domingo, 2 de agosto de 2015

A FERA

Nota 1,5 Longa confunde estilo punk com monstruosidade e anula discussão sobre culto à beleza

Embora reinventar contos clássicos adaptando-os a outras épocas e contextos já fosse uma prática do cinema desde a época em que era mudo, é certo que da década de 2000 em diante tal prática tornou-se uma febre, principalmente para atrair crianças e adolescentes cada vez mais adeptos da lei do mínimo esforço. Assim, quanto mais fácil a identificação com o enredo melhor, ainda mais se a produção no fundo tiver o objetivo se alavancar a carreira de astros teens. A Fera se encaixa perfeitamente nessa definição. Tem uma história clássica como sustento, aborda de maneira fantasiosa o bullying, temática presente no cotidiano juvenil, e ainda tinha como protagonistas dois astros em ascensão, mas que não vingaram. Kyle Kingston (Alex Pettyfer) é considerado o garoto mais bonito da escola e adora se gabar disso, assim ele costuma julgar as pessoas pela aparência e não pensa duas vezes antes de humilhar alguém que considera feio ou inferior. Para completar ele é filho de um famoso apresentador de TV, o que lhe garante certo status de celebridade. Para lhe dar uma lição, certo dia a excêntrica Kendra (Mary-Kate Olsen), uma feiticeira adolescente, cruza o seu caminho e lança uma maldição. O rapaz perde suas madeixas loiras, ganha alguns piercings e começa a ficar com o corpo todo marcado por tatuagens e cicatrizes, inclusive seu rosto. Agora ele tem o prazo de um ano para conseguir ser amado de verdade nessas condições por alguma mulher, caso contrário estaria condenado a viver como um monstro para sempre. Preocupado com os comentários e rejeitado pelo próprio pai, o magnata Rob (Peter Krause), Kingston se refugia na casa de campo da família e passa a viver na companhia de dois empregados, a governanta Zola (LisaGay Hamilton) e Will (Neil Patrick Harris), um deficiente visual que acaba assumindo o papel de seu conselheiro. Contudo, não demora para que uma moça surja para fazer ressurgir sua vontade de viver. Lindy (Vanessa Hudgens) acaba sendo forçada a viver com o jovem, mas não sabe quem ele é de verdade, pensando se tratar do filho de um amigo de seu pai.

Basta uma referência aqui e ali do texto original e muita liberdade para sintonizar o enredo à época contemporânea e pronto! Já está saindo do forno mais um sucesso teen daqueles que pode até ser divertido na hora, mas depois cai a ficha de sua insignificância. A Fera, mesmo querendo colocar em discussão o culto à beleza exagerada entre os adolescentes, claramente é uma adaptação estapafúrdia do conto de "A Bela e a Fera" que não se justifica simplesmente porque o tal monstro em que o protagonista é transformado não existe. O visual que ganha é o de uma figura punk, alguém que certamente chamaria a atenção nas ruas, mas não a ponto de criar repúdio (dependendo do ponto de vista) e que se encaixaria facilmente em um grupo de amigos amantes do rock e adeptos de tatuagens e afins. Não souberam definir com precisão o conceito de um monstro para os dias atuais e acabaram de certa forma apontando de forma negativa um grupo que luta diariamente por reconhecimento e identidade. Alex Flinn, o autor do livro que inspirou o roteirista e diretor Daniel Barnz, tentou através de um conto popular abordar a futilidade da sociedade do século 21, mas o longa resulta em algo pueril. Não é o que se espera de um romance, conta com interpretações sofríveis e o desenvolvimento da trama é um tanto insosso, com diálogos redundantes e vazios. A atuação de Harris é talvez o que se salva com um personagem que apesar da cegueira parece enxergar longe. Ele é responsável por algumas boas piadas e talvez só intérprete tenha tido coragem de expor sua real opinião sobre o projeto: uma bomba que merece ser criticada e assim seu Will faz com piadinhas aqui e acolá. Mesmo sendo curta, esta produção torna-se cansativa por não cativar o espectador, não empolgando nem mesmo a introdução que de longe parece ser a parte mais sensata do roteiro. Se você ainda não atingiu a maioridade, é do sexo feminino e ainda se debulha em lágrima com a saga Crepúsculo, certamente ainda deve se emocionar com esta fita, caso contrário fuja. A vergonha alheia dói.

Romance - 86 min - 2010 

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Um comentário:

renatocinema disse...

Filme que não me atraiu. Nem trailer, nem poster.....nada