Nota 4,0 Abordando concursos de soletrar e religião, longa se arrasta e jamais atinge a emoção
Como diz o ditado, uma imagem
vale mais que mil palavras. Será mesmo? Infelizmente vivemos tempos de
desvalorização do vocabulário e de tudo aquilo que ele carrega consigo. Com o
passar dos anos, expressões que deveriam ser carregadas de sentimentos foram
banalizadas e são ditas por aí ao acaso e a linguagem da internet cheia de
gírias e abreviações causam confusão quando necessário uma escrita ou conversa
oral de maneira mais formal. Palavras de Amor,
abordando o tema através de concursos de soletrar, até tenta nos lembrar da
importância dos significados que a junção de letras tem, mas infelizmente acaba
se perdendo em uma miscelânea de assuntos que dispersam a atenção do foco
principal. A pequena Eliza (Flora Cross) é a filha caçula da família Naumann,
um clã aparentemente feliz. Saul (Richard Gere), seu pai, é um respeitado
professor universitário de teologia que sempre encontra tempo para se dedicar
em casa, ou ao menos acredita que cumpre bem seu papel no lar. Miriam (Juliette
Binoche), sua mãe, é uma mulher carinhosa e ao que tudo indica confortável com
sua vida pacata. Já Aaron (Max Minghella), seu irmão mais velho, não demonstra
sinais de rebeldia como a maioria dos adolescentes e mantém um relacionamento
amistoso com os parentes. Apaixonado pelas palavras e seus significados e afins,
Saul se entusiasma ao perceber o dom da filha para soletrar e começa a
treiná-la para campeonatos estudantis. No entanto, a dedicação do pai torna-se
uma obsessão que acaba modificando a dinâmica de toda a família cuja base antes
sólida revela-se estruturada sobre frágeis alicerces, principalmente quando vem
à tona a fé de cada um dos membros. Os treinamentos para os concursos são meras
desculpas para mostrar que há uma forma mundana para se conversar com Deus. Ao
incentivar a filha a se aprimorar na arte de soletrar, Saul acredita que a está
guiando para alcançar a sabedoria divina, não apenas falando com o criador, mas
também o ouvindo.
O roteiro de Naomi Foner se
preocupa em desenvolver os personagens da família Naumann com cautela e
detalhes, cada qual com seus próprios conflitos, mas dedicando atenção especial
a relação de Saul com esposa e filhos. Ao deixar claro sua preferência pela
caçula, tirando proveito do egocentrismo de ser pai de uma campeão, ele não
percebe que Miriam precisa de alguém para dividir seus problemas e que Aaron
começa a se afastar em busca de conforto em outros lugares e com pessoas
diferentes. O rapaz então se une ao grupo religioso dos Hare Krishna e desse
ponto em diante a trama torna-se cansativa. Além do excesso de sequências de
soletração, o gancho do misticismo não acrescenta muito, pelo contrário, só
ajuda a projeção parecer interminável. Após pouco mais de uma hora de um drama
familiar razoável, os diretores Scott McGehee e David Segel mudam o tom
radicalmente. Saul até então experimentara a religião apenas de forma teórica,
mas através de Eliza encontra a possibilidade de reavivar sua fé. Chega a ser
contraditório. Ao mesmo tempo que alimenta seu orgulho com as vitórias da
menina, ele faz dos treinos de soletrar quase que um ritual de elevação
espiritual. Alguém buscando pureza na alma e espírito leve seria tão
competitivo? Pior ainda, ficaria cego a ponto de não enxergar a família se
desintegrando? Gere interpreta com competência esse homem que se faz presente
fisicamente em casa, mas ausente em termos emocionais. Sua atuação contida,
assim como a dos outros atores, revela a melancolia que paira sobre o lar dos
Naumann e deixa latente que o tal estilo de vida beleza americana está em
crise. Palavras de Amor acaba senso uma mistura de ideias equivocadas que
buscam uma emoção que jamais atinge o espectador que acompanha a trama do
início ao fim de forma enfadonha. Nem mesmo a carinha de anjo da carismática
Flora traz algum alento. Praticamente apenas sussurrando e com expressão triste
ou acuada, suas cenas fazem qualquer um cochilar facilmente. Uma pena.
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