Frank
Marshall é um nome mais conhecido como produtor, mas vez ou outra também se
arriscou na direção tendo como uma de suas obras mais notórias o drama de
sobrevivência Vivos sobre a história real de um grupo que
enfrentou um longo período isolado na região dos Andes sob condições adversas.
Ele retornou à temática com Resgate Abaixo de Zero, mas
cede aqui o protagonismo para cães adestrados especialistas em andar e puxar
trenós na neve. Praticamente toda a ação se passa em gélidos cenários da
Antártica onde uma base de estudos científicos precisa urgentemente ser
evacuada antes da chegada de uma grande tempestade de neve. Contudo, um grupo
de oito cães precisará ser deixado para trás.Tal matilha já havia demonstrado
inteligência e fidelidade ao resgatar o geólogo Davis McClaren (Bruce
Greenwood) quando ele quebrou uma perna durante uma missão.
O guia da expedição, Jerry Shepard (Paul Walker), não quer abandonar os animais, pois acabou criando um vínculo sentimental com eles, conhecendo a todos por seus respectivos nomes e tipos de personalidades, e agora vive a agonia de correr contra o tempo para conseguir financiamento e organizar uma missão de resgate com a ajuda de Katie (Moon Bloodgood), sua ex-namorada que pilota aviões, e de Charlie (Jason Biggs), um cartógrafo metido a engraçadinho. Enquanto a burocracia e o egoísmo de alguns protela a situação, os cachorros, antes acostumados a bons tratos, agora estão à mercê de um ambiente inóspito, desabrigados, sob ameaçadoras condições climáticas e tendo que lutar por alimentos, tudo isso por cerca de seis meses.
Como há bastante cenas dos cães caminhando sozinhos no gelo, em fuga ou lutando com outros animais por um pedaço de carne, o filme acaba adquirindo certos ares de documentário em algumas partes, inclusive há certo grau de violência na narrativa para mostrar o quanto a natureza pode ser cruel, o que surpreende por ser um projeto voltado principalmente às crianças. O ambiente hostil oferece à matilha muitos obstáculos e a oportunidade de os cachorros darem um show, e não seria exagero dizer que eles se saem melhor que o elenco humano que acaba sendo coadjuvante. Foram usados mais de uma dezena de cães da raça husky siberiano que se revezaram nas filmagens que exigiram muito dos astros peludos, inclusive algumas cenas pediam genuína emoção. São inacreditáveis as reações espontâneas dos cachorros diante de situações limites, obviamente todas elas armadas com muito esmero para não os prejudicar física e emocionalmente.
A trama
é baseada em fatos reais que já haviam inspirado o longa Antarctica,
antiga produção do Japão que chegou a concorrer no Festival de Berlim. Já Resgate Abaixo de Zero não tem força para colher elogios rasgados, sendo apenas uma sessão da
tarde acima da média. O incidente original ocorreu em 1957, mas o roteirista
David DiGilio optou por transferir a ação para 1993, o último ano em que foi
permitido o uso de trenós puxados por cães na Antártica. Aliás, apesar do
realismo das imagens, tanto aéreas quanto terrestres, as filmagens foram feitas
em áreas gélidas do Alasca, Groenlândia e Canadá. A paisagem é belíssima, mas
ao mesmo tempo cheia de armadilhas. Além do perigo das nevascas, um passo em
falso no gelo e a vida pode se esvair em poucos minutos sob água a temperaturas
congelantes.
Como
manda a cartilha Disney, em meio ao conflito sempre existe espaço para um
romancezinho e para umas piadinhas, assim como também sabemos que o final feliz
está garantido. Também é inevitável a sensação de que a qualquer momento os
cães começarão a conversar entre si, mas felizmente a comunicação entre eles é
feita de forma natural através de olhares e gestos. Apesar dos vários clichês,
Marshall consegue manter um razoável nível de tensão atrelado à sensibilidade.
Como um produto de entretenimento para toda a família, evita-se violência
extrema, ousadias e polêmicas, resumindo-se a um filme bastante convencional e
previsível do tipo que ocupa com qualidade uma tarde ociosa com crianças em
casa. Contudo, pelas citadas cenas em estilo de documentário, o longa também
pode se tornar cansativo. O ritmo lento de algumas sequências prejudica a
produção no conjunto excedendo a duração além do necessário.
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