segunda-feira, 3 de agosto de 2015

CASAMENTO EM DOSE DUPLA

NOTA 3,0

Diane Keaton mais uma vez recicla
o papel da mãe superprotetora e
neurótica em comédia de poucos risos
 e ansiedade para acabar logo
Meryl Streep, Glenn Close e Diane Keaton. As três atrizes são da mesma geração e se no início de suas carreiras não lhe faltavam bons convites de trabalho, hoje certamente disputam entre si os poucos e bons papeis disponíveis para mulheres mais maduras. Todas indicadas várias vezes ao Oscar e a outros tantos prêmios, a primeira é a recordista em indicações para o prêmio da Academia de Cinema e mantém  um ritmo regular e intenso de trabalho, sendo que suas atuações não passam despercebidas. Já a segunda teve na década de 1980 seu auge, com elogiados trabalhos consecutivos, mas depois passou a se dedicar muito mais a televisão e nas telonas virou uma figura bissexta que escolhe a dedo (e faz isso muito bem) as personagens que deseja interpretar. Por fim, com quatro indicações ao Oscar, curiosamente uma por década de 1978 até 2004, e integrante de uma das mais cultuadas franquias cinematográficas de todos os tempos, O Poderoso Chefão, Keaton não teve a mesma sorte de suas colegas. Embora com um extenso currículo, uma análise mais cautelosa revela que boa parte de seus trabalhos são descartáveis. Mais vale a qualidade que a quantidade, porém, a atriz prefere a segunda opção e acabou se acostumando a repetir o mesmo perfil, o da dona-de-casa verborrágica, intrometida e por vezes neurótica em produções sem ambições feitas praticamente para abastecer antigamente as videolocadoras e hoje preencher espaços na TV. Casamento em Dose Dupla é apenas mais um título a engrossar a lista de fracassos da veterana. Mais uma vez ela interpreta uma mulher exagerada e inconveniente, Marilyn, uma cinquentona que encasqueta que está sendo traída e tardiamente se separa do marido e por livre e espontânea vontade (e sem convite) decide ir morar com seu filho levando a tira-colo sua trupe de cãezinhos de estimação. O rapaz, Noah Cooper (Dax Shepard), é um dedicado fisioterapeuta, mas seu método de trabalho diferenciado acaba o fazendo perder o emprego. Este seria apenas o primeiro passo de sua vida rumo a um verdadeiro inferno.

Clare (Liv Tyler), sua esposa, deseja ter um filho desesperadamente, mas Cooper tem consciência que o momento não é propício e faz as maiores loucuras para evitar que ela engravide. Para completar o infortúnio, além de ter que aturar a mãe também como sua colega de trabalho em uma loja de tapetes, ele ainda terá que ter paciência para aguentar o folgado primo de sua esposa, Myron (Mike White), um aspirante a roteirista de cinema que se hospeda em sua casa até a data em que participaria de um importante evento. Um indivíduo cabisbaixo em meio a pressões de terceiros. Já dá para se ter uma ideia dos problemas que o camarada irá enfrentar, mas também já sabemos de antemão que tudo vai acabar bem aliado a mensagem altruísta de que amor, respeito e tolerância são valores que conquistamos aos poucos, compartilhando as pequenas coisas do dia-a-dia. Fracasso mundial, esta comédia já nasceu sem grandes expectativas, tanto que até nos EUA foi lançada diretamente em DVD sem direito a passagem pelos cinemas, assim como ocorreu no Brasil. Todavia, não é um lixo total, salvando-se uma coisinha aqui e outra ali. Com alguns diálogos divertidos e gags visuais interessantes, a produção é bem melhor que muita comédia boboca adolescente, mas ainda assim segue a risca um modelo pré-definido com piadas prontas e personagens estereotipados. Roteirizado pela mesma dupla de Licença Para Casar, Tim Rasmussen e Vince Di Meglio, este último também assinando a direção, o longa até tem um bom argumento, mas seu desenvolvimento parece um amontoado de desculpas para justificar em vão sua existência desnecessária. Na realidade, Marilyn passa poucos dias na casa do filho, mas a maneira como o enredo é desenvolvido propositalmente causa a sensação de que a hospedagem durou semanas, talvez meses. Neste meio tempo, ela apronta mil e umas para tirar filho, nora e quem mais estiver por perto do sério. Ao menos toda chateação causada pela mãe serve como desculpa para Cooper fugir de transar com a esposa e evitar a temida gravidez. Diga-se de passagem, Shepard e Tyler não funcionam juntos. Mantém um relacionamento frio em cena e ela, para piorar, parece atuar sob efeitos de psicotrópicos, dialoga quase sussurrando.

Enredos frouxos e mal produzidos costumam render dinheiro aos montes anualmente, isso desde que tenha um elenco de peso e afiado para chamar a atenção, o que não é o caso. A primeira vista, Keaton seria um problema e ao mesmo tempo a salvação da fita. Experiente, sem medo de se expor ao ridículo e com público cativo, acreditava-se que o perfil que criou para Marilyn seria de fácil identificação, mas apesar de desempenhar corretamente o papel da mãe superprotetora, que chega ao ponto de batalhar por um emprego na mesma empresa em que o filho trabalha só para poder estreitar a relação (me engana que eu gosto), no conjunto a veterana extrapola os limites da pentelhice. Ela tem se especializado neste tipo de papel e vem o repetindo com algumas sutis nuances, tanto positivas quanto negativas, como, por exemplo, em Simples Como Amar, onde viveu a despreparada mãe de uma adolescente autista, ou Minha Mãe Quer Que Eu Case, comédia açucarada na qual sua personagem tinha a cara-de-pau de ir pessoalmente a encontros amorosos para entrevistar os candidatos a possível noivo da filha. Esses são dois momentos distintos e que revelam o nível dos altos e baixos da carreira da atriz. Casamento em Dose Dupla ocupa lugar na lista de classificação do que há de pior em seu currículo. Todavia, a atriz ainda tem um nome respeitado entre o público feminino, principalmente acima dos 40 anos, tanto que os projetos em que se envolve não escondem que visam a audiência daquela mulher que entre uma tarefa e outra, seja em casa ou no trabalho, quer ter o direito de deitar no sofá para relaxar vendo um filme bobinho. Não há problema algum em atender esse nicho de público, o que não se deve é menosprezá-lo ofertando produções feitas a toque de caixa e com qualidade duvidosa, seja visual ou principalmente em relação aos cuidados com o roteiro. Embora passe o tempo de forma indolor, esta comédia é tão descartável quanto a latinha de refrigerante que você tomará enquanto a assiste.

Comédia - 92 min - 2007
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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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