terça-feira, 7 de junho de 2016

SEU AMOR, MEU DESTINO

NOTA 3,0

Romance feito para adolescentes
é repleto de clichês, mas o que
incomoda é a apatia dos atores e
as relações pouco críveis
Quem disse que falar de amor para adolescentes só funciona atrelado ao gênero da comédia? Bem, se levarmos em consideração o exemplo de Seu Amor, Meu Destino realmente é melhor acreditarmos que a paixão só nasce mesmo após alguns micos ou umas intrigas, quando finalmente caem as fichas dos interessados que eles foram feitos um para o outro. Com uma passagem relâmpago pelos cinemas, o trabalho do diretor estreante Mark Piznarski realmente é esquecível porque no fundo parece uma colcha de retalhos mal feita. Excluindo cenas escatológicas, de humor pastelão e de apelo sexual tão comuns em produções destinadas aos jovens (ainda bem), o cineasta teve a boa vontade de fazer algo diferente para este público, mas infelizmente se perdeu pelo caminho deixando o amor em segundo plano e exaltando a redenção adicionando exemplos edificantes ao enredo. O roteiro de Michael Seitzman conta a história de três jovens que tiveram suas vidas mudadas por completo quando seus caminhos se cruzaram. Prestes a se formar no colégio, o arrogante Kelley Morse (Chris Klein) ganhou um carro caríssimo do pai e certa noite resolve sair às escondidas com os amigos para comemorar e, obviamente, se exibir passeando por uma cidade vizinha a sua escola. Ele acaba arranjando confusão com alguns moradores em uma lanchonete de beira de estrada e provoca a ira do humilde Jasper (Josh Hartnett) quando começa a paquerar sua namorada, a recatada Samantha (Leelee Sobieski). Os rapazes então começam a disputar uma corrida de carros em alta velocidade que termina com a explosão de uma bomba de gasolina e a destruição da tal lanchonete que pertence a família da moça que sem querer motivou tudo isso. A velha regrinha do quebrou pagou é então aplicada. Como castigo, os dois marrentos precisarão reconstruir o estabelecimento, o que significa que por um bom tempo eles terão que conviver juntos e deixar o orgulho de lado, mesmo se odiando e pertencentes a mundos completamente diferentes. Contudo, a convivência com os mais simples, principalmente com Samantha, faz com que Kelley aprenda que dinheiro não é tudo na vida e passe a ver as coisas com um olhar mais otimista, inclusive deixando aflorar seus sentimentos pela moça. Já para Jasper a situação só deve ter lhe trazido dores no corpo, pois seu relacionamento com a adolescente é um tanto frio.

Bem, não é preciso dizer que o amor entre a mocinha pobre e o rapaz rico prevalecerá no final, mesmo que a felicidade encontre alguns contratempos, mas nesse caso o mínimo que se espera é que o caminho para a conclusão previsível faça o longa valer a pena, mas infelizmente não é o que acontece nesse caso. Desde o início da trama desconfiamos que Samantha tem um problema de saúde, talvez tenha se acidentado visto que várias vezes comenta-se que ela precisa ir ao médico para continuar o tratamento no joelho, mas mais a frente descobriremos que seu quadro é mais grave, uma tentativa forçada de puxar a torcida do público para personagem. Leelee, no entanto, não consegue interpretar uma mocinha convincente, tampouco provoca a antipatia do espectador, simplesmente está apática, por vezes parecendo desconfortável no papel que realmente não oferece muito para a atriz criar em cima, embora tenha sido descartado um aprofundamento do gancho dramático por conta de sua doença justamente por ser uma obra voltada ao público adolescente, principalmente garotas que devem identificar facilmente triângulos amorosos semelhantes em seu cotidiano e círculo de amizades. O namorado Jasper, por sua vez, também não convence muito. Ele deveria injetar emoção nesta história tentando evitar que a jovem caísse nos braços de outro, mas a entrega de bandeja praticamente ao rival. Mesmo que recorresse a velhos truques de vingança de orgulho ferido estaria valendo, porém, Hartnett acabou construindo um personagem vazio cuja valentia inicial some por completo em questão de minutos deixando latente que não passa de um jovem caipira conformado que não tem como brigar contra quem tem poder, no caso, dinheiro. Todavia, não são bens materiais que fazem nascer a paixão entre Samantha e Kelley, mas a redenção do rapaz é quem a seduz. Em uma justificativa super clichê, mas realista e convincente, o perfil do playboy é definido como o resultado de uma criação sem atenção. Órfão de mãe há anos e com um pai mais preocupado em ganhar dinheiro, o rapaz cresceu em um colégio interno afastado e os presentes caríssimos que recebia o ajudaram a ostentar uma riqueza que no fundo só o prejudicou não percebendo que as pessoas se aproximavam dele era por conta de seu padrão de vida. Samantha foi a primeira a enxergá-lo como um ser humano comum e assim ele passou a conhecer as reais coisas boas da vida que podem estar em situações tolas do dia-a-dia como passar uma tarde conversando em um parque sem ver as horas passarem.

Piznarski realizou um trabalho com um quê de onírico podemos dizer assim. Embora a trama seja contemporânea (lembrando que o longa é de 2000), sua estética lembra a clássicos românticos de antigamente, bem ao estilo “Sessão da Tarde”. Esqueça a paisagem cinzenta e movimentada de agitadas metrópoles, como Los Angeles e Nova York, cenários-fetiches dos romances juvenis, as musiquinhas pop que grudam no ouvido como trilha sonora (com exceção da canção que marca a introdução) e os encontros e desencontros em shoppings ou academias. O diretor optou por elementos mais tradicionais e bucólicos para dar uma nova roupagem a receita conhecida de trás para frente por seu público-alvo. A cidade interiorana da trama parece que parou no tempo, apesar de alguns elementos vez ou outra surgirem para nos resgatar para a realidade, como o carrão do protagonista. No conjunto, Seu Amor, Meu Destino parece uma atualização daquela velha história da jovem de boa família criada para se casar com seu amigo de infância e de confiança de seus pais, mas que acaba seduzida pelo forasteiro que inicialmente surge como uma ameaça, mas aos poucos abre seu coração para o amor e a redenção. O problema é que Piznarski e Seitzman se esqueceram de alguns elementos básicos de contos românticos. Todo bom partido rejeitado que se preze luta pelo amor da amada, mesmo que ganhe a fama de vilão, enquanto qualquer mocinha para ser interessante deve ter aquele desejo de mandar as favas qualquer tipo de convenção para tentar ser feliz. E o intruso da relação, por sua vez, é um homem ousado que pode ser galanteador, irônico, enfim usar de diversas armas para conquistar a mulher que deseja. Neste caso, infelizmente, nenhum desses estereótipos é usado, tampouco recriados para algo melhor. Pelo menos a dupla se lembrou que a males que vem para o bem e da tragédia é que nasce o amor entre os protagonistas. No geral, acompanhamos este trabalho muito mais envolvidos pela paisagem interiorana e ensolarada belamente captada pela equipe de fotografia do que propriamente com a história que pode dar a sensação a muitos de terem comprado gato por lebre, mas com boa vontade e espírito crítico deixado de lado até que essa opção mais aguada que açucarada pode entreter ligeiramente.

Romance - 96 min - 2000 

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