NOTA 5,5 Plasticamente belo, longa é uma irregular mistura de gêneros que no final das contas não convence em nenhum |
Quem se sentir atraído pelo singelo título
certamente vai se decepcionar com esta produção assinada por Lasse Hallström,
diretor de Querido John e Sempre ao Seu Lado, recentes sucessos
entre o público feminino. Existe sim um gancho romântico em Amor
Impossível, mas ele demora a ser desenvolvido e não conquista
emocionalmente o espectador, assim muitas pessoas podem ficar com a sensação de
ter comprado gato por lebre. O título original, “Salmon Fishing in the Yemen”
(Pescando Salmão no Iêmen), já dá a dica de que o foco da produção é outro:
contar a história insólita de um milionário que desejou ter uma criação de
salmão em uma região desértica para praticar seu esporte favorito, a pesca.
Baseado no livro homônimo de Paul Torday, o pontapé inicial da história é dado
por Muhammed (Amr Waked), um xeique visionário que acredita que a pesca pode
transformar a vida de seu povo e para tanto não mede esforços, ou melhor,
dinheiro afinal ele está disposto a gastar o quanto for necessário, mas as
dificuldades quanto a implantação de seu sonho não são de sua alçada. A
consultora de investimentos Harriet Chetwode-Talbot (Emily Blunt) é então
chamada para levar a ideia até o Dr. Alfred Jones (Ewan McGregor), um
especialista britânico no assunto e o único capaz de fazer água surgir no
deserto literalmente e ainda dar cria de peixes. Na realidade, o cientista deve
oferecer o embasamento técnico, dizer o que precisaria ser feito para adequar o
clima árido ao sonho do contratante, mas a princípio o rapaz acha a história
absurda e faz pouco da oferta. Todavia, quando Patricia Maxwell (Kristin Scott
Thomas), a assessora de comunicação do Primeiro Ministro da Inglaterra, toma
conhecimento do projeto faz de tudo para que ele seja levado adiante por
motivos políticos. Os britânicos e os povos do Oriente Médio estão vivendo um
momento pouco amistoso por conta de uma ocupação no Afeganistão e uma notícia
como a da iniciativa do xeique poderia apaziguar os ânimos e desviar a atenção
daqueles que condenavam a participação dos ingleses no conflito. A assessora
pode ser vista como uma vilã, mas na realidade é apenas uma pessoa que sabe
tirar proveito das situações. Em uma ideia autêntica e inocente enxerga a
possibilidade de benefícios, talvez até financeiros, e por isso ela está ocupando
um cargo alto e de confiança. É esperta e perspicaz como só ela.
Alfred entra no projeto a contragosto já que corria
o risco de perder seu emprego caso negasse apoio, assim ele não faz questão
alguma de esconder sua insatisfação e é antipático com todos. É nesse ponto que
o tolo título nacional pode encontrar sua frágil justificativa. O comportamento
fechado do rapaz é um empecilho para se aproximar de Harriet. É pouco provável
que uma moça tão sensata se sentisse atraída por alguém que cria suas próprias
barreiras para evitar aproximações, e essa mesma sensação é transmitida com
perfeição ao público extrapolando até os limites do necessário. Um romance que
se preze precisa ter personagens que despertem a simpatia do espectador, o que
não é o caso. A adaptação do best-seller pelas mãos de Simon Beaufoy, vencedor
do Oscar de roteiro adaptado por Quem
Quer Ser um Milionário?, falha ao forçar um relacionamento entre
personagens desinteressantes, mesmo eles tendo seus dramas paralelos a serem
resolvidos enquanto tentam engatar um romance durante o período que estão
trabalhando juntos e diretamente na realização do sonho do xeique. Ela tem um
noivo, Robert (Tom Mison), que desapareceu em uma missão militar, e o cientista
está vivendo uma crise em seu casamento com Mary (Rachael Stirling), uma união
que já dura muitos anos. Os ganchos envolvendo os respectivos cônjuges são
lembrados vez ou outra, mas nem assim o foco é centrado na construção de algum
sentimento entre os protagonistas. Se existem alguns esforços eles são diluídos
em meio a uma trama cansativa e longa que dificilmente envolve em uma primeira
exibição, principalmente aqueles que são atraídos pelo título acreditando se
tratar de mais uma comédia romântica ou drama convencional. Uma segunda
apreciação pode torar a obra mais palatável, mas ainda assim dificilmente
satisfatória. O grande problema são os diversos diálogos abordando discussões
técnicas sobre como os peixes poderiam ser criados no Oriente Médio.
