quinta-feira, 6 de agosto de 2015

VOZES DO ALÉM

NOTA 2,0

Premissa interessante e
polêmica é desperdiçada
em suspense vagabundo,
exagerado e pouco crível
A comunicação com o mundo dos mortos é um tema intrigante e que costuma chamar a atenção de um grande público talvez pelo fato de que cada novo movimento que surja para tentar esclarecer teorias aumente ainda mais o mistério, afinal de contas o que acontece depois que morremos aparentemente será uma eterna indagação. O cinema usa muito essa temática, principalmente no gênero de suspense e terror, mas nestes casos a maioria das tentativas resulta em projetos péssimos ou no máximo medianos. São poucos os filmes que tratam com respeito e seriedade o tema, mas mesmo quem procura fazer um produto digno acaba se atrapalhando justamente pela falta de teorias conclusivas sobre o assunto. Esse tiro no escuro é justamente o problema de Vozes do Além, longa de estréia do cineasta inglês Geoffrey Sax e também o primeiro trabalho de cinema ficcional a tratar de um fenômeno que vem sendo cada vez mais pesquisado pela ciência: a comunicação dos mortos com os vivos através de aparelhos tecnológicos como rádios e televisões em frequências desocupadas. Claro que o tema já havia sido abordado em outras produções, mas esta seria a primeira vez que esse tipo de evento receberia uma abordagem séria pelo cinema americano. Seria, que fique bem claro. O Eletronic Voice Phenomena (EVP), ou no Brasil conhecido como Fenômeno da Voz Eletrônica (FVE), é o nome dados aos casos como o de um rádio mal sintonizado que pode captar vozes estranhas ou de uma TV que em algum canal sem emissora ocupante pode eventualmente apresentar rostos de pessoas já falecidas. Pode parecer ficção a la Hollywood, mas o fato é que existem milhares de registros no mundo todo de fenômenos do tipo com provas. Sax optou por iniciar seu filme deixando claro que tais eventos são reais e que até pensadores do passado já previam coisas do tipo contando com uma citação de Thomas Edison para sustentar a afirmação. Nos anos 50, o professor de psicologia Konstantin Raudive chegou a gravar milhares de vozes paranormais para realizar um estudo. Praticamente na mesma época, o cineasta sueco Frederich Jürguenson acidentalmente captou vozes estranhas enquanto registrava o canto de pássaros em um ambiente aberto. Eventos do tipo tornaram-se cada vez mais frequentes e no Brasil tornaram-se conhecidos no final dos anos 90 pela divulgação em programas de TV sensacionalistas. Segundo os especialistas, a intenção destas comunicações geralmente muito breves é para dizer adeus ou transmitir recados sobre situações de risco e ocorrem próximas a datas comemorativas importantes para o desencarnado ou para o vivo a quem o contato é destinado. 

