhor da festa são surpreendidos com um intenso sacolejar por conta do impacto de uma onda gigantesca que deixa o navio totalmente virado de cabeça para baixo. Dezenas de pessoas morreram na hora, inclusive a tripulação da cabine de comando o primeiro local a ficar submerso, mas muitas sobreviveram e se viram isoladas dentro do salão principal que em um primeiro momento parecia a prova d'água. Contudo, não tardaria para o local ser invadido por uma enxurrada e um pequeno grupo liderado pelo reverendo Frank Scott (Gene Hackman) decide que aguardar resgate era perda de tempo e o melhor seria procurarem por conta própria uma saída. Assim eles se aventuram pelas entranhas da embarcação tentando subir rumo ao casco que ainda está boiando na superfície, mas o tempo está contra eles. Como para a maioria dos espectadores a estrutura de uma embarcação é desconhecida, poucos conhecem até mesmo os ambientes comuns que dirá tudo que necessita para sua engrenagem funcionar, a sensação de pavor é intensificada. A cada desafio vencido não há sensação de alívio e sim a preocupação do que está por vir.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

CRUPIÊ - A VIDA EM JOGO

NOTA 6,0

Apesar da premissa batida
envolvendo o universo dos
cassinos, longa ganha pontos com
o refinamento do texto e direção
É curioso como filmes acerca do mundo dos jogos de azar conseguem chamar a atenção principalmente dos chamados cinéfilos de final de semana, mesmo sendo uma temática bastante fechada. Claro que existem nichos de pessoas que conhecem as regras das roletas, carteados e afins, mas a grande maioria é alheia a esses assuntos, principalmente pelo fato dos cassinos serem proibidos no Brasil, assim não sendo uma atividade bem vista e frequentemente associada ao submundo dos crimes e drogas. Crupiê - A Vida em Jogo de certa forma reitera tais preconceitos, mas faz isso com certo refinamento. Na trama escrita por Paul Mayesberg, de O Último Samurai, os gêneros drama, thriller e policial se mesclam de maneira um pouco disforme, mas compensa com um estilo sóbrio que combina com o estilo do protagonista, um homem que também de maneira cautelosa planeja seus passos para se dar bem, mas acaba envolvendo as pessoas que o cercam em ciladas. Jack Manfred (Clive Owen) sonha em se tornar um escritor de sucesso, mas em meio as suas tentativas para publicar seu primeiro romance acaba afogando-se em dívidas. Ele fica sabendo sobre uma vaga de emprego em um cassino londrino como croupier, mas ele tinha prometido a si mesmo que não se meteria mais com jogatinas. Contudo, as dificuldades o forçam a correr atrás deste emprego e, diga-se de passagem, seu desempenho surpreende dia após dia, sem essa de sorte de principiante, mas sua namorada Marion (Gina McKee) insiste para que ele peça demissão e retome a carreira literária. Mal sabe ela que seu companheiro está nesse negócio justamente para observar os frequentadores do cassino e se inspirar para escrever um novo livro sobre um assunto que domina. Não demora muito para que Manfred se desvirtue, principalmente quando se envolve amorosamente com Bella (Kate Hardie), uma colega de trabalho, ao mesmo tempo que não resiste as investidas de Jani (Alex Kingston), uma jogadora que lhe faz uma ousada proposta. Ela quer a ajuda do rapaz para acobertar um grupo de criminosos em um plano para roubar a casa de jogos. Por fim, todas essas experiências o inspiram a escrever a história do croupier Jake, claramente seu alter ego.

domingo, 27 de dezembro de 2015

KATE E LEOPOLD

Nota 6,0 Carisma dos protagonistas ajuda a manter interesse por comédia romântica fantasiosa

Meg Ryan tem uma trajetória profissional mais ou menos como a de Julia Roberts. Seu terreno seguro é o gênero romântico e seus filmes já tem público cativo, talvez por isso elas tenham se tornado símbolo do cinema lucrativo da década de 1990, mas ambas hoje em dia já não estão no mesmo patamar de outrora. A diferença é que a loira de olhos claros não conseguiu transitar bem por outros estilos de filmes e acabou criando raízes em um mesmo, motivo que talvez explique o porquê de sua presença nas telas nos últimos anos ser quase nula. Chegam novas safras de atrizes para ocupar sua vaga e ela sofre com a escassez de bons papéis para mulheres maduras. Todavia, mesmo repetindo um personagem que ela praticamente passou a vida toda interpretando, em Kate e Leopold a balzaquiana prova mais uma vez que faz bem aquilo a que se propõe. Ela dá vida a Kate, uma bela e bem-sucedida executiva do mundo da publicidade que vive brigando com seu ex-namorado Stuart (Liev Schreiber). Eles vivem no mesmo prédio e ela implica com as loucuras do rapaz que se dedica a pesquisas científicas. Um dia, ele descobre um portal que acaba acidentalmente transportando de uma época antiga para os tempos contemporâneos Leopold (Hugh Jackman), um nobre do século 19. Sem saber como mandá-lo de volta para o passado e enfrentando alguns problemas pessoais, Stuart abriga em seu apartamento o rapaz que precisa enfrentar as mudanças radicais existentes entre a época que vivia e a que passou a habitar de uma hora para a outra. Kate inicialmente evita contato com Leopold por achar que ele está fazendo algum tipo de brincadeira já que ele se comporta, fala e se veste estranhamente, mas logo ela passa a se sentir atraída pelo seu jeito gentil e romântico. Um homem do tipo é artigo raro e ela obviamente não poderia deixar passar a chance de literalmente ter um príncipe ao seu lado.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

OPERAÇÃO PRESENTE

NOTA 9,0

Família Noel procura modernizar
seu esquema de entrega de presentes,
mas quando há uma falha a salvação
para o Natal pode ser o tradicionalismo
Dia 25 de dezembro, é Natal, e os chatos de plantão podem reclamar a vontade, mas não dá para comemorar a data sem curtir um filminho natalino. Todos sabem o que vamos encontrar neles e talvez seja justamente a repetição de mensagens edificantes o que torna tal programa irresistível em uma época em que a maioria está embriagada pela valorização do espírito de união, amor e solidariedade. Geralmente com roteiros que flertam com o drama e a comédia, basicamente tais obras lidam com o tema da recuperação do conceito original desta data festiva e a animação Operação Presente não foge à regra, mas basta um pouco de criatividade para dar certo ar de novidade à produção. Como o Papai Noel entrega tantos presentes em todo o mundo em uma única noite? Tentando responder a essa pergunta que milhares de crianças certamente fazem todos os anos, este desenho traz toques de modernidade em sua narrativa como uma mega operação de confecção e distribuição de presentes com o que há de mais moderno e o sempre necessário núcleo familiar disfuncional desta vez é representado pelos próprios parentes do bom velhinho. A narrativa nos apresenta à Arthur, o filho do Papai Noel, este que não é um milenário ancião como muitos pensam. Ele é o vigésimo homem de uma mesma linhagem a ocupar a vaga ao longo de mais de mil anos de distribuição de presentes, mas as coisas se complicaram comparando-se os dias de hoje com os primórdios desta atividade. A população mundial cresceu de forma descomunal tornando inviável a entrega de todos os presentes ao longo da madrugada natalina, nem mesmo com todo o clã Noel se esforçando ao máximo. Assim, hoje o aposentado e rabugento Vovô Noel, a prestativa Mamãe, o aficionado por tecnologia Steve, apontado como o sucessor do bom velhinho, o próprio Papai, Malcolm, em seus últimos dias usando a roupa vermelha, e ainda o caçula desajeitado Arthur, além de milhares de elfos, viajam em uma moderna e potente aeronave e comandam uma estratégica operação para entregar os brinquedos, praticamente um plano de guerra. O metódico Steve é quem organiza tudo, contudo, mesmo com todo o seu perfeccionismo as coisas não saem como esperado.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

