sábado, 25 de junho de 2016

MISTÉRIO EM RIVER KING

Nota 7,0 Morte de um jovem levanta discussões sobre bullying, rejeição e relações de poder

As sinopses publicadas nos encartes dos DVDs deveriam vender corretamente as histórias dos filmes, mas muitas delas só se limitam a elogiar atores e realizadores ou sintetizar em pouquíssimas palavras o enredo. O pior é quando vendem a trama de forma errada como é o caso de Mistério em River King, cuja distribuidora vende como um suspense policial acerca do assassinato de um adolescente e seu próprio espírito ajudaria nas investigações. Bem, até existe um ensaio para seguir tal caminho, mas parece que quem redigiu o texto publicitário não assistiu o filme todo. A trama começa mostrando o detetive Abel Grey (Edward Burns) e seu companheiro de polícia Joey (John Kapelos) encontrando um jovem morto congelado dentro de um lago e com estranhas marcas vermelhas no corpo. Ele é Gus Pearce (Thomas Gibson), estudante de um tradicional colégio de uma região fria e afastada dos EUA que segundo seus colegas de turma não se sentia a vontade na instituição e andava tendo atitudes estranhas ultimamente. Uma das professoras do garoto, Betsy Chase (Jennifer Ehle), afirma que na noite anterior a descoberta do corpo viu Gus discutindo no bosque com a jovem Carlin Leander (Rachelle LeFevre), que apesar da aparente proximidade do falecido estava namorando Harry (Jamie King), um valentão da escola. Os policiais afirmam que o caso foi um suicídio, mas Abel desconfia de que existe algum mistério por trás de tudo, principalmente ao descobrir que Gus estava tentando fazer parte de um grupo, uma espécie de seita da qual só podiam fazer parte os membros que passassem por um trote impossível de se cumprir, ou melhor, quase. O detetive desconfia que Harry e Carlin são as chaves para desvendar o caso, mas parece que todos a sua volta estão preferindo abafar o episódio, inclusive seu o próprio Joey que deveria estar em busca da verdade. O diretor Nick Willing consegue construir uma interessante narrativa que cativa o espectador e o convida a fazer parte das investigações colecionando pistas, porém, peca ao criar certos ganchos que não levam a lugar algum como um suposto trauma do passado envolvendo a morte do irmão que alimentaria o desejo de Abel por justiça a qualquer custo no presente.

Baseado no romance "The River King", de Alice Hoffman, o roteiro de David Kane consegue fisgar a atenção do espectador desde os primeiros minutos, até porque a paisagem escolhida para desenvolver a trama é um convite a parte para o suspense. Terrenos cobertos pela neve e um clima melancólico que chegam a passar a nítida sensação de frio ao espectador seriam um excelente palco para uma trama envolvendo assombrações, talvez por isso exista uma alusão ao assunto pelo fato de uma imagem misteriosa surgir em uma foto que Betsy tira do quarto do falecido, mas tal temática não chega a ser explorada. A trama segue um rumo policial tradicional colhendo pistas que levam a crer que as raízes deste caso se encontram em um problema envolvendo bullying e um amor não correspondido, temas corriqueiros em produções envolvendo adolescentes. Contudo, as coisas não se resolvem tão facilmente. Existem pequenos detalhes que explicam a trajetória de Gus até sua morte, o que garante uma dose extra de adrenalina ao filme e uma reflexão sobre como brincadeiras aparentemente inofensivas podem levar a consequências trágicas e a posição que as pessoas assumem inevitavelmente dentro de grupos sociais. Tal qual no mundo dos adultos, os jovens também naturalmente se dividem entre dominadores e subordinados, pólos opostos neste caso não impostos por posições sociais ou hierárquicas, por exemplo, mas rótulos que involuntariamente as pessoas aceitam por se sentirem em vantagem ou em desvantagem em relação ao grupo do qual desejam ser aceitos. Velhos problemas, mas que ainda provocam dores de cabeça. Por estas razões Mistério em River King é um bom suspense que não é artificial como pode erroneamente parecer. Tem conteúdo, trama intricada e bem amarrada, uma atmosfera envolvente, porém, só não é perfeito por causa dos já citados ganchos narrativos mal inseridos ou desnecessários. Vale uma conferida para lembrar que um bom suspense não precisa ser indecifrável e tampouco que para atender ao público em massa lançar mão de clichês e sangue e violência gratuitos seja inevitável.

Suspense - 99 min - 2005

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