segunda-feira, 26 de junho de 2017

TRÁFICO HUMANO

NOTA 7,0

Feita para a TV, produção tenta
explorar os mais variados ganchos
que envolvem o tráfico de mulheres
e crianças para o mercado do sexo
Nos EUA e em vários países da Europa é muito comum a produção de telefilmes e de séries curtas, mas embora tenham como primeira janela de exibição a TV a maioria destes projetos são dotados de qualidades técnicas e texto apurado dignos de cinema. Bem, isso de alguns anos para cá após o boom dos canais pagos. Além de serem materiais que podem ser reprisados diversas vezes, seguindo a tradição desta mídia, os produtores obviamente levam em consideração os lucros que tais obras gerariam também em DVD. É uma pena que parece que criamos a cultura de repudiar produtos do tipo. Se estão em exibição na televisão até podem passar despercebidos, mas se sabemos de suas origens e lançamento em mídia física sem passagem pelos cinemas o pé atrás parece inevitável, ainda mais quando o produto beira as três horas de duração. Logo nos vem à cabeça os diálogos super decorados, as situações esquemáticas e os indesejáveis cortes de entrada para comerciais que geralmente não são excluídos na edição para consumo doméstico. Embora pouco conhecido e raridade, o suspense dramático Tráfico Humano é uma ótima opção para revermos conceitos, a começar pelo tema polêmico e indigesto que em um filme comum não seria tão bem explorado. O tráfico de pessoas é um dos maiores negócios dos tempos atuais para as facções criminosas e rende incontáveis milhões por ano. O pior de tudo é saber que quem alimenta este mercado ilícito e deprimente são pessoas com posses e teoricamente esclarecidas, justamente o que o filme recrimina em seu término. É lembrado que essa “modernização” da escravidão tem como principais apoiadores o próprio EUA cuja cultura local cria uma demanda para isso e incentiva outros países ao mesmo comportamento. Quem não conhece o clichê do pai que leva o filho aos “inferninhos” quando adolescentes para provar sua masculinidade e que inerentemente propaga a ideia de que o prazer sexual deve vir acompanhado da promiscuidade e do proibido? E alguém duvida que estes mesmos jovens se tornem os velhotes safados que continuarão alimentando o comércio do sexo? Esse é apenas um dos problemas que o roteiro de Carol Doyle e Agatha Domink nos deixa para refletir, mas a narrativa aponta para vários caminhos que a certa altura nos angustiam, quase perdemos a vontade de continuar assistindo de tão ordinário que é este submundo. Impossível não pensar que uma filha, sobrinha ou amiga pode sem saber estar na mira de quadrilhas, mas mesmo assim temos a curiosidade de saber até onde vai este circo de horrores.

domingo, 25 de junho de 2017

ARITMÉTICA EMOCIONAL

Nota 4,0 Elenco forte e bons ganchos são desperdiçados por drama que fica só nas boas intenções

O tempo passou e praticamente não temos mais viva uma importante parte da História mundial. Os sobreviventes do Holocausto pouco a pouco foram falecendo, mas suas tristes lembranças continuam a serem perpetuadas através de seus descendentes e registros em jornais, livros, revistas, televisão e obviamente o cinema. Aritmética Emocional poderia ser mais uma obra a ampliar essa extensa lista de produções que preservam momentos históricos, mas infelizmente o tema do extermínio dos judeus serve apenas como uma desculpa para uma trama sobre amores esquecidos e dificuldades para lidar com traumas, porém, tudo tratado de forma muito superficial apesar de contar um quarteto de renomados atores. Não é um trabalho horroroso, pelo contrário, mas a sensação de que poderia ser um daqueles dramas de dar nó na garganta é inevitável. Roteirizada por Jefferson Lewis, a trama se passa em 1985 quando Melanie Lansing (Susan Sarandon) finalmente recebe notícias de Jakob Bronski (Max Von Sydow), um prisioneiro que a ajudou a sobreviver aos horrores da Segunda Guerra Mundial durante o período em que viveu em Drancy, um campo de concentração constituído próximo a Paris, uma espécie de entreposto de prisioneiros antes de serem enviados para os nazistas para realizarem trabalhos forçados ou serem mortos. Sentindo-se com uma dívida de gratidão, ela o convidou via correspondência para ir passar alguns dias junto com ela e sua família, mas isso não agrada muito a David Winters (Christopher Plummer), seu marido, pois acredita que tal visita poderia piorar o estado de sua esposa que recentemente saiu de uma clínica psiquiátrica e tornou-se dependente de remédios para os nervos, tudo por conta das marcas que ficaram de sua traumática infância. Por conta dessas crises, Melanie nunca conseguiu levar uma vida totalmente feliz e isso se refletiu em seu casamento que se já era estremecido ficou ainda mais complicado quando descobrem que Jakob não veio sozinho. Junto com ele está Christopher Lewis (Gabriel Byrne), outro garoto acolhido pelo bondoso senhor nos tempos de Drancy. Mais que relembrar momentos dolorosos, o encontro com esse amigo do passado traz de volta um amor adormecido.

