NOTA 9,0 De origem francesa, preto e branco e sem um único diálogo sequer, obra que homenageia o cinema agrada por sua ousadia e ao mesmo tempo simplicidade |
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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
O ARTISTA
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
O DESTINO DO POSEIDON
NOTA 8,5 Clássico representante dos tempos áureos dos filmes-catástrofes, longa ainda prende atenção com ótimo enredo e atuações e efeitos visuais convincentes |
Virada de ano é tempo de
festejar, fazer pedidos e renovar a esperança crente que um novo tempo começará
a partir de 1º de janeiro. Nessa excitação de momento, provavelmente nem os
mais pessimistas tem tempo ou motivação para pensar que o pior pode acontecer
poucos minutos após os estouros de champanhes e do show dos fogos de artifício.
Já pensou você estar em um luxuoso transatlântico, curtindo um festão e de
repente virar literalmente de cabeça para baixo e ser arrastado para o teto do
salão? Pois é isso que acontece durante os festejos de ano novo retratados em O Destino do Poseidon, clássico representante
dos filmes-catástrofes, subgênero tão popular na década de 1970. Ele é a prova
que para fazer cinema do tipo não é preciso se tornar refém de efeitos
especiais de ponta. Basta ter uma boa história para contar e criatividade em
sua condução para fisgar o espectador. A trama em si é das mais simples.
Durante a noite de reveillon o imponente Poseidon, um tipo de hotel de luxo
flutuante, está transbordando (sem trocadilhos) de passageiros que no melhor da
festa são surpreendidos com um intenso sacolejar por conta do impacto de uma
onda gigantesca que deixa o navio totalmente virado de cabeça para baixo.
Dezenas de pessoas morreram na hora, inclusive a tripulação da cabine de
comando o primeiro local a ficar submerso, mas muitas sobreviveram e se viram
isoladas dentro do salão principal que em um primeiro momento parecia a prova
d'água. Contudo, não tardaria para o local ser invadido por uma enxurrada e um
pequeno grupo liderado pelo reverendo Frank Scott (Gene Hackman) decide que
aguardar resgate era perda de tempo e o melhor seria procurarem por conta
própria uma saída. Assim eles se aventuram pelas entranhas da embarcação
tentando subir rumo ao casco que ainda está boiando na superfície, mas o tempo
está contra eles. Como para a maioria dos espectadores a estrutura de uma
embarcação é desconhecida, poucos conhecem até mesmo os ambientes comuns que
dirá tudo que necessita para sua engrenagem funcionar, a sensação de pavor é
intensificada. A cada desafio vencido não há sensação de alívio e sim a
preocupação do que está por vir.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
CRUPIÊ - A VIDA EM JOGO
NOTA 6,0 Apesar da premissa batida envolvendo o universo dos cassinos, longa ganha pontos com o refinamento do texto e direção |
É curioso como filmes acerca do
mundo dos jogos de azar conseguem chamar a atenção principalmente dos chamados
cinéfilos de final de semana, mesmo sendo uma temática bastante fechada. Claro
que existem nichos de pessoas que conhecem as regras das roletas, carteados e
afins, mas a grande maioria é alheia a esses assuntos, principalmente pelo fato
dos cassinos serem proibidos no Brasil, assim não sendo uma atividade bem vista
e frequentemente associada ao submundo dos crimes e drogas. Crupiê -
A Vida em Jogo de certa forma reitera tais preconceitos, mas faz
isso com certo refinamento. Na trama escrita por Paul Mayesberg, de O Último Samurai, os gêneros drama,
thriller e policial se mesclam de maneira um pouco disforme, mas compensa com
um estilo sóbrio que combina com o estilo do protagonista, um homem que também
de maneira cautelosa planeja seus passos para se dar bem, mas acaba envolvendo
as pessoas que o cercam em ciladas. Jack Manfred (Clive Owen) sonha em se
tornar um escritor de sucesso, mas em meio as suas tentativas para publicar seu
primeiro romance acaba afogando-se em dívidas. Ele fica sabendo sobre uma vaga
de emprego em um cassino londrino como croupier, mas ele tinha prometido a si
mesmo que não se meteria mais com jogatinas. Contudo, as dificuldades o forçam
a correr atrás deste emprego e, diga-se de passagem, seu desempenho surpreende
dia após dia, sem essa de sorte de principiante, mas sua namorada Marion (Gina
McKee) insiste para que ele peça demissão e retome a carreira literária. Mal
sabe ela que seu companheiro está nesse negócio justamente para observar os
frequentadores do cassino e se inspirar para escrever um novo livro sobre um
assunto que domina. Não demora muito para que Manfred se desvirtue,
principalmente quando se envolve amorosamente com Bella (Kate Hardie), uma
colega de trabalho, ao mesmo tempo que não resiste as investidas de Jani (Alex
Kingston), uma jogadora que lhe faz uma ousada proposta. Ela quer a ajuda do
rapaz para acobertar um grupo de criminosos em um plano para roubar a casa de
jogos. Por fim, todas essas experiências o inspiram a escrever a história do
croupier Jake, claramente seu alter ego.
domingo, 27 de dezembro de 2015
KATE E LEOPOLD
Nota 6,0 Carisma dos protagonistas ajuda a manter interesse por comédia romântica fantasiosa
Meg Ryan tem uma trajetória
profissional mais ou menos como a de Julia Roberts. Seu terreno seguro é o
gênero romântico e seus filmes já tem público cativo, talvez por isso elas
tenham se tornado símbolo do cinema lucrativo da década de 1990, mas ambas hoje
em dia já não estão no mesmo patamar de outrora. A diferença é que a loira de
olhos claros não conseguiu transitar bem por outros estilos de filmes e acabou
criando raízes em um mesmo, motivo que talvez explique o porquê de sua presença
nas telas nos últimos anos ser quase nula. Chegam novas safras de atrizes para
ocupar sua vaga e ela sofre com a escassez de bons papéis para mulheres
maduras. Todavia, mesmo repetindo um personagem que ela praticamente passou a
vida toda interpretando, em Kate e Leopold a
balzaquiana prova mais uma vez que faz bem aquilo a que se propõe.
Ela dá vida a Kate, uma bela e bem-sucedida executiva do mundo da publicidade que vive
brigando com seu ex-namorado Stuart (Liev Schreiber). Eles vivem no mesmo
prédio e ela implica com as loucuras do rapaz que se dedica a pesquisas
científicas. Um dia, ele descobre um portal que acaba acidentalmente transportando
de uma época antiga para os tempos contemporâneos Leopold (Hugh Jackman),
um nobre do século 19. Sem saber como mandá-lo de volta para o passado e
enfrentando alguns problemas pessoais, Stuart abriga em seu apartamento o rapaz
que precisa enfrentar as mudanças radicais existentes entre a época que vivia e
a que passou a habitar de uma hora para a outra. Kate inicialmente evita
contato com Leopold por achar que ele está fazendo algum tipo de brincadeira já
que ele se comporta, fala e se veste estranhamente, mas logo ela passa a se
sentir atraída pelo seu jeito gentil e romântico. Um homem do tipo é artigo raro e ela obviamente não poderia deixar passar a chance de literalmente ter um príncipe ao seu lado.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
OPERAÇÃO PRESENTE
NOTA 9,0 Família Noel procura modernizar seu esquema de entrega de presentes, mas quando há uma falha a salvação para o Natal pode ser o tradicionalismo |
Dia 25 de dezembro, é Natal, e os chatos de plantão podem
reclamar a vontade, mas não dá para comemorar a data sem curtir um filminho
natalino. Todos sabem o que vamos encontrar neles e talvez seja justamente a
repetição de mensagens edificantes o que torna tal programa irresistível em uma
época em que a maioria está embriagada pela valorização do espírito de união,
amor e solidariedade. Geralmente com roteiros que flertam com o drama e a
comédia, basicamente tais obras lidam com o tema da recuperação do conceito
original desta data festiva e a animação Operação Presente não foge à regra,
mas basta um pouco de criatividade para dar certo ar de novidade à produção.
Como o Papai Noel entrega tantos presentes em todo o mundo em uma única noite?
