quinta-feira, 7 de julho de 2022

UM NOVO REENCONTRO


Nota  Drama nostálgico reúne três grandes astros para contar história que exalta valores familiares


Superproduções do cinema costumam investir milhões para recriar cenários e épocas, mas as vezes o menos é mais. É comum criticarmos os telefilmes por na maioria das vezes eles não carregarem o charme e a beleza plástica de um produto feito para as telonas, mas existem exceções como o belo drama Um Novo Reencontro que reconstitui com perfeição o clima de um vilarejo rural no Kansas na época da Primeira Guerra Mundial. A trama escrita por Patricia MacLachlan começa mostrando um pouco do cotidiano do casal Sarah (Glenn Close) e Jacob Witting (Christopher Walken). Eles são pais da pequena Cassie (Emily Osment), mas na realidade este é o segundo casamento do chefe desta família. Ele perdeu sua primeira esposa no parto do filho Caleb (Christopher Bell), mas isso não o impediu de ser o melhor pai possível para o garoto e para sua irmã mais velha, Anna (Lexi Randall), que está de partida para a capital para ajudar o Dr. Sam Hartley (George Hearn) a cuidar de seus pacientes enquanto aguarda seu marido voltar da guerra. 

Jacob acompanhou a filha na ida a capital e precisou passar uma noite na cidade grande, mas não imaginava que algumas poucas horas longe de casa mudariam sua vida radicalmente. Cassie diz que viu um homem estranho rondando a casa, mas é desacreditada pela mãe e o irmão, porém, ele realmente existe e acaba sendo acolhido por Sarah quando percebe que ele está à mercê do rigoroso clima de inverno da região. Ele é John (Jack Palance) que diz ter ido até lá para falar com Jacob, seu filho que não via desde criança. A notícia pega todos de surpresa, pois acreditavam que ele estava morto há décadas, mas na realidade ele havia abandonado a família por vontade da própria esposa que não suportava que o marido não tivesse ambições de melhorar na vida. Jacob sabia a verdade, mas preferiu mentir para si mesmo para aceitar a ausência do pai. Compreensiva, Sarah quer tentar reconciliar estes dois homens e assim dar a oportunidade da filha e dos enteados conviverem com o avô, mas no fundo se preocupa se John teria voltado para reclamar as terras da família.


O diretor Glenn Jordan conduz a trama com tranquilidade e com atenção especial para criar um clima crível e próximo ao cotidiano de uma família comum, assim ganham destaques os diálogos nas horas das refeições e momentos como o oferecimento de uma xícara de chá ou de um cobertor para aquecer um dos membros. Tais situações transmitem a sensação de aconchegante necessária para colocar o espectador como um personagem onipresente nas cenas, podendo ser possível sentir o friozinho da gélida paisagem rural e o calor da lareira ou o calor do fogão da residência. Além de recriar a paisagem campestre do início do século 20, é curioso que o longa datado de 1999 traz no visual um apelo irresistivelmente nostálgico como se fosse uma produção bem mais antiga, não sendo exagero dizer que quase se tem a sensação de ouvir o barulho dos cabeçotes que os antigos aparelhos videocassetes faziam. 

Fora a viagem no tempo que a direção de arte, figurino, fotografia e trilha sonora proporcionam, o ponto alto do longa na realidade não se restringe a apenas uma ou duas sequências, mas se divide entre todas as cenas graças ao elenco talentoso e afinado. Esta é uma ótima oportunidade para matar as saudades ou vir a conhecer um pouco do trabalho do saudoso e cultuado Palance, assim como também para ver os talentosos Walken e Close vivendo personagens simplórios, tipos raros em suas filmografias. O elenco infanto-juvenil também acerta o tom, não se intimida diante dos veteranos e cativam o espectador com naturalidade. Sem rompantes de euforia, tensão ou dramaticidade, Um Novo Reencontro é um belo exemplo de filme que apesar de previsível e açucarado respeita a cadência de emoções e envolve pouco a pouco o espectador com situações e diálogos de fáceis identificações e carregados de emoções genuínas. 


Este é o último telefilme de uma trilogia iniciada em 1991 buscando traçar uma breve trajetória da família Witting. O primeiro filme mostra a curiosa união do casal principal por meio de um anúncio de jornal. Mesmo morando longe, Sarah decide ir visitar regularmente Jacob e seus filhos para ver como poderia se encaixar no cotidiano da família enlutada pela perda da matriarca. O filme seguinte, datado de 1993, coloca em xeque a solidez do clã por conta de questões climáticas que obrigam Sarah e seus enteados a se mudarem para sua antiga cidade deixando Jacob para trás. O fechamento da trilogia traz como novidade uma filha legítima do casal e a curiosa participação dos atores originais intérpretes do filhos de Jacob agora repetindo seus papeis crescidos, além é claro da citada e gratificante presença de Palance. Cada capítulo pode ser apreciado como um filme independente sem a necessidade de conhecimento do conteúdo dos demais, mas é uma pena que achá-los pode ser difícil. Possivelmente por questões de direitos autorais ou imagem, os longas não são exibidos na televisão e apenas o último chegou a ser lançado no Brasil em mídia física que também vem se tornando raridade. Quem sabe algum dos inúmeros serviços de streamings possam ter escondido em seus catálogos ou vir a disponibilizar algum dos filmes ou até mesmo a trilogia. 

Drama - 98 min - 1999 

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