quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A SOGRA

NOTA 7,0

Após quinze anos ausente
dos cinemas, Jane Fonda
interpreta personagem
atípico na carreira
Jane Fonda teve uma carreira de sucesso entre os anos 60 e 80, conquistando inclusive dois Oscars de Melhor Atriz, mas pouco a pouco foi deixando o cinema de lado e investindo seu tempo em outros trabalhos menores, como suas famosas fitas de vídeo com aulas de ginástica, além de cuidar da família e realizar atividades filantrópicas. Afastada dos sets de filmagens por cerca de quinze anos, todos acreditavam que ela só voltaria a fazer cinema se recebesse um personagem arrebatador, todavia, seu retorno foi em uma comédia romântica simplória. Sua presença em A Sogra pode ser vista tanto de forma negativa quanto positiva. Para alguns foi uma decepção ver Jane protagonizando cenas de humor rasgado, mas para outros foi um deleite ver uma grande estrela em um trabalho tão popular. O fato é que se não fosse a presença da atriz este filme dirigido por Robert Luketic, do divertido Legalmente Loira, seria apenas mais um a inflar a lista do gênero. A estrela vive Viola Fields, uma famosa apresentadora de TV que perdeu o emprego inesperadamente. Sabendo que provavelmente seria substituída por alguma jovem bonita, mas sem conteúdo intelectual algum, ela não se conteve em sua última entrevista e teve um ataque de histeria ao vivo por não aguentar a futilidade da convidada (uma cena impagável que dá um cutucão na cantora Britney Spears e em outras garotas do tipo). Após uma temporada em uma clínica para se recuperar do surto, Viola tem mais um desafio a enfrentar: o medo de perder o amor de seu filho para outra mulher. Há muito tempo procurando um príncipe encantado, Charlotte (Jennifer Lopez), ou simplesmente Charlie, finalmente encontra o homem ideal por um acaso, mas para sua infelicidade Kevin (Michael Vartan) é o filho mimado de Viola, esta que fará de tudo para melar o relacionamento dos dois provando poder ser a pior sogra do mundo. Porém, Charlie está disposta a comprar essa briga e lutar pelo seu amor.

Inicialmente intitulado como “Até que a Sogra nos Separe”, que também seria uma boa escolha, esta comédia não é inovadora em nenhum aspecto, não abrindo mão nem mesmo do final feliz, mas transforma-se em um agradável entretenimento por ser leve, ter alguns momentos inspirados e contar com um elenco que trabalha direitinho. Quer dizer, Jennifer nunca foi considerada uma grande atriz e não foi dessa vez que recebeu tal elogio. Ela apenas faz seu papel corretamente, reciclando o estereótipo da mulher latina que está tentando vencer na vida em solo americano. Com traços marcantes e corpo curvilíneo, ela não é vista como uma mulher decente para o casamento, talvez o motivo que explique ela ser uma solteirona até conhecer o personagem de Vartan que pouco faz na história, apenas serve como motivo para justificar a briga entre duas mulheres com fortes personalidades. É claro que o grande destaque sem dúvida fica por conta de Jane surpreendendo ao assumir um papel atípico em sua carreira. Ela chama a atenção a cada nova aparição e acabou ofuscando a mocinha que teoricamente seria a protagonista. Aqui a veterana se diverte vivendo e criando situações hilárias e bizarras e em nenhum momento parece desconfortável no papel, muito pelo contrário. Será que com várias experiências de casamento na vida real, tal personagem caiu dos céus para que ela se vingasse delicadamente de suas ex-sogras? Vale destacar também o excelente desempenho da atriz Wanda Sykes como Ruby a astuta e divertida assistente de Viola. A personagem é responsável por grandes e naturais momentos de humor, assim como seu colega de elenco Adam Scott que protagoniza divertidas cenas vivendo Remy, aquele amigo homossexual que toda mocinha de comédia romântica que se preze precisa ter por perto para lhe dar conselhos e salvar os filmes com algumas piadas bacanas.

Apesar de enfocar uma guerra particular entre uma mulher mais madura e uma mais jovem pelo amor de um mesmo homem, embora sejam sentimentos distintos que poderiam conviver em harmonia, a roteirista Anya Kochoff não abriu mão dos clichês das comédias românticas e parece ter feito um grande apanhado de cenas e piadas que já foram usadas em outras produções. Porém, mesmo sendo previsíveis, cada nova sequência ganha um gostinho de novidade justamente pelas forças das interpretações. É bem interessante acompanhar o duelo entre uma atriz consagrada em vários aspectos e outra que carrega apenas o mérito de boa parte dos seus filmes terem arrecadado um bom dinheiro. O roteiro ganha também uns pontinhos positivos graças à ousadia de Anya em inserir em seu texto certas citações a episódios verídicos na vida de Jane. Assim como Viola, a vida amorosa da atriz foi bastante agitada, inclusive um de seus maridos era proprietário de um império do ramo da comunicação e do entretenimento, tal qual é citado rapidamente no filme referindo-se aos casamento mal fadados da protagonista. Entre outras tantas referências, é bom saber que uma estrela de gabarito não permite que a coloquem em um pedestal que a torne inalcançável. Muito divertido do início ao fim, é claro que A Sogra não tem uma aprovação unânime. Tem sempre alguém de plantão para falar mal ou apontar erros, mas é bom ressaltar que este trabalho cumpre perfeitamente seus objetivos. Provavelmente nunca houve a intenção de que aqui fosse feito um estudo psicológico e social sobre as relações de sogras e noras e tampouco fosse abordado o difícil tema do complexo de Édipo. Sua intenção é proporcionar divertimento sem compromisso e isso consegue com folga. E ainda podemos ficar contentes que pelo menos aqui a melosa mistura de água com açúcar é usada com parcimônia. Em resumo esta comédia se assemelha a um bolo de casamento: é gostoso, sacia a vontade do espectador, acaba rápido e tem também um casal de pombinhos ocupando o lugar da cereja no topo do doce. Ops! O final foi revelado! Ah, todo mundo sabe que no final de tudo haveria uma festa de casamento, mas o importante é acompanhar Miss Fonda colocando seu lado bruxa para fora. Risos garantidos.

Comédia - 101 min - 2005 

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Um comentário:

Ramon Pinillos Prates disse...

Não tive coragem de encarar esse aí.