SOBREVIVENDO AO NATAL

NOTA 7,0

Como toda boa ceia de Natal,
longa conta com situações
tradicionais à produções do gênero
e ratifica mensagens de solidariedade
Todo Natal é a mesma coisa. As pessoas reclamam da correria, dos compromissos, do estresse das compras e do cansaço para os preparativos da ceia e do almoço, mas que atire a primeira pedra quem nunca parou para pensar o quanto seria chato passar esta data sozinho e ignorando tudo que envolva tal festa? Bem, há quem realmente não goste do período natalino e não tem nada que os faça mudar de ideia, mas é certo que muitos preferem esquecer qualquer imagem que lembre ao Papai Noel por causa de lembranças tristes e esse é o ponto de partida de Sobrevivendo ao Natal, comédia que reúne tradicionais elementos de filmes que comemoram a data e exaltam o espírito de solidariedade e a importância da família e amigos, mas que acabou sendo mal recepcionado pela crítica e público americano e consequentemente chegou chamuscado em outros países. A trama gira em torno de Drew Lathan (Ben Affleck), um executivo bem sucedido, mas cheio de problemas emocionais por causa de seu passado humilde e praticamente solitário. Cansado de passar o Natal sozinho ele é aconselhado a voltar à casa em que morou quando criança e assim realizar uma espécie de simpatia para recuperar sua alegria e entusiasmo a respeito da data festiva. O problema é que o tempo só parou de certa forma para o rapaz e agora a residência está ligeiramente modificada e abriga uma nova família, os Valcos. Dizem que tem coisas que o dinheiro não compra, será mesmo? Acostumado a esbanjar dinheiro com futilidades, Lathan não pensa duas vezes e logo propõe uma insólita, porém, tentadora proposta ao clã: oferece um bom dinheiro para que eles finjam serem os parentes que ele nunca teve e lhe proporcionem uma festa natalina tradicional como ele sempre sonhou. O patriarca Tom (James Gandolfini) aceita a ideia numa boa assim como sua esposa Christine (Catherine O’Hara) e seu filho Brian (Josh Zuckerman), mesmo após uma breve hesitação, mas nada que um polpudo cheque não resolvesse. Todo o acordo foi sacramentado com direito a contrato impresso e cláusulas rigidamente estipuladas, mas os Valcos não esperavam que o tal marmanjo iria mudar suas vidas enlouquecendo-os com seus devaneios de família perfeita e tradições natalinas.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

ESTÃO TODOS BEM

NOTA 8,0

Com trama folhetinesca que
mescla estilo de cinema europeu
e independente americano, drama
conquista com temas universais 
O mundo mudou, mas o tempo não apaga o desejo dos pais em verem seus filhos bem encaminhados na vida. Por mais moderninhos que possam ser, que atire a primeira pedra o pai ou a mãe que não sonhou ao menos uma vez com um futuro brilhante para seus pimpolhos, incluindo a escolha da profissão que seguiriam? É a partir dessa ansiedade que se alicerça o drama Estão Todos Bem, versão americana do italiano Estamos Todos Bem dirigido por Giuseppe Tornatore em 1990. Com roteiro e direção de Kirk Jones, do simpático Nanny McPhee – A Babá Encantada, o longa nos apresenta a Frank Goode (Robert De Niro), um sessentão viúvo e aposentado que ocupa seus dias com tarefas domésticas como limpar a casa, cuidar do jardim e fazer compras. Aliás, sua última visita ao supermercado foi especial, pois ele comprou os ingredientes para uma refeição muito aguardada. Além do trivial, escolheu um bom vinho e até comprou uma churrasqueira, tudo para recepcionar com muito carinho seus quatro filhos para um almoço. Depois que se tornaram adultos e cada um seguiu sua vida em um lugar diferente dos EUA, há anos eles não conseguiam se reunir, mas este homem sabe que essa separação não é algo recente. Ele sempre trabalhou em uma fábrica de cabos telefônicos dedicando-se ao máximo para poder dar de tudo do bom e do melhor para sua família, mas só agora que está sozinho se deu conta que ao longo da vida dedicou pouca atenção a eles e não os viu crescer. Contudo, todo entusiasmo de Frank transforma-se em frustração quando cada um dos convidados telefona na véspera do encontro para avisar que não poderá ir mais, cada um com uma desculpa. Todos menos David, esse que nem chegou a justificar sua ausência. Só por esses minutos iniciais o longa já fisga a audiência. Os filhos estariam mesmo com problemas ou o passado da família é que os impedem de tentarem se aproximar do pai? Sejam lá quais forem os motivos, o elo com espectador já está praticamente estabelecido afinal de contas quem nunca passou por uma situação frustrante semelhante? Muitos pais que o digam, mas o amor incondicional paterno passa por cima de qualquer adversidade ou mal entendido e por isso Frank resolve fazer suas malas e viajar para visitar cada um de seus filhotes e em cada porta que bate uma surpresa o espera. Os rostos sorridentes e inocentes de suas crianças foram substituídos por feições abatidas e levemente tristes, mas custa para este senhor à moda antiga compreender que nada mais é como antes e que os planos que traçou para cada um deles não vingaram. A sensação de decepcioná-lo seria o motivo do afastamento destes jovens adultos, mas existe um agravante na situação.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O CASTELO ANIMADO

NOTA 10,0

Após alcançar fama fora do
Japão, Hayao Miyazaki faz
animação com tema universal,
mas mantendo-se fiel ao seu estilo
Você já não aguenta mais a metralhadora de piadas e referências e os personagens hiperativos que compõem a maioria das animações atuais? O traço perfeitinho e as cores fortes também não te impressionam mais? Se você se encaixa nesse perfil, infelizmente a temporada de desenhos quase idênticos nos cinemas já não se restringe mais aos períodos de férias. Todos os meses praticamente há um lançamento com pinta de moderninho, mas que não deixa de trazer uma sensação precoce de déja vu. Ainda bem que as produções mais convencionais, que hoje podem ser vistas como novidades em meio a enxurrada de produtos semelhantes, conseguem achar seu público em DVD. Da mesma forma que Woody Allen tem seus fãs cativos que esperam com ansiedade cada novo trabalho do cineasta, podemos dizer que Hayao Miyazaki ocupa uma posição similar, porém, uma referência exclusiva do campo das animações. Utilizando o mínimo possível de recursos tecnológicos e apostando muito mais na beleza dos traços feitos a mão, o animador há décadas vem construindo uma carreira sólida, mas seu nome só veio a ser conhecido mundialmente e além do circuito alternativo quando ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação por A Viagem de Chihiro. Felizmente o sucesso foi tão grande, tanto entre platéias intelectuais quanto populares, que o mundo todo teve o prazer de assistir seu projeto seguinte, O Castelo Animado, mais um trabalho sofisticado, inteligente e ao mesmo tempo de uma simplicidade ímpar. Aliás, ambos os desenhos, assim como toda a filmografia de Miyazaki, guardam semelhanças visuais inegáveis, mas isso não é um problema. É sempre um prazer acompanhar uma bela narrativa contada através de imagens de encher os olhos e personagens fantásticos que diferem totalmente do maçante estilo de animação que impera atualmente. Não que tais produtos sejam ruins, pelo contrário, existem vários primorosos, mais já chegamos a um ponto que até os temas se repetem ou alguém já se esqueceu da coqueluche que foram os desenhos cuja ambientação era o fundo do mar há alguns anos? Para não puxar a sardinha totalmente para o lado oriental do assunto, é preciso destacar que este filme tem certas semelhanças com o enredo de A Bela e a Fera que apesar de ser um clássico literário teve sua fama imortalizada pela Disney. Contudo, aqui temos uma reunião harmoniosa da maioria dos elementos que compõem um belo conto de fadas. Temos um príncipe, feiticeiras, um castelo, os seres inanimados que falam e uma donzela aparentemente frágil, mas cheia de coragem e determinação. Para quem conhece o estilo do diretor, obviamente já sabe que tais clichês das histórias clássicas são apresentados de maneira muito original, porém, preservando suas essências.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

