Nota 2,5 A ideia de ver um suspense italiano pode empolgar, mas a decepção não tarda
Fugir da mesmice dos suspenses sobre
assassinos seriais, clichês made in Hollywood perpetuados a exaustão, é um dos
desafios que o próprio cinema norte-americano está tentando vencer a anos.
Correndo por fora, outros países têm tentado dar um novo fôlego a esse
combalido subgênero do terror, mas dificilmente conseguem fazer sucesso até
mesmo em suas terras de origem, o que explica a raridade de encontrarmos
produtos do tipo aqui no Brasil e quando lançados chegam ao mercado
praticamente em silêncio como se as próprias distribuidoras estivessem sendo
obrigadas a oferecer certos títulos, mas no fundo implorando para que eles não
fizessem o mínimo de sucesso. Muitas produções europeias parecem tolas ou
chatas, mas o número de acertos quando decidimos experimentar novos ares
cinematográficos é bem maior do que o de erros. A curiosidade nos casos de
obras de horror e suspense estrangeiros pode ser ligeiramente maior devido ao
ineditismo que cerca tais produções, mas é uma pena que as expectativas
positivas que podemos depositar em Olhos Mortais morram
rapidamente. De origem italiana e rodado em apenas 18 dias de trabalho, este
thriller vencedor e indicado a alguns prêmios em pequenos festivais de horror e
fantasia narra a história de Amaldi (Luigi Lo Cascio), um detetive que tem
relativo sucesso na sua carreira policial, mas sua felicidade não é completa por
ainda sofrer com as lembranças de seu passado que envolvem misteriosas imagens
de sua mãe, obviamente situações traumáticas que interferem no seu presente. Em
certo momento ele é chamado para investigar uma série de misteriosos
assassinatos cometidos por um psicopata que mutila suas vítimas e de cada uma
arranca determinada parte, substituindo a que levou pelo pedaço correspondente
de uma boneca de madeira. Paralelamente a este caso, ele também está ajudando
Guiditta (Lucia Jimenez), uma jovem estudante, a se livrar de um maníaco sexual
que a persegue. Estariam os dois casos intimamente ligados? E qual a ligação
destes chocantes crimes com o passado do detetive?
É curioso encontrar na internet alguns
comentários elogiosos, ainda que pouquíssimos, para este trabalho do diretor
Eros Pugliesi que também escreveu o roteiro em pareceria com Franco Ferrini e
Gabriella Blasi baseando-se no livro “L’Impligtore” (O Taxidermista), de Luca
Di Fulvio. Não é um filme pavoroso, mas passa raspando por essa avaliação. É preciso
ter paciência para acompanhar uma narrativa tão sonolenta e com estética
envelhecida ao extremo. Embora a produção seja datada de 2002, o longa só foi
lançado diretamente em DVD no Brasil quase três anos depois, o que justifica
seu título adaptado para pegar carona no sucesso de Jogos
Mortais. No original o nome do longa é “Olhos de Cristal”, que tem
tudo a ver com uma das manias do assassino, mas para os brasileiros tal
denominação poderia vender a ideia de um romance ou drama. O vilão da história
tem uma coleção de animais empalhados com os tais olhos de vidros, mas seu
objetivo atual é montar uma boneca quase humana e para tanto mutila corpos em
busca das partes que deseja. Paralelamente à trama do psicopata, o detetive
começa a relembrar momentos de sua infância envolvendo uma boneca e os
constantes surtos de loucura que sua mãe tinha quando o via perto do brinquedo.
O roteiro tenta criar elos entre estas duas histórias, mas dificilmente
empolga, muito porque sua parte visual trabalha contra abusando de tons escuros
e cenários com elementos muito envelhecidos o que deixa a produção com uma
estética depressiva além do necessário. Muitos elogiam a opção por mostrar os
assassinatos de forma velada, o que é muito interessante, mas se a narrativa
quase totalmente é fundamentada pelo estilo europeu de contar histórias, mais
pausado, a conclusão foi embebida pelo veneno do cinema americano. Tudo é
resolvido rapidamente e nessas alturas o espectador já está saturado.
Curiosamente comparado a Seven – Os Sete Crimes Capitais, Olhos
Mortais só guarda em sua premissa semelhanças, pois seu desenvolvimento
e partes técnicas e artísticas estão muito aquém. No conjunto, serve apenas
para aficionados pela temática ou para passar um tempo de bobeira e ser
esquecido pouco tempo depois.
Suspense - 107 min - 2002
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