NOTA 9,0 Drama finlandês faz alusão a um drama que milhares de crianças vivenciaram, uma visão diferente da Segunda Guerra |
A história, baseada num romance de Heikki Hietamies, se
passa em 1943, quando a guerrilha entre países se acirrava cada vez mais. O
pequeno Eero (Topi Majaniemi) vivia muito feliz ao lado dos pais na Finlândia
até que seu pai Lauri (Kari-Pekka Toivonen) foi convocado para a guerra. Ele
prometeu que voltaria logo e que tudo ficaria bem, mas o destino não quis assim.
O pai de Eero morre no front e sua mãe, Kirsti (Marjaana Maijala), toma a
difícil decisão de mandar seu único filho para a Suécia, território considerado
na época neutro em relação à guerra, onde ele poderia ficar em segurança com
uma das famílias do local que se ofereceram para prestar ajuda acolhendo as
crianças que corriam risco em países vizinhos. O garotinho finlandês com apenas
nove anos de idade vai então morar com os Jönssons, um clã tradicional que vive
em um ambiente bucólico. Muito bem recebido pelo senhor Hjalmar (Michael
Nygvist), o mesmo não ocorreu por parte de sua esposa, Signe (Maria Lundgvist),
que o recebeu em sua casa, mas não em seu coração. Sem falar a mesma língua e
possuir os mesmos hábitos, Eeros se sente desconfortável vivendo com essa
família e a falta de atenção e carinho de Signe só acentua essa situação.
Ela esperava uma menina que a ajudasse nos serviços de casa e não gostou
nada de abrigar um garoto. Sua mãe adotiva também passa a esconder as cartas da
mãe biológica e lhe entrega apenas aquelas que considerava conveniente após ela
própria ler e avaliar. Assim, com a escassez de notícias da mãe verdadeira e
com a hostilidade da adotiva, ele se sente sem o carinho de suas duas mães, mas
as circunstâncias tratam de aproximar Signe de Eero e ele descobre as razões
desta mulher o ter desprezado inicialmente. Contudo, ninguém sabia até quando a
guerra se estenderia e o menino passou a viver com dúvidas conflitantes. Quando
a situação se normalizasse ele voltaria a ver Kirsti? E como ficaria sua
relação com os Jönssons? A infância de Eero é relatada por intermédio de cenas
em flashback quando o próprio, já um sexagenário, é vivido pelo ator Esko
Salminem e está indo ao funeral de Signe relembrando como foi dura a sua vida
dividindo suas atenções entre duas mães, seja quando se sentia rejeitado por
ambas ou depois que se tornou alvo da disputa de suas atenções. É interessante
que o presente de Eero é mostrado em preto e branco enquanto seu passado é
exibido em imagens coloridas, ou melhor, em tons pastéis cativantes que
retratam com fidelidade o clima bucólico do interior sueco.
Com trama desenvolvida por Jimmy Karlsson e Kirsi Vikman,
baseado no roteiro de Veikko Aaltonens, este drama não nasceu de um fato real
específico, mas deve ser interpretado como uma alusão, um retrato de uma
situação delicada que provavelmente se repetiu em diversos lugares e milhares
de vezes. Na época muitas pessoas procuraram refúgios em países considerados
seguros, inclusive no Brasil, e boa parte delas jamais voltou aos seus locais
de origem preferindo se estabelecer nas terras que as acolheram. No caso da
Finlândia, aliada da Alemanha e em luta contra a antiga União Soviética,
milhares de crianças foram enviadas para a Suécia (estima-se que cerca de 70
mil) sem os pais e foram adotadas temporariamente por famílias voluntárias,
pois havia o medo de represálias aos finlandeses. Provavelmente, muitos desses
adotados sofreram para se adaptar as novas condições de vida e também pela
falta de notícias de seus parentes, assim vivendo sem saber ao menos se um dia
voltariam a encontrá-los. Exibido em 2005 com sucesso na Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo, inclusive escolhendo como Melhor Atriz Maria Lundgvist,
e conquistando mais de dez prêmios em festivais mundo a fora, Minha Vida Sem
Minhas Mães é um belíssimo filme que merecia ter tido maior visibilidade, sendo
que seu lançamento foi diretamente em DVD e sem pompas. É uma pena que hoje ele
seja uma raridade e só as boas locadoras ou colecionadores possuem uma cópia
legítima. Se encontrar alguma delas, não pense duas vezes. Assista e se
emocione com mais uma bela história que expõe outro lado das consequências do
triste período da Segunda Guerra Mundial. Porém, mais que fazer um retrato de
como a Suécia vivenciou tal época, o longa traz uma mensagem universal e
atemporal: a importância dos laços familiares, principalmente a ligação entre
mãe e filho. E se uma imagem vale mais que mil palavras, o mesmo se pode dizer
dos sentimentos. Com diálogos econômicos, Häro entrega uma obra cuja essência
está em pequenos detalhes, como o simples olhar entristecido de uma criança que
por si só deixa claro toda a emoção de uma cena.
Drama - 111 min - 2005
Drama - 111 min - 2005
Nenhum comentário:
Postar um comentário