GÊNIO INDOMÁVEL

NOTA 9,0

Jovem rebelde e terapeuta
ressentido passam a ver a
vida com outros olhos através
da troca de experiências
Os gênios incompreendidos sempre intrigaram a ciência e fascinaram cineastas que enxergaram em diversas histórias verídicas um material fértil para ser transformado em filmes. Curiosamente, um dos trabalhos mais lembrados do tipo nasceu das mentes de dois jovens completamente sadios, mas que se achavam verdadeiros peixes fora d’água no mundo em que viviam. Os hoje mundialmente famosos Matt Damon e Ben Affleck já se conheciam desde a infância e batalharam paralelamente pelos seus espaços no mundo do cinema, mas até meados dos anos 90 só recebiam convites para produções convencionais e na maioria das vezes nas quais os jovens eram retratados de modo estereotipado ou debochado. Juntos eles resolveram criar o próprio roteiro dos sonhos, onde teriam a chance de retratar a geração a qual pertenciam de maneira mais realista, uma turma que tem sonhos, dúvidas, raiva, amor e inteligência, mas que nem sempre encontra apoio para mostrar seus talentos ou ser o que gostaria. O destino ajudou e os escritos chegaram às mãos do ator Robin Williams que fez a ponte para transformar o sonho dos dois rapazes em realidade. Assim começou a trajetória de sucesso de Gênio Indomável, longa que enfrentou com bravura a pressão do Titanic nas principais premiações de 1998 chegando a ser apontado como um forte candidato as principais categorias do Oscar. Para os preguiçosos de plantão é muito fácil ler a sinopse e logo rotular este trabalho como algo no estilo Sociedade dos Poetas Mortos ou tantos outros filmes que lidam com a relação mestre e aprendiz na qual cada uma das partes tem a vida enriquecida com as experiências adquiridas com o convívio com a outra, geralmente pessoas aparentemente sem nenhum vínculo em comum, mas que pouco a pouco vão descobrindo afinidades, lembranças ou problemas que os conectam, todavia, essa premissa neste caso vai além das expectativas. A trama gira em torno de Will Hunting (Damon), um rapaz que trabalha como faxineiro em uma conceituada universidade, mas seu comportamento arredio, sempre se metendo em brigas, respondendo com agressividade e se entregando a bebedeiras acaba por levá-lo à cadeia. É nessa fase que o matemático Gerald Lambeau (Stellan Skarsgard) descobre que o adolescente é dotado de uma Inteligência assombrosa. Mesmo sem nunca ter frequentado as aulas do ensino superior ele é capaz de resolver complexas equações matemáticas que alguns estudiosos da área levaram anos para chegar ao resultado final. O professor sabe que sua descoberta tem potencial para ser reconhecido como um novo gênio, mas precisa domar o rapaz antes de mais nada.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A.I. - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

NOTA 9,0

Spielberg encanta e emociona
com mescla de drama e ficção
acerca de um futuro no qual
a artificialidade impera
Existem filmes que demoram anos para serem lançados não pelo motivo de problemas com a produção, mas simplesmente pelo capricho de seus realizadores na ânsia de criarem um marco cinematográfico. Stanley Kubrick é responsável por obras emblemáticas como 2001 – Uma Odisséia no Espaço e Laranja Mecânica e passava até mesmo anos trabalhando em cima de um mesmo projeto até que o considerasse perfeito, mas ironicamente não viveu para ver sua última criação sair do papel. Já Steven Spielberg se acostumou a lançar filmes em curtos espaços de tempo com produções complicadas alternando com obras mais simplórias, assim agradando as platéias que só querem se divertir e aquelas que desejam um produto com mais conteúdo e de quebra mantendo seu nome em evidência constantemente. Era um sonho de ambos um dia poderem dividir os créditos de uma mesma produção, mas o falecimento de Kubrick jogou a ideia no limbo. Ou melhor, por pouco isso mesmo aconteceu. Como forma de homenagear o colega, o homem que tornou real as imagens de alienígenas e até ressuscitou os dinossauros assumiu as rédeas de A.I. – Inteligência Artificial, um longa que dividiu e ainda divide as opiniões de especialistas e do público.  Kubrick sempre deixou explícito em suas obras, de forma leve ou pesada, idéias pessimistas e apocalípticas quanto a sociedade e o destino da humanidade. Curiosamente partiu dele mesmo a iniciativa de desenvolver um enredo acerca de um menino-robô dotado de emoções que é adotado por um casal para substituir o filho verdadeiro. Baseando-se no livro “Super Brinquedos Duram o Verão Inteiro”, de Brian Aldiss, no final dos anos 70 o cineasta tinha acordado que faria o roteiro, mas entregaria o cargo de diretor à Spielberg que na época já demonstrava uma habilidade ímpar para lidar com efeitos especiais sem que eles se sobressaíssem a emoção. O problema é que a tecnologia disponível na época não permitia as criações tanto de ambientes quanto de personagens cogitadas. As conversas foram retomadas em 1994 após o estrondoso êxito de Jurassic Park que revolucionou o campo tecnológico e nada mais parecia impossível no mundo da sétima arte.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

SIMPLESMENTE FELIZ

NOTA 7,5

Com muita simplicidade e
sensibilidade longa é uma
boa lição de vida que exalta a
felicidade como bem maior
Em qualquer lugar do mundo existe muita gente que é supersticiosa e adora uma simpatia ou uma crendice popular para se apegar quando deseja ter sorte. E isso não é uma regra válida apenas para o primeiro dia do ano para atrair bons fluidos, para alguns é uma necessidade se dedicar constantemente a rituais que prometem auxiliar para conseguir dinheiro, sucesso, amor, saúde, mas no fundo tudo que as pessoas buscam pode ser resumido em uma única palavra: felicidade. A vida de qualquer indivíduo, independente do nível social, é marcada por momentos de tristeza e outros de alegria, sendo que os períodos de insatisfação costumam ser mais constantes, pois faz parte da natureza humana estar sempre almejando alguma coisa para ser feliz. Todavia, ver a vida e os problemas com um olhar mais otimista deveria ser regra básica para todos seguirem dia após dia. É dessa forma que vive a protagonista do filme Simplesmente Feliz, uma produção modesta que mistura drama e humor de forma eficiente, mas se não tem o poder de deixar ninguém extasiado ao menos consegue deixar qualquer um com uma sensação leve e esperançosa ao final. Para trazer a tona tanta sensibilidade para atingir o emocional do espectador, esse trabalho só podia mesmo estar nas mãos de alguém fora da muvuca hollywoodiana. Mike Leigh é um cineasta britânico muito respeitado e premiado que adora lidar com histórias humanas, até mesmo as mais espinhosas como, por exemplo, O Segredo de Vera Drake, uma de suas obras mais famosas e que discute o tema aborto. Depois deste trabalho denso, o diretor resolveu mergulhar em um universo leve e descontraído, uma essência que felizmente o título nacional preservou.  Existe tristeza nas histórias de humor da mesma forma que há espaço para a comédia nos dramas. Basicamente é esse pensamento que moveu Leigh na hora que concebeu o roteiro deste filme aparentemente despretensioso, mas que possui camadas mais profundas assim como sua protagonista que a primeira vista pode parecer um tanto infantil ou inverossímil, porém, uma pessoa comum que apenas deixa o seu bom humor ditar as regras de sua vida.  Poppy (Sally Hawkins) é uma professora de escola primária que é uma otimista incorrigível. Sempre vestida com roupas coloridas, usando muitos acessórios e mantendo um largo sorriso no rosto, ela tenta aproveitar ao máximo sua vida. Por gostar de brincar com situações sérias, ela passa a imagem de ser irresponsável, talvez por isso esteja solteira, e é desse modo que a enxerga Scott (Eddie Marsan), seu professor da autoescola, que não suporta a falta de atenção da moça ao volante e em tantas outras situações. Ela pode estar passando por problemas de relacionamentos ou no trabalho, pode levar várias broncas do instrutor por teimar em dirigir de salto alto ou até mesmo ter sua bicicleta roubada, não importa, Poppy sempre vê as coisas por um lado positivo e gargalha de si mesma e de tudo que lhe acontece diariamente.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

