NOTA 8,0 Longa acompanha a viagem de um grupo de idosos à Índia na qual cada um viverá um tipo de experiência |
Parece que nos últimos anos os produtores de cinema
perceberam que as pessoas mais maduras também gostam de assistir filmes, muito
provavelmente dando muito mais valor às produções que o público mais jovem.
Talvez esta seja a explicação para o aumento de trabalhos voltados a essas
platéias mais maduras, inclusive o boom de comédias protagonizadas por atores
com idades semelhantes a média de seu público-alvo. Um bom exemplo desta safar
é O Exótico Hotel Marigold, um agradável passeio pela Índia na companhia de um
elenco de luxo reunido pelo diretor John Madden finalmente realizando um
trabalho relevante após o premiado Shakespeare Apaixonado. O longa é uma
comédia simpática com toques dramáticos que não é perfeita, tem suas falhas,
mas talvez o seu jeito despretensioso a transforme em um belo entretenimento. A
história pode ser resumida simplesmente como a crônica de um grupo de pessoas
da terceira idade que deseja descansar um pouco dos ares ingleses e decide
experimentar o tempero do Oriente Médio. O que torna esta experiência
interessante é que eles não se conhecem até a chegada ao aeroporto para
embarcarem e cada um tem um motivo particular para esta viagem. Muriel
(Maggie Smith) é uma ex-governanta preconceituosa em relação a estrangeiros que
possui um problema de saúde e precisa ser operada as pressas. Douglas (Bill
Nighy) e Jean (Penelope Wilton) são casados há anos e precisam se adaptar à
nova situação financeira que os abala. Evelyn (Judi Dench) perdeu o marido há
pouco tempo, mas não quer ficar sob os paparicos de familiares. Graham (Tom
Wilkinson) é um juiz recém-aposentado que quer voltar à Índia para resolver
problemas do passado envolvendo um amor impossível. Por fim, Norman (Ronald
Pickup) e Madge (Celia Imrie) não perderam as esperanças de encontrar um grande
companheiro, nem que seja para viver juntos os últimos momentos que lhes
restam, mas enquanto o parceiro ideal não aparece eles tentam se divertir com
rápidos relacionamentos.
Todos os nomes citados são alguns dos novos hóspedes do
Hotel Marigold que se empolgam com a publicidade do local, mas quando chegam lá
se deparam com um prédio decadente e com infra-estrutura que deixa a desejar.
Entretanto, todos acabam envolvidos pelo entusiasmo do jovem Sonny (Dev Patel)
que sonha em ver o tal hotel revitalizado e assim aceitam ficar hospedados sem
saber que as experiências que viverão nesse exótico país mudarão para sempre
suas vidas. Baseado no livro “These Foolish Things”, de Deborah Moggach, o
roteiro de Ol Parker, que já tinha demonstrado extrema delicadeza ao abordar o
lesbianismo na comédia romântica Imagine Eu e Você, agora reúne toda a sua
sensibilidade para orquestrar uma história que aborda vários aspectos que
envolvem a terceira idade, todos apontando que a velhice não deve ser encarada
como um sinônimo de morte. Se você está vivo deve viver seja aprendendo a lidar
com a solidão ou com seus medos ou desfrutando de suas amizades e até mesmo dos
prazeres que o sexo pode oferecer. O que prejudica relativamente este trabalho
é que cerca de duas horas é pouco tempo para desenvolver satisfatoriamente
tantos ganchos narrativos interessantes, um problema que fica mais evidente nos
primeiros minutos quando são apresentadas as principais características de cada
um dos idosos que embarcarão para essa viagem à Índia. Ainda assim, o restante
do longa não dá conta de explorar tudo o que poderia ser extraído de todas as
subtramas, sendo a mais relevante a do aposentado Graham, levando ainda em
consideração que o personagem Sonny não fica perdido na trama apenas como um
entusiasta que não quer vender o terreno do hotel de sua família para preservar
um pouco de sua essência e tradições. Ele também tem sua trama paralela vivendo
em conflito com sua rígida mãe, a Sra. Kapoor (Lillete Dubey), que é contra o
casamento do rapaz com a jovem Sunaina (Tena Desae) a quem ela não considera
ser uma mulher com qualidades para uma esposa perfeita. À primeira vista essa
mistura de histórias pode parecer um tanto confusa, mas o cineasta britânico
soube aproveitar ao máximo o seu elenco de veteranos e as paisagens indianas
para trazer movimento ao seu longa que carrega do início ao fim a essência do
cinema europeu.
O início, com os problemas no aeroporto, a viagem
improvisada de ônibus e a decepção de se deparar com um hotel em frangalhos,
poderia nas mãos de um diretor despreparado se tornar uma comédia boboca que no
fundo só serviria para expor personagens da terceira idade à situações
ridículas e assim jogando por água abaixo qualquer lição de vida. Porém, Madden
trouxe realismo a tais episódios e soube criar vínculos tanto entre os
personagens quanto para que os espectadores se envolvessem com seus dilemas,
desde uma morte súbita até romances inesperados. A chegada à Índia fará com que
cada um deles se aproxime cada vez mais formando assim um grupo unido no qual
todos prestam solidariedade uns aos outros para ajudar a enfrentar os problemas
do passado, do presente e do futuro, além do auxílio para se adaptarem a
diferente cultura do país. Apesar de para muitos ser apenas um apanhado de
clichês, com personagens estereotipados vivendo situações previsíveis, O
Exótico Hotel Marigold carrega consigo certo toque de originalidade. Quase
como um road movie, colorido, intenso e adornado pelas belíssimas e
praticamente desconhecidas paisagens indianas, esta obra é uma excelente opção
para quem busca uma comédia com conteúdo. Hoje em dia sabemos que já existem
produções do gênero voltadas ao público mais maduro, mas ainda assim muitas
delas deixam a desejar por investirem em situações vexatórias expondo assim
seus personagens ao ridículo, um erro comum principalmente de Hollywood. Madden
e seu jeito elegante e tipicamente britânico de fazer cinema trazem nesta
produção uma imagem digna e positiva do idoso, mostrando não somente ao público
da terceira idade, mas também para todas as outras idades que não devemos em
hipótese alguma desistir da vida e que envelhecer é só o começo de um novo
tempo que pode ser muito bom, tudo depende de você mesmo. Em uma época tão
conturbada como a atual, quando todas as nações sofrem principalmente com a
falta de respeito e amor ao próximo, faz bem assistir a filmes deste tipo que
resgatam valores importantíssimos e nos deixam mensagens para refletir. Qual o
problema, por exemplo, de uma das personagens ser preconceituosa com pessoas de
outras nacionalidades e graças a uma simples viagem mudar sua opinião quanto a
xenofobia servindo assim de exemplo a ser seguido? Clichê demais? Parece que o
mundo precisa muito desses clichês para se tornar um lugar melhor.
Comédia - 124 min - 2011
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