Nota 5 Longa sobre redenção é repleto de clichês e talhado para agradar grupos religiosos
Filmes com temáticas religiosas sempre existiram. Seja para evocar historias de arrepiar ou para passar mensagens baseadas em lições bíblicas, produções do tipo costumam ter público cativo, mas pensando em angariar mais adeptos nos últimos anos tem sido comum convidar nomes famosos para atuarem em obras assim. Ving Rhames não é exatamente um astro, mas construiu um nome respeitável nos gêneros de ação e suspense e em O Pastor surge em um papel atípico até então em sua carreira. Ele dá vida à Armstrong Cane, um ex-condenado que retorna ao bairro em que morava totalmente mudado e disposto a assumir a velha igreja e congregação que pertenceu ao seu pai que faleceu durante o período em que o filho esteve preso. O mesmo aconteceu com sua mãe e sentindo-se um pouco responsável pelo desgosto que causou quer agora seguir um caminho correto e ensinar o mesmo a seus fiéis.
O problema é que a vizinhança mudou muito e está refém do tráfico de drogas e da violência comandadas por gangues que defendem seus territórios sem pensar nas consequências dos seus atos. As pessoas que têm possibilidades acabaram se mudando para áreas mais prósperas e passaram a frequentar a igreja do reverendo Danny Christopher (Ricardo Chavira), antigo conhecido de Cane, mas que agora parece estar bem de vida e não se preocupa em pregar a palavra de Deus corretamente e sim transformar a religião em uma fábrica de dinheiro e fama. Além de um carro de luxo e ostentar que tem mais três mil fiéis em sua congregação, Christopher está disposto a comprar o terreno da igreja do amigo, mas este nem pensa no assunto mesmo com as dificuldades que sabe que terá para resgatar a fé de seus vizinhos.
Logo no primeiro dia de seu regresso ele salva o adolescente Norris Johns (Dwain Murphy) de uma briga de rua. O rapaz estava vendendo drogas bem na frente da igreja e logo o pastor chega ao nome de Blaze (Dean McDermott), o chefão do crime no pedaço e que obviamente não vai gostar nada de saber que agora há uma autoridade religiosa para reverter seus males. Mesmo sabendo que sofrerá ameaças e que muitos lhe apontarão o dedo por conta de seu passado, Cane está decidido a pregar a palavra de Deus a quem quiser ouvir, mas especialmente para Norris que acredita ter caído na vida de crimes em um momento de fraqueza visto que ele é neto da Irmã Mavis (Barbara Barnes-Hopkins), a fiel mais devota dos tempos em que seu pai era o pastor da região. O roteiro de Michael Jackson (não confundir com o cantor!) é bastante previsível e não traz nenhuma novidade, o que pode tornar o longa cansativo para os menos religiosos. Todavia, quem é mais ligado ao tema costuma louvar a produção, pois é justamente a mensagem clichê, porém, necessária que buscam.
O rapaz negro que não teve uma boa educação e cresceu em um ambiente desregrado acabou enveredando pelo mundo do crime na busca de lucros fáceis e proteção dos traficantes. Para complicar a situação ainda descobre que a namorada Ashley (Genelle Williams) está grávida, mas é graças à moça e aos conselhos de Cane que ele tentará buscar um novo caminho, só que se livrar do submundo do crime não é fácil. Tal situação é bastante comum e faz a trama ser bastante acessível ao público, embora incomode o fato do protagonista ao revelar o motivo de sua prisão não demonstrar inclinação para a religião, o que para alguns pode alimentar o preconceito de que somente após um mal passo as pessoas descobrem o poder da fé. Todavia, talvez para não afrontar seu público-alvo apegado a crenças, o grande pecado de O Pastor é não explorar a fundo o personagem Christopher, o mais interessante do enredo pela polêmica que poderia despertar.
A certa altura Cane crítica seu modelo de vida o comprando com aqueles ostentados por traficantes e cafetões dando a entender que para ele a fé é um negócio lucrativo. Na verdade ele não conhece bem sequer um membro de sua igreja, eles representam apenas números. A grande mensagem que fica é que não adianta dizer que o mundo não tem mais salvação e cruzar os braços. Ajudando pelo menos uma pessoa isso já é o bastante para lhe trazer conforto e colaborar para tempos melhores. A religião é uma ferramenta para a mudança, mas cabe à força de vontade de cada um de nós fomentar tais transformações.
Drama - 100 min - 2008
Leia também a crítica de:
Nenhum comentário:
Postar um comentário