POLLOCK

NOTA 7,0

Ed Harris se preparou por
vários anos para interpretar
 artista plástico pouco conhecido
e para estrear como diretor
A vida de grandes pintores já foi retratada pelo cinema que frequentemente também abre espaço para conhecermos artistas que tiveram sua importância, mas cuja obra o tempo tratou de apagar da memória coletiva. Infelizmente o mesmo destino é dado à muitas versões cinematográficas que se propõem a invadir a intimidades desses criadores e apresentar ao mundo um pouco de seus trabalhos. Infelizmente foi esse o caminho trilhado por Pollock, drama que deu o Oscar de atriz coadjuvante para Marcia Gay Harden e que marca a estreia na direção do ator Ed Harris que também atua no filme fazendo o protagonista, o artista plástico Jackson Pollock que revolucionou a pintura ao abdicar dos pincéis e passar a utilizar diversos objetos para espalhar as tintas de forma desorganizada, assim cada traço ou borrão em suas telas eram únicos e com texturas variadas, uma técnica moderna que acabou virando moda décadas mais tarde.  Mostrando competência na frente e atrás das câmeras, Harris levou cerca de dez anos para realizar este projeto que também produziu, o tempo necessário para conseguir um modesto orçamento, mas principalmente para que ele se sentisse pronto para encarar a complexa personalidade do artista e o fato de ser o centro das atenções de um trabalho, visto que sua carreira é pautada em cima de atuações coadjuvantes elogiadas. Este trabalho é bem pessoal e ele se entregou totalmente a dura rotina de atuar e dirigir ao mesmo tempo e se arriscou ao decidir levar para o cinema um pouco da história de um dos maiores nomes da pintura moderna norte-americana. Além de estar exposto as várias críticas tão comuns às cinebiografias devido aos exageros, contemplações ou omissões que esse tipo de produção exige para se tornar viável, o ator também já devia estar preparado para as fracas bilheterias afinal Pollock para muitas pessoas era um desconhecido até então e pelo visto continua na mesma situação, só assim para explicar as dificuldades para encontrar ou até mesmo a ausência do título no mercado. É a lei da demanda e da oferta ou os resultados negativos do inverso desta regra mostrando seu poder. Baseado no livro “Jackson Pollock: An American Saga”, de Steve Naifeh e Gregory White Smith, também roteiristas do filme, a trama se concentra em um período profissional peculiar de Pollock, produtivo, mas ao mesmo tempo de certa forma fracassado, e sua relação com a mulher Lee Krasner (Marcia Gay Harden), também artista plástica e uma espécie de agente do pintor.

domingo, 13 de dezembro de 2015

EM MEUS SONHOS

Nota 2,5 Romance é amontoado de clichês, incluindo o mundo gastronômico como pano de fundo

O universo gastronômico é um prato cheio para o gênero romântico e Em Meus Sonhos é mais uma pequena fita que o utiliza como pano de fundo para conquistar o paladar, ou melhor, a preferência do espectador, principalmente mulheres jovens mais propensas a fantasias com príncipes encantados. Natalie Russo (Katharine McPhee) e Nick Smith (Mike Vogel) são dois jovens que estão desacreditados quanto a possibilidade de um amor verdadeiro e obviamente o destino dará aquele empurrãozinho para que seus caminhos se cruzem, porém, somente em sonhos. Se apegando a uma crença da cidade em que vivem que diz que há uma fonte dos desejos, ambos jogam ao mesmo tempo uma moedinha torcendo para que encontrem sua alma gêmea, mas ignoram a presença um do outro. Contudo, eles passam a se encontrar em seus sonhos e a viver um amor platônico, um romance que segundo a lenda deverá ser concretizado em até uma semana, caso contrário o feitiço da fonte se esvai. Talvez se ficasse restrita ao onírico a trama escrita por Teena Booth e Suzette Couture teria uma cadência melhor, mas para dar sustento ao frágil argumento foram (mal) inseridos conflitos cotidianos para os personagens. Nick está insatisfeito com seu trabalho e em paralelo está desenvolvendo um projeto em segredo que acredita que será um ponto de virada em sua carreira, mas vive com seu foco desviado por conta das visitas surpresas e inoportunas de sua mãe. Charlotte (JoBeth Willians) não vê a hora de ver seu filho casado e tenta empurrá-lo novamente para os braços de Lori (Chiara Zanni), sua ex-noiva, mas mesmo que ele não se acerte com ela o importante é que a mulher escolhida passe pelo crivo da sogra. É óbvio que ao conhecer Natalie ela vai implicar e fazer de tudo para impedir o romance... Errado! Contrariando expectativas a mãe do rapaz conhece a garota por acaso antes mesmo do filho e de cara se simpatiza com ela. Numa receita tão insossa, a velha rixa nora versus sogra faz falta.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

GARÇONETE

NOTA 7,0

Apesar da simplória imagem
de comédia romântica, longa
tem uma história que arrisca
abordar temas relevantes
Se todo mundo diz que as comédias românticas andam açucaradas demais, a cineasta e roteirista Adrienne Shelly resolveu assumir definitivamente tal rotulagem no longa Garçonete, uma deliciosa produção com pitadas de drama que foge um pouquinho dos padrões do gênero. A atriz Keri Russell teve aqui a sua grande chance de aparecer para o grande público, embora o filme tenha tido uma passagem relâmpago pelos cinemas e aterrissou nas locadoras e lojas sem fazer barulho mesmo tendo uma repercussão positiva quando exibido no Festival de Sundance, a grande vitrine dos projetos independentes. Conhecida pelos maníacos por seriados de TV, a jovem só foi ganhar um papel de destaque em um filme após quase uma década de tentativas. Ela dá vida a Jenna, uma moça que acabou se auto-sufocando pelas barreiras que ela mesma impôs para sua vida. Ela tem um talento incrível para a culinária, mais especificamente para criar tortas criativas e deliciosas, porém, ao invés de batalhar para ter seu próprio restaurante ela prefere continuar trabalhando como garçonete para Old Joe (Andy Griffith), um patrão grosseiro, em um restaurante de categoria rebaixada. Todavia, tal emprego acaba lhe dando um pouco de alegria e a faz esquecer seu triste cotidiano marcado pela falta de sensibilidade do seu marido Earl (Jeremy Sisto) e por lembranças melancólicas de seu passado que não lhe foi muito generoso. Se ela própria não se dá o devido valor como mulher e tampouco como profissional, quem iria despertá-la para a vida? Pois é justamente um pequeno ser o responsável por mudar os rumos desta pacata garçonete. Logo no início do filme Jenna descobre que está grávida. Bem, dizem que um filho muda tudo, mas neste casa, na realidade, ele vem para enrolar um pouquinho mais a vida da mamãe de primeira viagem. Antes disposta a finalmente terminar o casamento infeliz, agora ela está na dúvida, ainda que pensar em dar a luz a uma criança filha de um homem que ela repudia só lhe afunda ainda mais em depressão. Para descontar sua tristeza e raiva da vida, Jenna passa então a criar os mais diferentes tipos de tortas em velocidade ímpar misturando ingredientes inusitados e as batiza com nomes um tanto bizarros refletindo seus pensamentos e emoções. Por incrível que pareça, tais experiências gastronômicas acabam por conquistar os clientes.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CLICK

NOTA 6,5

Adam Sandler repete mais uma
vez o papel do rapaz de bom coração
que acaba se metendo em confusões
tentando fazer o bem e achar felicidade
O dia-a-dia pode ser um tanto estressante devido aos compromissos profissionais e com a família, sobrando pouco ou nenhum tempo para uma pessoa pensar em si mesma. Quem nunca imaginou poder se livrar dos problemas mesmo que por alguns minutos todos os dias ou então conseguir controlar o tempo e as pessoas de acordo com sua própria vontade? Que bom seria se a solução pudesse estar na ponta dos dedos. Basta um simples toque em um controle remoto para calar ou congelar pessoas, voltar no tempo ou avançar para o futuro, enfim, uma infinidade de coisas poderia ser feitas com esse aparelho para tornar o seu dia o mais agradável possível. Em cima dessa fantasia é que se apóia a comédia Click, um exemplar típico do “feel good movie” ou em bom português o filme destinado a celebrar os valores familiares assim tornando-se uma opção que agrada a todas as idades, uma produção que não promete mais que puro divertimento. Apesar de recorrer a clichês como piadas visuais com animais simpáticos ou apelar um pouco a um humor grotesco envolvendo flatulências ou excrementos, contudo, prestando um pouco mais de atenção em seu enredo podemos encontrar uma boa lição de moral sobre o que fazemos com o nosso tempo. Não dá para simplesmente viver no passado. Querer chegar rapidamente ao futuro também pode não ser um bom negócio. O jeito é viver o máximo que puder e da melhor forma possível o presente. A história criada por Steve Koren e Mark O’Keefe gira em torno de Michael Newman (Adam Sandler), um jovem que é casado com Donna (Kate Beckinsale) com quem tem dois filhos, Ben (Joseph Castanon) e Samantha (Tatum McCann). O rapaz está passando por um período de crise com a família, não por sua vontade, mas sim por causa de seus inúmeros compromissos profissionais em um escritório de arquitetura que lhe exige dedicação demais. Ele obedece as ordens como um cordeirinho porque deseja chamar a atenção de seu chefe Ammer (David Hasselhoff) e quem sabe conseguir uma promoção.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