Tentando responder a essa pergunta que milhares de crianças certamente fazem
todos os anos, este desenho traz toques de modernidade em sua narrativa como
uma mega operação de confecção e distribuição de presentes com o que há de mais
moderno e o sempre necessário núcleo familiar disfuncional desta vez é
representado pelos próprios parentes do bom velhinho. A
narrativa nos apresenta à Arthur, o filho do Papai Noel, este que não é um
milenário ancião como muitos pensam. Ele é o vigésimo homem de uma mesma
linhagem a ocupar a vaga ao longo de mais de mil anos de distribuição de
presentes, mas as coisas se complicaram comparando-se os dias de hoje com os
primórdios desta atividade. A população mundial cresceu de forma descomunal
tornando inviável a entrega de todos os presentes ao longo da madrugada
natalina, nem mesmo com todo o clã Noel se esforçando ao máximo. Assim, hoje o
aposentado e rabugento Vovô Noel, a prestativa Mamãe, o aficionado por
tecnologia Steve, apontado como o sucessor do bom velhinho, o próprio Papai,
Malcolm, em seus últimos dias usando a roupa vermelha, e ainda o caçula
desajeitado Arthur, além de milhares de elfos, viajam em uma moderna e potente
aeronave e comandam uma estratégica operação para entregar os brinquedos, praticamente
um plano de guerra. O metódico Steve é quem organiza tudo, contudo, mesmo com
todo o seu perfeccionismo as coisas não saem como esperado.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
SOBREVIVENDO AO NATAL
NOTA 7,0 Como toda boa ceia de Natal, longa conta com situações tradicionais à produções do gênero e ratifica mensagens de solidariedade |
Todo Natal é a mesma coisa. As pessoas reclamam da correria,
dos compromissos, do estresse das compras e do cansaço para os preparativos da
ceia e do almoço, mas que atire a primeira pedra quem nunca parou para pensar o
quanto seria chato passar esta data sozinho e ignorando tudo que envolva tal
festa? Bem, há quem realmente não goste do período natalino e não tem nada que
os faça mudar de ideia, mas é certo que muitos preferem esquecer qualquer
imagem que lembre ao Papai Noel por causa de lembranças tristes e esse é o
ponto de partida de Sobrevivendo ao Natal, comédia que reúne tradicionais
elementos de filmes que comemoram a data e exaltam o espírito de solidariedade
e a importância da família e amigos, mas que acabou sendo mal recepcionado pela
crítica e público americano e consequentemente chegou chamuscado em outros
países. A trama gira em torno de Drew Lathan (Ben Affleck), um executivo bem
sucedido, mas cheio de problemas emocionais por causa de seu passado humilde e
praticamente solitário. Cansado de passar o Natal sozinho ele é aconselhado a voltar à casa em
que morou quando criança e assim realizar uma espécie de simpatia para
recuperar sua alegria e entusiasmo a respeito da data festiva. O problema é que
o tempo só parou de certa forma para o rapaz e agora a residência está
ligeiramente modificada e abriga uma nova família, os Valcos. Dizem que tem coisas que o dinheiro não compra, será mesmo? Acostumado a
esbanjar dinheiro com futilidades, Lathan não pensa duas vezes e logo propõe
uma insólita, porém, tentadora proposta ao clã: oferece um bom dinheiro para
que eles finjam serem os parentes que ele nunca teve e lhe proporcionem uma
festa natalina tradicional como ele sempre sonhou. O patriarca Tom (James
Gandolfini) aceita a ideia numa boa assim como sua esposa Christine (Catherine
O’Hara) e seu filho Brian (Josh Zuckerman), mesmo após uma breve hesitação, mas
nada que um polpudo cheque não resolvesse. Todo o acordo foi sacramentado com
direito a contrato impresso e cláusulas rigidamente estipuladas, mas os Valcos
não esperavam que o tal marmanjo iria mudar suas vidas enlouquecendo-os com
seus devaneios de família perfeita e tradições natalinas.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
ESTÃO TODOS BEM
NOTA 8,0 Com trama folhetinesca que mescla estilo de cinema europeu e independente americano, drama conquista com temas universais |
O mundo mudou, mas o tempo não
apaga o desejo dos pais em verem seus filhos bem encaminhados na vida. Por mais
moderninhos que possam ser, que atire a primeira pedra o pai ou a mãe que não
sonhou ao menos uma vez com um futuro brilhante para seus pimpolhos, incluindo
a escolha da profissão que seguiriam? É a partir dessa ansiedade que se
alicerça o drama Estão Todos Bem, versão americana do italiano Estamos Todos Bem dirigido por Giuseppe
Tornatore em 1990. Com roteiro e direção de Kirk Jones, do simpático Nanny McPhee – A Babá Encantada, o longa
nos apresenta a Frank Goode (Robert De Niro), um sessentão viúvo e aposentado
que ocupa seus dias com tarefas domésticas como limpar a casa, cuidar do jardim
e fazer compras. Aliás, sua última visita ao supermercado foi especial, pois
ele comprou os ingredientes para uma refeição muito aguardada. Além do trivial,
escolheu um bom vinho e até comprou uma churrasqueira, tudo para recepcionar
com muito carinho seus quatro filhos para um almoço. Depois que se tornaram
adultos e cada um seguiu sua vida em um lugar diferente dos EUA, há anos eles
não conseguiam se reunir, mas este homem sabe que essa separação não é algo
recente. Ele sempre trabalhou em uma fábrica de cabos telefônicos dedicando-se
ao máximo para poder dar de tudo do bom e do melhor para sua família, mas só
agora que está sozinho se deu conta que ao longo da vida dedicou pouca atenção a
eles e não os viu crescer. Contudo, todo entusiasmo de Frank transforma-se em
frustração quando cada um dos convidados telefona na véspera do encontro para
avisar que não poderá ir mais, cada um com uma desculpa. Todos menos David,
esse que nem chegou a justificar sua ausência. Só por esses minutos iniciais o
longa já fisga a audiência. Os filhos estariam mesmo com problemas ou o passado
da família é que os impedem de tentarem se aproximar do pai? Sejam lá quais
forem os motivos, o elo com espectador já está praticamente estabelecido afinal
de contas quem nunca passou por uma situação frustrante semelhante? Muitos pais
que o digam, mas o amor incondicional paterno passa por cima de qualquer
adversidade ou mal entendido e por isso Frank resolve fazer suas malas e viajar
para visitar cada um de seus filhotes e em cada porta que bate uma surpresa o
espera. Os rostos sorridentes e inocentes de suas crianças foram substituídos por
feições abatidas e levemente tristes, mas custa para este senhor à moda antiga
compreender que nada mais é como antes e que os planos que traçou para cada um
deles não vingaram. A sensação de decepcioná-lo seria o motivo do afastamento
destes jovens adultos, mas existe um agravante na situação.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
O CASTELO ANIMADO
NOTA 10,0 Após alcançar fama fora do Japão, Hayao Miyazaki faz animação com tema universal, mas mantendo-se fiel ao seu estilo |
Você já não aguenta mais a metralhadora
de piadas e referências e os personagens hiperativos que compõem a maioria das
animações atuais? O traço perfeitinho e as cores fortes também não te
impressionam mais? Se você se encaixa nesse perfil, infelizmente a temporada de
desenhos quase idênticos nos cinemas já não se restringe mais aos períodos de
férias. Todos os meses praticamente há um lançamento com pinta de moderninho,
mas que não deixa de trazer uma sensação precoce de déja vu. Ainda bem que as
produções mais convencionais, que hoje podem ser vistas como novidades em meio
a enxurrada de produtos semelhantes, conseguem achar seu público em DVD. Da
mesma forma que Woody Allen tem seus fãs cativos que esperam com ansiedade cada
novo trabalho do cineasta, podemos dizer que Hayao Miyazaki ocupa uma posição
similar, porém, uma referência exclusiva do campo das animações. Utilizando o
mínimo possível de recursos tecnológicos e apostando muito mais na beleza dos
traços feitos a mão, o animador há décadas vem construindo uma carreira sólida,
mas seu nome só veio a ser conhecido mundialmente e além do circuito
alternativo quando ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação por A Viagem de Chihiro. Felizmente o
sucesso foi tão grande, tanto entre platéias intelectuais quanto populares, que
o mundo todo teve o prazer de assistir seu projeto seguinte, O Castelo
Animado, mais um trabalho sofisticado, inteligente e ao mesmo tempo de
uma simplicidade ímpar. Aliás, ambos os desenhos, assim como toda a filmografia
de Miyazaki, guardam semelhanças visuais inegáveis, mas isso não é um problema.
