NOTA 4,0 Longa acompanha 24 horas de um agitado dia de uma mãe que se dedica integralmente à família |
Filmes que acompanham a rotina de um personagem durante as
24 horas de um único dia não são novidades e é até uma premissa muito comum nos
gêneros de ação e suspense, agora em comédias tal ideia pode soar como uma
novidade bem-vinda. Contudo, talvez justamente pelo fato de não ser comum no
humor não deu certo a proposta do espectador participar da loucura de um dia da
vida de uma mulher moderna do subúrbio nova-iorquino. Faltou intimidade com o
estilo por parte da roteirista e diretora Katherine Dieckman na condução da
comédia de costumes Uma Mãe em Apuros. Eliza Welch é uma escritora que se
dedica à redação de um blog, mas suas principais atividades são ser mãe, dona
de casa e a esposa de Avery (Anthony Edwards), um amoroso homem que entope sua
casa de livros raros sonhando em um dia faturar alto com as vendas deles. Certo
dia ela está atarefada um pouco além do normal. Fora a obrigação de cuidar do
filho mais novo, Lucas (papel revezado pelos gêmeos David e Matthew Schallipp),
que está começando a dar os primeiros passos, cozinhar, limpara a casa, trocar
ideias e experiências com outras mães na tradicional visita ao playground,
entre tantas outras tarefas rotineiras, neste dia em específico ela ainda está
preparando a festa de seis anos de sua filha mais velha, Clara (Daisy Tahan),
precisa desfazer uma confusão que causou sem querer envolvendo Sheila (Minnie
Driver), sua melhor amiga, e ainda está decidida a participar de um concurso no
qual precisa fazer uma redação sobre o que a maternidade lhe representa. Para
dar vida a essa mulher mil e uma utilidades que abdicou das costumeiras
vaidades femininas e até mesmo de sua carreira promissora como escritora para
se dedicar integralmente à família, foi escalada a talentosa Uma Thurman. Além
de seu nome ser um chamariz natural de público, a atriz não tem medo de mudar
seu visual, mesmo quando precisa se enfear.
Com cabelos desarrumados e um figurino sempre franzino ou simplista, ela
encarna com perfeição a típica mãezona que não mede esforços para ver seus
filhos felizes e por tabela também o marido.
Falando pelos cotovelos e praticamente sem um minuto sequer
de descanso, Eliza a primeira vista pode parecer um personagem estereotipado e
sua hiperatividade incomodar o que pode explicar o fracasso da fita. Desta vez
o nome de Uma em destaque no material publicitário não surtiu o efeito
esperado. Lançado diretamente em DVD no Brasil há registros, por exemplo, que
na Inglaterra o longa estreou em apenas uma sala de cinema e acumulou em três
dias a inacreditável marca de apenas dozes espectadores. É certo que esta
comédia, considerada por alguns muito mais dramática que irônica, não é
excepcional, mas também não é totalmente um lixo, tem até seus acertos e alguns
bons momentos. Katherine através de seu texto e de sua câmera consegue
aproximar o espectador de sua obra abordando temas comuns, rotineiros e até
mesmo reflexivos. Todavia, a forma como este produto é vendido passa uma ideia
errada para o público que acaba se decepcionando ao ver que o longa não é um
apanhado de clichês bobos de comédias pastelões onde as mães comumente são
retratadas como mulheres destemperadas ou controladoras. Ok a protagonista
neste caso até apresenta algumas porcentagens destas características em seu
perfil, mas entre as ações impensadas, como bater boca no trânsito simplesmente
por acreditar que ela tem todo o direito de esperar uma vaga para estacionar,
ela tem muito a dizer não só para os outros, mas principalmente para si mesma.
É aí que entra a grande sacada do enredo: abordar a relação das mulheres com a
internet. Para algumas donas de casa o computador continua sendo um bicho de
sete cabeças, mas para muitas a intimidade com essa máquina chegou a tal ponto
que elas não se limitam mais a usar a rede para encontrar receitas e já
produzem seu próprio conteúdo on-line. Eliza, por exemplo, escreve um blog para
aliviar as tensões do dia-a-dia e desabafar a respeito da sua estressante
rotina. Esse gancho de usar uma espécie de diário virtual como válvula de
escape já foi usado em outros filmes como Julie e Julia no qual uma das
personagens-títulos se prontificou a registrar em um blog durante um ano as
suas experiências na área da gastronomia.
Uma Mãe em Apuros consegue reunir algumas situações e
pensamentos que atingem diretamente o emocional do público feminino mais maduro
devido a fácil identificação com os problemas e sentimentos da protagonista. Porém, entre uma reflexão
aqui ou ali, a diretora tenta a todo custo fazer o espectador rir, mas seus
esforços são em vão. Seja uma disputa por uma liquidação em uma loja de roupas,
um desabafo sem noção no meio do trânsito complicado ou até o bizarro modo de
compreender o filho posto em prática por uma neurótica mãe, o máximo que
conseguimos com esta produção é dar um ou outro sorriso amarelo. Pode ser que o
grande problema deste filme seja a falta de um argumento mais forte. Não que o
cotidiano de uma mulher do lar não mereça respeito, mas digamos que se
preocupar com uma festa de aniversário ou que precisa urgentemente dar uma
passada no mercado não são dos melhores conflitos para prender a atenção em um
filme. Sendo assim, acompanhamos o
cotidiano da protagonista sem grandes expectativas e quando chegamos à
conclusão nem nos indignamos tanto com o inerente final feliz de Eliza, afinal
nada mais justo que um momento feliz no fim do dia para compensar todos os seus
esforços. Praticamente tentando realizar um agradável registro sobre como a
mulher comum se insere na sociedade contemporânea tendo vários papéis a
cumprir, é uma pena que a cineasta explore pouco esse aspecto de seu enredo e
nem mesmo invista pesado no humor. Uma Thurman, no entanto, interpreta com
tanta simpatia e vontade sua Maria do lar que compensa generosamente as falhas.
Ainda vale uma ressalva ao trabalho de Minnie Driver responsável pelas melhores
sequências de humor e a rápida participação de Jodie Foster como ela mesma
fugindo dos paparazzi e mostrando que mesmo as mães bem sucedidas
profissionalmente também têm seus problemas. É como diz o ditado popular: ser
mãe é padecer no paraíso. Após o corre-corre do neurótico cotidiano, nada mais
recompensador para uma mãe que a noite receber um sorriso ou uma palavra de
carinho de seu filho. A conferir sem grandes expectativas, sem pré-julgamentos
e a sessão-família está garantida.
Comédia - 90 min - 2009
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