NOTA 7,0 Com certas passagens que soam artificiais, longa baseado em fatos reais tenta mostrar a adoção de forma diferenciada |
Quando um filme destaca em sua publicidade que a história
que está trazendo ao público é baseada em fatos reais significa que os
produtores identificaram nela algo que a faria valer a pena, geralmente emoções
ligadas a lições de vida envolvendo superações e conquistas. Não é a toa que
produções destacando ícones do mundo esportivo existem aos montes e são vários
os exemplos de pessoas que venceram ou se reconciliaram com a vida dessa forma.
O problema é que isso já está tão clichê que nenhum roteiro do tipo parece se
destacar hoje em dia. Todos eles seguem as mesmas fórmulas narrativas, são
previsíveis e elevam seus protagonistas a títulos de heróis servindo como uma
metáfora sobre valores humanos. Todavia, assim como as comédias românticas
esquemáticas tem seus fãs fervorosos, os filmes envolvendo esportes também tem
e eles adoram ver mais do mesmo, mas o entusiasmo pode ser ainda maior quando
grandes estrelas resolvem emprestar seus talentos a tais produções. Baseado na
história verídica do jogador de futebol americano Michael Oher, Um Sonho
Possível estreou nos cinemas americanos sem grandes expectativas, mas aos
poucos conquistou o público oferecendo o que eles mais gostam: esporte e uma
das queridinhas de Hollywood, Sandra Bullock. Provavelmente se não fosse a
presença da atriz este drama estaria fadado a ter passagem relâmpago pelos
cinemas ou ser lançado diretamente em DVD em muitos países, inclusive o Brasil
já que o futebol americano ainda é alheio a nossa cultura. Porém, provando que
a Academia de Cinema está cada vez mais atenciosa ao lado comercial da sétima
arte, o longa do diretor John Lee Hancock ganhou uma publicidade extra conseguindo
a proeza de figurar na famigerada lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme,
mas sua obra ficará marcada como a produção que deu a tão cobiçada estatueta
dourada à Bullock. Dizer que esta produção foi uma das melhores de 2009 é um
pouco de exagero e claro exercício de poder das produtoras de cinema e mídias
sobre as premiações, mas é inegável que a atriz surpreende demonstrando talento
para filmes dramáticos já que seu território seguro são as comédias. Mais
contida que de costume, mas ainda assim mantendo seu carisma e sua energia
positiva, os votantes das premiações (não só do Oscar) provavelmente decidiram
premiá-la mais pela política da boa vizinhança afinal de contas ela não faz
nada de extraordinário aqui, inclusive em certas partes até causa estranheza os
seus cuidados exagerados da mãe adotiva que interpreta, mas, segundo
dizem, é assim mesmo que a matriarca da vida real reagia diante das
dificuldades que seu filho de coração passava.
O enredo nos apresenta Michael Oher (Aaron Quinton), mais
conhecido como Big Mike, filho de uma mãe viciada em drogas e que sempre levou
uma vida miserável. O rapaz é negro, obeso, se sente rejeitado pela sociedade e
não sabe muito sobre suas raízes, pois viveu praticamente toda a sua existência
nas ruas e isso o prejudicou muito, tanto que chegou a adolescência sem ter
ambições na vida. Sem nunca encontrar acolhimento de verdade em um lar e os
vários traumas de sua infância o transformaram na pessoa que é hoje, fingindo
ser indiferente as situações que o cerca e em diversos momentos aparentar ter
algum tipo de deficiência mental. Isso é um mecanismo de defesa comum que algumas
pessoas usam para evitar se machucarem, como se quisessem ficar invisíveis aos
olhos dos outros. A vida do rapaz começa a mudar quando Mike encontra os Tuohy,
o exemplo de uma família americana exemplar. Leigh Anne (Sandra Bullock) é uma
mulher rica e exagerada, mas leva uma vida regida por valores cristãos e tem
boa índole, assim como seu marido, Sean (Tim McGraw), um ex-jogador de basquete
que após largar a profissão passou a se dedicar ao ramo da culinária. Os dois
levam uma rotina confortável ao lado dos filhos, a adolescente Collins (Lily
Collins) e o esperto S.J. (Jae Head). Ao encontrar Mike sozinho na rua em uma