É sempre um prazer acompanhar uma bela narrativa contada através de imagens de
encher os olhos e personagens fantásticos que diferem totalmente do maçante
estilo de animação que impera atualmente. Não que tais produtos sejam ruins,
pelo contrário, existem vários primorosos, mais já chegamos a um ponto que até
os temas se repetem ou alguém já se esqueceu da coqueluche que foram os
desenhos cuja ambientação era o fundo do mar há alguns anos? Para não puxar a
sardinha totalmente para o lado oriental do assunto, é preciso destacar que este
filme tem certas semelhanças com o enredo de A Bela e a Fera que
apesar de ser um clássico literário teve sua fama imortalizada pela Disney.
Contudo, aqui temos uma reunião harmoniosa da maioria dos elementos que compõem
um belo conto de fadas. Temos um príncipe, feiticeiras, um castelo, os seres
inanimados que falam e uma donzela aparentemente frágil, mas cheia de coragem e
determinação. Para quem conhece o estilo do diretor, obviamente já sabe que
tais clichês das histórias clássicas são apresentados de maneira muito
original, porém, preservando suas essências.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
GÊNIO INDOMÁVEL
NOTA 9,0 Jovem rebelde e terapeuta ressentido passam a ver a vida com outros olhos através da troca de experiências |
Os gênios incompreendidos sempre intrigaram a ciência e fascinaram
cineastas que enxergaram em diversas histórias verídicas um material fértil
para ser transformado em filmes. Curiosamente, um dos trabalhos mais lembrados
do tipo nasceu das mentes de dois jovens completamente sadios, mas que se
achavam verdadeiros peixes fora d’água no mundo em que viviam. Os hoje
mundialmente famosos Matt Damon e Ben Affleck já se conheciam desde a infância
e batalharam paralelamente pelos seus espaços no mundo do cinema, mas até
meados dos anos 90 só recebiam convites para produções convencionais e na
maioria das vezes nas quais os jovens eram retratados de modo estereotipado ou
debochado. Juntos eles resolveram criar o próprio roteiro dos sonhos, onde
teriam a chance de retratar a geração a qual pertenciam de maneira mais
realista, uma turma que tem sonhos, dúvidas, raiva, amor e inteligência, mas
que nem sempre encontra apoio para mostrar seus talentos ou ser o que gostaria.
O destino ajudou e os escritos chegaram às mãos do ator Robin Williams que fez
a ponte para transformar o sonho dos dois rapazes em realidade. Assim começou a
trajetória de sucesso de Gênio Indomável, longa que
enfrentou com bravura a pressão do Titanic nas principais
premiações de 1998 chegando a ser apontado como um forte candidato as
principais categorias do Oscar. Para os preguiçosos de plantão é muito fácil
ler a sinopse e logo rotular este trabalho como algo no estilo Sociedade
dos Poetas Mortos ou tantos outros filmes que lidam com a relação
mestre e aprendiz na qual cada uma das partes tem a vida enriquecida com as
experiências adquiridas com o convívio com a outra, geralmente pessoas
aparentemente sem nenhum vínculo em comum, mas que pouco a pouco vão descobrindo
afinidades, lembranças ou problemas que os conectam, todavia, essa premissa
neste caso vai além das expectativas. A trama gira em torno de Will Hunting
(Damon), um rapaz que trabalha como faxineiro em uma conceituada universidade,
mas seu comportamento arredio, sempre se metendo em brigas, respondendo com
agressividade e se entregando a bebedeiras acaba por levá-lo à cadeia. É nessa
fase que o matemático Gerald Lambeau (Stellan Skarsgard) descobre que o
adolescente é dotado de uma Inteligência assombrosa. Mesmo sem nunca ter
frequentado as aulas do ensino superior ele é capaz de resolver complexas
equações matemáticas que alguns estudiosos da área levaram anos para chegar ao
resultado final. O professor sabe que sua descoberta tem potencial para ser
reconhecido como um novo gênio, mas precisa domar o rapaz antes de mais nada.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
A.I. - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NOTA 9,0 Spielberg encanta e emociona com mescla de drama e ficção acerca de um futuro no qual a artificialidade impera |
Existem filmes que demoram anos para serem lançados não pelo
motivo de problemas com a produção, mas simplesmente pelo capricho de seus
realizadores na ânsia de criarem um marco cinematográfico. Stanley Kubrick é
responsável por obras emblemáticas como 2001 – Uma Odisséia no Espaço e Laranja
Mecânica e passava até mesmo anos trabalhando em cima de um mesmo projeto até
que o considerasse perfeito, mas ironicamente não viveu para ver sua última
criação sair do papel. Já Steven Spielberg se acostumou a lançar filmes em
curtos espaços de tempo com produções complicadas alternando com obras mais
simplórias, assim agradando as platéias que só querem se divertir e aquelas que
desejam um produto com mais conteúdo e de quebra mantendo seu nome em evidência
constantemente. Era um sonho de ambos um dia poderem dividir os créditos de uma
mesma produção, mas o falecimento de Kubrick jogou a ideia no limbo. Ou melhor,
por pouco isso mesmo aconteceu. Como forma de homenagear o colega, o homem que
tornou real as imagens de alienígenas e até ressuscitou os dinossauros assumiu
as rédeas de A.I. – Inteligência Artificial, um longa que dividiu e ainda
divide as opiniões de especialistas e do público. Kubrick sempre
deixou explícito em suas obras, de forma leve ou pesada, idéias pessimistas e
apocalípticas quanto a sociedade e o destino da humanidade. Curiosamente partiu
dele mesmo a iniciativa de desenvolver um enredo acerca de um menino-robô
dotado de emoções que é adotado por um casal para substituir o filho
verdadeiro. Baseando-se no livro “Super Brinquedos Duram o Verão Inteiro”, de
Brian Aldiss, no final dos anos 70 o cineasta tinha acordado que faria o
roteiro, mas entregaria o cargo de diretor à Spielberg que na época já
demonstrava uma habilidade ímpar para lidar com efeitos especiais sem que eles
se sobressaíssem a emoção. O problema é que a tecnologia disponível na época
não permitia as criações tanto de ambientes quanto de personagens cogitadas. As
conversas foram retomadas em 1994 após o estrondoso êxito de Jurassic Park que revolucionou
o campo tecnológico e nada mais parecia impossível no mundo da sétima arte.
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
SIMPLESMENTE FELIZ
NOTA 7,5 Com muita simplicidade e sensibilidade longa é uma boa lição de vida que exalta a felicidade como bem maior |
Em qualquer lugar do mundo
existe muita gente que é supersticiosa e adora uma simpatia ou uma crendice
popular para se apegar quando deseja ter sorte. E isso não é uma regra válida
apenas para o primeiro dia do ano para atrair bons fluidos, para alguns é uma
necessidade se dedicar constantemente a rituais que prometem auxiliar para
conseguir dinheiro, sucesso, amor, saúde, mas no fundo tudo que as pessoas
buscam pode ser resumido em uma única palavra: felicidade. A vida de qualquer
indivíduo, independente do nível social, é marcada por momentos de tristeza e
outros de alegria, sendo que os períodos de insatisfação costumam ser mais
constantes, pois faz parte da natureza humana estar sempre almejando alguma
coisa para ser feliz. Todavia, ver a vida e os problemas com um olhar mais
otimista deveria ser regra básica para todos seguirem dia após dia. É dessa
forma que vive a protagonista do filme Simplesmente Feliz, uma produção modesta que mistura drama e
humor de forma eficiente, mas se não tem o poder de deixar ninguém extasiado ao
menos consegue deixar qualquer um com uma sensação leve e esperançosa ao final.
Para trazer a tona tanta sensibilidade para atingir o emocional do espectador, esse
trabalho só podia mesmo estar nas mãos de alguém fora da muvuca hollywoodiana.