sábado, 24 de junho de 2017

CINCO DIAS PARA A MORTE

Nota 4,0 Feito para a TV, suspense se perde em meio a situações desnecessárias ou absurdas

Desde que filmes como O Sexto Sentido, Amnésia e Efeito Borboleta surpreenderam com finais impactantes ou tramas que se sustentam na base da intriga do vai e vem no tempo, realizar um suspense de mesmo nível tem sido uma obsessão de muitos cineastas, até mesmo dos profissionais da telinha. Produzido para a TV, Cinco Dias Para a Morte tenta ser mais do que pode e acaba se atropelando nas próprias pretensões. A cena inicial mostra um homem sendo assassinado a tiros e logo em seguida um aviso informa que a ação regride cinco dias, começa em 07/06/2004, mais um dia aparentemente normal na vida de J. T. Neumeyer (Timothy Hutton), um professor de física. O dia só seria diferente por mais uma vez renovar alegrias e tristezas. Nessa data ele perdeu a esposa durante o parto de sua filha Jesse (Gage Golightly), assim a cada aniversário da garota é impossível disfarçar a melancolia. Na universidade, tudo também correria bem se não fosse um atrito que teve com um de seus alunos, Carl Axelrod (Hamish Linklater), que gostaria de tê-lo como orientador de sua tese de mestrado, mas parece que o professor não se simpatiza pelo rapaz que chega a lhe fazer uma ameaça. O dia fica estranho mesmo quando Neumeyer e a filha vão visitar o túmulo da mãe dela e magicamente ele encontra uma moderna pasta-cofre com seu nome, mas travada com senha. Justamente a data deste dia peculiar serve para destravá-la e revelar seu sinistro conteúdo. Documentações mostram que o professor estaria morto dentro de cinco dias e seria assassinado dentro de um clube de strip-tease, local que ele não frequenta. O impactante é que além de balas de revólver embaladas como se fossem para a perícia, também existem fotos comprovando a morte com ele vestindo o mesmo casaco que ganharia dentro de poucas horas da namorada Claudia (Kari Matchett), esta que se mostra incomodada com o assunto, principalmente porque seu nome consta nos boletins de ocorrência como uma das suspeitas. Carl também está na lista e Neumeyer tem certeza de que foi seu aluno que resolveu amedrontá-lo por vingança.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

