Embora tenha aumentado a
oferta, ainda são poucas as animações fora do eixo hollywoodiano que conseguem
espaço em outros países, salvo em festivais e mostras de cinema. Quando algumas
conseguem desbravar fronteiras é motivo para se comemorar e prestigiar, mesmo
que apenas por curiosidade. Resultado da parceria entre a Dinamarca e a
Alemanha, Barry
e a Banda das Minhocas está
longe de ser um primor em termos visuais ou criatividade, mas vale uma espiada
para fugir um pouco do maçante estilo dos desenhos americanos que priorizam
cada vez mais o realismo. Aqui é quase uma volta as raízes das animações com o
uso proposital de uma saturada paleta de cores e estrelado por criaturas que
não são os seres mais fascinantes da terra e por isso mesmo ganham contornos e características
estereotipadas para as tornarem mais aceitáveis pelo público. Um filme
protagonizado por minhocas não parece uma ideia muito animadora, mas ainda
assim a produção assinada pelo diretor Thomas Borch Nielsen, estreando no campo
das animações, consegue transformar os personagens rastejantes em figuras
simpáticas e dotadas de certo movimento além do habitual.
Barry é um jovem minhoca
que está cansado de ver sua espécie ser motivo de zombaria por parte de outros
animais, principalmente alvo de chacotas pelos insetos, e não aceita o futuro
ao qual está destinado: trabalhar em uma empresa de fertilizantes, a sina de
todos os seus semelhantes. Seu próprio pai não gosta desta atividade, mas se
conformou com seu enfadonho destino. Pressionado pela mãe, Barry acaba seguindo
o caminho que lhe fora previamente traçado, mas sua vida ganha um novo sentido
quando encontra a coleção de discos do seu pai, uma coletânea com os melhores
hits dos tempos das discotecas. Contagiado pelo ritmo, o jovem imediatamente
tem a ideia de montar uma banda para participar de um show de talentos e assim
provar que as minhocas podem ir além dos trabalhos com a terra, mas encontrar
os parceiros certos para embarcar junto nesse sonho não será nada fácil.
A ideia para o filme surgiu do próprio Nielsen que tem o excêntrico hábito de realizar passeios noturnos para colher minhocas e certa vez notou que uma delas parecia dançar na palma de sua mão enquanto ele escutava um sucesso da dance music da década de 1970. Claro que eram espasmos naturais do corpo do animal, mas tal momento serviu para dar asas a imaginação do diretor que também escreveu o roteiro em parceria com Morten Dragsted. Pode parecer estranho uma produção protagonizada por criaturas consideradas asquerosas, mas não deixa de ser uma ideia bem-vinda na contramão do excesso de cachorrinhos, gatinhos e outros animais fofinhos que assolam o campo dos desenhos animados. E se ratos e insetos já foram transformados em personagens cativantes e divertidos, por que o mesmo não poderia ser feito com as minhocas?
Humanizar, digamos assim, seres rastejantes e que costumam causar repúdio é o grande problema de Barry e a Banda das Minhocas. Fora o protagonista, os demais seres não causam empatia alguma e tem personalidades rasas, assim pouco nos importamos com seus destinos. Não torcemos pelo sucesso da banda e menos ainda para que Barry conquiste seu interesse romântico. A minhoca que se sente inferior por ser gordinha não cativa e nem consideramos a sexualidade suspeita do roqueiro do grupo, algo pouco usual em projetos infantis. A graça em ver animais desprovidos de ossos tentando equilibrar seus esguios e cilíndricos corpos enquanto dançam não chega a durar muito, lembrando que eles não tem braços ou pernas para ensaiarem passos característicos das discotecas. Mesmo com a duração bastante enxuta, a narrativa é um tanto preguiçosa para manter o interesse do espectador depositando em vão suas expectativas em extrair graça da inusitada situação proposta.
De longe, os números
musicais é o que há de melhor nesta animação, resgatando hits de sucesso da era
disco para a alegria dos adultos e a curiosidade das crianças, mas em
contrapartida temos que acompanhar as desastrosas tentativas de Barry e seus
amigos para encontrar ritmo e equilíbrio para enfim poderem tocar juntos. As
desavenças e trapalhadas que poderiam surgir deste processo são mínimas. Falta
profundidade ao roteiro que se desenrola de forma acelerada condensando
diversas etapas, o que acaba comprometendo os momentos de emoção e enfraquecendo
os divertidos. De qualquer forma, o filme entretém seu público-alvo, crianças
bem pequenas que se distraem com qualquer produção multicolorida e com certa
agitação.
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