Mike Leigh é um cineasta britânico muito respeitado e premiado que adora lidar
com histórias humanas, até mesmo as mais espinhosas como, por exemplo, O
Segredo de Vera Drake, uma de suas obras mais famosas e que
discute o tema aborto. Depois deste trabalho denso, o diretor resolveu
mergulhar em um universo leve e descontraído, uma essência que felizmente o
título nacional preservou. Existe
tristeza nas histórias de humor da mesma forma que há espaço para a comédia nos
dramas. Basicamente é esse pensamento que moveu Leigh na hora que concebeu o
roteiro deste filme aparentemente despretensioso, mas que possui camadas mais
profundas assim como sua protagonista que a primeira vista pode parecer um
tanto infantil ou inverossímil, porém, uma pessoa comum que apenas deixa o seu
bom humor ditar as regras de sua vida. Poppy
(Sally Hawkins) é uma professora de escola primária que é uma otimista
incorrigível. Sempre vestida com roupas coloridas, usando muitos acessórios e
mantendo um largo sorriso no rosto, ela tenta aproveitar ao máximo sua vida.
Por gostar de brincar com situações sérias, ela passa a imagem de ser
irresponsável, talvez por isso esteja solteira, e é desse modo que a enxerga
Scott (Eddie Marsan), seu professor da autoescola, que não suporta a falta de
atenção da moça ao volante e em tantas outras situações. Ela pode estar
passando por problemas de relacionamentos ou no trabalho, pode levar várias
broncas do instrutor por teimar em dirigir de salto alto ou até mesmo ter sua
bicicleta roubada, não importa, Poppy sempre vê as coisas por um lado positivo
e gargalha de si mesma e de tudo que lhe acontece diariamente.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
POLLOCK
NOTA 7,0 Ed Harris se preparou por vários anos para interpretar artista plástico pouco conhecido e para estrear como diretor |
A vida de grandes pintores já
foi retratada pelo cinema que frequentemente também abre espaço para
conhecermos artistas que tiveram sua importância, mas cuja obra o tempo tratou
de apagar da memória coletiva. Infelizmente o mesmo destino é dado à muitas
versões cinematográficas que se propõem a invadir a intimidades desses
criadores e apresentar ao mundo um pouco de seus trabalhos. Infelizmente foi
esse o caminho trilhado por Pollock, drama que deu o Oscar
de atriz coadjuvante para Marcia Gay Harden e que marca a estreia na direção do
ator Ed Harris que também atua no filme fazendo o protagonista, o artista
plástico Jackson Pollock que revolucionou a pintura ao abdicar dos pincéis e
passar a utilizar diversos objetos para espalhar as tintas de forma
desorganizada, assim cada traço ou borrão em suas telas eram únicos e com
texturas variadas, uma técnica moderna que acabou virando moda décadas mais
tarde. Mostrando
competência na frente e atrás das câmeras, Harris levou cerca de dez anos para realizar
este projeto que também produziu, o tempo necessário para conseguir um modesto
orçamento, mas principalmente para que ele se sentisse pronto para encarar a
complexa personalidade do artista e o fato de ser o centro das atenções de um
trabalho, visto que sua carreira é pautada em cima de atuações coadjuvantes
elogiadas. Este trabalho é bem pessoal e ele se entregou totalmente a dura
rotina de atuar e dirigir ao mesmo tempo e se arriscou ao decidir levar para o
cinema um pouco da história de um dos maiores nomes da pintura moderna
norte-americana. Além de estar exposto as várias críticas tão comuns às
cinebiografias devido aos exageros, contemplações ou omissões que esse tipo de
produção exige para se tornar viável, o ator também já devia estar preparado
para as fracas bilheterias afinal Pollock para muitas pessoas era um
desconhecido até então e pelo visto continua na mesma situação, só assim para
explicar as dificuldades para encontrar ou até mesmo a ausência do título no
mercado. É a lei da demanda e da oferta ou os resultados negativos do inverso
desta regra mostrando seu poder. Baseado no livro “Jackson Pollock: An American
Saga”, de Steve Naifeh e Gregory White Smith, também roteiristas do filme, a
trama se concentra em um período profissional peculiar de Pollock, produtivo,
mas ao mesmo tempo de certa forma fracassado, e sua relação com a mulher Lee
Krasner (Marcia Gay Harden), também artista plástica e uma espécie de agente do
pintor.
domingo, 13 de dezembro de 2015
EM MEUS SONHOS
Nota 2,5 Romance é amontoado de clichês, incluindo o mundo gastronômico como pano de fundo
O universo gastronômico é um
prato cheio para o gênero romântico e Em Meus Sonhos
é mais uma pequena fita que o utiliza como pano de fundo para conquistar o
paladar, ou melhor, a preferência do espectador, principalmente mulheres jovens
mais propensas a fantasias com príncipes encantados. Natalie Russo (Katharine
McPhee) e Nick Smith (Mike Vogel) são dois jovens que estão desacreditados
quanto a possibilidade de um amor verdadeiro e obviamente o destino dará aquele
empurrãozinho para que seus caminhos se cruzem, porém, somente em sonhos. Se
apegando a uma crença da cidade em que vivem que diz que há uma fonte dos
desejos, ambos jogam ao mesmo tempo uma moedinha torcendo para que encontrem
sua alma gêmea, mas ignoram a presença um do outro. Contudo, eles passam a se
encontrar em seus sonhos e a viver um amor platônico, um romance que segundo a
lenda deverá ser concretizado em até uma semana, caso contrário o feitiço da
fonte se esvai. Talvez se ficasse restrita ao onírico a trama escrita por Teena
Booth e Suzette Couture teria uma cadência melhor, mas para dar sustento ao
frágil argumento foram (mal) inseridos conflitos cotidianos para os
personagens. Nick está insatisfeito com seu trabalho e em paralelo está
desenvolvendo um projeto em segredo que acredita que será um ponto de virada em
sua carreira, mas vive com seu foco desviado por conta das visitas surpresas e inoportunas
de sua mãe. Charlotte (JoBeth Willians) não vê a hora de ver seu filho casado e
tenta empurrá-lo novamente para os braços de Lori (Chiara Zanni), sua ex-noiva,
mas mesmo que ele não se acerte com ela o importante é que a mulher escolhida
passe pelo crivo da sogra. É óbvio que ao conhecer Natalie ela vai implicar e
fazer de tudo para impedir o romance... Errado! Contrariando expectativas a mãe
do rapaz conhece a garota por acaso antes mesmo do filho e de cara se simpatiza
com ela. Numa receita tão insossa, a velha rixa nora versus sogra faz falta.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
GARÇONETE
NOTA 7,0 Apesar da simplória imagem de comédia romântica, longa tem uma história que arrisca abordar temas relevantes |
Se
todo mundo diz que as comédias românticas andam açucaradas demais, a cineasta e
roteirista Adrienne Shelly resolveu assumir definitivamente tal rotulagem no
longa Garçonete, uma deliciosa produção com pitadas de drama que foge um
pouquinho dos padrões do gênero. A atriz Keri Russell teve aqui a sua grande
chance de aparecer para o grande público, embora o filme tenha tido uma
passagem relâmpago pelos cinemas e aterrissou nas locadoras e lojas sem fazer
barulho mesmo tendo uma repercussão positiva quando exibido no Festival de
Sundance, a grande vitrine dos projetos independentes. Conhecida pelos maníacos
por seriados de TV, a jovem só foi ganhar um papel de destaque em um filme após
quase uma década de tentativas. Ela dá vida a Jenna, uma moça que acabou se
auto-sufocando pelas barreiras que ela mesma impôs para sua vida. Ela tem um
talento incrível para a culinária, mais especificamente para criar tortas
criativas e deliciosas, porém, ao invés de batalhar para ter seu próprio
restaurante ela prefere continuar trabalhando como garçonete para Old Joe (Andy
Griffith), um patrão grosseiro, em um restaurante de categoria rebaixada.