QUATRO AMIGAS E UM CASAMENTO

NOTA 2,5

Versão feminina das comédias
que investem em personagens
mais maduros decepciona por
extrapolar limites da liberalidade
No final dos anos 90, American Pie mexeu com os hormônios do público jovem, principalmente dos meninos, e uma série de produtos similares surgiu. Pouco tempo depois, essa turminha cresceu e então o gênero comédia voltou suas atenções para os homens acima dos trinta anos de idade, assim eles se viram bem representados em produções como O Virgem de 40 anos, A Ressaca e Passe Livre. Mas e as mulheres nesta história? As órfãs dos antigos filmes água-com-açúcar protagonizados por Julia Roberts, Meg Ryan, Sandra Bullock e companhia bela simpatizaram-se com os dilemas vividos pelo grupo feminino protagonista de Missão Madrinha de Casamento e assim um novo caminho para o humor no cinema parece ter sido inaugurado, embora tentativas de emocionar e divertir o público com os problemas e as alegrias de grupos de amigas de longa data não sejam nenhuma novidade. É por esse caminho que Quatro Amigas e um Casamento tenta conquistar principalmente as plateias femininas que já passaram da idade de acreditar em príncipe encantado, mas infelizmente o longa não consegue atingir plenamente seus objetivos, pelo contrário, fica muito longe de suas pretensões. Tentando manter o espírito do citado filme das madrinhas de casamento acrescentando ainda um quê de inspiração oriundo de Se Beber Não Case, este trabalho escrito e dirigido por Leslye Headland, estreando como diretora, acaba investindo muito tempo (embora a duração seja curta) em situações grotescas e escatológicas que acabam aborrecendo ou até mesmo envergonhando o espectador que encontra poucos motivos para se divertir. Não é a toa que sentimos a mão pesada de um dos produtores da fita, o ator Will Ferrell, conhecido por seu humor por vezes agressivo. Baseado numa peça teatral da própria Leslye, o roteiro se prende ao reencontro de quatro amigas para o casamento de uma delas. Na época do colegial, Regan (Kristen Dunst), Katie (Isla Fisher) e Gena (Lizzy Caplan) eram garotas muito populares, conhecidas como as abelhas-rainhas, e adoravam perturbar a gordinha e deslocada Becky (Rebel Wilson), mas mesmo assim formavam um quarteto inseparável. Elas cresceram e certo dia uma notícia surpreendente surge. Justamente a garota menos popular do grupo vai ser a primeira a se casar. Essa introdução captamos em poucos minutos, mas é a partir desse ponto que os problemas já começam a surgir.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

UMA VIDA ILUMINADA

NOTA 7,0

Drama aborda a questão da
importância da preservação da
memória através dos objetivos de
um colecionador de lembranças
Todos ouvimos diariamente a exaltação aos avanços da modernidade e o pessoal que é ligado em tecnologia não tem do que reclamar. Praticamente toda a semana uma bugiganga nova é lançada e hoje é possível em um pequeno aparelho arquivar centenas de lembranças em forma de mensagens de texto, de voz, fotografias ou vídeos, podendo ser materiais pessoais ou de domínio público. O curioso é que mesmo com esses avanços parece que a população mundial está a cada dia com a memória mais curta. O dia-a-dia atribulado ou simplesmente por puro desprezo emocional acaba por fazer com que as pessoas esqueçam até mesmo momentos importantes com a família ou da sua própria vida. Você se recorda de algum objeto característico para lembrar-se da casa de seus avós? Lembra quem lhe deu aquele brinquedo que você tanto desejava no Natal quando era criança? Consegue ter a memória gustativa para lembrar o sabor do bolo de aniversário que ganhou e que mais gostou?  Podem parecer bobagens, mas são estas pequenas lembranças materiais ou emocionais que ajudam a contar a história de cada ser humano, justificar seu presente e de repente apontar caminhos para o futuro. Quem gosta de colecionar objetos provavelmente tem uma sensibilidade superior e desse hábito surgem histórias emocionantes, divertidas e até bizarras. Tem gente que coleciona selos de cartas, outros miniaturas de bonecos ou carrinhos e até moedas e notas de dinheiro antigas podem ter valor sentimental para alguns. O protagonista de Uma Vida Iluminada tem uma coleção bastante curiosa. Ele não se prende a um ou dois tipos de itens, simplesmente ele coleciona momentos da vida de alguém. Jonathan Safran Foer (Elijah Wood) é um judeu americano que após a morte recente do avô decide ir até a Ucrânia para tentar achar a suposta mulher que salvou a vida de seu avô durante a Segunda Guerra Mundial. Uma foto dela acompanhada do falecido e o pingente que ela usava na ocasião são as únicas recordações que ele tem do avô, itens que ele faz questão de guardar com todo cuidado em saquinhos plásticos individuais e etiquetados. Nessa viagem ele recebe a ajuda de Alex Perchov Jr. (Eugene Hutz), um atrapalhado tradutor, e do avô do rapaz, Alex (Boris Leskins), um homem mal-humorado e que está sempre na companhia de um cão-guia, pois afirma que está cego. Durante a jornada este inusitado grupo descobre segredos sobre a ocupação nazista que mexeram como o emocional de todos eles.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

SEM RESERVAS

NOTA 7,0

Apesar do jeitão de comédia
romântica, refilmagem de
obra alemã investe mais em
drama, mas não poupa açúcar
Nem só de refilmagens de terror e suspenses orientais vive o cinema americano quando existe escassez de ideias. Muitas obras europeias pouco a pouco vão ganhando suas versões americanizadas e antes que alguém se desespere acreditando que um filme muito bom será reduzido a pó em sua releitura é bom deixar avisado que sempre há uma luz no fim do túnel. A comédia romântica Sem Reservas é um bom exemplo que mostra que o que já era bom pode ficar ainda melhor. Baseada no longa alemão Simplesmente Martha, esta produção é um achado em meio a mesmice que se encontra no gênero das comédias românticas, em geral sempre repetindo velhas e manjadas fórmulas que não acrescentam nada de novo. Neste caso as coisas não são muito diferentes, porém, é perceptível que a atualização do texto original para os padrões hollywoodianos foi bem feitinha, as atuações são vigorosas e sentimos certo ar europeu na idealização das imagens e narrativa. Ok, pode ser um pouco de exagero dizer que este trabalho do diretor Scott Hicks é excepcional, mas ao menos o remake não manchou a reputação da obra original de Sandra Nettlebeck, ainda que muitos o considerem apenas mais uma historinha água com açúcar para agradar a mulherada e facilmente esquecível. O longa conta a história de Kate Armstrong (Catherine Zeta-Jones) uma famosa chef de restaurante reconhecida por seu talento, perfeccionismo e personalidade forte. A moça leva uma vida solitária e encontra na cozinha o seu melhor refúgio, porém, sua rotina irá mudar drasticamente por causa de um fato inesperado. Sua irmã morre em um acidente de carro e ela é obrigada a tomar conta de sua sobrinha de apenas dez anos, Zoe (Abigail Breslin), embora ela não seja muita amigável com crianças. O relacionamento das duas não é dos melhores, mas as coisas pioram quando os ânimos de Kate ficam em ebulição com a chegada de um novo cozinheiro, o espaçoso e animado Nick Palmer (Aaron Eckhart), o que ela encara como uma ameaça a seu emprego. Bem, com uma trinca de atores talentosos e simpáticos em cena dificilmente alguém não se sente instigado a dar uma conferida no filme.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD

