Filmes com temáticas semelhantes
lançados em períodos próximos são corriqueiros, algumas coincidências são até
bem suspeitas, e no mesmo ano em que O Inferno de Dante ferveu
nos cinemas (ou ao menos almejou isso), uma outra produção também trazia um
vulcão como protagonista. Volcano – A Fúria é um
legítimo representante do estilo catástrofe, vertente dos gêneros ação e
suspense cuja diversão é sofrer com o calvário dos personagens e se sentir
aliviado com a confirmação de um inerente final feliz para alguns deles, além
de a maioria dar a deixa para uma possível continuação que nem sempre sai do
papel, mas que nos faz lembrar que apenas uma batalha foi vencida, outras
virão. A trama escrita por Jerome Armstrong e Billy Ray se passa em Los
Angeles, nos EUA, cuja rotina frenética é subitamente interrompida por conta de
um forte terremoto certa manhã. Na sequência, vários outros incidentes
acontecem como a morte de alguns operários que trabalhavam em uma estação de
metrô vítimas de profundas queimaduras. Mike Roark (Tommy Lee Jones), chefe da
Defesa Civil, é acionado para encaminhar uma investigação dentro do túnel. Ele
tem o poder de controlar todos os recursos públicos locais em caso de alguma
catástrofe que neste caso se apresenta na forma da ameaça de uma incandescente
lava. Isso mesmo! Em meio a cidade grande existe uma atividade vulcânica que
interrompe as férias do oficial para decepção de Kelly (Gaby Hoffman), sua
filha adolescente, a peça inserida no roteiro para forçar um draminha familiar
e levar o espectador a sofrer com mais intensidade nos momentos em que eles são
obrigados a vencer provas de fogo, literalmente.
A Dra. Amy Barnes (Anne Heche), uma
geóloga, traz a informação de que próximo a região existe um lago de alcatrão
cuja temperatura aumentou consideravelmente, mas em um primeiro momento Roark
não lhe dá ouvidos. Todavia, não demora muito e as suspeitas da moça se
confirmam e de uma hora para a outra um vulcão rasga o concreto das ruas e
bombeiros, policiais, médicos e até mesmo as pessoas comuns precisam se unir
para evitar o avanço da lava que destrói absolutamente tudo por onde passa. Sabemos
o que esperar a partir de então. Muita correria, gritaria, desespero,
sofrimento e uma avalanche de efeitos especiais que na realidade são o grande
trunfo do longa. As imagens de explosão são impressionantes, um grande show de
labaredas com cores quentes cuja temperatura vibrante é quase perceptível pelo
espectador. O diretor Mick Jackson deixa claro que a exploração de imagens
espetaculares e da tragédia causada pela erupção são a razão de existir do
filme, assim evita desviar a atenção para tramas paralelas, apontado como o
grande mal de produções do tipo, mas as vezes tal recurso narrativo se faz
necessário, afinal precisamos nos importar com os personagens para torcermos
por suas superações. Sem ligar muito para isso, a produção não cria um vínculo
sólido entre Roark e sua filha e tampouco sofremos com a morte de Rachel
(Laurie Lathem), amiga de Barners e uma das primeiras a empacotar.
Do início ao fim o ritmo é de adrenalina pura, com muitos momentos de tremedeiras e nó na garganta e espaço nulo para romance, piadinhas descartáveis e até o popular drama familiar é pincelado discretamente. Não há brecha para calmaria que aliviem a tensão. Sucessivas explosões, desabamentos, curto circuitos e até bolas de fogo cuspidas pelos bueiros das ruas movimentam a trama e os personagens chegam a um ponto de ingenuamente acreditarem que uma barreira feita com carros, caminhões, blocos de concreto e qualquer coisa pesada que encontrassem dando sopa seria o suficiente para bloquear a fúria da natureza. Se impedem uma passagem de magma, logo ela encontra um outro lugar para se expelir. Pelos túneis subterrâneos do metrô uma enorme quantidade de lava está se acumulando e ao que tudo indica o ponto culminante da explosão se dará bem embaixo do hospital central onde já se encontram centenas de vítimas em estado grave, incluindo a própria kelly, assim é claro que já existe endereço certo para nosso herói comandar o clímax de sua jornada. Popular na década de 1970, o gênero catástrofe teve lá suas obras memoráveis envolvendo acidentes aéreos, com embarcações, engarrafamentos, trens desgovernados e tudo o mais que pudesse causar episódios que mexessem com o emocional do público e com os fetiches da mídia.
No final do século 20, produções do tipo voltaram com tudo, com sucessos como Titanic e bobagens como Daylight, mas em tempos de campanhas em prol da preservação dos recursos naturais nada melhor que pegar carona em uma lição de moral para, desculpe trocadilho, de fato dar uma moral aos produtos. Se o homem não mede esforços para realizar seus sonhos de concreto, tirando espaço das áreas verdes, nada mais justo do que a própria natureza reivindicar seu espaço e com sua força destruir o que a civilização criou. Apesar de já com certa idade, Jones interpreta o herói de plantão e sua escalação certamente tem a ver com a renovação de seu público conquistada meses antes quando defendeu a Terra de uma invasão alienígena no arrasa-quarteirão MIB – Homens de Preto. De adolescentes a representantes da melhor idade, todos vibram a cada ato heróico do destemido personagem que faz um passeio forçado e nada prazeroso por diversos pontos de destaque de Los Angeles, locais de identificação mais fácil pelos moradores e assíduos frequentadores, mas nada que estrague a diversão de quem não conhece os alvos, afinal o que importa é ver eles pegando fogo. Na confusão, o longa ainda enfoca a grande variedade de etnias e classes econômicas que formam a população local, mas longe de fazer um tratado social obviamente. Brancos e negros, pobres e ricos, imigrantes e residentes naturais. Na hora do sufoco não importa as rixas que podem existir entre eles e o espírito de solidariedade prevalece.
Diferentemente de O
Inferno de Dante que fez uso de maquetes e trucagens de computador
para dimensionar o impacto da tragédia sobre uma cidade interiorana, Jackson
optou por construir uma cidade cenográfica real, reproduzindo em especial o
trecho onde de fato existia uma espécie de piscina natural de piche, o ponto de
partida para todo o calvário. Apesar do trabalhão, o diretor não poupou
esforços na hora de destruir a metrópole, mas mesmo com toda publicidade em
cima do uso de efeitos especiais em massa Volcano – A Fúria não passou de fogo de palha e não
fez o sucesso esperado. Realmente é um pouco mórbido ver uma cidade virar
cinzas sem nos identificarmos com o drama de seus moradores. Pode ter ação
ininterrupta, mas a graça no final das contas é tentar descobrir quem vai
sobreviver. Sem ninguém se destacar em meio a tragédia, seja por seu histórico
de vida ou personalidade, pouco importa qual será o desfecho da tragédia.
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