ILUMINADOS PELO FOGO

NOTA 8,5

Longa de guerra argentino segue
cartilha do gênero e mostra o
sofrimento de soldados que jamais
tiveram suas memórias exaltadas 
Qualquer país teoricamente tem o direito de evocar problemáticas e fatos históricos de outros territórios, basta ter consciência do negócio de risco que é investir em tramas que podem ser alheias ao público local e até mesmo para a equipe realizadora. Imagine, por exemplo, a nossa Guerra de Canudos ou dos Farrapos sob a ótica norte-americana. Por mais pesquisas que fossem feitas, o resultado dificilmente seria natural, faltaria nossa identidade na tela de alguma forma. Seria ainda pior se os conflitos retratados também respingassem na rotina do tio Sam, o que possivelmente implicaria na alteração do conteúdo histórico (a favor dos ianques, claro). Clint Eastwood foi um dos raros cineastas que teve a ousadia de mostrar os dois lados da moeda ao lançar no mesmo ano A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, ambos sobre o final da Segunda Guerra Mundial, o primeiro apresentando a heroica versão dos fatos sob o ponto de vista americano e o outro relatando o episódio pela ótica do Japão. A Guerra das Malvinas é outra passagem importante da História mundial. Embora não envolvesse diretamente os EUA, o pessoal de lá acompanhou o desenrolar dos fatos atentamente por um detalhe em especial: Margaret Thatcher, uma mulher que marcou a trajetória política da Inglaterra por sua coragem e força de vontade para ser ouvida em um universo dominado pelos homens, ousadia que mais cedo ou mais tarde também poderia incentivar as americanas a sonharem com a escalada no mundo do poder. Também estavam atentos que por envolver a disputa de territórios, ficava clara a tentativa britânica de se firmar como uma grande potência. O drama A Dama de Ferro narra a vida pessoal e política de Thatcher dando atenção especial ao episódio das Malvinas, mas o longa, apesar dos prêmios à arrasadora performance de Meryl Streep, colheu críticas negativas por parte de especialistas que afirmam que os fatos foram “floreados” para colocar a então Primeira Ministra Britânica na posição de heroína. A disputa da Inglaterra pelo controle das Ilhas Malvinas ocorreu em um sangrento conflito com a Argentina, país que por conhecimento de causa tinha todo o direito de expor sua versão dos fatos e assim foi feito no emocionante e pouco conhecido Iluminados Pelo Fogo, baseado no livro homônimo de Gustavo Romero Borri e Edgardo Estevan, este que foi um dos homens que serviu como soldado no conflito deflagrado em 1982.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

DOGMA DO AMOR

NOTA 2,0

Mescla de drama, suspense e
ficção científica para no fundo
contar uma história de amor
soa bizarra e enfadonha
Dogma 95 foi um movimento cinematográfico que não resistiu muito tempo. Os jovens, criativos e sufocados cineastas que o fundaram tinham a proposta de realizar um cinema mais realista e cru, abandonando praticamente todos os artifícios cinematográficos em nome da arte pura. O resultado eram filmes preocupados com o conteúdo e com estética semelhante a de filmes caseiros, mas pouco a pouco apenas os conceitos estéticos rústicos poderiam ser elogiados, pois as narrativas não conseguiam mais superar o impacto dos primeiros filmes sob essas regras. O dinamarquês Thomas Vinterberg faz parte da mesma turminha da qual despontou Lars Von Trier, mas mesmo com todo o sucesso de Festa de Família ele jamais alcançou o mesmo status do colega que logo se esqueceu dos conceitos de cinema que defendia e ficou famoso com obras tão polêmicas quanto suas declarações e atitudes em eventos. O segundo trabalho de Vinterberg rompe totalmente com o movimento que o lançou, pois fica claro que é uma produção requintada e que usou e abusou de tudo aquilo que antes era considerado apenas como firulas (entenda-se como recursos técnicos) para escamotear a falta de conteúdo.  Lançado quando o Dogma 95 já havia se tornado um capítulo encerrado, “It’s All About Love” (tudo a respeito do amor) ganhou no Brasil o oportunista título Dogma do Amor, um claro chamariz para os cinéfilos alternativos, mas a produção queria arrebatar novas plateias, ainda que a narrativa fosse estranha. Curiosamente, o filme não agradou a gregos e nem a romanos. Simplesmente foi massacrada pela crítica especializada e nem as plateias cults foram seduzidas. O descaso é totalmente justificável, mas não exatamente pelo fato do diretor aderir ao cinema-espetáculo.  A trama, escrita por ele mesmo, é o grande calcanhar de Aquiles. Em 2021 o mundo está um verdadeiro caos. A falta de amor e a solidão tornaram-se grandes problemas da humanidade e diariamente centenas de pessoas em todos os cantos do mundo estão literalmente caindo mortas por conta de um estranho problema no coração. Áreas que costumeiramente sofriam com altas temperaturas, agora vivem sob temperaturas negativas e na TV os noticiários informam que na Uganda pessoas estão morrendo por conta de acidentes causados pelo estranho fenômeno de falha da gravidade que leva os habitantes a flutuar. Em meio a estas situações bizarras, o escritor John (Joaquin Phoenix) está vindo da Polônia para Nova York para reencontrar a esposa, Elena (Claire Danes), uma patinadora artística de sucesso.

