NOTA 2,0 Premissa interessante e polêmica é desperdiçada em suspense vagabundo, exagerado e pouco crível |
O grande gancho deste filme
seria causar medo no espectador explorando o desconhecido. Embora relatos sobre
contatos com mortos através de utensílios eletrônicos, hoje inclusive através
de linhas telefônicas, existam em número considerável, não é em qualquer
esquina que encontramos alguém que viveu uma experiência do tipo. Muitas
pessoas acreditam nesses fatos mesmo sem ter vivenciado, mas como reagiriam
caso acontecesse com elas? Por essas e outras tantas dúvidas este filme deveria
ter sido um grande sucesso, um marco do cinema, mas nem mesmo na época de seu
lançamento houve algum tipo de comoção.
A resposta para tal desprezo é simples: uma boa premissa foi jogada fora
em busca de dinheiro fácil que acabou não sendo arrecadado. Abordar de uma
forma mais científica o fenômeno, mesmo em um trabalho ficcional, poderia
espantar a audiência mais popular, mas esta mesma platéia rejeitou o pastiche
que Sax realizou. O roteiro de Niall Johnson nos apresenta à Jonathan Rivers
(Michael Keaton) que ficou viúvo recentemente. Sua esposa Anna (Chandra West)
estava grávida e faleceu de forma misteriosa em um acidente de carro. Algum
tempo depois ele é procurado por Raymond Price (Ian McNeice), um estudioso da
paranormalidade que afirma ter feito contato com Anna através do FVE. Cético
inicialmente, Rivers acaba ficando obcecado pela ideia de manter contato com a
esposa quando conhece mais profundamente o método de comunicação com pessoas
falecidas por meio de aparelhos eletrônicos. Assim o contato com Anna começa a
ficar mais frequente e sempre ela pede para que o marido impeça que outras
pessoas morram. Nessa empreitada, Rivers terá o auxílio de Sarah (Deborah Kara
Unger), que também utiliza a técnica do FVE como uma espécie de terapia para
superar a morte do noivo. A premissa é bastante interessante, mas infelizmente
seu desenvolvimento deixa muito a desejar. O início é extremamente batido
mostrando um dia feliz na vida da família Rivers, mas já sabemos que em poucas
horas neste mesmo dia a harmonia será suplantada pela tristeza. Não demora
muito e chegamos ao que interessa. O contato do protagonista com os tais contatos
do além prende atenção, porém, não por muito tempo.
Aparentemente o FVE deveria
ser o centro das atenções da trama, mas acaba virando apenas uma desculpa para
o filme existir sendo que o tema é tratado superficialmente. É certo que até
hoje não existem teorias completamente conclusivas sobre tais fenômenos, mas
explorar as que já eram disponíveis certamente tornaria este trabalho bem mais
interessante. Para tanto seriam necessárias muitas pesquisas e um projeto bem
mais elaborado, todavia, tal plano não condiz com o esquema normal do cinema
comercial americano. A regra básica é tempo é dinheiro. Quanto mais rápido um
filme chegar ao público melhor, ainda mais quando o tema principal por si só já
serve como uma publicidade, porém, Vozes do Além acabou rotulado como
uma grande propaganda enganosa. Da metade para o final Sax entrega-se aos
clichês comuns dos suspenses de fantasma e tenta desesperadamente dar algum
sentido ao enredo. Keaton, um promissor ator do passado que desde meados dos
anos 90 só embarca em canoas furadas, acaba levando este trabalho nas costas
mesmo oferecendo uma atuação fraca e por vezes não convincente principalmente
quando seu personagem entra na paranóia de que tem o dom para falar com o além
e foi escolhido como uma espécie de herói que precisa salvar pessoas em perigo.
A péssima atuação não se restringe ao protagonista. Infelizmente todo o elenco
está muito mal como se certo desconforto pairasse no ar nos bastidores do
filme. Bem, dizem que mexer com coisas do outro mundo atraem energias
negativas. Se isso é verdade, neste caso tais vibrações refletiram diretamente
nas bilheterias e repercussões deste longa que poderia ir muito além do que foi
entregue ao público, mas como na época os suspenses orientais estavam na moda
muito provavelmente o diretor e o roteirista foram pressionados a abandonarem a
pegada espírita da trama e apostarem suas fichas em sustos previsíveis e
efeitos especiais esdrúxulos, culminando em uma conclusão decepcionante e que
acaba por negar toda a premissa da obra. No final das contas, este trabalho não
agrada nem quem curte suspense, nem aos adeptos de terror e muito menos aos
curiosos pelo espiritismo que embora possam identificar certos pontos que
condizem com suas crenças, certamente encontrarão muito mais furadas. Segundo
alguns estudos, cuja certificação ainda deixa dúvidas, sons supostamente
proveniente de almas desencarnadas não passam de palavras únicas ou
desencontradas, dificilmente formando frases completas, e suas imagens em vídeo
são estáticas, não há movimentação perceptível. Sentiu o drama? Seria portanto
este suspense uma viagem total? Possivelmente, pelo menos da metade até subirem
os créditos finais não há o que se discutir quanto a inventividade do roteiro.
Quanto a primeira parte... Assista e tire suas próprias conclusões.
Suspense - 98 min - 2004
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