Nota 5,0 Apesar da boa premissa, drama é enfadonho e pontuado por problemas narrativos
A
fórmula dos filmes que acompanham histórias paralelas que podem ou não se
fundir na conclusão definitivamente se popularizaram. Antes relegada aos
produtos mais cults, os conhecidos filmes-cabeça, hoje esse tipo de narrativa
já é assimilada com mais facilidade por variados tipos de público. De forma não
muito radical, o cineasta português Fernando Fragata adotou uma estrutura
similar para o drama
Pequenos Milagres. O cinema feito em
Portugal é pouco divulgado, não tem tradição e talvez por isso o diretor ainda
assumiu as rédeas das equipes de edição, fotografia e iluminação, além de
roteirizar a história e ser o criador do argumento, tudo para conseguir
finalizar seu trabalho. A razoável projeção que o longa tem entre alguns grupos
específicos se deve ao título fácil e que automaticamente já remete o
espectador a uma temática religiosa, que também pode ser encarada por alguns
como de auto-ajuda ou no mínimo uma obra com mensagem bonita e reflexiva.
Co-produzido entre Portugal e os EUA, o longa narra algumas histórias de
pessoas que não se conheciam até certo dia em que seus destinos se cruzaram em
uma região desértica. O problema é que no conjunto o longa parece um tanto
irregular, tornado-se cansativo da metade para o final. Um pequeno penhasco que
daria direto no mar é o ponto de encontro dos personagens ao sabor do destino. Na
primeira parte ficamos conhecendo Jay (Joaquim de Almeida), um sujeito que
perdeu a mulher há cerca de um ano e não conseguiu se recuperar do baque. Ele
simplesmente parou no tempo, mas no dia de seu aniversário as coisas podem
mudar. Um amigo deixou um recado em sua secretária eletrônica dizendo que
comprou algumas coisas para ele e deixou na porta de sua casa. Entre elas havia
uma tesoura, justamente um incentivo para ele abrir o presente que sua esposa
lhe deu no seu último aniversário e que ele não teve tempo de desembrulhar
antes dela partir. O pacote tinha um GPS (para quem não sabe, um guia
eletrônico para auxiliar motoristas) que aparentemente não funcionava mais,
porém, em um momento muito oportuno o aparelhou passou a repetir várias vezes
uma mesma frase genérica, mas que para a ocasião caiu como uma luva para Jay
evitar de fazer uma besteira. Curiosamente, tal cena acontece em um cenário
desértico, sem referências e cuja probabilidade de alguém passar seria mínima,
mas milagres existem e é isso que Fragata quis provar com este trabalho.
A
segunda trama é protagonizada pela adolescente Lucy (Skyler Day) cuja mãe (Michelle
Mania, personagem sem nome) foi chamada na sua escola para uma reunião com o
diretor para falar a respeito da desobediência da garota quanto ao uso de
celulares em sala de aula. Surpresa com a notícia, já que nem sabia que a filha
tinha um aparelho desses, ela resolve tirar satisfações com a jovem, mas como
de costume a conversa entre gerações diferentes não é fácil ainda mais porque
Lucy diz que achou o telefone na rua, mas ele estava quebrado. No entanto,
quando a garota segura o celular ela consegue ouvir uma voz misteriosa que
constantemente lhe dita uma palavra, uma espécie de chave do mistério que mais
a frente a ajudará de escapar de uma situação muito perigosa. Depois ficamos
conhecendo Matt (Scott Bailey), um rapaz que é incumbido pela irmã psiquiatra a
reencontrar Daniel (Joey Hagler), um jovem suicida que estava em tratamento em
uma clínica, mas acabou fugindo. O interno fujão conhece um velho fazendeiro (Donovan Scott, outro personagem não identificado) pelas
estradas poeirentas que lhe oferece carona até certo ponto, sendo que depois
ele segue viagem com Helena (Evelina Pereira) que trabalha rebocando carros por
aqueles lados. Em seu quarto longa-metragem, o único de sua carreira até então
e também primeiro trabalho de um português a ser realizado em solo americano,
Fragata buscou realizar uma obra com um quê de sobrenatural e propor ao
espectador uma reflexão sobre como pequenas coisas do dia-a-dia, sejam pessoas,
situações ou até mesmo objetos, podem transformar vidas, além de colocar em
discussão os rumos que cada um pode tomar para suas trajetórias, escolhas
individuais até certo ponto, pois as ações isoladas podem interferir no destino
de outros. Apesar dos ganchos dramáticos,
Pequenos Milagres é um filme solar,
gíria comumente usada para denominar filmes com mensagens positivas ou tramas
leves, mas peca por se estender além do possível. O início com o personagem Jay
é bastante envolvente, a trama seguinte de Lucy ainda prende a atenção, apesar
de diálogos sofríveis, mas a partir da terceira trama o longa perde em
qualidade narrativa por deixar de lado as tramas apresentadas quase que em
forma de capítulos delineando bem os limites de cada uma. Apesar de já ser uma
preparação para a conclusão reconfortante, a mudança de ritmo e de estilo é
perceptível. De qualquer forma, liderou as bilheterias em sua terrinha e ganhou
fãs espalhados pelo mundo afinal quem não precisa de uma dose extra de
esperança?
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