sábado, 30 de novembro de 2019

TESTEMUNHA FANTASMA

Nota 4,0 Fita filipina segue preceitos do horror oriental e acerta na ambientação, mas peca no ritmo

A década de 2000 tem como uma de suas referências cinematográficas a explosão do cinema de horror oriental, primeiramente à base de remakes hollywoodianos, mas que abriram as portas para os originais conseguirem espaços nos cinemas e principalmente nas videolocadoras. O excesso de produções semelhantes, quase todas evocando histórias de espíritos atormentados desejando vingança ou justiça, fez com que a vertente logo caísse na mesmice. Contudo, a produção de obras do gênero continua a todo vapor em terras orientais. Se em seus países de origem ainda conseguem espaços nas salas de exibição, o restante do mundo toma contato com tais filmes através dos serviços de streaming que para apresentarem um catálogo quantitativo adquirem produções provavelmente sem analisar o conteúdo. Embora a internet esteja cheia de menções como um filme de terror que deixou muita gente sem conseguir dormir, Testemunha Fantasma é uma produção das Filipinas que não traz absolutamente nada de novo e não chega a ser tão assustador como divulgam. Com direção e roteiro de Mikhail Red, a trama se passa em meados da década de 1990 e acompanha o drama vivido por Pat Consolacion (Bea Alonzo), a orientadora educacional de uma escola católica para meninas, um lugar marcado por sinistras histórias. Há boatos que no passado uma estudante chamada Erika (Gillian Vivencio) se enforcou no banheiro e de que seu espírito é visto com frequência. O que as alunas e nem as sisudas freiras que cuidam da instituição sabem é que a recatada conselheira possui dons mediúnicos e se sente feliz em poder interagir com as almas, algumas nervosas e outras apenas confusas. Quando mais uma estudante morre na escola, mesmo contra a vontade de Alice (Charo Santos-Concio), a mal humorada e abusiva diretora, Pat decide investigar o passado do local e tentar contato com o espírito de Erika, mas as coisas que descobre podem ser mais assustadoras do que ela esperava, incluindo o despertar da fúria de uma implacável entidade maligna.

domingo, 24 de novembro de 2019

O DATE PERFEITO

Nota 6,0 Garoto tem uma ideia de gênio para faturar, se divertir e de quebra descolar um amor

A Netflix não só tem fomentado seu catálogo com produções de baixo orçamento como também está se preocupando em lançar talentos. O ator Noah Centineo é um deles e se especializando em comédias românticas para o serviço de streaming, como prova O Date Perfeito que segura as pontas graças ao carisma do rapaz. Do contrário, bastam alguns minutos para você manjar toda a trama, embora isso não seja um problema para os fãs do gênero. Ele interpreta Brooks Rattigan, um rapaz bonito, carismático e extremamente educado, além de bastante sonhador, o príncipe com o qual qualquer garota sonharia. Com uma vida limitada entre a escola e o trabalho em uma lanchonete, ele enxerga novos horizontes ao aceitar uma inusitada proposta: levar a rebelde e deslocada Celia Lieberman (Laura Marano) a um baile colegial simplesmente para lhe fazer companhia e ainda ser pago para isso. Além de obviamente rolar um interesse romântico pela garota, o que parecia uma oportunidade passageira de ganhar um dinheirinho fácil acaba se transformando em uma profissão. Com o objetivo de estudar em uma renomada universidade, com a ajuda de seu melhor amigo Murph (Odiseas Georgiadis), o jovem cria um aplicativo de encontros, mas relativamente diferenciado dos que já existem. Sem envolvimento sexual (embora soe improvável), o rapaz é contratado para fazer companhia a mulheres solitárias em festas, jantares ou simplesmente para elas terem com quem conversar e desabafar. No ato da contratação elas já definem qual o tipo de “date” (encontro em inglês) que desejam, assim Rattigan se prepara encarnando uma personalidade diferente para cada situação ao gosto da freguesa. Mauricinho, bad boy, esportista e até mesmo um bobão. Não importa a fantasia, ele literalmente veste a personagem, além de oferecer os serviços de motorista de aplicativo buscando e devolvendo as contratantes intactas. Contudo, assim como o rapaz troca de perfil a cada encontro, suas atitudes e convicções também mudam em um estalar de dedos, revelando que por de trás de toda a diversão de seu trabalho ele se sente no fundo vazio e confuso.

