Nota 5 Longa explora passado de personagens carismáticos, mas peca por oferecer mais do mesmo
Quando um filme faz sucesso, os próprios fãs pedem por continuações, mas os responsáveis pelas produções deveriam ser mais cautelosos. Existem obras que deveriam ser únicas e assim permanecerem como uma agradável lembrança no imaginário coletivo. O tiro no pé pode ser ainda mais dolorido quando se resolve oferecer um passado aos personagens que caíram no gosto popular, as chamadas prequels. É por esse caminho que envereda Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, continuação tardia do musical de 2008 cuja ação se situa alguns anos após os acontecimentos originais que focava no casamento de Sophie (Amanda Seyfried) e seus vários conflitos com Donna (Meryl Streep), sua mãe cuja identidade do pai da garota manteve em segredo até ela subir ao altar. Todavia, o segundo longa volta no tempo para mostrar a juventude da mãe coruja e explicar alguns desdobramentos para o futuro da filha que agora se encontra sem o carinho materno. Isso mesmo. Donna, o coração e a alma de Mamma Mia!, agora já é falecida. Streep surge quase nos últimos minutos para um número musical em flashback ao lado de Seyfried e ainda no clipe final que reúne todo o elenco em uma cantoria apoteótica. Por aí já temos ideia de que o filme em hipótese alguma chega aos pés do original, mas ainda assim diverte com novas canções, diga-se de passagem, menos conhecidas do grupo Abba, e repetindo outras marcantes. Obviamente a clássica "Dancing Queen" não poderia faltar.
Lily James assume a personagem da veterana atriz trazendo certo frescor a um universo já enraizado na memória afetiva de boa parte dos interessados na fita. O longa traz estopo ao passado das personagens tão evocado no primeiro filme explicando como Donna foi parar na Grécia e seu envolvimento quase simultâneo com Harry (Hugh Skinner), Bill (Josh Dylan) e Sam (Jeremy Irvine), motivo da dúvida quanto a paternidade da filha que permeava toda a outra narrativa. Também em pauta a amizade de longa data da protagonista com Rosie (Alexa Davies) e Tanya (Jessica Keenan Wynn). Como o filme original é agradável e rápido de se assistir, quem gostou certamente já o viu dezenas de vezes, assim as cenas do passado dos personagens não soam tão interessantes, ficando a diversão por conta de buscar nos intérpretes mais jovens características que os conectem com seus respectivos no presente. Christine Baranski, Julie Walters, Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgard também participam, mas brilham menos agora. A desculpa para se reunirem novamente na ilha grega é que Sophie, agora grávida, está decidida a reinaugurar o hotel da falecida mãe e suas lembranças inspiram a volta no tempo, mas no final a sensação que temos é estranha, como se imagens desperdiçadas na edição do original foram tardiamente compiladas.
Apresentar os carismáticos e já conhecidos personagens em sua juventude não chega a ser um trunfo. A novidade mesmo fica a cargo da luxuosa presença, embora curta, da diva Cher como Ruby, a avó de Sophie que reaparece após anos negligenciando a família, embora no outro filme seja sugestionado que ela já estaria morta, e que tem a oportunidade de retomar seu relacionamento com Fernando (Andy Garcia), cuja existência só se justifica para a inserção da música homônima, mais um grande sucesso do Abba. As sequências musicais conduzidas pelo diretor OI Parker, tentando ao máximo manter a aura solar e característica conquistada na primeira empreitada por outra diretora, variam entre o esquemático e o coreografado imprimindo certa suntuosidade nas apresentações em substituição à naturalidade dos números musicais originais de Streep e sua turma. Talvez o grande equívoco tenha sido colocar o projeto nas mãos de um homem uma vez que a trama gira em torno de uma protagonista partilhando as atenções com outras coadjuvantes de peso. Se na primeira trama os homens tinham participação mais ativa, aqui praticamente fazem figuração. Todavia, quem admira os elementos aqui reunidos, pode tanto cantarolar e dançar junto e com entusiasmo redobrado como também pode torcer o nariz visto que muitas canções do primeiro filme são reinterpretadas e mais da metade do longa soa como descartável, uma desculpa para capitanear em cima de uma ideia nostálgica.
Quem já detesta o gênero musical por si só passe longe de Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, um verdadeiro ode ao exagero que tenta a todo custo escamotear seus erros. Embora queira complementar com informações do passado a trama anterior, que abdicou dos flashbacks e jogou aqui e acolá no texto alguns fatos anteriores para justificar alguns do então presente, nem todos eles batem. Se antes Harry era apontado como o terceiro possível pai de Sophie, na reconstituição agora ele passa a ser o primeiro da fila, assim como mudam as ordens dos encontros de Donna com os demais pretendentes. A tia-avó da jovem, que teria deixado uma herança para ela e a mãe, foi solenemente ignorada agora. Por outro lado, a paixonite febril de Rosie por Bill não foi esquecida, assim como a homossexualidade de Harry e o desencontro derradeiro entre Donna e Sam que causou tanto alvoroço a todos. Além de explicar a relação dos personagens originais com a paradisíaca ilha grega e apresentar alguns novos, qual o conflito da trama? Obviamente o filme não se sustentaria apenas à sombra das saudades de Donna.
Parker escreveu o roteiro buscando respeitar ao máximo o universo transformado em um respeitável musical da Broadway, mas era preciso não só dar uma história de vida aos personagens como também um futuro. Sophie está às voltas com a reinauguração do hotel e com o nascimento do bebê, mas sozinha. Sky (Dominic Cooper), seu marido, está fazendo um curso de hotelaria em Nova York e recebe uma oferta de trabalho que o deixa tentado, assim o casamento entra em crise. Apoiando a jovem está apenas Sam, agora viúvo, enquanto seus pais postiços estão distantes e compromissados. Obviamente, todos os homens da vida de Sophie irão rever suas escolhas e zarpar rumo a ilha a tempo da festa de reinauguração. Embora não mantenha o entusiasmo do original, a dinâmica do elenco jovem com o maduro segura as pontas, assim como a direção que investe em cores e movimentos. A decepção fica mesmo por conta do pouco tempo de cena de Streep e Cher, que também só chegam a dividir a cena na confraternização final. Duas divas sem interagirem é um desperdício sem justificativas.
Musical - 114 min - 2018
MAMMA MIA!
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