NOTA 7,5 Disney retorna às suas origens investindo em conto clássico, animação 2D e alguns toques modernos |
Desde que Toy Story estreou na temporada de férias de
1995/96 o cinema de animação jamais voltou a ser o mesmo e a Disney que estava
colhendo os louros da parceria para a distribuição dos longas da Pixar passou a
ver ano após ano as bilheterias de seus desenhos tradicionais não
corresponderem as expectativas até que chegou um momento em que o estúdio
decidiu abandonar de vez as produções do tipo e apostar somente em tecnologia
de ponta. A tendência seria intensificada quando as duas empresas finalmente se
uniram para a produção de longas-metragens, porém, foi o próprio John Lasseter,
o diretor que deu o pontapé inicial na onda de desenhos digitais e com roteiros
pra lá de inteligentes, que insistiu para que fosse retomado o setor de
animação 2D da casa do Mickey Mouse, assim como a exploração dos contos de
fadas. A Princesa e o Sapo marca esse retorno às origens contando com todos os
elementos que consagraram tanto o gênero quanto sua técnica de realização,
contudo, o projeto foi recebido com ressalvas por crítica e público e as
opiniões são bem divididas. Para muitos tal filme representou um retrocesso na
trajetória das animações, mas isso é puro preconceito ou ignorância provocada
pela atual cultura do imediatismo ou da ostentação da tecnologia. Em
pleno século 21, é curioso que ainda as questões sobre racismo se mantenham
tanto em evidência a ponto de gerar na época do lançamento deste desenho muita
expectativa a respeito de como seria a primeira princesa negra da Disney, uma
escolha não apenas para trazer uma publicidade extra ao projeto, mas também
para satisfazer um antigo sonho do estúdio. Todavia, as questões raciais não
ficam em primeiro plano visto que a trama se passa na efervescente cidade de
Nova Orleans que em plena década de 1920 já apresentava um intenso movimento de
mistura de raças, tanto que logo na sequência inicial temos duas garotinhas,
uma negra e outra branca, se divertindo juntas ouvindo histórias de princesas.
Uma delas é Tiana, que no futuro se torna uma moça independente, corajosa,
atraente, mas que não pensa em se casar. Seu grande sonho na realidade é poder
ter seu próprio negócio, um restaurante como seu falecido pai também gostaria
de ter tido, porém, mesmo se esforçando em dois empregos para conseguir
dinheiro para poder finalmente realizar seu desejo parece que cada vez mais ele
está distante de ser concretizado. Suas esperanças renascem quando sua grande
amiga de infância, Charlotte LaBouff, a outra garotinha da introdução, a convida
para fazer o jantar de uma festa que está organizando para tentar conquistar o
amor do príncipe Naveen que acaba de chegar à cidade.
Durante a festa, um imprevisto faz com que Tiana tenha que
trocar de roupas e pegar emprestado um dos vestidos de Charlotte. É nesse
momento que surge um sapo anunciando ser o príncipe Naveen e pedindo à jovem
que lhe conceda um beijo para que o feitiço do ganancioso bruxo conhecido como
Dr. Facilier se quebre e assim ele possa recobrar sua condição humana.
Inicialmente ela acha a ideia repugnante, mas aceita ao receber a promessa de
que ele a recompensaria conseguindo toda a quantia que falta para que ela possa
abrir seu restaurante. Porém, o efeito do beijo é desastroso. Além de o
príncipe continuar sendo um sapo, Tiana também foi transformada em uma rã. O
beijo não deu certo porque a jovem não é uma princesa, foi Naveen quem a
confundiu por causa dos trajes finos que usava. Agora, para voltarem ao normal,
eles partem juntos numa grande aventura em busca de Mama Odie, uma velha
feiticeira que pode ter a solução. Nessa trajetória, os dois anfíbios contam
com a ajuda do apaixonado vaga-lume Ray e do jacaré-trompetista Louis que sonha
em um dia poder tocar com os humanos. Enquanto isso, um serviçal de Facilier
toma as formas e as feições do corpo de Naveen para conquistar Charlotte de
olho na fortuna que ela herdará de seu milionário pai. Os diretores Ron
Clements e John Musker, também coautores do roteiro, criaram uma história com
duas boas tramas a serem desenvolvidas paralelamente, mas o excesso de
personagens é prejudicial. A tão comentada protagonista negra fica apagadinha
diante da animação de sua colega branca (sem trocadilhos com qualquer ideia
racista) e para variar o bruxo vodu honra a vaga de vilão e deve fazer parte da
lista de tipos mais marcantes dos desenhos Disney. Aliás, chama a atenção,
propositalmente ou não, o fato desta produção estar repleta de elementos que
nos remetem a outros clássicos do estúdio. O vilão lembra um pouco tanto
fisicamente quanto no caráter o Jafar de Aladdin, o grande inimigo do jovem
herói das arábias. Os animais que surgem quando os protagonistas estão no
pântano e o próprio lugar em si fazem alusão à Bernardo e Bianca. A minuciosa
reconstituição de época lembra a mesma feita para O Corcunda de Notre Dame. Por
fim, os traços angulados dos personagens nos lembram aos riscados de Hércules. E
claro que não se pode deixar de mencionar a parte musical do longa, outra
característica marcantes das obras Disney. Usando como inspiração principalmente
o jazz e o blues, a trilha é repleta de canções animadas e bem escritas, um
ponto a favor da animação que embora massacrada por muitos não é ruim, todavia
também não é totalmente perfeita.
O que mais impacta negativamente alguns é que em meio a tantas
animações computadorizadas hoje em dia este trabalho fica parecendo um estranho
no ninho mesmo carregando todas as características primordiais do gênero. O
público se acostumou com piadas sarcásticas e críticas mesmo em produções que
visam o público infantil e assim hoje em dia uma simpática e ingênua história
envolvendo uma princesa já não é o bastante para prender a atenção das massas,
até mesmo das crianças pequenas que estão cada vez mais influenciáveis e
infelizmente já optam por uma bela imagem em detrimento ao conteúdo na hora de
definir o que é bom ou ruim. Pode apostar que muitas críticas negativas a este
trabalho são provenientes de pessoas que nem chegaram a assisti-lo,
simplesmente tiraram conclusões precipitadas fazendo comparações com as
animações mais modernas, principalmente as produzidas pela própria Pixar. Por
outro lado, é bem interessante observar que apesar de ostentar o título do
conto clássico escrito pelos irmãos Grimm, algumas adaptações bem-vindas foram
feitas, a começar pela mudança do tradicional beijo dos protagonistas. A
sequência que geralmente fecha os contos de fadas aqui funciona como um gancho
para dar continuidade à narrativa. E será que alguém percebeu que a mocinha da
vez não é uma frágil e romântica donzela? Que o príncipe não é valente e também
nada romântico, apenas malandro e folgado? Que a amizade de Tiana e Charlotte
não tem sequer um resquício de rancor do racismo, sendo uma relação de igual
para igual? Realmente, A Princesa e o Sapo não merece o desprezo que sofreu e
ainda sofre. Há muitos pontos positivos a serem considerados, o colorido e os
traços são de encher os olhos e a trilha sonora é contagiante. Pode não ter um
enredo fantástico e nem contar com uma sequência impactante, mas traz em sua
essência um irresistível gostinho de nostalgia da infância. Só por isso já vale
uma conferida.
Animação - 97 min - 2009
Animação - 97 min - 2009
Um comentário:
Uma boa animação ao estilo convencional da Disney. Muito bonito e divertido.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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