Felizmente, nada é justificado como truques de mágica, pelo contrário, tudo tem
suas explicações, como o fato de terem sido encontradas reservas aquíferas no
deserto e há dois anos Muhammed já ter patrocinado a construção de um
reservatório de água. Quem disse que dinheiro não faz milagres? Bem, Hallström
já conseguiu realizar trabalhos bem melhores com orçamentos modestos, como Regras da Vida e Chocolate, também baseados em livros e com vários personagens e
subtramas, a diferença é que anos atrás seus trabalhos eram apoiados pela
Miramax, produtora especializada em campanhas pesadas e talhar produtos para
concorrer a prêmios. Faltou alguém alheio às filmagens e com foco no mercado
para dar aquela ajeitada no filme apontando falhas, excessos ou necessidades.
McGregor faz de longe o personagem mais verossímil,
com direito a síndrome de Asperger que ajuda a compor o papel de homem
aparentemente insensível, o único que parece ver as dificuldades que envolvem a
operação, tanto que faz pedidos absurdos ao xeique com o objetivo dele desistir
do negócio. Contudo, sua racionalidade extrema vai baixando a guarda aos poucos
ao tomar contato com um universo e pessoas onde e para quem a fé, a
solidariedade e o positivismo são levados em máxima consideração. A mensagem
altruísta passada pelo personagem do egípcio Waked é muito comovente, embora
passe a imagem de ostentação ao não ver valores para atingir seu sonho, ainda
que seja pouco verossímil que alguém gastasse milhões (ou ao menos boa parte do
valor) de sua própria conta bancária para ajudar a população local. Blunt
também faz o que pode para dar credibilidade ao seu papel, a profissional
perfeita que acata ordens sem pestanejar e sempre tem uma boa resposta para
atacar elegantemente o negativismo de Alfred. Harriet só se torna “acessível”
nos momentos em que está preocupada com o namorado ou abrindo seu coração para
o cientista. Por fim, a sempre competente Scott Thomas leva a melhor honrando a
essência do livro inspirador que na realidade faz uma sátira à política, à
burocracia e até mesmo para os veículos de comunicação, algo que fica claro em
uma das primeiras cenas de Patricia na qual ela busca desesperadamente algum
assunto ligando britânicos e árabes positivamente para abafar o da guerra. O
problema é que essas críticas também acabam diluídas no enredo assim como o
romance ou ao menos é essa a impressão que temos ao final. Foram quase duas horas de uma palestra
disfarçada sobre como criar salmões em condições adequadas. Fora os problemas
climáticos e geográficos, ainda há o empecilho de que o fornecimento dos peixes
vira uma novela e terroristas não parecem favoráveis ao progresso sonhado por
Muhammed. Romance, comédia romântica ou drama? Amor Impossível é tudo
isso e ao mesmo tempo nada disso. Chamar de projeto único seria elevar muito a
bola a um filme irregular e que parece não saber qual seu objetivo concreto.
Produção experimental seria a melhor definição, uma forma diferenciada de
contar uma história de amor e com algum conteúdo relevante, mas que acabou se
perdendo pelo caminho resumindo-se a um drama pouco convencional. Com montagem
que imprime certa agilidade, o longa certamente passaria despercebido, mas
acabou tendo certa projeção devido as indicações ao Globo de Ouro 2013 no qual
foi enquadrado como comédia ou musical. Não é uma obra de todo ruim, tem
algumas qualidades pontuais principalmente em questões técnicas que costumam
marcar as obras de Hallström, mas a lembrança em tal premiação mostra que
talvez vagas estivessem sobrando nas categorias de melhor filme, ator e atriz.
Romance - 107 min - 2011
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