quarta-feira, 8 de junho de 2016

PEQUENOS MILAGRES (2010)

Nota 5,0 Apesar da boa premissa, drama é enfadonho e pontuado por problemas narrativos

A fórmula dos filmes que acompanham histórias paralelas que podem ou não se fundir na conclusão definitivamente se popularizaram. Antes relegada aos produtos mais cults, os conhecidos filmes-cabeça, hoje esse tipo de narrativa já é assimilada com mais facilidade por variados tipos de público. De forma não muito radical, o cineasta português Fernando Fragata adotou uma estrutura similar para o drama Pequenos Milagres. O cinema feito em Portugal é pouco divulgado, não tem tradição e talvez por isso o diretor ainda assumiu as rédeas das equipes de edição, fotografia e iluminação, além de roteirizar a história e ser o criador do argumento, tudo para conseguir finalizar seu trabalho. A razoável projeção que o longa tem entre alguns grupos específicos se deve ao título fácil e que automaticamente já remete o espectador a uma temática religiosa, que também pode ser encarada por alguns como de auto-ajuda ou no mínimo uma obra com mensagem bonita e reflexiva. Co-produzido entre Portugal e os EUA, o longa narra algumas histórias de pessoas que não se conheciam até certo dia em que seus destinos se cruzaram em uma região desértica. O problema é que no conjunto o longa parece um tanto irregular, tornado-se cansativo da metade para o final. Um pequeno penhasco que daria direto no mar é o ponto de encontro dos personagens ao sabor do destino. Na primeira parte ficamos conhecendo Jay (Joaquim de Almeida), um sujeito que perdeu a mulher há cerca de um ano e não conseguiu se recuperar do baque. Ele simplesmente parou no tempo, mas no dia de seu aniversário as coisas podem mudar. Um amigo deixou um recado em sua secretária eletrônica dizendo que comprou algumas coisas para ele e deixou na porta de sua casa. Entre elas havia uma tesoura, justamente um incentivo para ele abrir o presente que sua esposa lhe deu no seu último aniversário e que ele não teve tempo de desembrulhar antes dela partir. O pacote tinha um GPS (para quem não sabe, um guia eletrônico para auxiliar motoristas) que aparentemente não funcionava mais, porém, em um momento muito oportuno o aparelhou passou a repetir várias vezes uma mesma frase genérica, mas que para a ocasião caiu como uma luva para Jay evitar de fazer uma besteira. Curiosamente, tal cena acontece em um cenário desértico, sem referências e cuja probabilidade de alguém passar seria mínima, mas milagres existem e é isso que Fragata quis provar com este trabalho.

A segunda trama é protagonizada pela adolescente Lucy (Skyler Day) cuja mãe (Michelle Mania, personagem sem nome) foi chamada na sua escola para uma reunião com o diretor para falar a respeito da desobediência da garota quanto ao uso de celulares em sala de aula. Surpresa com a notícia, já que nem sabia que a filha tinha um aparelho desses, ela resolve tirar satisfações com a jovem, mas como de costume a conversa entre gerações diferentes não é fácil ainda mais porque Lucy diz que achou o telefone na rua, mas ele estava quebrado. No entanto, quando a garota segura o celular ela consegue ouvir uma voz misteriosa que constantemente lhe dita uma palavra, uma espécie de chave do mistério que mais a frente a ajudará de escapar de uma situação muito perigosa. Depois ficamos conhecendo Matt (Scott Bailey), um rapaz que é incumbido pela irmã psiquiatra a reencontrar Daniel (Joey Hagler), um jovem suicida que estava em tratamento em uma clínica, mas acabou fugindo. O interno fujão conhece um velho fazendeiro (Donovan Scott, outro personagem não identificado) pelas estradas poeirentas que lhe oferece carona até certo ponto, sendo que depois ele segue viagem com Helena (Evelina Pereira) que trabalha rebocando carros por aqueles lados. Em seu quarto longa-metragem, o único de sua carreira até então e também primeiro trabalho de um português a ser realizado em solo americano, Fragata buscou realizar uma obra com um quê de sobrenatural e propor ao espectador uma reflexão sobre como pequenas coisas do dia-a-dia, sejam pessoas, situações ou até mesmo objetos, podem transformar vidas, além de colocar em discussão os rumos que cada um pode tomar para suas trajetórias, escolhas individuais até certo ponto, pois as ações isoladas podem interferir no destino de outros. Apesar dos ganchos dramáticos, Pequenos Milagres é um filme solar, gíria comumente usada para denominar filmes com mensagens positivas ou tramas leves, mas peca por se estender além do possível. O início com o personagem Jay é bastante envolvente, a trama seguinte de Lucy ainda prende a atenção, apesar de diálogos sofríveis, mas a partir da terceira trama o longa perde em qualidade narrativa por deixar de lado as tramas apresentadas quase que em forma de capítulos delineando bem os limites de cada uma. Apesar de já ser uma preparação para a conclusão reconfortante, a mudança de ritmo e de estilo é perceptível. De qualquer forma, liderou as bilheterias em sua terrinha e ganhou fãs espalhados pelo mundo afinal quem não precisa de uma dose extra de esperança?

Drama - 90 min - 2010

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