domingo, 18 de junho de 2017

O JOVEM GUERREIRO

Nota 6,0 Épico francês é divertido, mas peca por pouco se aprofundar em contexto histórico

Existem filmes menores lançados por distribuidoras pequenas que infelizmente acabam não atingindo o grande público. Está certo que a grande maioria destas produções é dispensável, mas outras se não são memoráveis ao menos garantem um passatempo divertido e de qualidade como é o caso de O Jovem Guerreiro, épico francês que acompanha a infância e a adolescência de Jacquou (Gaspard Ulliel), um corajoso rapaz que cresceu alimentando o desejo de vingar-se do homem que destruiu sua família. Em 1815, a França vivia tempos de revolução, mas ao mesmo tempo existia o desejo de retomar a hegemonia da monarquia, assim haviam constantes perseguições àqueles que eram contrários as medidas do rei e seus colaboradores. O pai de Jacquou (Albert Dupontel) estava sendo ferrenhamente caçado pelos subordinados do Conde de Nansac (Jocelyn Quivrin), um arrogante e cruel homem da nobreza. O valente camponês se recusava a fugir e preferiu enfrentar os inimigos, mas acabou sendo capturado e levado a julgamento, principalmente porque foram encontrados junto a seus pertences uma medalha de honra e uma patente de coronel dadas por Napoleão Bonaparte, nome odiado pelos nobres. Imediatamente sua esposa (Marie-Josée Croze) e seu filho são despejados de casa e obrigados a viver em um abrigo improvisado, mas o martírio só estava começando. Condenado à prisão, o pai de Jacquou tenta fugir longo no primeiro dia e acaba sendo morto e pouco tempo depois a mãe do garoto falece de tanta tristeza. Sozinho e sem ter como se sustentar, Jacquou em uma noite de muito frio e nevasca tenta se suicidar para juntar-se a seus pais, mas acaba sendo salvo pelo padre Bonal (Oliver Gourmet) que decide criá-lo. Esta primeira parte que retrata a infância do protagonista não abre muito espaço para o contexto histórico preferindo o roteirista Eugene Le Roy concentrar suas atenções para o sofrimento do garoto muito bem interpretado nesta primeira fase por Léo Legrand.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

MÁS COMPANHIAS

NOTA 6,5

Comédia de humor negro tem
início irônico e perversamente
realista, mas a certa altura o
diretor viaja e perde seu foco
Diga-me com quem andas e te direi quem és. O velho ditado cai como uma luva para sintetizar a ideia discursada em Más Companhias, comédia com estilo alternativo que visa se comunicar com o público mais jovem, mas não exclui as plateias mais maduras, embora os personagens adultos sejam retratados como verdadeiros neuróticos que circulam entre adolescentes aparentemente sérios e introspectivos. O grande lance é discutir que a falta de comunicação é uma problemática séria dos tempos atuais (e em alguma época deixou de ser um empecilho?). Da dependência química ao desenvolvimento de problemas psicológicos, passando pela soberba e egocentrismo que ajudam as pessoas a fugir de certos assuntos temporariamente, o interessante é que o roteiro de Zac Stanford propõe um mosaico divertido e levemente dramático envolvendo personagens pertencentes à classe-média, uma desconstrução da ilusão de que todos que vivem em casarões com jardins desprovidos de cerca são realmente felizes. E quem ainda acredita que as drogas são um problema das periferias ou de países de terceiro mundo? Está mais do que na hora de rever seus conceitos então. São justamente as substâncias alucinógenas que funcionam como a pólvora prestes a explodir um condomínio de luxo cujos habitantes têm suas rotinas completamente transformadas de uma hora para a outra. Tudo começa com uma visita do adolescente Dean Stiffle (Jamie Bell) ao amigo Troy (Josh Janowicz), mas quando entra em seu quarto descobre que ele cometeu suicídio. O falecido era um dos caras mais descolados do colégio e todos queriam sua amizade por conta de suas famosas “pílulas da felicidade” que faziam a alegria dos jovens da engessada cidade de Hillside. Não havia motivo para ele se enforcar, mas Dean, que o considerava seu único amigo, se já era um sujeito caladão passou a ficar ainda mais introspectivo. Tentando entender como não percebeu que Troy estava infeliz, o que poderia ter evitado a tragédia, o rapaz simplesmente procurou ignorar o que aconteceu, não contou nem mesmo à mãe do suicida, Carrie (Glenn Close), que foi o primeiro a vê-lo morto. Sua reação inerte chama a atenção do seu pai, Bill (William Fichtner), um terapeuta e escritor que adora propagar teorias de que nada é por acaso, tudo tem um propósito. Coincidência ou não, o comportamento de Dean é um de seus objetos de estudos prediletos.

