segunda-feira, 27 de junho de 2022

BAILA COMIGO


Nota 5,5 Bonito visualmente, longa é prejudicado pelos personagens em excesso e que não cativam


Os filmes musicais, em seu formato mais tradicional, tiveram seu período de auge na Era de Ouro de Hollywood, caíram em declínio e voltaram à tona no século 21 graças as adaptações de sucessos da Broadway. Um ou outro longa original do tipo conseguiu se destacar. Por serem produções geralmente com custos ostensivos, alguns diretores acabaram encontrando um formato alternativo para unir cinema, música e dança. No Balanço do Amor, Dança Comigo?, Vem Dançar e Ela Dança, Eu Danço são alguns exemplos de filmes cujas tramas envolvem aulas e concursos de bailados dos mais variados estilos, mas tudo que é demais cansa. Difícil de classificar em um gênero específico, Baila Comigo foi recebido com frieza por público e crítica, já deixando no ar que palavras que fazem alusão ao mundo dos ritmos musicais não funcionavam mais como chamariz, ainda que sejam produções que contam com fãs cativos. Contudo, o desprezo a este trabalho do diretor Randal Miller tem justificativas válidas, ainda que seja repleto de boas intenções, inclusive tentar inovar na maneira de como contar uma história cuja mensagem é um tanto batida: a dança pode mudar sua vida, assim como qualquer outra atividade que lhe proporcione prazer. 

Inspirado em um antigo curta-metragem do próprio Miller, que assina o roteiro em parceria com Jody Savin, a trama  se divide em três fases que vão se intercalando, cada uma fotografada com tons diferenciados para não confundir o espectador. A primeira, quase em preto-e-branco, mostra Frank Keane (Robert Carlyle) dirigindo o furgão de sua padaria por uma estrada quase deserta quando se depara com um acidente. Ao volante estava Steve Mills (John Goodman), praticamente se mantendo vivo pela pressão do volante que evita que seu obeso corpo ceda por completo. O padeiro chama o resgate e é aconselhado a tentar manter um diálogo com a vítima para mantê-la consciente, porém, não imaginava que esses minutos tensos mudariam os rumos de sua pacata vida. Mills revela que estava a caminho de um encontro muito importante, algo combinado ainda na sua infância. No 5º dia do 5º mês do 5º ano do novo milênio ele deveria comparecer na numa escola de dança para se encontrar com Lisa (Camryn Manheim), um amor da juventude, aquela que seria a mulher da sua vida. Na década de 1960, retratada em tons pastéis e com aspecto granulado remetendo a imagem de filmes antigos, Mills era uma criança sapeca que adorava se divertir com os amigos, porém, ajudava a enriquecer o coro para afastar as meninas que julgava não servirem para nada, apenas para atrapalhar as brincadeiras típicas masculinas como jogar bola. No entanto, um fato inesperado surgiu para mudar seus conceitos. 


A cidade de Pasadena, no subúrbio de Los Angeles, passou a contar com um curso de dança e etiqueta que logo chamou a atenção das caprichosas mamães da região que fizeram de tudo para convencer seus filhinhos machões a frequentarem as aulas. Apesar de resistirem ao máximo, praticamente todos os meninos acabaram aprendendo na marra a se comportar educadamente, perceberam que o homem é fundamental para a dança de salão existir e, o mais importante, que as garotas têm sim seus atrativos. Foi assim que Mills conheceu Lisa e inocentemente marcaram um encontro para o futuro, sem levarem em consideração que cerca de 40 anos é muito tempo de espera e que eles próprios sofreriam mudanças ao longo desses anos, contudo, o protagonista só engordou durante esse período, mas seu amor e sua promessa continuaram intactos dentro de si. Sensibilizado com a história, Keane promete que irá ao encontro para explicar o que aconteceu à mulher a fim de evitar que um amor tão bonito acabe por conta de um mal entendido, embora de qualquer forma ele já estivesse fadado ao fracasso com a morte inerente do acidentado. O envolvimento do padeiro se deve ao fato de que ele não superou a morte da esposa, mantendo suas roupas guardadas e frequentando um grupo de autoajuda. Ele se sente responsável pelo suicídio da mulher que provavelmente não sentia que seu amor era correspondido. 

Talvez buscando a redenção, Keane decide se matricular nas aulas de dança da mesma escola que Mills era aluno, agora chefiada por Marienne (Mary Steenburgen), filha da antiga dona que toda a quinta-feira faz questão de abrir suas aulas saudando a memória da mãe (perde-se a conta de quantas vezes faz isso). Logo no primeiro dia ele se encanta por Meredith (Marisa Tomei), um motivo especial para motivá-lo a ir às aulas, visto que aparentemente não tem nenhuma Lisa neste grupo. As sequências de danças, a rotina do padeiro e suas tentativas de cumprir sua promessa ao mesmo tempo em que se liberta de amarras do passado, tudo isso é retratado com cores mais fortes e vivas, destacando-se os tons avermelhados. Uma narrativa dividida em três tempos que se comunicam, cada qual diferenciado por uma inteligente opção estética. Isso seria o suficiente para colocar este filme em um patamar acima de outras obras com temática semelhante, mas os personagens não têm muito a dizer, são pouco desenvolvidos, sendo que o conjunto revela-se apenas uma desculpa para exibir rodopios pelo salão ao som de ritmos contagiantes. O filme procura sair do lugar-comum injetando uma boa dose dramática a uma receita já bastante reciclada, mas acaba sendo prejudicado por tramas paralelas desnecessárias. A sensação é que o excesso de atores é justificada como uma reunião de atores desprestigiados que acabaram sendo abraçados por Miller como forma de incentivo. Os principais, Carlyle, Tomei e Goodman, fogem dos papéis estereotipados que costumam viver, respectivamente o mau-caráter, a melhor amiga ou gostosona de plantão e o gordo atrapalhado e fanfarrão, mas infelizmente seus personagens não conseguem conquistar a empatia do espectador. 


O gancho principal é até um pouco surreal. Um homem gravemente ferido e prestes a morrer dificilmente conseguiria contar uma história de sua infância com riqueza de detalhes. Keane, por sua vez, poderia ter desfeito o enigma do paradeiro de Lisa simplesmente consultando a lista de alunos matriculados no curso ou frequentadores do tal dia 05 de maio de 2005, porém, acabou se perdendo entre os dois para cá, dois para lá e foi ficando.  Tentando fazer o bem a alguém acabou realizando algo de bom a si mesmo. As aulas de dança lhe devolveram a alegria e disposição perdidas, no entanto, ainda assim sentimos o protagonista receoso. Na reta final, é tentada mais uma isca dramática, mas sem sucesso. Randall (Donnie Wahlberg) se sentia o rei da dança, mas a presença de Keane nas aulas ameaça seu posto o que desperta seu lado mais violento. Baila Comigo ironicamente dança justamente pelo excesso de bailado que tira o espaço para conflitos serem desenvolvidos. Miller deve ter entrado na onda de outros cineastas que parecem acreditar que os ritmos contagiantes e a beleza das coreografias superam qualquer tipo de falha. Apesar da narrativa frágil, o final traz uma interessante metáfora. O glamour e a beleza vendida pelos musicais de antigamente acabaram e isso se reflete na figura de Lisa, na fase atual longe da figura idealizada por Mills, e também pelo espaço de dança, outrora um renomado salão, hoje apenas um ponto de encontro decadente e frequentado por nostálgicos ou fanfarrões. Em tempo: Sônia Braga faz uma ponta como uma animada latina cuja função é semelhante a de figuração, para variar. 

Romance - 103 min - 2005

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