NOTA 8,0

Longa acompanha a viagem
de um grupo de idosos à
Índia na qual cada um
viverá um tipo de experiência
Parece que nos últimos anos os produtores de cinema perceberam que as pessoas mais maduras também gostam de assistir filmes, muito provavelmente dando muito mais valor às produções que o público mais jovem. Talvez esta seja a explicação para o aumento de trabalhos voltados a essas platéias mais maduras, inclusive o boom de comédias protagonizadas por atores com idades semelhantes a média de seu público-alvo. Um bom exemplo desta safar é O Exótico Hotel Marigold, um agradável passeio pela Índia na companhia de um elenco de luxo reunido pelo diretor John Madden finalmente realizando um trabalho relevante após o premiado Shakespeare Apaixonado. O longa é uma comédia simpática com toques dramáticos que não é perfeita, tem suas falhas, mas talvez o seu jeito despretensioso a transforme em um belo entretenimento. A história pode ser resumida simplesmente como a crônica de um grupo de pessoas da terceira idade que deseja descansar um pouco dos ares ingleses e decide experimentar o tempero do Oriente Médio. O que torna esta experiência interessante é que eles não se conhecem até a chegada ao aeroporto para embarcarem e cada um tem um motivo particular para esta viagem. Muriel (Maggie Smith) é uma ex-governanta preconceituosa em relação a estrangeiros que possui um problema de saúde e precisa ser operada as pressas. Douglas (Bill Nighy) e Jean (Penelope Wilton) são casados há anos e precisam se adaptar à nova situação financeira que os abala. Evelyn (Judi Dench) perdeu o marido há pouco tempo, mas não quer ficar sob os paparicos de familiares. Graham (Tom Wilkinson) é um juiz recém-aposentado que quer voltar à Índia para resolver problemas do passado envolvendo um amor impossível. Por fim, Norman (Ronald Pickup) e Madge (Celia Imrie) não perderam as esperanças de encontrar um grande companheiro, nem que seja para viver juntos os últimos momentos que lhes restam, mas enquanto o parceiro ideal não aparece eles tentam se divertir com rápidos relacionamentos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS

NOTA 9,0

Jim Carrey mais uma vez
prova que tem talento para o
drama em história que
mescla realidade e sonhos
Muita gente tem implicância com determinados artistas e por nada desse mundo dão o braço a torcer e assistem alguns filmes de seus desafetos, mesmo que eles sejam premiados e elogiados. Jim Carrey é um ator que sofre com isso até hoje. Sinônimo de comédia besteirol, ele surgiu para o grande público atingindo sucesso imediato em O Máskara, mas se suas caras e bocas funcionaram perfeitamente nesse trabalho o mesmo não se pode dizer em tantos outros. Querendo se livrar do estigma do homem de um papel só, no final da década de 1990 ele passou a explorar o gênero dramático com êxito, mas ainda assim muitos duvidam até hoje de sua capacidade e talento. Uma pena. Unindo drama com pitadas de humor, ele encontrou um personagem perfeito para expor toda sua capacidade de interpretação em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, uma ótima opção para aqueles que ao menos querem tentar mudar sua visão sobre o astro. Se um filme tem o poder de fazer uma pessoa rever seus conceitos tamanho seu impacto, aqui temos esta sensação em dose dupla. Além de enxergar um intérprete de primeira em Carrey, o próprio enredo pode transformar a vida de quem o assiste. A história começa nos apresentando o casal formado por Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), dois indivíduos que tentaram de tudo para fazer a relação dar certo até que a moça se desiludiu de vez e resolveu se submeter a um tratamento experimental que retira da memória os momentos indesejáveis. Assim ela tomou a decisão de esquecer tudo que viveu com seu parceiro e sequer saber que um dia o conheceu. Desesperado com o desprezo da mulher que ama, Joel resolve procurar o Dr. Howard Mierzwaik (Tom Wilkinson) e se submeter ao mesmo tratamento de memória seletiva, porém, não tem coragem e durante a operação recorda os motivos que o levaram a se apaixonar por Clementine. Graças as confusões que ocorrem devido a interrupção repentina do tratamento as imagens desta mulher acabam sendo realocadas em lembranças do rapaz nas quais ela não estava presente originalmente.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A BATALHA DE SEATTLE

NOTA 7,0

Alinhavando histórias ficcionais,
drama tenta retratar toda a tensão que
tomou conta de uma cidade por causa de
manifestação contra abusos de poderosos
Costumamos (ou ao menos deveríamos) valorizar filmes que privilegiam fatos históricos, mesmo aqueles que nada mais são que um pequeno grão de areia em meio a um episódio grandioso. Isso explica a enorme quantidade de títulos que envolvem a Guerra Fria, por exemplo, mas é uma pena que fatos mais recentes da História sejam esquecidos rapidamente como é o caso da temática de A Batalha de Seattle. Episódio marcante de revolta popular contra os abusos dos governantes, tal conflito não inspirou diretores de cinema, tanto que apenas o ator Stuart Townsend teve coragem de relembrá-lo anos depois. Estreando como diretor e roteirista, logo no início ele deixa claro que seu longa é baseado em fatos reais, porém, seus personagens são fictícios, mas nada que atrapalhe a dramaticidade da produção, pelo contrário, as várias tramas paralelas soam perfeitamente críveis. O problema é que a inexperiência como redator impediu que o estreante se aprofundasse em cada uma delas, sendo que o projeto como um todo é bastante ambicioso, seguindo o estilo narrativo de títulos consagrados como Crash – No Limite que ao mesmo tempo em que pretende fazer uma crítica social também tem a preocupação de desenvolver histórias que façam o espectador se identificar e criar um vínculo com os personagens e consequentemente se sentir atraído pela temática principal. Para compreender melhor o enredo, é necessário explicar o que foi o conflito do título. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em 1947, foi assinado um acordo entre 23 países a respeito de tarifas para importações e exportações com o propósito de legalizar e expandir o comércio mundial. Ao longo de mais de 50 anos, outras nações se uniram ao projeto e assim surgiu a Organização Mundial do Comércio (OMC), que pouco a pouco passou a impor suas vontades sobre os governos e aqueles que desrespeitassem as regras eram punidos, podendo ser expulsos do grupo. A ganância dos membros fez com que o respeito a situações envolvendo o meio ambiente ou os direitos humanos ficassem em segundo plano, sendo que os interesses econômicos estão sempre acima de tudo, assim o órgão é muito criticado e alvo comum de protestos populares. O ápice desses conflitos ocorreu no final de 1999. A partir de 30 de novembro, durante cinco dias, dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Seattle, cidade que serviria naquele período para sediar a chamada “Rodada do Milênio”, reunião da OMC de grande importância que tinha o objetivo de avaliar os resultados dos últimos anos das suas ações e planejamento para os próximos meses, ou em outras palavras, realizar um balanço do quanto se perdeu (mortes, desmatamentos, extinção de animais entre outros fatores negativos) em favor dos lucros que chegaram às contas dos poderosos e o quanto eles ainda poderiam somar futuramente.

domingo, 29 de novembro de 2015

SUPER-HERÓIS - A LIGA DA INJUSTIÇA

Nota 0,5 Esse valor mínimo é por conta dos créditos finais, a única coisa correta neste filme