O grande gancho deste filme seria causar medo no espectador explorando o desconhecido. Embora relatos sobre contatos com mortos através de utensílios eletrônicos, hoje inclusive através de linhas telefônicas, existam em número considerável, não é em qualquer esquina que encontramos alguém que viveu uma experiência do tipo. Muitas pessoas acreditam nesses fatos mesmo sem ter vivenciado, mas como reagiriam caso acontecesse com elas? Por essas e outras tantas dúvidas este filme deveria ter sido um grande sucesso, um marco do cinema, mas nem mesmo na época de seu lançamento houve algum tipo de comoção.  A resposta para tal desprezo é simples: uma boa premissa foi jogada fora em busca de dinheiro fácil que acabou não sendo arrecadado. Abordar de uma forma mais científica o fenômeno, mesmo em um trabalho ficcional, poderia espantar a audiência mais popular, mas esta mesma platéia rejeitou o pastiche que Sax realizou. O roteiro de Niall Johnson nos apresenta à Jonathan Rivers (Michael Keaton) que ficou viúvo recentemente. Sua esposa Anna (Chandra West) estava grávida e faleceu de forma misteriosa em um acidente de carro. Algum tempo depois ele é procurado por Raymond Price (Ian McNeice), um estudioso da paranormalidade que afirma ter feito contato com Anna através do FVE. Cético inicialmente, Rivers acaba ficando obcecado pela ideia de manter contato com a esposa quando conhece mais profundamente o método de comunicação com pessoas falecidas por meio de aparelhos eletrônicos. Assim o contato com Anna começa a ficar mais frequente e sempre ela pede para que o marido impeça que outras pessoas morram. Nessa empreitada, Rivers terá o auxílio de Sarah (Deborah Kara Unger), que também utiliza a técnica do FVE como uma espécie de terapia para superar a morte do noivo. A premissa é bastante interessante, mas infelizmente seu desenvolvimento deixa muito a desejar. O início é extremamente batido mostrando um dia feliz na vida da família Rivers, mas já sabemos que em poucas horas neste mesmo dia a harmonia será suplantada pela tristeza. Não demora muito e chegamos ao que interessa. O contato do protagonista com os tais contatos do além prende atenção, porém, não por muito tempo. 

Aparentemente o FVE deveria ser o centro das atenções da trama, mas acaba virando apenas uma desculpa para o filme existir sendo que o tema é tratado superficialmente. É certo que até hoje não existem teorias completamente conclusivas sobre tais fenômenos, mas explorar as que já eram disponíveis certamente tornaria este trabalho bem mais interessante. Para tanto seriam necessárias muitas pesquisas e um projeto bem mais elaborado, todavia, tal plano não condiz com o esquema normal do cinema comercial americano. A regra básica é tempo é dinheiro. Quanto mais rápido um filme chegar ao público melhor, ainda mais quando o tema principal por si só já serve como uma publicidade, porém, Vozes do Além acabou rotulado como uma grande propaganda enganosa. Da metade para o final Sax entrega-se aos clichês comuns dos suspenses de fantasma e tenta desesperadamente dar algum sentido ao enredo. Keaton, um promissor ator do passado que desde meados dos anos 90 só embarca em canoas furadas, acaba levando este trabalho nas costas mesmo oferecendo uma atuação fraca e por vezes não convincente principalmente quando seu personagem entra na paranóia de que tem o dom para falar com o além e foi escolhido como uma espécie de herói que precisa salvar pessoas em perigo. A péssima atuação não se restringe ao protagonista. Infelizmente todo o elenco está muito mal como se certo desconforto pairasse no ar nos bastidores do filme. Bem, dizem que mexer com coisas do outro mundo atraem energias negativas. Se isso é verdade, neste caso tais vibrações refletiram diretamente nas bilheterias e repercussões deste longa que poderia ir muito além do que foi entregue ao público, mas como na época os suspenses orientais estavam na moda muito provavelmente o diretor e o roteirista foram pressionados a abandonarem a pegada espírita da trama e apostarem suas fichas em sustos previsíveis e efeitos especiais esdrúxulos, culminando em uma conclusão decepcionante e que acaba por negar toda a premissa da obra. No final das contas, este trabalho não agrada nem quem curte suspense, nem aos adeptos de terror e muito menos aos curiosos pelo espiritismo que embora possam identificar certos pontos que condizem com suas crenças, certamente encontrarão muito mais furadas. Segundo alguns estudos, cuja certificação ainda deixa dúvidas, sons supostamente proveniente de almas desencarnadas não passam de palavras únicas ou desencontradas, dificilmente formando frases completas, e suas imagens em vídeo são estáticas, não há movimentação perceptível. Sentiu o drama? Seria portanto este suspense uma viagem total? Possivelmente, pelo menos da metade até subirem os créditos finais não há o que se discutir quanto a inventividade do roteiro. Quanto a primeira parte... Assista e tire suas próprias conclusões.

Suspense - 98 min - 2004 

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