domingo, 11 de junho de 2017

PÁSSAROS LIVRES

Nota 3,0 Apesar da animação caprichada, produção latina sofre com roteiro frágil e sem clímax

Produções vindas de outros países são sempre bem-vindas para oxigenar o mercado, mesmo que lançadas direto para consumo no aconchego do lar. Vários países já provaram que podem fazer excelentes filmes e nos mais variados gêneros, mas a demanda de animações ainda é muito tímida, talvez pelo medo de bater de frente com os gigantes hollywoodianos que com seus desenhos produzidos com alta tecnologia, narrativas inteligentes e humor por vezes ácido conquista espaço facilmente e não deixa brecha para amadores. Realmente, os custos de uma animação são consideráveis e não ter a publicidade do cinema é um empecilho até mesmo para o lançamento em DVD e outras mídias domésticas, assim no mínimo devemos aplaudir o trabalho de pessoas que topam investimentos de risco do tipo, ainda mais quando representam países sem tradição no ramo. A Argentina já provou ser brilhante para dramas e comédias, mas Pássaros Livres foi lançado com o intuito de dar um passo adiante em sua cinematografia. A atitude é louvável, mas o resultado é no máximo regular, infelizmente. Com roteiro e direção de Daniel De Felippo, o longa acompanha as aventuras de dois passarinhos em situações opostas. Juan é um pardal que tem complexo por se achar uma ave comum, o que o leva a viver de certa forma recluso, sempre escondido sobre o disfarce de penugem em tons marrons. Ele adora se sujar na lama para que suas penas ganhem um tom diferenciado e assim consiga se destacar e chamar a atenção das fêmeas que geralmente o ridicularizam. No momento ele está empolgado com uma competição das aves mais rápidas e conta com a torcida de seus amigos, como o beija-flor Pipo e a pomba Líbia, mas um incidente com latas de tinta acaba desviando seu foco. Com coloração exótica como sempre desejou, ele está se achando “o cara” e só pensa em paquerar e se exibir. Antes desta transformação, Juan havia conhecido por acaso Feifi, uma canarinha que passou a vida dentro de uma gaiola, estava infeliz e por um descuido acabou tendo que enfrentar os perigos da cidade grande. Para ajudá-la nesse primeiro contato com a liberdade, ela ganha a improvável ajuda de Clarita, uma morceguinha boa-praça.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A PASSAGEM (2005)