É até difícil escolher uma única palavra que defina da melhor forma o que é Super-Herói - A Liga da Injustiça. Pense em todos os adjetivos negativos possíveis e ainda eles serão poucos para expressar o que sentimos em relação a este pastelão, um filme tão ruim que seu diretor Aaron Seltzer deveria ter sido condenado a prisão perpétua por crime contra os direitos humanos ou algo parecido. O mesmo vale para o roteirista Jason Friedberg que subestima a inteligência do espectador extrapolando os limites da anarquia e do jocoso. Esta comédia não chega a ter um fiapo de roteiro, sustentando-se unicamente sob a ideia de tentar parodiar os filmes de sucesso de determinada temporada, no caso, a avalanche de fitas de heróis e a respeito de catástrofes naturais. Contudo, desde o primeiro minuto o que vemos é um desperdício de tempo por parte dos espectadores e uma perda de material pela equipe de produção que deveria ter vergonha de ter seus nomes citados nos créditos finais. A trama (oi?) começa com Will (Matt Lantner) sendo alertado sobre a data em que o mundo acabará através de um sonho profético com a enlouquecida cantora Amy Winehouse (Nicole Parker). Sentiram o drama? Bem, tal situação não assusta o rapaz, pois ele se acha o todo poderoso, porém, por via das dúvidas, ele resolve dar uma possível última festinha. Depois disso ele resolve ir à luta, mas não está sozinho nessa tendo a companhia de um grupo de amigos para tentar evitar catástrofes envolvendo asteróides, tornados, terremotos, entre outros fatídicos efeitos naturais. Para acabar com esses eventos devastadores e evitar que o mundo acabe, é o próprio Will quem deverá devolver uma tal Caveira de Cristal ao seu lugar de origem, mas até conseguir cumprir a tarefa ele terá que lidar com pessoas e criaturas esquisitas (como se ele mesmo já não fosse o suficiente aloprado), além de se preocupar em tentar resgatar sua ex-namorada Amu (Vanessa Minnillo) que está presa no Museu de História Natural.

sábado, 28 de novembro de 2015

SUPER-HERÓI - O FILME

Nota 4,0 Parodiando um filme do Homem-Aranha, filme pastelão não é tão ruim quanto parece

Desde que Todo Mundo em Pânico surgiu, as comédias satíricas que tiram onda com o próprio cinema, uma espécie de metalinguagem esdrúxula, acabaram se tornando um subgênero e por um tempo eram constantes os lançamentos do tipo, mas nenhum voltou a repetir o sucesso da piada com as fitas de seriais killers. Até mesmo suas continuações falharam. A cada novo lançamento desta seara fica ainda mais nítido a precariedade destas produções e as brincadeiras se tornam cada vez mais obscenas e inacreditavelmente ridículas. Produções to tipo na verdade já existiam desde a década de 1980, em menor quantidade, diga-se de passagem, mas durante uma época houve um desencadeamento de fitas do tipo, comédias vexatórias que levam o espectador a rir inconscientemente de cenas absurdas que misturam críticas, esculachos, política, sexo, apologia às drogas, humilhação, personalidades, enfim um caldeirão de referências, a maioria politicamente incorreta no grau mais alto possível. Bem, até que a citada sátira ao sucesso teen Pânico e suas cópias tinha certa graça, era bem bolado e tinha uma dose de ousadia aceitável, mas o que veio depois são exemplos execráveis e praticamente uma ofensa aos adolescentes, declaradamente o público-alvo. Todavia, dessa leva de bobagens, podemos salvar ao menos um título: Super-Herói - O Filme. Embora mantenha a estrutura de alinhavar piadas fáceis acerca de sucessos do cinema, fofocas e polêmicas da vida real e atire para tudo quanto é lado em busca de gargalhadas, a grande inspiração do diretor e roteirista Craig Mazin veio do longa Homem-Aranha, o primeiro exemplar da trilogia protagonizada por Tobey Maguire. Qualquer semelhança não é mera coincidência. O jovem franzino Rick Riker (Drake Bell) sempre foi tímido, desengonçado e saco de pancadas da rapaziada do colégio, mas tudo muda após ele ser picado por uma libélula geneticamente modificada. O rapaz ganha habilidades sobre-humanas e decide então usar seus poderes para fazer o bem e transforma-se no Homem-Libélula que aos trancos e barrancos passa a combater crimes e rapidamente chamas a atenção da imprensa, dos populares e, obviamente, de inimigos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A PRINCESA DE NEBRASKA

NOTA 5,5

Com protagonista insossa,
drama é extremamente frio e
não cativa o espectador com
narrativa sem aprofundamentos
O tão aguardado século 21 está em andamento, porém, não trocamos os carros por aeronaves e nossa alimentação não é servida em práticos tubinhos como os de creme dental (felizmente só uma coisinha ou outra chega a nós nesse tipo de embalagem, mas com seus substitutos correspondentes). Bem, esse novo tempo tão aguardado não trouxe a tecnologia fantasiosa que esperávamos, mas é evidente que a modernidade está presente em todos os instantes influenciando a vida de todos, e não só de forma positiva. A primeira vista pode parecer inadequado fazer algum tipo de associação do conteúdo de A Princesa de Nebraska com os vícios da vida moderna, mas tal relação faz todo o sentido quando descobrimos o universo no qual está imersa a protagonista. Sasha (Li Ling) é uma jovem estudante chinesa que está vivenciando os primeiros meses de uma inesperada gravidez. Ela abandona o namorado em Pequim e viaja para São Francisco com o intuito de realizar um aborto. Já na cidade de destino, nos EUA, Sasha encontra um amigo de seu namorado, Boshen (Brian Danforth), e a jovem May (Lin Qing), com quem troca confidências e experiências. Entre momentos de prazer e outros de pura reflexão, cada passo dessa viagem de autoconhecimento é registrado pela gestante com a câmera de seu celular, como se ela fizesse um diário a respeito desse acontecimento único em sua vida, um registro dessas 24 horas decisivas nas quais as vastas possibilidades de uma cidade e os conselhos de estranhos podem mudar seus pensamentos e sua trajetória deste ponto em diante. Interromper a gravidez ou levá-la adiante? Gerar uma criança e aceitá-la com todas as alegrias e obrigações que ela exige ou aproveitar para ganhar um dinheiro com sua venda? Produzido em solo e com recursos americanos, o longa carrega em sua essência a estética dos filmes orientais. Tomadas intimistas, closes estendidos, muitos momentos de silêncio e até mesmo a ausência da trilha sonora em longas sequências, as grandes características do cinema que faz sucesso no circuito alternativo estão presentes aqui, mas não é todo mundo que consegue enxergar ou compreender o conceito de arte empregado neste caso pelo cineasta natural de Hong Kong Wayne Wang, famoso pelo delicado O Clube da Felicidade e da Sorte.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN

NOTA 9,0

Delicadeza e criatividade de
longa francês prova que o
cinema alternativo não é
apenas para intelectuais
Cinema europeu é chato e cabeça demais. Tal afirmação é muito comum, mas quem concorda com ela precisa rever seus conceitos e se abrir a novas experiências, como prova O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, um título apreciado e elogiado por muitos, mas considerado desinteressante e cansativo por tantos outros, mas será que essas pessoas que criticam negativamente realmente assistiram a obra ou simplesmente estão passando adiante pensamentos obsoletos? Com certeza o fato de ser uma produção francesa barra uma grande parcela dos espectadores que devem estar impregnados da ideia de que o cinema francês é contemplativo demais e com foco em histórias dramáticas ou muito romanceadas. Bem realmente, estas são características da produção cinematográfica local, mas sempre é possível encontrar algo diferenciado dando uma garimpada. No caso desta produção assinada por Jean-Pierre Jeunet nem é preciso fazer muito esforço para encontrá-la já que foi um título muito premiado e cumpriu sua trajetória de sucesso até a festa do Oscar chegando lá com pinta de campeã, mas acabou levando um banho de água fria perdendo suas cinco indicações. Porém, a análise de resultados finais tanto de críticas quanto de bilheterias resultou em um banho do melhor champagne francês. Assistido na época por cerca de vinte milhões de pessoas, até hoje esta obra é uma das mais procuradas em locadoras e se tornou um marco cinematográfico devido a sua estética, linguagem e ritmo atípicos para a filmografia de um país cujas marcas registradas são as longas sequências focadas em olhares e gestos e um erotismo quase sempre presente nas narrativas. Amado e odiado nas mesmas proporções, o cinema francês não se firmou como uma indústria de fazer dinheiro, mas sim como um estilo de produzir cinema que gera bons e maus resultados, mas sem causar estardalhaços tampouco criando ícones pop, bem diferente da cinematografia americana que quer vender muito mais que os tickets das salas de exibição e imprime uma velocidade em suas produções que acaba atrapalhando muitas vezes a condução das histórias, além dos muitos efeitos e tecnologias serem empregados para escamotear furos e ausências.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O SOM DO CORAÇÃO