domingo, 17 de novembro de 2019

A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2

Nota 2,0 Sequência de terror de sustenta abandona os sustos e investe em humor e ficção científica

De um filme de terror espera-se levar bons sustos, mas não raramente as reações dos espectadores são traduzidas em gargalhadas, uma reação normal ao medo. Talvez por isso muitas produções do gênero assumam seu lado humorístico, principalmente as continuações quando os originais causam mais risos que espanto involuntariamente. É isso que acontece com A Morte Te Dá Parabéns 2, a sequência do inesperado sucesso que partia de uma ideia bastante recorrente no cinema: a do personagem que fica preso em um determinado dia de sua vida e tendo a oportunidade de revivê-lo continuamente ou agir de forma diferente para que determinadas ações não se repitam. Como toda boa continuação que se preze, o longa escrito e dirigido por Christopher Landon parte das fundações de seu predecessor a fim de entregar um produto que mantenha o interesse dos fãs, mas ainda assim desperte curiosidade de novos espectadores. Contudo, esta produção prova que muitas vezes sequências são desnecessárias, revelando-se engodos unicamente para capitanear em cima de uma marca. Sim, o título tinha potencial para uma franquia slasher, mas a parte dois enterra qualquer possibilidade de seguir adiante, ao menos com o mesmo sucesso do original. Depois de se livrar do cliclo temporal da trama anterior, Tree (Jessica Rothe) encontra-se mais uma vez na mesma situação redundante de escapar da morte após um acidente com uma experiência científica na faculdade, assim toda vez que morre ela acorda em seu quarto e reinicia sua batalha para manter-se viva. Agora a protagonista precisa colher o máximo de informações possíveis dessas experiências de quase morte para que Ryan (Phi Vu) consiga colocar em funcionamento a máquina que causou novamente o problema e reverter a situação. No olho do furacão também estão os jovens cientistas Samar (Suraj Sharma) e Dre (Sarah Yarkin), Carter (Israel Broussard), interesse romântico da mocinha, mas envolvido com Danielle (Rachel Matthews), e Lori (Ruby Modine), que surge com vida após ter sido assassinada na primeira fita. Na cola deles, novamente uma identidade misteriosa se esconde sob uma máscara de bebê e munida de um facão afiado.

sábado, 16 de novembro de 2019

A MORTE TE DÁ PARABÉNS

Nota 3,0 Investindo mais no humor que no horror, bom argumento é desperdiçado 

No final da década de 1990 houve uma explosão de fitas de assassinos mascarados voltadas aos adolescentes. Tudo bem, na época produtores queriam tirar leite de pedra do fenômeno Pânico, mas é preciso ter consciência que uma hora a fonte seca. É claro que hoje em dia ainda existe público para fitas do tipo, ainda que em pequeno número, mas é preciso ter grana sobrando no banco para investir em produções que já nascem fadadas ao fracasso. A Morte Te Dá Parabéns não tinha como fazer sucesso. É uma reunião de clichês que buscou algum diferencial com viagens no tempo, mais especificamente uma jovem condenada a reviver inúmeras vezes o dia de sua morte. Bem, novidade aí não há nenhuma. Um personagem preso a um mesmo período e tendo a chance de contornar erros e fazer as coisas reverterem a seu favor já foi a temática da comédia Feitiço do Tempo, da fita de ação Contra o Tempo e do drama de guerra No Limite do Amanhã, por exemplo. A possibilidade de poder escapar da morte driblando as armadilhas de um serial killer se encaixa perfeitamente a proposta da volta no tempo, mas é preciso ter traquejo para lidar com a fórmula, algo que falta ao diretor Christopher Landon, de Como Sobreviver a Um Ataque de Zumbi. A trama tem como protagonista Tree (Jessica Rothe), uma universitária egocêntrica, falsa, displicente com a família e que adora usar os homens e descartar, ou seja, uma figura desprezível. A ideia é justamente causar repulsa no espectador para pouco a pouco ele se envolver com a jornada de redenção da jovem. A intenção pelo menos era das melhores, mas o plano posto em prática... No fim do dia de seu aniversário ela é assassinada por alguém que se esconde por uma ridícula máscara de bebê gorducho, todavia, acorda como se nada tivesse acontecido, mas logo percebe que as situações do fatídico dia se repetem continuamente. Essa é a chance, ou melhor, as diversas chances de tentar escapar da morte e descobrir a identidade do bandido revivendo de forma diferente todos os acontecimentos que podem ter contribuído para seu assassinato.

domingo, 10 de novembro de 2019

DEU ZEBRA!