NOTA 8,0

À primeira vista confuso e
monótomo, longa exige reflexão e
desafia a inteligência do espectador,
mas seu final compensa o esforço 
Não entendi nada. Certamente esse é um dos comentários mais comuns feitos para o suspense A Passagem, mais uma daquelas produções que jogam peças ao longo da narrativa para que o espectador tente montar o quebra-cabeça proposto, só que neste caso quem assiste pode respirar aliviado ao final, pois tudo é explicado. O problema é que aqueles que se entediarem com a narrativa certamente vão dispersar a atenção e perder detalhes importantes, assim a conclusão continuará sem sentido inevitavelmente. Apesar de colher elogios de críticos amadores, é óbvio que não é um filme popular, é preciso estar preparado para encará-lo o que lhe confere certa aura de “obra de nicho”. De fato, o passar dos anos comprova o rótulo já que se tornou um título de procura específica ou apenas curiosos aficionados pelo trio de atores principais devem querer assisti-lo, estes que provavelmente vão se perguntar porque seus ídolos se meteram nesse projeto. Escrito por David Benioff, a trama fala sobre o mundo de paranoias em que um psiquiatra mergulha quando se torna muito próximo de um de seus pacientes. Sam Foster (Ewan McGregor) foi chamado para substituir por duas semanas uma colega e assim conheceu Henry Lethem (Ryan Gosling), um jovem com graves distúrbios mentais. A mudança repentina de profissional não agradou o rapaz que já tinha a sensação de ser um rejeitado e se até sua médica não queria mais lhe dar ouvidos... De qualquer forma, não demora muito para ele se sentir a vontade e revelar ao doutor que pretende cometer suicídio em três dias, assim Foster começa a investigar o passado do paciente para compreender as razões de seu desespero e impedir uma tragédia, no entanto, conforme se aprofunda no assunto ele também acaba se envolvendo com situações que o fazem perder a noção da realidade. Falar que vai se matar qualquer um pode afirmar em momentos de depressão ou angústia, mas o que intriga o psiquiatra neste caso é uma coincidência. Henry é estudante de artes plásticas e tem sua morte meticulosamente planejada para o dia em que completará 21 anos, a mesma atitude que tomou um pintor que ele admira quando completou essa idade. Lila (Naomi Watts), namorada de Sam e sua antiga paciente, mas que ainda sofre de depressão, acredita que compreende as emoções do jovem suicida e oferece sua ajuda. Curiosamente ela chama constantemente o companheiro de Henry, por que isso? Como o tal paciente consegue prever acontecimentos futuros, inclusive pensamentos de seu psiquiatra? Por que o rapaz insiste que seu médico mantém contato com o seu pai, embora este já tivesse falecido? A mãe do paciente também já teria morrido, mas como Sam conversou com ela pessoalmente? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas que vão se acumulando e, como já dito, um desvio de atenção e tudo se embola.

domingo, 4 de junho de 2017

BAILEY - UM CÃO QUE VALE MILHÕES

Nota 3,0 Transbordando clichês de filmes de animais falantes, longa deve agradar aos pequenos

Cachorrinhos fofinhos e falantes ainda tem plateia garantida? Bem, confiando que o público está sempre se renovando e crianças inocentes e descobrindo a magia do cinema não vão faltar, tem sempre produtores de plantão dispostos a bancar produções censura livre para atender esse nicho. Os roteiristas Mary Walsh e Heather Conkie não tem como fugir dos estereótipos desse tipo de produção em Bailey – Um Cão que Vale Milhões, nem mesmo das batidas mensagens de proteção à natureza e tampouco das lições de moral, neste caso acerca da ganância que cega as pessoas. O filme tem um rápido prólogo onde conhecemos Marge Maggs (Laurie Holden), uma corajosa ambientalista que faz de tudo para proteger os animais, assim ela tem uma ficha policial considerável, mas sempre perdoada devido as boas intenções de seus atos. Dois anos depois de desmantelar mais um laboratório que usava ilegalmente bichos para experimentos, ela agora trabalha em uma instituição de pesquisa e direitos dos animais fundada pela Sra. Constance Pennington (Jackie Burroughs), uma idosa milionária que antes de falecer deixou seu testamento gravado em vídeo. Como nunca teve filhos, seu sobrinho Caspar (Tim Curry) e a esposa Dolores (Jennifer Tilly) já faziam planos para gastar a herança, mas se surpreendem quando descobrem que a eles só restou o cargo de direção da fundação, uma espécie de punição por eles nunca terem sido muito amáveis com ela. Toda a fortuna foi deixada para o cãozinho Bailey, seu fiel companheiro por anos, que tem como tutor o tímido Ted Maxwell (Dean Cain), um especialista em comportamento animal que afirma “dialogar” com o cachorro milionário. Contrariando a regra que os opostos se atraem, o psicólogo e a defensora dos animais se entendem logo que se conhecem por conta de seus interesses em comum, mas recebem uma forcinha de seus bichinhos. Bailey também se apaixona por Tessa, a cadelinha de estimação de Sam (Angela Valee), a filha de Marge. Obviamente a felicidade do casal, ou melhor, dos casais, vai sofrer interferência da dupla de vigaristas que antes mesmo de terem a decepção do testamento já estavam colocando um plano B em prática.