noite fria, Leigh decide ajudá-lo e o leva para casa. Aos poucos, o rapaz acaba
sendo inserido nesse núcleo familiar e passa a usufruir de coisas tanto
materiais quanto emocionais que jamais imaginou pode ter um dia. Os Tuohy o
acolhem, acreditam em seu potencial para os esportes e passam a incentivá-lo. Mesmo
sem um bom currículo escolar, ele é admitido por causa de sua habilidade para os
esportes, principalmente o futebol americano, o que poderia render prestígio ao
colégio nas competições. Assim, ele pôde finalmente sonhar com a possibilidade
de ter um bom estudo, uma profissão e o futebol americano seria essencial para
essas mudanças significativas em sua vida, mas é claro que nem tudo são
flores. A força que move todo esse processo de superação é da mãe
adotiva, que não deixa seu filho de coração desistir e enfrenta os desafios
necessários para agregar o garoto em uma sociedade injusta e para tanto não se
importa em bater de frente com viciados ou os treinadores do time cheios de
marra. Embora o diretor consiga envolver o espectador mostrando a personagem
Leigh percebendo o mundo alienado em que vivia graças ao contato que passa a
ter com realidades sociais que aparentemente até então ignorava, faz falta
conhecermos um pouco de seu histórico de vida para compreendermos de onde vem
tanta bondade e até mesmo o comportamento dos demais membros de sua família.
A produção é um drama leve do tipo que traz boas mensagens
ao público. O viés do enredo é tratar do tema adoção, mas de uma forma
diferente das que estamos acostumados. Hancock não quis se arriscar e seguiu à
risca a cartilha que rege os grandes filmes com tom edificante para atingir o
emocional de quem assiste e roteirizou o longa baseando-se no livro "The
Blind Side: Evolution of a Game". Logo no início já é dada a explicação
para o termo "blind side". A expressão é usada no título original e é
derivada de táticas do esporte que serve como fio condutor da história. Como a
modalidade é desconhecida em vários países, a explicação cai muito bem
e servirá para ligar a história dos protagonistas. O diretor ganha créditos ao evitar transformar
seu longa em um produto triste e lacrimejante, armadilha muitas vezes difícil
de escapar. Apesar de o protagonista ter sofrido muita na infância, como é
indicado por sua conduta e aspecto físico, somos poupados de cenas de violência
em flashback. Há quem diga que o roteiro é muito romanceado e derrapa em
diversas partes consideradas um tanto exageradas, como as constantes atitudes
de carinho e compreensão da família com o filho adotivo, mas nada que atrapalhe
a apreciação do enredo, até porque os personagens reais que inspiraram a
história seriam de uma bondade espantosa, algo raro nos dias de hoje entre os
clãs mais bem servidos financeiramente falando. Um Sonho Possível não caiu no
gosto popular a toa. Revelar o amor oferecido sem expectativas de receber algo
em troca e a superação através do esporte são alguns temas que mexem
profundamente com o emocional de grande parte do público e talvez esteja justamente
no seu roteiro simples o segredo do sucesso. A narrativa trata de adoção, mas
sem os clichês de costume. Ao invés de uma criança, quem é adotado no caso é um
adolescente. Ele não é branquinho e de olhos claros. Ele é negro e bem forte.
Ao invés de irmãos ciumentos que vão fazer de tudo para infernizar a vida do
mais novo membro da família, aqui ele é bem recebido por todos. E nem é feita
uma adoção cheia de burocracias. Simplesmente ele é acolhido em um bondoso lar,
vai ficando e aos poucos passa a usufruir de uma vida que jamais imaginava que
um dia teria. Literalmente se transforma em um filho de coração. Talvez o único
clichê do filme esteja realmente na esperança de conquistar um bom futuro
através do esporte. Já está na hora de exaltar mais outras áreas de formação
como as artes plásticas e a música.
Vencedor do Oscar de atriz (Sandra Bullock)
Drama - 128 min - 2009
Um comentário:
Achei o filme muito bom *___*
E devo ser o único na face da Terra que acha que a Bullock mereceu o Oscar.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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