NOTA 5,5 Com protagonista insossa, drama é extremamente frio e não cativa o espectador com narrativa sem aprofundamentos |
O tão
aguardado século 21 está em andamento, porém, não trocamos os carros por
aeronaves e nossa alimentação não é servida em práticos tubinhos como os de
creme dental (felizmente só uma coisinha ou outra chega a nós nesse tipo de
embalagem, mas com seus substitutos correspondentes). Bem, esse novo tempo tão
aguardado não trouxe a tecnologia fantasiosa que esperávamos, mas é evidente
que a modernidade está presente em todos os instantes influenciando a vida de
todos, e não só de forma positiva. A primeira vista pode parecer inadequado
fazer algum tipo de associação do conteúdo de A Princesa de Nebraska
com os vícios da vida moderna, mas tal relação faz todo o sentido quando
descobrimos o universo no qual está imersa a protagonista. Sasha (Li Ling) é
uma jovem estudante chinesa que está vivenciando os primeiros meses de uma
inesperada gravidez. Ela abandona o namorado em Pequim e viaja para São
Francisco com o intuito de realizar um aborto. Já na cidade de destino,
nos EUA, Sasha encontra um amigo de seu namorado, Boshen (Brian Danforth), e a
jovem May (Lin Qing), com quem troca confidências e experiências. Entre
momentos de prazer e outros de pura reflexão, cada passo dessa viagem de
autoconhecimento é registrado pela gestante com a câmera de seu celular, como
se ela fizesse um diário a respeito desse acontecimento único em sua vida, um
registro dessas 24 horas decisivas nas quais as vastas possibilidades de uma
cidade e os conselhos de estranhos podem mudar seus pensamentos e sua
trajetória deste ponto em diante. Interromper a gravidez ou levá-la adiante?
Gerar uma criança e aceitá-la com todas as alegrias e obrigações que ela exige
ou aproveitar para ganhar um dinheiro com sua venda? Produzido em solo e com
recursos americanos, o longa carrega em sua essência a estética dos filmes
orientais. Tomadas intimistas, closes estendidos, muitos momentos de silêncio e
até mesmo a ausência da trilha sonora em longas sequências, as grandes
características do cinema que faz sucesso no circuito alternativo estão
presentes aqui, mas não é todo mundo que consegue enxergar ou compreender o
conceito de arte empregado neste caso pelo cineasta natural de Hong Kong Wayne
Wang, famoso pelo delicado O Clube da
Felicidade e da Sorte.
Com roteiro de Michael Ray, baseado num conto de Li Yiyun, esta é uma obra alternativa com “A” maiúsculo sem dúvida. Apesar de extremamente curto, não é todo mundo que aprecia um filme que dá valor as mensagens e significados que podem estar contidos em tímidos olhares, gestos, imagens e silêncios, tudo em nome do ideal de levar o espectador à reflexão. A sinopse pode parecer apenas uma forma diferenciada de contar a velha história da adolescente que tenta se livrar de uma gravidez indesejada, mas a produção se propõe a investigar a inquietação dessa jovem em uma era em que a tecnologia comanda o cotidiano, tudo é muito rápido, um tempo em que amor e respeito a vida parecem valores perdidos no tempo e o passado e o futuro aparentemente não influenciam ninguém, o que importa é apenas o presente. A tecnologia é marcante no longa, algo que tanto os chineses quanto os americanos são aficionados. A protagonista utiliza um celular com câmera para registrar diversas passagens de sua estadia nos EUA como se fosse um diário. A máquina toma o lugar do papel e da caneta no registro de memórias. Tamanha entrega à sedutora modernidade se reflete diretamente no perfil da personagem que não parece um ser humano, mas sim um andróide perambulando que não expressa sentimentos, não tem reações e consequentemente não cativa o espectador o que contribui e muito para as dificuldades que o longa encontra para transmitir seu recado. Se a protagonista está imersa em um mundo em que o imediatismo enlouquecedor envolve praticamente a todos, infelizmente é preciso constatar que o retrato contemporâneo feito pelo filme retrata com fidelidade a realidade. Mesmo sendo uma obra que trata de temas intimamente ligados ao universo dos jovens, o público de faixa etária semelhante dificilmente tem paciência para acompanhar as desventuras em tom depressivo da jovem Sasha que flerta com a prostituição e o homossexualismo, participa de um karaokê (diversão clássica para os orientais), vivencia um choque cultural e reflete sobre a gravidez, sua situação com o namorado e os rumos que dará a sua vida, mas parece em todos os momentos estar presente apenas de corpo, nunca de alma. Ela se divide entre o olhar contemplativo à cidade americana que visita e o peso da tristeza que seus olhos carregam, mas não fica claro se é apenas a gravidez que a aflige. Os planos fechados e a câmera por vezes tremida refletem um pouco do clima que domina a obra, melancólica, intimista e por vezes inquietante, mas sem nunca invadir o campo emocional dos personagens, assim tornando-se mais um ponto crítico que desfavorece o envolvimento do público com a obra.