Todavia, tal emprego acaba lhe dando um pouco de alegria e a faz esquecer seu
triste cotidiano marcado pela falta de sensibilidade do seu marido Earl (Jeremy
Sisto) e por lembranças melancólicas de seu passado que não lhe foi muito
generoso. Se ela própria não se dá o devido valor como mulher e tampouco como
profissional, quem iria despertá-la para a vida? Pois é justamente um pequeno
ser o responsável por mudar os rumos desta pacata garçonete. Logo no início do
filme Jenna descobre que está grávida. Bem, dizem que um filho muda tudo, mas
neste casa, na realidade, ele vem para enrolar um pouquinho mais a vida da
mamãe de primeira viagem. Antes disposta a finalmente terminar o casamento
infeliz, agora ela está na dúvida, ainda que pensar em dar a luz a uma criança
filha de um homem que ela repudia só lhe afunda ainda mais em depressão. Para
descontar sua tristeza e raiva da vida, Jenna passa então a criar os mais
diferentes tipos de tortas em velocidade ímpar misturando ingredientes
inusitados e as batiza com nomes um tanto bizarros refletindo seus pensamentos
e emoções. Por incrível que pareça, tais experiências gastronômicas acabam por
conquistar os clientes.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
CLICK
NOTA 6,5 Adam Sandler repete mais uma vez o papel do rapaz de bom coração que acaba se metendo em confusões tentando fazer o bem e achar felicidade |
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
QUATRO AMIGAS E UM CASAMENTO
NOTA 2,5 Versão feminina das comédias que investem em personagens mais maduros decepciona por extrapolar limites da liberalidade |
No final dos anos 90, American Pie mexeu com os hormônios do
público jovem, principalmente dos meninos, e uma série de produtos similares
surgiu. Pouco tempo depois, essa turminha cresceu e então o gênero comédia
voltou suas atenções para os homens acima dos trinta anos de idade, assim eles
se viram bem representados em produções como O Virgem de 40 anos, A Ressaca e Passe
Livre. Mas e as mulheres nesta história? As órfãs dos antigos filmes
água-com-açúcar protagonizados por Julia Roberts, Meg Ryan, Sandra Bullock e
companhia bela simpatizaram-se com os dilemas vividos pelo grupo feminino
protagonista de Missão Madrinha de Casamento e assim um novo caminho para o
humor no cinema parece ter sido inaugurado, embora tentativas de emocionar e
divertir o público com os problemas e as alegrias de grupos de amigas de longa
data não sejam nenhuma novidade. É por esse caminho que Quatro Amigas e um
Casamento tenta conquistar principalmente as plateias femininas que já passaram
da idade de acreditar em príncipe encantado, mas infelizmente o longa não
consegue atingir plenamente seus objetivos, pelo contrário, fica muito longe de
suas pretensões. Tentando manter o espírito do citado filme das madrinhas de
casamento acrescentando ainda um quê de inspiração oriundo de Se Beber Não Case,
este trabalho escrito e dirigido por Leslye Headland, estreando como diretora, acaba
investindo muito tempo (embora a duração seja curta) em situações grotescas e
escatológicas que acabam aborrecendo ou até mesmo envergonhando o espectador
que encontra poucos motivos para se divertir. Não é a toa que sentimos a mão
pesada de um dos produtores da fita, o ator Will Ferrell, conhecido por seu
humor por vezes agressivo. Baseado numa peça teatral da própria Leslye, o
roteiro se prende ao reencontro de quatro amigas para o casamento de uma delas.
Na época do colegial, Regan (Kristen Dunst), Katie (Isla Fisher) e Gena (Lizzy
Caplan) eram garotas muito populares, conhecidas como as abelhas-rainhas, e
adoravam perturbar a gordinha e deslocada Becky (Rebel Wilson), mas mesmo assim
formavam um quarteto inseparável. Elas cresceram e certo dia uma notícia
surpreendente surge. Justamente a garota menos popular do grupo vai ser a
primeira a se casar. Essa introdução captamos em poucos minutos, mas é a partir
desse ponto que os problemas já começam a surgir.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
UMA VIDA ILUMINADA
NOTA 7,0 Drama aborda a questão da importância da preservação da memória através dos objetivos de um colecionador de lembranças |
Todos ouvimos diariamente a exaltação aos
avanços da modernidade e o pessoal que é ligado em tecnologia não tem do que
reclamar. Praticamente toda a semana uma bugiganga nova é lançada e hoje é
possível em um pequeno aparelho arquivar centenas de lembranças em forma de
mensagens de texto, de voz, fotografias ou vídeos, podendo ser materiais
pessoais ou de domínio público. O curioso é que mesmo com esses avanços parece
que a população mundial está a cada dia com a memória mais curta. O dia-a-dia
atribulado ou simplesmente por puro desprezo emocional acaba por fazer com que
as pessoas esqueçam até mesmo momentos importantes com a família ou da sua
própria vida. Você se recorda de algum objeto característico para lembrar-se da
casa de seus avós? Lembra quem lhe deu aquele brinquedo que você tanto desejava
no Natal quando era criança? Consegue ter a memória gustativa para lembrar o
sabor do bolo de aniversário que ganhou e que mais gostou? Podem parecer bobagens, mas são estas pequenas
lembranças materiais ou emocionais que ajudam a contar a história de cada ser
humano, justificar seu presente e de repente apontar caminhos para o futuro.
Quem gosta de colecionar objetos provavelmente tem uma sensibilidade superior e
desse hábito surgem histórias emocionantes, divertidas e até bizarras. Tem
gente que coleciona selos de cartas, outros miniaturas de bonecos ou carrinhos e
até moedas e notas de dinheiro antigas podem ter valor sentimental para alguns.
O protagonista de Uma Vida Iluminada tem uma coleção bastante curiosa. Ele não se
prende a um ou dois tipos de itens, simplesmente ele coleciona momentos da vida
de alguém. Jonathan Safran Foer (Elijah Wood) é um judeu americano que após a
morte recente do avô decide ir até a Ucrânia para tentar achar a suposta mulher
que salvou a vida de seu avô durante a Segunda Guerra Mundial. Uma foto dela
acompanhada do falecido e o pingente que ela usava na ocasião são as únicas
recordações que ele tem do avô, itens que ele faz questão de guardar com todo
cuidado em saquinhos plásticos individuais e etiquetados. Nessa viagem ele
recebe a ajuda de Alex Perchov Jr. (Eugene Hutz), um atrapalhado tradutor, e do
avô do rapaz, Alex (Boris Leskins), um homem mal-humorado e que está sempre na
companhia de um cão-guia, pois afirma que está cego. Durante a jornada este
inusitado grupo descobre segredos sobre a ocupação nazista que mexeram como o
emocional de todos eles.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
SEM RESERVAS
NOTA 7,0 Apesar do jeitão de comédia romântica, refilmagem de obra alemã investe mais em drama, mas não poupa açúcar |
Nem só de refilmagens de terror
e suspenses orientais vive o cinema americano quando existe escassez de ideias.
Muitas obras europeias pouco a pouco vão ganhando suas versões americanizadas e
antes que alguém se desespere acreditando que um filme muito bom será reduzido
a pó em sua releitura é bom deixar avisado que sempre há uma luz no fim do
túnel. A comédia romântica Sem
Reservas é um bom exemplo que mostra que o que já era bom pode ficar
ainda melhor. Baseada no longa alemão Simplesmente Martha, esta
produção é um achado em meio a mesmice que se encontra no gênero das comédias
românticas, em geral sempre repetindo velhas e manjadas fórmulas que não
acrescentam nada de novo. Neste caso as coisas não são muito diferentes, porém,
é perceptível que a atualização do texto original para os padrões
hollywoodianos foi bem feitinha, as atuações são vigorosas e sentimos certo ar
europeu na idealização das imagens e narrativa. Ok, pode ser um pouco de
exagero dizer que este trabalho do diretor Scott Hicks é excepcional, mas ao
menos o remake não manchou a reputação da obra original de Sandra Nettlebeck,
ainda que muitos o considerem apenas mais uma historinha água com açúcar para
agradar a mulherada e facilmente esquecível. O longa conta a história de Kate Armstrong
(Catherine Zeta-Jones) uma famosa chef de restaurante reconhecida por seu
talento, perfeccionismo e personalidade forte. A moça leva uma vida solitária e
encontra na cozinha o seu melhor refúgio, porém, sua rotina irá mudar
drasticamente por causa de um fato inesperado. Sua irmã morre em um acidente de
carro e ela é obrigada a tomar conta de sua sobrinha de apenas dez anos, Zoe
(Abigail Breslin), embora ela não seja muita amigável com crianças. O
relacionamento das duas não é dos melhores, mas as coisas pioram quando os
ânimos de Kate ficam em ebulição com a chegada de um novo cozinheiro, o
espaçoso e animado Nick Palmer (Aaron Eckhart), o que ela encara como uma
ameaça a seu emprego. Bem, com uma trinca de atores talentosos e simpáticos em
cena dificilmente alguém não se sente instigado a dar uma conferida no filme.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD
NOTA 8,0 Longa acompanha a viagem de um grupo de idosos à Índia na qual cada um viverá um tipo de experiência |
Parece que nos últimos anos os produtores de cinema
perceberam que as pessoas mais maduras também gostam de assistir filmes, muito
provavelmente dando muito mais valor às produções que o público mais jovem.