Nota 7,0 Conto do cavalo em dificuldades ganha cara nova tendo uma zebra como protagonista

Filmes com animais fofinhos e falantes já fazem parte do universo cinematográfico há várias décadas, mas será que ainda existe público para este tipo de produção? A resposta é sim! Basta prestar atenção na quantidade de reprises de produções do gênero na TV aberta ou fechada. Talvez o que seja um pouco arriscado é lançar um filme do tipo para ocupar salas de cinemas, ainda mais hoje em dia quando enredos singelos e com mensagens edificantes são massacrados pela concorrência de produções lotadas de efeitos especiais de ponta e imagens espetaculares. A situação não era muito diferente em 2005, tanto que Deu Zebra! passou despercebido pelas telonas. O roteiro criado por David Schmidt dosa bem humor, aventura e drama leve para contar a história de Listrado, uma zebra que foi adotada pelo fazendeiro Nolan Walsh (Bruce Greenwood) quando ainda era filhotinho após perder-se durante uma noite de tempestade da companhia circense da qual fazia parte. Contudo, o animal cresceu acreditando ser um cavalo dotado de uma característica especial, as listras, e com aptidões para um dia se tornar um campeão de corridas, um sonho também alimentado por seu dono, um treinador de equinos aposentado recentemente, e por sua filha, a jovem e entusiasmada Channing (Hayden Panttiere). A garota é tão ambiciosa quanto seu mais novo animal de estimação e também sonha em sagrar-se campeã em uma corrida, mas seu pai a proíbe traumatizado por ter perdido a esposa justamente durante uma competição no hipódromo. Desde que chegou na fazenda, Listrado causa estranhamento entre os outros bichos, sendo a cabra Franny a mais amigável entre todos e o cavalo Tuck o menos receptivo e, por ironia do destino, é justamente ele que no futuro terá importância para a realização do sonho da destemida zebra que terá que treinar muito para superar dificuldades e preconceitos e ainda dar uma lição à dona do haras vizinho, a vaidosa e gananciosa Clara Dalrymple (Wendie Malick).

sábado, 2 de novembro de 2019

3096 DIAS DE CATIVEIRO

Nota 7,0 Baseado em um impressionante sequestro real, drama da protagonista angustia e intriga

Tem filmes baseados em fatos reais  que contam histórias tão incríveis que fica difícil acreditar nelas e 3096 Dias de Cativeiro é um deles. Trata-se de um drama autobiográfico baseado no livro homônimo de Natascha Kampush, também responsável pelo roteiro, que narra suas memórias sobre os mais de oito anos que viveu ao lado de seu sequestrador. Entre 1998 e 2006, ela não pôde ter contato algum com outras pessoas e sofreu com abusos físicos e psicológicos. Aos dez anos de idade, pela primeira vez na vida a garota iria sozinha para a escola após uma discussão com a mãe com quem vivia uma relação conflituosa, ao contrário do pai com quem tinha um convívio harmonioso mesmo ele tendo se separado. Nesta ocasião, mal sabia ela que do lado de fora da casa já há alguns dias a família era observada por Wolfgang Priklopil (Thure Lindhart) que planejava o seu sequestro. À luz do dia ele a imobiliza na rua e a leva para a sua casa onde a prende dentro do porão. Desempregado e com atitudes contrastantes, não há um motivo aparente para seu crime, afinal morava em uma casa confortável, tinha carro e só ameaçava pedir resgate, amedrontando a menina dizendo que seus pais não gostavam dela e por isso não o pagavam. A solidão talvez fosse uma justificativa plausível, ainda que mesmo já passando dos trinta anos de idade e morando sozinho demonstrasse certa dependência da mãe para se alimentar e abastecer a casa. Apesar do cativeiro, Wolfgang tinha um mínimo de cuidado com a menina. Comprou roupas, produtos de higiene e lhe ofereceu livros e músicas, as únicas formas que Natscha possuía para ter ao menos um pouco de instrução. Por outro lado, várias vezes a deixava sem comer, a humilhava e nem mesmo a deixava ver a claridade do dia. Até uma espécie de interfone ele instalou no claustrofóbico porão para se comunicar com a garota sem necessidade de ir até lá, uma forma mais fácil de lhe repetir diversas vezes ao dia para ela o obedecer e assim doutriná-la. À menina só restava de fato acatar as ordens por medo de ser estuprada, ferida ou morta.