Com roteiro de Michael Ray, baseado num conto de Li Yiyun, esta é uma obra alternativa com “A” maiúsculo sem dúvida. Apesar de extremamente curto, não é todo mundo que aprecia um filme que dá valor as mensagens e significados que podem estar contidos em tímidos olhares, gestos, imagens e silêncios, tudo em nome do ideal de levar o espectador à reflexão. A sinopse pode parecer apenas uma forma diferenciada de contar a velha história da adolescente que tenta se livrar de uma gravidez indesejada, mas a produção se propõe a investigar a inquietação dessa jovem em uma era em que a tecnologia comanda o cotidiano, tudo é muito rápido, um tempo em que amor e respeito a vida parecem valores perdidos no tempo e o passado e o futuro aparentemente não influenciam ninguém, o que importa é apenas o presente. A tecnologia é marcante no longa, algo que tanto os chineses quanto os americanos são aficionados. A protagonista utiliza um celular com câmera para registrar diversas passagens de sua estadia nos EUA como se fosse um diário. A máquina toma o lugar do papel e da caneta no registro de memórias. Tamanha entrega à sedutora modernidade se reflete diretamente no perfil da personagem que não parece um ser humano, mas sim um andróide perambulando que não expressa sentimentos, não tem reações e consequentemente não cativa o espectador o que contribui e muito para as dificuldades que o longa encontra para transmitir seu recado. Se a protagonista está imersa em um mundo em que o imediatismo enlouquecedor envolve praticamente a todos, infelizmente é preciso constatar que o retrato contemporâneo feito pelo filme retrata com fidelidade a realidade. Mesmo sendo uma obra que trata de temas intimamente ligados ao universo dos jovens, o público de faixa etária semelhante dificilmente tem paciência para acompanhar as desventuras em tom depressivo da jovem Sasha que flerta com a prostituição e o homossexualismo, participa de um karaokê (diversão clássica para os orientais), vivencia um choque cultural e reflete sobre a gravidez, sua situação com o namorado e os rumos que dará a sua vida, mas parece em todos os momentos estar presente apenas de corpo, nunca de alma. Ela se divide entre o olhar contemplativo à cidade americana que visita e o peso da tristeza que seus olhos carregam, mas não fica claro se é apenas a gravidez que a aflige. Os planos fechados e a câmera por vezes tremida refletem um pouco do clima que domina a obra, melancólica, intimista e por vezes inquietante, mas sem nunca invadir o campo emocional dos personagens, assim tornando-se mais um ponto crítico que desfavorece o envolvimento do público com a obra.
De certa
forma distante do universo do público mais adulto e sem atender as expectativas
dos jovens na faixa que compreende representantes dos 15 aos 30 anos em média,
o longa não é perfeito, está longe disso, mas é preciso dizer que sua mensagem
pode tanto passar despercebida quanto também ofender levemente, o que explica
seu fraco desempenho mesmo em meio aos críticos especializados que costumam se
derreter por obras exibidas em festivais. A protagonista não consegue
estabelecer uma plena conexão com o espectador por causa de seu perfil apático,
porém, pensando bem, não é assim que boa parte dos jovens (e não só eles) se
comporta hoje em dia? Quase não falam. Seus sentimentos e ideias são expressos
por meio de vídeos caseiros, fotos que podem ser arrumadas tirando totalmente o
caráter espontâneo do produto final ou através de conversas a distância com
abreviações para poupar tempo. Fecham-se em pequenos grupos de amizades, nos
quais geralmente os familiares não são incluídos. Enfim, o cineasta tentou
fazer uma obra reflexiva sobre o impacto das mudanças e modernidades na vida
das pessoas abordando o universo juvenil, um viés cheio de possibilidades a
serem trabalhadas, mas infelizmente acabou não chegando a lugar algum de forma
clara. Podemos dizer que a solidão é o tema principal, mas Wang ainda procura
abordar outros temas relevantes como a perda da inocência, a maturidade
forçada, o equilíbrio entre a responsabilidade e o poder da sedução de novas
experiências, mas infelizmente, mesmo com o tom arrastado da narrativa, tudo é
apresentado de forma muito rápida não havendo aprofundamentos, faltando um
roteiro mais consistente e centrado em algum assunto mais específico. Aparentemente,
também podemos considerar que a grande mensagem de A Princesa de
Nebraska, de acordo com o que absorvemos do comportamento de Sasha, é
que quanto mais você introduz a tecnologia na sua vida, mais apático e
introspectivo você fica. Aos mais aficionados pela tecnologia, tal visão pode
parecer injusta, mas observando as sociedades atuais, infelizmente, é o que
comprovamos. Milhares de pessoas no mundo todo dependentes de celulares e
internet, tanto que um agora já se hospeda no outro, não pode ser considerado
algo normal. Será isso mesmo o que Wang queria dizer? Só o próprio
cineasta tem essa resposta. Ao público resta apreciar a beleza e o
bucolismo típico do cinema oriental e organizar suas próprias conclusões sobre
o conteúdo deste drama.
Drama - 77 min - 2007
Adoro filmes que instigam e questionam.
ResponderExcluirFiquei curioso.