Nota 5,0 Mais um drama investe na relação aprendiz e pupilo, mas fica a dever em emoção
A dinâmica entre mestre e
aprendiz já foi explorada dezenas de vezes pelo cinema. Entre títulos
irregulares, outros bons e alguns excepcionais, os exemplos são incontáveis.
Seja em sala de aula ou aprendendo um ofício, a temática já inspirou diversos
roteiristas e cineastas dispostos a construir belas histórias focadas na troca
de experiências entre mentores, geralmente pessoas reclusas e solitárias, e
jovens dotados de talentos especiais, mas não raramente perdidos na vida. Tramas
sobre professores que mudam as vidas de alunos problemáticos através do
carisma, incentivos e respeito, não se aproveitando da autoridade implícita a
seus cargos para mandar e humilhar, são as mais comuns. A fórmula é básica: um
tutor ensinando ao aprendiz tudo o que sabe não só sobre seu trabalho, mas
também importantes conceitos sociais da mesma forma que um pai passa ao filho
importantes ensinamentos, em outras palavras, educa e o prepara para enfrentar
a vida. De quebra, o próprio mestre acaba por reconquistar com o pupilo o gosto
por viver. Com tantas produções semelhantes é difícil oferecer algo novo e que
traga uma visão diferente ao tema. O Mestre da Vida
infelizmente é apenas mais uma obra a entrar no rol de produções bem
intencionadas, porém, destinadas a serem esquecidas. Baseada em fatos reais,
esta é a história de John Talia Jr. (Trevor Morgan), um talentoso e tímido
estudante que sonha em se tornar um grande artista plástico. Ao tentar vender
uma de suas obras, ele descobre que é vizinho de um grande pintor russo, Nicoli
Seroff (Armin Müeller-Stahl). Disposto a trocar experiências e aprender com o
mestre que tanto admira, o rapaz vai até a sua casa e se surpreende ao ver que
o veterano não só desistiu da profissão como também de sua própria vida,
desejando ficar em paz e sozinho até a hora de sua morte. Mesmo assim, após
muita insistência, o pintor convida Talia para passar uma temporada em sua casa
de campo, período em que o estudante aprende a ver o mundo através de olhos
mais críticos enquanto seu mestre reaprende a ver a vida de um modo mais
inocente e descompromissado.
Só pelo título, que deixa
explícito o conteúdo, certamente os mais sentimentais já devem se entusiasmar,
mas as expectativas não são totalmente preenchidas. É certo que o público
cativo deste tipo de produção sabe exatamente o que irá acontecer, mas
surpreender nunca é demais. Típico filme edificante, o drama autobiográfico é
dirigido e roteirizado por George Gallo, autor das tramas dos totalmente inversos
Fuga à Meia-Noite e Bad Boys. Ele pulou dos filmes de ação e
suspense para embarcar em um universo melancólico cujo cenário paradisíaco é um
convite e tanto para aqueles que gostam de refletir sobre relações humanas e
apreciar a natureza e a arte, justamente o que necessitam os protagonistas,
cada qual com suas próprias razões. Diga-se de passagem, em certo momento
Seroff defende que a arte deve ser algo natural, mas é uma pena que o próprio
diretor não aprendeu a lição forçando uma emoção que nunca chega a atingir o
espectador em cheio. O próprio desenvolvimento dos personagens engessa qualquer
possibilidade de ousadia. Fica óbvio que Talia teria problemas familiares e
almejava a liberdade enquanto Seroff sofreria com algum trauma do passado.
Talvez a direção de alguém mais habituado com produções de cunho dramático
fizesse a diferença, pois falta sensibilidade na condução dos protagonistas
para tornar a relação afetiva e profissional bem mais verossímil. Se o roteiro
é questionável, pelo menos plasticamente Gallo acerta e mostra certa
competência. Não por acaso a fotografia e a direção de arte são os pontos
altos, apresentando um visual que desperta agradáveis sensações. Também são
abordadas as diferenças de como uma obra visual pode ser apreciada ou
compreendida pelo emocional ou de forma
intelectual. Os conceitos aplicam-se para uma avaliação honesta de O Mestre da Vida. Para os críticos de plantão,
é certo que esta é uma produção piegas e totalmente esquecível, mas é preciso
lembrar que é um longa feito para um nicho específico de público que de fato
procura se abastecer com mensagens e emoções repetitivas. No conjunto, o
resultado é bem menos tocante que o sugerido, mas ao menos garante uma sessão
da tarde bonitinha e descompromissada.
Drama - 107 min - 2007
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