NOTA 7,0 Feita para a TV, produção tenta explorar os mais variados ganchos que envolvem o tráfico de mulheres e crianças para o mercado do sexo |
Nos EUA e em vários países da
Europa é muito comum a produção de telefilmes e de séries curtas, mas embora
tenham como primeira janela de exibição a TV a maioria destes projetos são
dotados de qualidades técnicas e texto apurado dignos de cinema. Bem, isso de
alguns anos para cá após o boom dos canais pagos. Além de serem materiais que
podem ser reprisados diversas vezes, seguindo a tradição desta mídia, os
produtores obviamente levam em consideração os lucros que tais obras gerariam
também em DVD. É uma pena que parece que criamos a cultura de repudiar produtos
do tipo. Se estão em exibição na televisão até podem passar despercebidos, mas
se sabemos de suas origens e lançamento em mídia física sem passagem pelos
cinemas o pé atrás parece inevitável, ainda mais quando o produto beira as três
horas de duração. Logo nos vem à cabeça os diálogos super decorados, as situações
esquemáticas e os indesejáveis cortes de entrada para comerciais que geralmente
não são excluídos na edição para consumo doméstico. Embora pouco conhecido e
raridade, o suspense dramático Tráfico Humano é uma ótima opção
para revermos conceitos, a começar pelo tema polêmico e indigesto que em um
filme comum não seria tão bem explorado. O tráfico de pessoas é um dos maiores
negócios dos tempos atuais para as facções criminosas e rende incontáveis
milhões por ano. O pior de tudo é saber que quem alimenta este mercado ilícito
e deprimente são pessoas com posses e teoricamente esclarecidas, justamente o
que o filme recrimina em seu término. É lembrado que essa “modernização” da
escravidão tem como principais apoiadores o próprio EUA cuja cultura local cria
uma demanda para isso e incentiva outros países ao mesmo comportamento. Quem
não conhece o clichê do pai que leva o filho aos “inferninhos” quando
adolescentes para provar sua masculinidade e que inerentemente propaga a ideia
de que o prazer sexual deve vir acompanhado da promiscuidade e do proibido? E
alguém duvida que estes mesmos jovens se tornem os velhotes safados que
continuarão alimentando o comércio do sexo? Esse é apenas um dos problemas que
o roteiro de Carol Doyle e Agatha Domink nos deixa para refletir, mas a
narrativa aponta para vários caminhos que a certa altura nos angustiam, quase
perdemos a vontade de continuar assistindo de tão ordinário que é este
submundo. Impossível não pensar que uma filha, sobrinha ou amiga pode sem saber
estar na mira de quadrilhas, mas mesmo assim temos a curiosidade de saber até
onde vai este circo de horrores.