Nota 4 Apesar do bom argumento, suspense entedia com muitas pistas falsas e confusões de nomes
Uma jovem quando volta de viagem descobre que seu marido faleceu, mas não se abala muito, afinal já estavam para se divorciar. O problema é que todo o dinheiro dele desapareceu e o que era para ser sua herança também está sendo procurado por outros, mais especificamente por criminosos. O argumento de O Segredo de Charlie é relativamente bem simples, mas o diretor Johanthan Demme, consagrado por O Silêncio dos Inocentes, tratou de complicar as coisas tentando fazer sua obra parecer mais inteligente do que poderia. Regina Lambert (Thandie Newton) é convocada para prestar alguns esclarecimentos a respeito do assassinato de seu marido Charlie (Stephen Dillane). Junto do corpo foram encontrados seus documentos e vários passaportes indicando que ele já havia passado por vários países e em cada um assumia uma identidade diferente, sendo sua última parada a França. Como trabalhava vendendo obras de arte, a ex-esposa nunca estranhou suas diversas viagens, tampouco o fato de ele afirmar não ter parentes vivos.
O estranho é que o casal havia oficializado a união há apenas três meses, um ato feito impulsivamente, e Regina aparentemente aceitou o compromisso deslumbrada pelo universo elitizado que o namorado habitava. Essa é apenas uma das dúvidas levantadas pelo roteiro escrito pelo próprio Demme em parceria com Steve Schmidt e Jessica Bendinger baseado no texto do filme Charada. Peter Stone, autor do longa original de 1963, contribuiu no primeiro tratamento da narrativa da refilmagem, mas ficou tão descontente com os rumos que a trama tomou que até pediu para seu nome ser trocado por um pseudônimo nos créditos. Fez bem ele. A intenção de fazer com que todos os personagens parecessem suspeitos do assassinato acabou atrapalhando os próprios atores que parecem desconfortáveis em seus papeis e sem saber quais serão seus destinos, assim atuaram na corda bamba entre a culpa e a inocência. Além da citada Newton, Mark Wahlberg e Tim Robbins têm papeis importantes, mas o trio trabalha no piloto automático.
Todo o alvoroço começa pelas desconfianças de que Charlie antes de ser morto havia vendido toda a mobília da sua casa, peças compradas com o dinheiro de um golpe que ele havia aplicado em meados de 1998. A polícia no início achava que o caso se tratava apenas de um assassinato motivado pelo roubo e que assim que a grana começasse a circular por bancos ou comércios o responsável seria capturado, mas não demora para Regina ser perseguida por bandidos. II-Sang Lee (Joong-Hoon Park), Lola Jansco (Lisa Gay Hamilton) e Emir Zadapec (Ted Levine) reclamam que no passado Charlie roubou diamantes valiosos que seriam repartidos entre os quatro e mais tarde a criminosa vai comprovar que a história é verdadeira. Aproveitando esse gancho, o Sr. Bartholomew (Robbins) procura a viúva para explicar tudo sobre esse golpe do falecido, diga-se de passagem, em um discurso meticulosamente ensaiado e sem um pingo de emoção ou naturalidade.
Aproveitando das habilidades de Charlie para lidar com gente barra pesada, ele havia sido recrutado por forças especiais para colaborar em uma importante missão de resgate e deveria entregar uma quantidade considerável de dinheiro em forma de diamantes para os sequestradores, porém, acabou arquitetando um plano paralelo com o trio de criminosos e no final das contas deu no pé sozinho com todas as pedras que teriam se transformado nos tais móveis leiloados a toque de caixa. Agora, Bartholomew quer que Regina ajude a recuperar esse dinheiro e também fique de olho nas intenções de Joshua Peter (Wahlberg), um rapaz que se aproximou dela como um amigo solidário, mas um tanto enigmático e que pouco a pouco revela também estar envolvido no passado de Charlie e da gangue que ele enganou.
Demme consegue levar seu trabalho de forma instigante, até uma suposta mãe do falecido surge do nada para complicar as coisas, mas tudo vai por água abaixo nos minutos finais quando uma avalanche de informações é despejada para o espectador sem a menor chance de deixá-lo digerir. Identidades falsas vêm à tona, lembranças do episódio-chave que desencadeou tudo isso são recrutadas e Newton, que durante todo o filme ficou com cara de sonsa, no final revela não ter nada de bombástico para acrescentar à trama a não ser sua beleza. O Segredo de Charlie vale uma espiada por curiosidade, tem uma narrativa envolvente até certo ponto, mas chega um momento que a grande diversão é caçar as suas falhas ou soluções mirabolantes que não convencem. A conclusão extremamente esquemática derruba a obra com força avassaladora.
Suspense - 104 min - 2002
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