Nota 4 Mesmo com astros do gênero, comédia romântica é insossa e repleta de equívocos
Um cara já passando dos trinta e poucos anos resiste em sair da casa dos pais para não perder os paparicos, porém, ele não é nenhum adulto infantilóide. Já faz tempo que trocou o pega-pega com os amigos na rua para se divertir com a pegação que rola nas baladas. Esse perfil pouco interessante é o papel que Matthew McGonaughey defende na comédia romântica Armações do Amor ao lado de uma das rainhas do gênero, Sarah Jessica Parker. Ele interpreta Tripp, um vendedor de barcos de luxo que leva uma vida com todo conforto possível vivendo com os pais Al (Terry Bradshaw) e Sue (Kathy Bates), o que não o impede de ter uma vida amorosa bastante ativa. Ou seria melhor dizer sexual? Quando percebe que a relação está ficando séria ele tem uma tática até que bastante original para pular fora. Toda a garota sonha com o dia de conhecer os pais do namorado, mas espera que após o encontro o rapaz a leve para sua própria casa e terminem a noite na cama. Tripp já prefere que a moça se frustre que ele ainda viva com os pais e acabe com tudo, uma armação que sempre foi muito bem sucedida até o dia que os coroas também decidem bolar um plano para enxotar o filhão para fora de casa. O casal contrata os serviços de Paula (Parker), uma bela mulher especialista em fazer os homens caírem a seus pés a ponto de forçá-los a optarem por uma vida independente. Para não rotulá-la como uma espécie de acompanhante de luxo, digamos que seu trabalho é elevar a autoestima de seus clientes e provar que morar sozinho e arcar com despesas e afazeres domésticos é necessário para alimentar a imagem de um homem bem sucedido.
Paula se aproxima de seu alvo, obviamente ele se interessa, mas para a surpresa do solteirão ela passa pelo teste do encontro com os sogros e isso o faz crer que finalmente encontrou a mulher ideal para casar. Por sua vez, a moça também se interessa por Tripp, mas chega o momento que ele descobre toda a verdade, eles rompem, ela decide ir embora da cidade... Enfim, o filme então segue a cartilha convencional do gênero. O roteiro de Tom J. Astle e Matt Amber é desenvolvido de maneira preguiçosa e não oferece bons momentos de humor e tampouco de romance. Os problemas começam ainda quanto ao argumento. A boa vontade do espectador já é exigida ao sermos forçados a aceitar a profissão da personagem de Parker. Flertar com homens bonitos e ricos, frequentar bons restaurantes e aproveitar passeios com tudo pago. Muita mulher gostaria de ter um emprego tão bom, mas desde que arcasse com a alcunha de prostituta. Só mesmo pais muito ingênuos contratariam serviços do tipo acreditando que a profissional iria simplesmente enlouquecer o seu filhote e na hora de ir para cama se fazer de pura e casta. Bem, Paula defende que transar não faz parte do pacote de seus serviços, mas claro que chega o momento que ela sente a vontade de trair seus ideais. É demais o que o roteiro exige do público a partir do ponto de partida, mas há muito mais para quem assiste engolir.
O casal protagonista não gera grande empatia a ponto de torcermos para que fiquem juntos, o que sabemos que inevitavelmente irá acontecer. McConaughey é charmoso e carismático ao contrário de Parker que carrega o fantasma de sua personagem no seriado "Sex And The City" e não consegue descer do salto (as vezes literalmente para harmonizar com a altura de seu parceiro). Se por um lado temos bons momentos como aquele em que Tripp faz um discurso carregado de cinismo antes de um jantar em família, por outro temos momentos imbecis como a cena em que uma conversa particular do casal é transmitida ao vivo por um telão e acompanhada por uma empolgada torcida. Os momentos vergonha alheia continuam com os constantes ataques de animais ao rapaz, ideia explicada mais adiante pelo roteiro, mas totalmente desnecessária para a trama. Nem mesmo os coadjuvantes que geralmente garantem alguns gracejos conseguem adicionar algum humor à insossa fita. Kit (Zooey Deschanel), confidente de Paula, parece estar dormindo em cena, algo característicos nas interpretações da atriz, ao passo que Ace (Justin Bartha), um dos melhores amigos de Tripp, irrita com seus esforços para ser engraçadinho. Já Bradshaw tem apenas uma cena em que se destaca por aparecer nu e a talentosa Bates é desperdiçada em um papel sem brilho cuja única exigência é a certa atura dificultar a vida do filho quando passa a exigir que ele faça as compras e lave as próprias roupas, por exemplo. A conversa franca entre os dois sobre assumir responsabilidades é o único momento de serenidade do longa.
O diretor Tom Dey parece não ter certeza de que forma conduzir esta trama que fica a dever em romance e também em humor. Oscilando entre bons e maus momentos, seu trabalho se destaca mais pela parte técnica, mas mostra-se desinteressante na condução do elenco e sem pulso para dar ritmo à fita que embora não tenha uma longa duração parece se estender além do necessário misturando ideias demais e concluindo poucas. Reunir McConaughey e Parker poderia ser um trunfo já que os dois transitam confortavelmente no terreno das comédias românticas, mas o que se vê na tela é beleza demais e sintonia de menos, principalmente porque as histórias de vida de seus personagens não cativam. Digamos que somos levados a crer que Paula ganha muito bem a cada caso que precisa resolver, só assim para explicar sua disponibilidade para atender Tripp sempre que solicitada. Ela até se envolve com um único rapaz em determinado momento, mas é pura jogada do roteiro para criar conflito entre os protagonistas. Já o probleminha do rapagão é até aceitável. Em muitos países é comum homens acima dos trinta anos morarem com os pais por diversos fatores que não cabe a ninguém julgar, mas o longa trata a situação com certo deboche visto que para a cultura americana o normal é que um rapaz passe a assumir as rédeas de sua vida ainda muito jovem, geralmente um ato ligado a ideia da ida para a faculdade como primeiro passo para a trilha de sucesso.
Armações do Amor aborda um pouco a utopia da chamada beleza americana ao rotular que um homem só tem uma imagem vitoriosa morando sozinho e tendo como pagar luxos como carros e passeios refinados. Se ficasse concentrado nessa fantasia de um cara ser seduzido a ponto de acreditar que somente conquistando total independência familiar e financeira teria o amor da mulher de sua vida o filme até seria razoável, mas a inserção de situações desnecessárias acabam não deixando o projeto redondinho. Por exemplo, há um garotinho negro apresentado como sobrinho do protagonista que poderia ser fruto de uma adoção, isso se ele tivesse um irmão. Então os roteiristas tiveram que encontrar uma explicação para o fato, mas ficaram a dever uma para a inserção de uma cena em que Ace e Kit tentam ressuscitar um pássaro com respiração boca-a-boca. Desculpa para os coadjuvantes aparecerem e justificarem o cachê?
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