NOTA 7,0

Drama é uma eficiente
reunião de clichês adornados
por bela trilha sonora e
interpretações sinceras
É curioso como o público se comporta em relação aos títulos indicados a prêmios, principalmente ao Oscar. Há anos os títulos mais badalados da festa da Academia de Cinema de Hollywood não conquistam bilheterias e repercussões estarrecedoras, aliás, a maioria, incluindo os vencedores da categoria de Melhor Filme, é esquecida rapidamente. Na contramão deste desinteresse, algumas produções que concorrem em menos categorias, geralmente os prêmios “menores”, acabam alcançando resultados muito superiores, principalmente quando são representantes do gênero drama. O Som do Coração é um bom exemplo desta tendência. Apreciado pelo público, mas rejeitado pela maioria dos críticos por considerarem uma história repleta de clichês e desnecessária, o longa era um dos cavaleiros solitários do Oscar 2008. Concorrendo apenas ao prêmio de Melhor Canção, a produção não levou a estatueta, mas ainda assim saiu vitoriosa da premiação consagrando-se como a obra de maior e melhor repercussão entre os espectadores comuns daquela safra e até hoje é um dos títulos líderes de procura para locação e venda. Ele faz parte de um seleto grupo de filmes que todos os anos é ampliado com o lançamento de pelo menos mais um expoente que chega tímido às premiações, mas surpreende e se torna tão ou mais famoso que os grandes vencedores da temporada. A história é muito simples e não esconde o objetivo de querer emocionar o espectador do início ao fim, tanto é que o protagonista é uma criança, artifício infalível para tocar os corações das platéias. Evan (Freddie Highmore) foi criado em um orfanato e possui um dom especial para lidar com música que impressiona a todos. Tal habilidade está em sua genética. Ele é filho da violoncelista Lyla Novacek (Keri Russell) e do roqueiro Louis Connelly (Jonathan Rhys Meyers), porém, nunca os conheceu. O casal se apaixonou a primeira vista, tiveram uma bela noite de amor, mas logo em seguida o romance foi interrompido pelos pais da moça. Cada um seguiu seu caminho, mas jamais conseguiram se esquecer um do outro. Alguns meses depois da separação, Lyla deu a luz a um garoto, mas seu pai o entregou à adoção sem nem ao menos deixar a moça conhecer o filho dizendo que o bebê morreu no parto. Assim, a moça caiu em depressão e passou a apenas dar aulas de música enquanto longe dela seu grande amor, que não sabia da gravidez, também desistiu de tocar com sua banda

sábado, 21 de novembro de 2015

O ENCONTRO (2002)

Nota 5,0 Visual datado e premissa interessante não são suficientes para segurar suspense

Mortes misteriosas, um buraco que esconde uma história macabra do passado, alucinações, religião e até um milharal. A maior parte dos clichês dos filmes de terror e suspense que fizeram sucesso nos anos 70 e 80 batem cartão em O Encontro produção que tem uma premissa bem interessante, mas esfria aos poucos culminado em um final pouco original e sem impacto. Nem quando os segredos são revelados percebemos que chegamos ao ápice da história devido a narrativa arrastada. Apesar disso, o recheio deste filme prende bastante a atenção, investindo em uma trama que mistura o sobrenatural com uma espécie de culto macabro do passado, quando algumas pessoas se encontravam em um templo para assistir o sofrimento de outras até morrerem. O roteiro de Anthony Horowitz nos leva para a Inglaterra onde dois jovens caem em um buraco e não resistem. Esse poderia ser só mais um corriqueiro acidente com final trágico, mas o tal buraco esconde segredos. Lá dentro existem diversas esculturas com formas humanas e esculpidas em relevo que parecem olhar para uma cruz. Simon Kirkman (Stephan Dillane), um especialista em religiões, é convocado para inspecionar o local e paralelamente a isso, Marion (Kerry Fox), sua esposa, atropela acidentalmente Cassie Grant (Christina Ricci), uma jovem que parece ter perdido a memória com o choque, apesar de fisicamente não ter sofrido nenhum trauma grave. Ela acaba sendo acolhida na casa dos Kirkman e informalmente se torna a babá das crianças da família. Conforme o tempo passa, a jovem começa a ter visões de pessoas ensanguentadas ou estranhas e a ouvir vozes. Aos poucos, esses acontecimentos vão sendo ligados à descoberta feita dentro do buraco e Dan Blakeley (Ioan Gruffudd), com quem a jovem faz amizade, pode ser uma peça importante para desvendar o mistério.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

SINAIS

NOTA 9,0

Para falar da importância da
fé, união familiar e de quebra
oferecer bons sustos, longa
aborda tema de ficção científica
Já faz algum tempo que o mundo todo vive um período em que se discute muito a respeito do poder das religiões, seja de forma positiva ou negativa, e certamente todos já ouviram dizer que quando deixamos de acreditar no poder da fé abrimos as portas para as forças ocultas atuarem. Colocar tal tema em evidência era a proposta real de Sinais, mas as intenções ficaram perdidas pelo caminho, ou melhor, acabaram sendo sucumbidas. O assunto que se destaca realmente é a possível presença de extraterrestres em nosso planeta baseando-se em eventos misteriosos amplamente divulgados pela mídia e vendidos como realidade na década de 1970. Sucesso de crítica e público nos EUA, a má recepção que esta produção teve no Brasil foi mais uma injustiça feita ao diretor e roteirista M. Night Shymalan que infelizmente vive com a fama de ser o tipo de diretor de um filme só. Até hoje ele é assombrado por seu grande sucesso O Sexto Sentido e viu seus trabalhos seguintes serem massacrados por opiniões negativas. Será que realmente ele perdeu a mão ou os espectadores é que estão exigindo demais de um homem que praticamente começou a carreira já surpreendendo? A segunda hipótese é a mais correta, pelo menos analisando os seus três trabalhos seguintes (Corpo Fechado, A Vila e o filme aqui em julgamento). Todos eles são produções de alta qualidade de entretenimento engajados com temáticas relevantes, mas que gradativamente provaram que o prestígio do cineasta caia com a mesma rapidez que aconteceu sua ascensão. É difícil expressar uma opinião honesta e individual quando meio mundo não compartilha dos mesmos pensamentos, mas realmente classificar este filme como ruim é demais. Regular ainda é discutível, mas talvez seja a alternativa mais correta. Em seu terceiro filme hollywoodiano com grande distribuição, o cineasta indiano investiu novamente naquilo que lhe trouxe notoriedade: personagens com história de vida para o espectador criar um elo, atmosfera de arrepiar, sequências incômodas de silêncio e introdução dos elementos clássicos de terror nos momentos oportunos. Bem, se muitos filmes sobre alienígenas decepcionam por não mostrarem as criaturas, aqui elas até aparecem demais e provocam um anticlímax. Só pode ser essa a grande queixa daqueles que apedrejam este trabalho. Shymalan errou ao trocar o horror sugestionado pelo explícito. Na realidade até pouco mais da metade do filme o diretor felizmente usa sons e imagens em relances para assustar e mesmo depois que a ameaça se revela em carne e osso (ou seja lá do que são feitos os corpos dos extraterrestres) a tensão não cai, pelo contrário, até aumenta. É o pulo do gato do roteiro. O espectador é convidado a participar do claustrofóbico lar da família Hess desde o início, já que basicamente todas as ações ocorrem por lá, mas no final a relação entre espectador e cenário é intensificada afinal eles literalmente se isolam do mundo. Nesta casa localizada em uma região rural da Pensilvânia vive Graham (Mel Gibson), um homem que abandonou a igreja após a morte de sua mulher em um acidente, seus dois filhos, Morgan (Rory Culkin) e Bo (Abigail Breslin), e seu irmão Merrill (Joaquim Phoenix). A paz deles é interrompida com o surgimento de grandes círculos em meio a suas plantações de milho, como se algo gigantesco tivesse pousado ali. O mesmo fenômeno começa a acontecer em outras fazendas mundo afora e tudo indica que seres de outros planetas estão rondando essas propriedades.