Talvez esta seja a explicação para o aumento de trabalhos voltados a essas
platéias mais maduras, inclusive o boom de comédias protagonizadas por atores
com idades semelhantes a média de seu público-alvo. Um bom exemplo desta safar
é O Exótico Hotel Marigold, um agradável passeio pela Índia na companhia de um
elenco de luxo reunido pelo diretor John Madden finalmente realizando um
trabalho relevante após o premiado Shakespeare Apaixonado. O longa é uma
comédia simpática com toques dramáticos que não é perfeita, tem suas falhas,
mas talvez o seu jeito despretensioso a transforme em um belo entretenimento. A
história pode ser resumida simplesmente como a crônica de um grupo de pessoas
da terceira idade que deseja descansar um pouco dos ares ingleses e decide
experimentar o tempero do Oriente Médio. O que torna esta experiência
interessante é que eles não se conhecem até a chegada ao aeroporto para
embarcarem e cada um tem um motivo particular para esta viagem. Muriel
(Maggie Smith) é uma ex-governanta preconceituosa em relação a estrangeiros que
possui um problema de saúde e precisa ser operada as pressas. Douglas (Bill
Nighy) e Jean (Penelope Wilton) são casados há anos e precisam se adaptar à
nova situação financeira que os abala. Evelyn (Judi Dench) perdeu o marido há
pouco tempo, mas não quer ficar sob os paparicos de familiares. Graham (Tom
Wilkinson) é um juiz recém-aposentado que quer voltar à Índia para resolver
problemas do passado envolvendo um amor impossível. Por fim, Norman (Ronald
Pickup) e Madge (Celia Imrie) não perderam as esperanças de encontrar um grande
companheiro, nem que seja para viver juntos os últimos momentos que lhes
restam, mas enquanto o parceiro ideal não aparece eles tentam se divertir com
rápidos relacionamentos.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
NOTA 9,0 Jim Carrey mais uma vez prova que tem talento para o drama em história que mescla realidade e sonhos |
Muita gente tem implicância com determinados artistas e por
nada desse mundo dão o braço a torcer e assistem alguns filmes de seus
desafetos, mesmo que eles sejam premiados e elogiados. Jim Carrey é um ator que
sofre com isso até hoje. Sinônimo de comédia besteirol, ele surgiu para o
grande público atingindo sucesso imediato em O Máskara, mas se suas caras e
bocas funcionaram perfeitamente nesse trabalho o mesmo não se pode dizer em
tantos outros. Querendo se livrar do estigma do homem de um papel só, no final da
década de 1990 ele passou a explorar o gênero dramático com êxito, mas ainda
assim muitos duvidam até hoje de sua capacidade e talento. Uma pena. Unindo
drama com pitadas de humor, ele encontrou um personagem perfeito para expor
toda sua capacidade de interpretação em Brilho Eterno de Uma Mente Sem
Lembranças, uma ótima opção para aqueles que ao menos querem tentar mudar sua
visão sobre o astro. Se um filme tem o poder de fazer uma pessoa rever seus
conceitos tamanho seu impacto, aqui temos esta sensação em dose dupla. Além de
enxergar um intérprete de primeira em Carrey, o próprio enredo pode transformar
a vida de quem o assiste. A história começa nos apresentando o casal formado
por Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), dois indivíduos que tentaram
de tudo para fazer a relação dar certo até que a moça se desiludiu de vez e
resolveu se submeter a um tratamento experimental que retira da memória os
momentos indesejáveis. Assim ela tomou a decisão de esquecer tudo que viveu com
seu parceiro e sequer saber que um dia o conheceu. Desesperado com o desprezo
da mulher que ama, Joel resolve procurar o Dr. Howard Mierzwaik (Tom Wilkinson)
e se submeter ao mesmo tratamento de memória seletiva, porém, não tem coragem e
durante a operação recorda os motivos que o levaram a se apaixonar por
Clementine. Graças as confusões que ocorrem devido a interrupção repentina do
tratamento as imagens desta mulher acabam sendo realocadas em lembranças do
rapaz nas quais ela não estava presente originalmente.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
A BATALHA DE SEATTLE
NOTA 7,0 Alinhavando histórias ficcionais, drama tenta retratar toda a tensão que tomou conta de uma cidade por causa de manifestação contra abusos de poderosos |
Costumamos (ou
ao menos deveríamos) valorizar filmes que privilegiam fatos históricos, mesmo
aqueles que nada mais são que um pequeno grão de areia em meio a um episódio
grandioso. Isso explica a enorme quantidade de títulos que envolvem a Guerra
Fria, por exemplo, mas é uma pena que fatos mais recentes da História sejam
esquecidos rapidamente como é o caso da temática de A Batalha de Seattle.
Episódio marcante de revolta popular contra os abusos dos governantes, tal
conflito não inspirou diretores de cinema, tanto que apenas o ator Stuart
Townsend teve coragem de relembrá-lo anos depois. Estreando como diretor e
roteirista, logo no início ele deixa claro que seu longa é baseado em fatos
reais, porém, seus personagens são fictícios, mas nada que atrapalhe a
dramaticidade da produção, pelo contrário, as várias tramas paralelas soam
perfeitamente críveis. O problema é que a inexperiência como redator impediu que
o estreante se aprofundasse em cada uma delas, sendo que o projeto como um todo
é bastante ambicioso, seguindo o estilo narrativo de títulos consagrados como Crash – No Limite que ao mesmo tempo em
que pretende fazer uma crítica social também tem a preocupação de desenvolver
histórias que façam o espectador se identificar e criar um vínculo com os
personagens e consequentemente se sentir atraído pela temática principal. Para
compreender melhor o enredo, é necessário explicar o que foi o conflito do
título. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em 1947, foi
assinado um acordo entre 23 países a respeito de tarifas para importações e
exportações com o propósito de legalizar e expandir o comércio mundial. Ao
longo de mais de 50 anos, outras nações se uniram ao projeto e assim surgiu a
Organização Mundial do Comércio (OMC), que pouco a pouco passou a impor suas
vontades sobre os governos e aqueles que desrespeitassem as regras eram
punidos, podendo ser expulsos do grupo. A ganância dos membros fez com que o
respeito a situações envolvendo o meio ambiente ou os direitos humanos ficassem
em segundo plano, sendo que os interesses econômicos estão sempre acima de
tudo, assim o órgão é muito criticado e alvo comum de protestos populares. O
ápice desses conflitos ocorreu no final de 1999. A partir de 30 de novembro,
durante cinco dias, dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de
Seattle, cidade que serviria naquele período para sediar a chamada “Rodada do
Milênio”, reunião da OMC de grande importância que tinha o objetivo de avaliar
os resultados dos últimos anos das suas ações e planejamento para os próximos
meses, ou em outras palavras, realizar um balanço do quanto se perdeu (mortes,
desmatamentos, extinção de animais entre outros fatores negativos) em favor dos
lucros que chegaram às contas dos poderosos e o quanto eles ainda poderiam
somar futuramente.
domingo, 29 de novembro de 2015
SUPER-HERÓIS - A LIGA DA INJUSTIÇA
Nota 0,5 Esse valor mínimo é por conta dos créditos finais, a única coisa correta neste filme
É até difícil escolher uma única
palavra que defina da melhor forma o que é Super-Herói - A Liga
da Injustiça. Pense em todos os adjetivos negativos possíveis e
ainda eles serão poucos para expressar o que sentimos em relação a este
pastelão, um filme tão ruim que seu diretor Aaron Seltzer deveria ter sido
condenado a prisão perpétua por crime contra os direitos humanos ou algo
parecido. O mesmo vale para o roteirista Jason Friedberg que subestima a
inteligência do espectador extrapolando os limites da anarquia e do jocoso.
Esta comédia não chega a ter um fiapo de roteiro, sustentando-se unicamente sob
a ideia de tentar parodiar os filmes de sucesso de determinada temporada, no
caso, a avalanche de fitas de heróis e a respeito de catástrofes naturais.