sábado, 3 de junho de 2017

FEITA POR ENCOMENDA

Nota 5,5 Longa se apoia no carisma da protagonista e trata superficialmente tema científico

O assunto de bebês do tipo “produção independente” hoje é debatido com mais naturalidade, mas ainda assim não deixa de ser um tabu. Imagine então falar disso duas décadas atrás. Para afugentar o fantasma da polêmica, nada melhor que trazer a temática para o campo do humor, embora qualquer questão científica seja descartada ou minimizada em Feita por Encomenda, um filme que claramente se sustenta em cima do carisma e talento de Whoopi Goldberg que dá vida à Sarah Matthews, a politizada dona de uma livraria na Califórnia especializada em cultura africana. Ela sempre quis ter filhos, mas acabou ficando viúva antes de conseguir engravidar. Não se importando em enfrentar as dificuldades de ser uma mãe solteira, ela acabou recorrendo a um banco de sêmen para realizar seu sonho e de uma inseminação artificial nasceu Zora (Nia Long). Como a maioria dos casos do tipo, é óbvio que na adolescência a menina começa a questionar sua origem, a diferença é que até então ela nem desconfiava que fosse filha de pai desconhecido. A descoberta foi por um acaso. Durante uma pesquisa escolar, ela descobre que seu tipo sanguíneo não corresponde com a junção do sangue da mãe com a do falecido marido. Como toda comédia romântica tradicional, são perceptíveis só de ler a sinopse todas as peças necessárias para fazer essa engrenagem funcionar. Após muito esforço, Zora consegue arrancar a verdade de Sarah, fica em meio a uma crise de identidade e encasqueta de saber quem foi o doador do material genético. Muito facilmente ela chega até o laboratório onde foi gerada, arma um plano para ter acesso ao banco de dados e então mais uma surpresa... Para a filha e também para a mãe. A comerciante havia requisitado o sêmen de um homem negro, alto e inteligente. Bem, realmente lhe conseguiram um doador alto, talvez inteligente, mas de pele branca. Ele é Hal Jackson (Ted Danson), um vendedor de carros falastrão e metido a conquistador que chega até a dar uma cantada de leve em Zora, mas quase tem um colapso quando descobre que ela é sua filha. Ao ver o tipo de pai que tem, a menina se decepciona e sua mãe fica enfurecida pelo erro do laboratório, mas já que agora toda a verdade veio à tona o melhor seria tentar a convivência pacífica.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

