sexta-feira, 28 de agosto de 2015

13 FANTASMAS

NOTA 3,0

Apesar dos cenários
inovadores, longa repete os
clichês comuns do terror e
conta com enredo frouxo
Hollywood vive de fases, algumas muito longas e outras que duram apenas uma temporada resultando de dois a quatro filmes com temáticas similares que lutam para conquistar a preferência do espectador ou para ver qual ganhará o rótulo de fracasso entre elas. Já tivemos as incríveis coincidências de desenhos bacanas enfocando o mundo dos insetos disputando o espectador no mesmo período e também ficções a respeito de Marte brigando pelo posto de maior fracasso de todos os tempos. Nessa mesma época, final dos anos noventa e começo do novo século, produtores resolveram também vasculhar o baú e pinçar pérolas do terror americano para serem refilmadas. Com o filão dos seriais killers em franca decadência, por que não tentar trazer a tona novamente as histórias de casas assombradas? Se por um lado tivemos o original e excepcional Os Outros, por outro fomos presenteados com engodos como 13 Fantasmas, refilmagem de uma obra dirigida por William Castle, uma lenda do gênero. Há quem diga que esta é uma refilmagem de um longa homônimo dos anos 60, mas também há registros de que este é o remake de A Casa dos Maus Espíritos, de 1958, que por sua vez já serviu de base para outros títulos similares. Bem, independente do longa refilmado, é certo que filmes de terror geralmente são avaliados de regular para baixo e às vezes uma verdadeira bomba pode ganhar certo status dependendo da escassez do gênero no período. O problema é que o trabalho dirigido pelo então estreante Steve Beck, que posteriormente dirigiria O Navio Fantasma, além de ser uma produção desinteressante também chegou aos cinemas após A Casa da Colina e A Casa Amaldiçoada, também refilmagens, ou seja, foi lançado quando o público já estava saturado de filmes que prometem muito no trailer, mas no conjunto decepcionam.   Beck, técnico de efeitos especiais de produções como Indiana Jones e a Última Cruzada e O Segredo do Abismo, abusou de efeitos especiais, clichês e deixou a desejar quanto a direção dos atores e na transformação do roteiro de Neal Marshall Stevens e Richard D’Ovidio em imagens. Todos sabem que um diretor tem plenos poderes para mexer em um enredo conforme as filmagens avançam, pois quando as coisas começam a ganhar formas elas tendem a ser bem diferentes do que é descrito no papel, mas neste caso a preguiça falou mais alto.


A introdução do longa até promete que algo bom está por vir. Um grupo de pessoas está tentando capturar um fantasma em um ferro-velho. A maioria morre na missão, mas o espectro é preso. Seria uma espécie de versão mais dark dos Caça Fantasmas? Bem, depois a narrativa segue nos apresentando à Arthur (Tony Shalhoud) e seus filhos, Kathy (Shannon Elizabeth) e Bobby (Alec Roberts), que estão passando por dificuldades financeiras. A sorte dessas pessoas muda quando elas descobrem que vão receber uma mansão de herança de um parente misterioso, o Dr. Cyrus Kriticos (F. Murray Abraham), o chefe da tal operação de captura de espectros. Porém, há um problema: o lugar parece ter uma perigosa armadilha. Presos na nova moradia, uma imensa casa repleta de paredes móveis de vidro inquebrável, os visitantes encontram vingativos fantasmas que só podem ser vistos através de óculos especiais. Todos eles tiveram mortes trágicas e ameaçam aniquilar qualquer um que atravessar seus caminhos. De hora em hora as paredes mudam de posição e é aí que mora o perigo. Nesse rápido período de mudança as tais almas penadas podem escapar. O falecido Cyrus gostaria de realizar uma experiência capturando treze fantasmas para conseguir poderes infinitos, sabe-se lá porque isso, mas faleceu antes de concluir seu intento e agora dozes almas penadas assombram sua residência. Os humanos, por sua vez, estão envolvidos em uma corrida contra o tempo para salvar suas vidas. Arthur e seus filhos contam com a ajuda (será mesmo?) de Kalima Oretzia (Embeth Davitz), aparentemente a favor da liberdade e direitos dos fantasmas, e de Dennis Rafkin (Matthew Lillard), um especialista em captura de espíritos torturados que trabalhava com o Dr. Cyrus. Melhor dizendo, o tal caça-fantasmas, careteiro e piadista, na realidade está de penetra na mansão procurando algo que acredita estar escondido por lá, obviamente algum segredo relacionado ao experimento de seu ex-patrão.

Com a produção assinada por Robert Zemeckis e Joel Silver, responsáveis respectivamente, entre outros projetos, pelas trilogias De Volta Para o Futuro e Matrix, era de se esperar que visualmente o longa não decepcionasse. A cenografia é interessante, embora muito moderninha, a fotografia, edição e iluminação são de qualidade, o visuais dos fantasmas são bem criativos e com ótima caracterização, mas ao que diz respeito a condução da narrativa talvez os produtores nem tomaram conhecimento do que acontecia no set. Se a obra original de Castle que serviu de inspiração optava por uma abordagem mais ingênua e sugestiva do tema assombração, Beck resolveu fazer uma colcha de retalhos de tudo o que já vimos nos filmes de terror durante os anos 80 e 90, ou seja, muito sangue, violência, barulho e sustos previsíveis. Até uma reviravolta no roteiro é planejada para dar à obra um falso ponto de surpresa. Se existe algo relevante na existência de 13 Fantasmas, gostando ou não do filme, é aguçar a vontade de conhecer mais sobre o gênero de terror. Por exemplo, quem foi William Castle? Para quem não sabe tal figura foi homenageada na comédia Matinée – Uma Sessão Muito Louca. Excêntrico e criativo, o diretor criava brincadeiras e truques para deixar uma simples ida ao cinema uma experiência inesquecível. De pequenos choques à esqueletos vagando pela sala de exibição, neste caso dos fantasmas capturados, lembrando que segundo a Sony Pictures, distribuidora do filme, o longa é remake do já citado A Casa dos Maus Espíritos, ele inventou um processo chamado illusion-O, óculos com lentes azuis e vermelhas que eram distribuídos aos espectadores. Quando usados exibiam os fantasmas, sem eles os espectros eram invisíveis. Tal inovação acabou sendo incorporada à narrativa da versão 2001, mas os tais óculos não foram cedidos às platéias, mas nada que interfira no resultado final. Curiosamente, apesar de ser mais do mesmo e em alguns aspectos até precária demais, esta produção conquistou uma legião de fãs fiéis que o defendem com unhas e dentes. Realmente para matar o tempo e divertir os adeptos de sanguinolência ela serve. Há uma ou outra cena de morte bem idealizada e com requintes de crueldade, como a de um sujeito partido ao meio por uma placa de vidro, mas se pararmos para pensar bem que saudades das casas assombradas dos bons e velhos filmes de terror. Definitivamente modernidade não combina com esse tipo de filme e quando aliada a um péssimo roteiro o resultado é uma tremenda bomba.

Terror - 90 min - 2001 

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