Contudo, desde o primeiro minuto o que vemos é um desperdício de tempo por
parte dos espectadores e uma perda de material pela equipe de produção que
deveria ter vergonha de ter seus nomes citados nos créditos finais. A trama
(oi?) começa com Will (Matt Lantner) sendo alertado sobre a data em que o mundo
acabará através de um sonho profético com a enlouquecida cantora Amy Winehouse
(Nicole Parker). Sentiram o drama? Bem, tal situação não assusta o rapaz, pois
ele se acha o todo poderoso, porém, por via das dúvidas, ele resolve dar uma
possível última festinha. Depois disso ele resolve ir à luta, mas não está
sozinho nessa tendo a companhia de um grupo de amigos para tentar evitar
catástrofes envolvendo asteróides, tornados, terremotos, entre outros fatídicos
efeitos naturais. Para acabar com esses eventos devastadores e evitar que o
mundo acabe, é o próprio Will quem deverá devolver uma tal Caveira de Cristal
ao seu lugar de origem, mas até conseguir cumprir a tarefa ele terá que lidar
com pessoas e criaturas esquisitas (como se ele mesmo já não fosse o suficiente
aloprado), além de se preocupar em tentar resgatar sua ex-namorada Amu (Vanessa
Minnillo) que está presa no Museu de História Natural.
sábado, 28 de novembro de 2015
SUPER-HERÓI - O FILME
Nota 4,0 Parodiando um filme do Homem-Aranha, filme pastelão não é tão ruim quanto parece
Desde que Todo Mundo em Pânico surgiu, as comédias satíricas que tiram onda
com o próprio cinema, uma espécie de metalinguagem esdrúxula, acabaram se
tornando um subgênero e por um tempo eram constantes os lançamentos do tipo,
mas nenhum voltou a repetir o sucesso da piada com as fitas de seriais killers.
Até mesmo suas continuações falharam. A cada novo lançamento desta seara fica
ainda mais nítido a precariedade destas produções e as brincadeiras se tornam
cada vez mais obscenas e inacreditavelmente ridículas. Produções to tipo na
verdade já existiam desde a década de 1980, em menor quantidade, diga-se de
passagem, mas durante uma época houve um desencadeamento de fitas do tipo,
comédias vexatórias que levam o espectador a rir inconscientemente de cenas
absurdas que misturam críticas, esculachos, política, sexo, apologia às drogas,
humilhação, personalidades, enfim um caldeirão de referências, a maioria
politicamente incorreta no grau mais alto possível. Bem, até que a citada sátira
ao sucesso teen Pânico e suas cópias
tinha certa graça, era bem bolado e tinha uma dose de ousadia aceitável, mas o
que veio depois são exemplos execráveis e praticamente uma ofensa aos
adolescentes, declaradamente o público-alvo. Todavia, dessa leva de bobagens,
podemos salvar ao menos um título: Super-Herói - O
Filme. Embora mantenha a estrutura de alinhavar piadas fáceis
acerca de sucessos do cinema, fofocas e polêmicas da vida real e atire para
tudo quanto é lado em busca de gargalhadas, a grande inspiração do diretor e
roteirista Craig Mazin veio do longa Homem-Aranha,
o primeiro exemplar da trilogia protagonizada por Tobey Maguire. Qualquer
semelhança não é mera coincidência. O jovem franzino Rick Riker (Drake Bell)
sempre foi tímido, desengonçado e saco de pancadas da rapaziada do colégio, mas
tudo muda após ele ser picado por uma libélula geneticamente modificada. O
rapaz ganha habilidades sobre-humanas e decide então usar seus poderes para
fazer o bem e transforma-se no Homem-Libélula que aos trancos e barrancos passa
a combater crimes e rapidamente chamas a atenção da imprensa, dos populares e,
obviamente, de inimigos.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
A PRINCESA DE NEBRASKA
NOTA 5,5 Com protagonista insossa, drama é extremamente frio e não cativa o espectador com narrativa sem aprofundamentos |
O tão
aguardado século 21 está em andamento, porém, não trocamos os carros por
aeronaves e nossa alimentação não é servida em práticos tubinhos como os de
creme dental (felizmente só uma coisinha ou outra chega a nós nesse tipo de
embalagem, mas com seus substitutos correspondentes). Bem, esse novo tempo tão
aguardado não trouxe a tecnologia fantasiosa que esperávamos, mas é evidente
que a modernidade está presente em todos os instantes influenciando a vida de
todos, e não só de forma positiva. A primeira vista pode parecer inadequado
fazer algum tipo de associação do conteúdo de A Princesa de Nebraska
com os vícios da vida moderna, mas tal relação faz todo o sentido quando
descobrimos o universo no qual está imersa a protagonista. Sasha (Li Ling) é
uma jovem estudante chinesa que está vivenciando os primeiros meses de uma
inesperada gravidez. Ela abandona o namorado em Pequim e viaja para São
Francisco com o intuito de realizar um aborto. Já na cidade de destino,
nos EUA, Sasha encontra um amigo de seu namorado, Boshen (Brian Danforth), e a
jovem May (Lin Qing), com quem troca confidências e experiências. Entre
momentos de prazer e outros de pura reflexão, cada passo dessa viagem de
autoconhecimento é registrado pela gestante com a câmera de seu celular, como
se ela fizesse um diário a respeito desse acontecimento único em sua vida, um
registro dessas 24 horas decisivas nas quais as vastas possibilidades de uma
cidade e os conselhos de estranhos podem mudar seus pensamentos e sua
trajetória deste ponto em diante. Interromper a gravidez ou levá-la adiante?
Gerar uma criança e aceitá-la com todas as alegrias e obrigações que ela exige
ou aproveitar para ganhar um dinheiro com sua venda? Produzido em solo e com
recursos americanos, o longa carrega em sua essência a estética dos filmes
orientais. Tomadas intimistas, closes estendidos, muitos momentos de silêncio e
até mesmo a ausência da trilha sonora em longas sequências, as grandes
características do cinema que faz sucesso no circuito alternativo estão
presentes aqui, mas não é todo mundo que consegue enxergar ou compreender o
conceito de arte empregado neste caso pelo cineasta natural de Hong Kong Wayne
Wang, famoso pelo delicado O Clube da
Felicidade e da Sorte.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN
NOTA 9,0 Delicadeza e criatividade de longa francês prova que o cinema alternativo não é apenas para intelectuais |
Cinema europeu é chato e cabeça demais. Tal afirmação é
muito comum, mas quem concorda com ela precisa rever seus conceitos e se abrir
a novas experiências, como prova O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, um
título apreciado e elogiado por muitos, mas considerado desinteressante e
cansativo por tantos outros, mas será que essas pessoas que criticam
negativamente realmente assistiram a obra ou simplesmente estão passando
adiante pensamentos obsoletos? Com certeza o fato de ser uma produção francesa
barra uma grande parcela dos espectadores que devem estar impregnados da ideia
de que o cinema francês é contemplativo demais e com foco em histórias
dramáticas ou muito romanceadas. Bem realmente, estas são características da
produção cinematográfica local, mas sempre é possível encontrar algo
diferenciado dando uma garimpada. No caso desta produção assinada por Jean-Pierre
Jeunet nem é preciso fazer muito esforço para encontrá-la já que foi um título
muito premiado e cumpriu sua trajetória de sucesso até a festa do Oscar
chegando lá com pinta de campeã, mas acabou levando um banho de água fria
perdendo suas cinco indicações. Porém, a análise de resultados finais tanto de
críticas quanto de bilheterias resultou em um banho do melhor champagne
francês. Assistido na época por cerca de vinte milhões de pessoas, até hoje
esta obra é uma das mais procuradas em locadoras e se tornou um marco
cinematográfico devido a sua estética, linguagem e ritmo atípicos para a
filmografia de um país cujas marcas registradas são as longas sequências
focadas em olhares e gestos e um erotismo quase sempre presente nas narrativas.
Amado e odiado nas mesmas proporções, o cinema francês não se firmou como uma
indústria de fazer dinheiro, mas sim como um estilo de produzir cinema que gera
bons e maus resultados, mas sem causar estardalhaços tampouco criando ícones
pop, bem diferente da cinematografia americana que quer vender muito mais que
os tickets das salas de exibição e imprime uma velocidade em suas produções que
acaba atrapalhando muitas vezes a condução das histórias, além dos muitos
efeitos e tecnologias serem empregados para escamotear furos e ausências.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
O SOM DO CORAÇÃO
NOTA 7,0 Drama é uma eficiente reunião de clichês adornados por bela trilha sonora e interpretações sinceras |
É curioso como o público se
comporta em relação aos títulos indicados a prêmios, principalmente ao Oscar.