PROTEGIDA POR UM ANJO

NOTA 5,0

Repetindo clichês e buscando
um toque de filme europeu,
suspense meia-boca entretém,
mas parece uma obra datada
Já vivenciando a decadência do longo período de sucesso dos filmes de horror orientais, refilmagens ou originais, não importa, Hollywood tentava pegar carona nos últimos passos dessa esteira e lançou muitas produções com temáticas sobrenaturais procurando algum viés “inédito”, algo diferente dos fantasminhas de cabelos escorridos tapando os rostos tão comuns nos longas asiáticos. O excesso de produtos do tipo acabou fazendo com que o mercado norte-americano selecionasse com mais cautela aqueles que seriam exibidos nos cinemas, o que explica o fato de Protegida por um Anjo ter sido lançado diretamente em DVD por lá. Ele está longe de ser ruim, cumprindo seus objetivos de entretenimento rasteiro e oferecer alguns sustos, mas é relativamente fraco para lutar por bilheterias, tanto que no Brasil passou pelas telonas em um estalar de dedos, encontrando um espaço mais confortável nas telinhas de casa. O problema é que encabeçando o elenco está Demi Moore. Embora estivesse há anos de distância de seu auge artístico, seu nome continuava chamando a atenção, ainda mais atrelado ao meloso título que automaticamente nos faz lembrar de Ghost - Do Outro Lado da Vida, ainda o maior sucesso da atriz. Todavia, o romance proposto aqui não vinga e a intérprete mostra-se comum, não está com seu habitual brilho. Na trama escrita e dirigida pelo australiano Craig Rosemberg, de Ladrão de Diamantes, ela dá vida à Rachel Carlson, uma famosa e premiada escritora de livros de mistério radicada na Inglaterra que fica abalada com a morte de Thomas (Beans El-Balawi), seu único filho que com apenas sete anos faleceu afogado no lago ao lado de sua casa. Sentindo-se responsável pelo acidente, um ano depois ela ainda não está em condições de voltar a escrever e até seu casamento com Brian (Henry Ian Cusick) está abalado e eles preferem dar um tempo. Sozinha, Rachel resolve aceitar o adiantamento de uma editora como forma de incentivo e também a ideia de sua amiga Sharon (Kate Isitt) para alugar uma cabana em Ingonish Cove, uma pequena e remota ilha na Escócia, para assim poder relaxar e se inspirar a voltar ao trabalho. O povoado parece um lugar esquecido pelo tempo. Muito calmo e com poucos habitantes, pouco a pouco a escritora vai se adaptando a melancólica rotina e recobra a vontade de escrever ao se deparar com um isolado e antigo farol, contudo, as visões com o filho ainda a perturbam.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

BELEZA ROUBADA

NOTA 8,0

Ousado para a época, obra hoje
pode não impactar com sua
temática,  mas se beneficia do
envelhecimento visual e narrativo
Bernardo Bertolucci. Este sonoro nome é um daqueles que ficam marcados em nossas mentes e mesmo aqueles que desconhecem sua profissão dificilmente o esqueceriam. E ao saber que ele é responsável por obras clássicas como O Último Tango em Paris e O Último Imperador, qual sua reação? Ele é o cara! Talvez esta sensação de que tudo que ele faz vale a pena tenha contribuído para que obras menores suas ganhassem um status que pode ser questionado, como é o caso de Beleza Roubada. Este é um daqueles títulos antigos que facilmente figuram nas listas de “prometo que vou assistir” que algumas pessoas fazem a cada ano que se inicia ou como planos para férias, mas não raramente é escolhido como uma das últimas opções ou simplesmente preterido para uma próxima listagem. Bem, o longa realmente vale a pena, mas sendo produzido anos após a incursão no diretor no grandioso e luxuoso universo imperial chinês, a produção realmente parece diminuída, embora comparações entre estes títulos seja covardia. O problema é que dificilmente alguém hoje em dia optaria por assistir esta fita se não fosse atraído pelo nome de Bertolucci e as comparações com outros projetos de seu currículo são inevitáveis. Com argumento do próprio cineasta, o roteiro foi escrito por Susan Minot, o que justifica a predominância de aura feminina em praticamente todas as cenas e diálogos. Depois do suicídio da mãe, a jovem Lucy Harmon (Liv Tyler) viaja para a Toscana, na Itália, para passar algum tempo na fazenda de Diana (Sinéad Cusack) e Ian Grayson (Donal McCann), casal amigo de sua família. A jovem já esteve lá quatro anos antes e desde então nutre um amor exagerado por Niccoló (Roberto Zibetti), com quem apenas trocou seu primeiro beijo, mas seu sonho em reencontrá-lo algum dia a fez preservar sua virgindade até então. Uma jovem americana aos 19 anos e que jamais foi tocada intimamente por um homem já era artigo raro em meados dos anos 90, então já dá para imaginar que sua chegada a tal ambiente bucólico tornou-se um evento que chamou a atenção dos rapazes. Para todos os efeitos, ela está na Itália para ter um retrato seu pintado por Ian tal qual sua mãe tinha, mas na verdade, além de tentar rever seu amor platônico, ela quer descobrir quem é seu pai biológico tentando desvendar uma enigmática mensagem do diário da falecida.