Há anos os títulos mais badalados da festa da Academia de Cinema de Hollywood
não conquistam bilheterias e repercussões estarrecedoras, aliás, a maioria,
incluindo os vencedores da categoria de Melhor Filme, é esquecida rapidamente.
Na contramão deste desinteresse, algumas produções que concorrem em menos
categorias, geralmente os prêmios “menores”, acabam alcançando resultados muito
superiores, principalmente quando são representantes do gênero drama. O Som
do Coração é um bom exemplo desta tendência. Apreciado pelo público, mas rejeitado pela maioria dos críticos por considerarem
uma história repleta de clichês e desnecessária, o longa era um dos cavaleiros
solitários do Oscar 2008. Concorrendo apenas ao prêmio de Melhor Canção, a
produção não levou a estatueta, mas ainda assim saiu vitoriosa da premiação
consagrando-se como a obra de maior e melhor repercussão entre os espectadores
comuns daquela safra e até hoje é um dos títulos líderes de procura para
locação e venda. Ele faz parte de um seleto grupo de filmes que todos os anos é
ampliado com o lançamento de pelo menos mais um expoente que chega tímido às
premiações, mas surpreende e se torna tão ou mais famoso que os grandes
vencedores da temporada. A história é muito simples e não esconde o objetivo de
querer emocionar o espectador do início ao fim, tanto é que o protagonista é
uma criança, artifício infalível para tocar os corações das platéias. Evan
(Freddie Highmore) foi criado em um orfanato e possui um dom especial para
lidar com música que impressiona a todos. Tal habilidade está em sua genética.
Ele é filho da violoncelista Lyla Novacek (Keri Russell) e do roqueiro Louis
Connelly (Jonathan Rhys Meyers), porém, nunca os conheceu. O casal se apaixonou
a primeira vista, tiveram uma bela noite de amor, mas logo em seguida o romance
foi interrompido pelos pais da moça. Cada um seguiu seu caminho, mas jamais conseguiram
se esquecer um do outro. Alguns meses depois da separação, Lyla deu a luz a um
garoto, mas seu pai o entregou à adoção sem nem ao menos deixar a moça conhecer
o filho dizendo que o bebê morreu no parto. Assim, a moça caiu em depressão e
passou a apenas dar aulas de música enquanto longe dela seu grande amor, que
não sabia da gravidez, também desistiu de tocar com sua banda
sábado, 21 de novembro de 2015
O ENCONTRO (2002)
Nota 5,0 Visual datado e premissa interessante não são suficientes para segurar suspense
Mortes misteriosas, um buraco
que esconde uma história macabra do passado, alucinações, religião e até um
milharal. A maior parte dos clichês dos filmes de terror e suspense que fizeram
sucesso nos anos 70 e 80 batem cartão em O Encontro produção que tem uma
premissa bem interessante, mas esfria aos poucos culminado em um final pouco
original e sem impacto. Nem quando os segredos são revelados percebemos que
chegamos ao ápice da história devido a narrativa arrastada. Apesar disso, o
recheio deste filme prende bastante a atenção, investindo em uma trama que
mistura o sobrenatural com uma espécie de culto macabro do passado, quando
algumas pessoas se encontravam em um templo para assistir o sofrimento de
outras até morrerem. O roteiro de Anthony Horowitz nos leva para a Inglaterra
onde dois jovens caem em um buraco e não resistem. Esse poderia ser só mais um
corriqueiro acidente com final trágico, mas o tal buraco esconde segredos. Lá
dentro existem diversas esculturas com formas humanas e esculpidas em relevo
que parecem olhar para uma cruz. Simon Kirkman (Stephan Dillane), um
especialista em religiões, é convocado para inspecionar o local e paralelamente
a isso, Marion (Kerry Fox), sua esposa, atropela acidentalmente Cassie Grant
(Christina Ricci), uma jovem que parece ter perdido a memória com o choque,
apesar de fisicamente não ter sofrido nenhum trauma grave. Ela acaba sendo
acolhida na casa dos Kirkman e informalmente se torna a babá das crianças da
família. Conforme o tempo passa, a jovem começa a ter visões de pessoas
ensanguentadas ou estranhas e a ouvir vozes. Aos poucos, esses acontecimentos
vão sendo ligados à descoberta feita dentro do buraco e Dan Blakeley (Ioan
Gruffudd), com quem a jovem faz amizade, pode ser uma peça importante para desvendar
o mistério.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
SINAIS
NOTA 9,0 Para falar da importância da fé, união familiar e de quebra oferecer bons sustos, longa aborda tema de ficção científica |
Já faz algum tempo que o mundo
todo vive um período em que se discute muito a respeito do poder das religiões,
seja de forma positiva ou negativa, e certamente todos já ouviram dizer que
quando deixamos de acreditar no poder da fé abrimos as portas para as forças
ocultas atuarem. Colocar tal tema em evidência era a proposta real de Sinais, mas as intenções ficaram
perdidas pelo caminho, ou melhor, acabaram sendo sucumbidas. O assunto que se
destaca realmente é a possível presença de extraterrestres em nosso planeta
baseando-se em eventos misteriosos amplamente divulgados pela mídia e vendidos
como realidade na década de 1970. Sucesso de crítica e público nos EUA, a má
recepção que esta produção teve no Brasil foi mais uma injustiça feita ao
diretor e roteirista M. Night Shymalan que infelizmente vive com a fama de ser
o tipo de diretor de um filme só. Até hoje ele é assombrado por seu grande
sucesso O Sexto Sentido e viu seus trabalhos seguintes serem
massacrados por opiniões negativas. Será que realmente ele perdeu a mão ou os
espectadores é que estão exigindo demais de um homem que praticamente começou a
carreira já surpreendendo? A segunda hipótese é a mais correta, pelo menos analisando
os seus três trabalhos seguintes (Corpo
Fechado, A Vila e o filme aqui em julgamento). Todos eles são produções de
alta qualidade de entretenimento engajados com temáticas relevantes, mas que
gradativamente provaram que o prestígio do cineasta caia com a mesma rapidez
que aconteceu sua ascensão. É difícil expressar uma opinião honesta e
individual quando meio mundo não compartilha dos mesmos pensamentos, mas
realmente classificar este filme como ruim é demais. Regular ainda é discutível,
mas talvez seja a alternativa mais correta. Em seu terceiro filme hollywoodiano
com grande distribuição, o cineasta indiano investiu novamente naquilo que lhe
trouxe notoriedade: personagens com história de vida para o espectador criar um
elo, atmosfera de arrepiar, sequências incômodas de silêncio e introdução dos
elementos clássicos de terror nos momentos oportunos. Bem, se muitos filmes
sobre alienígenas decepcionam por não mostrarem as criaturas, aqui elas até
aparecem demais e provocam um anticlímax. Só pode ser essa a grande queixa
daqueles que apedrejam este trabalho. Shymalan errou ao trocar o horror
sugestionado pelo explícito. Na realidade até pouco mais da metade do filme o
diretor felizmente usa sons e imagens em relances para assustar e mesmo depois
que a ameaça se revela em carne e osso (ou seja lá do que são feitos os corpos
dos extraterrestres) a tensão não cai, pelo contrário, até aumenta. É o pulo do
gato do roteiro. O espectador é convidado a participar do claustrofóbico lar da
família Hess desde o início, já que basicamente todas as ações ocorrem por lá,
mas no final a relação entre espectador e cenário é intensificada afinal eles
literalmente se isolam do mundo. Nesta casa localizada em uma região rural da
Pensilvânia vive Graham (Mel Gibson), um homem que abandonou a igreja após a
morte de sua mulher em um acidente, seus dois filhos, Morgan (Rory Culkin) e Bo
(Abigail Breslin), e seu irmão Merrill (Joaquim Phoenix). A paz deles é interrompida
com o surgimento de grandes círculos em meio a suas plantações de milho, como
se algo gigantesco tivesse pousado ali. O mesmo fenômeno começa a acontecer em
outras fazendas mundo afora e tudo indica que seres de outros planetas estão
rondando essas propriedades.