NOTA 4,0 Estreia de Justin Timberlake nos cinemas acompanhado de atores premiados resulta em um longa policial repleto de clichês |
Dentre as
várias categorias de filmes deveria existir “esse é o cara”, divisão na qual se
encaixariam filmes de medalhões como Samuel L. Jackson, Denzel Washington, Will
Smith e Morgan Freeman. Eles não têm apenas a cor da pele e o grande talento em
comum, mas também o fato de possuírem uma extensa lista de títulos em seus
currículos (muitos com personagens semelhantes) e seus nomes serem sinônimos de
filmes bons. Quem nunca viu alguém falando na fila do cinema ou olhando as
prateleiras de locadoras que tal filme deve ser bom porque é com o fulano de
tal. É uma pena que nem sempre esse entusiasmo é correspondido. Edison
– Poder e Corrupção não é um péssimo longa, porém, acabou caindo no
limbo por ser um amontoado de clichês de diversos outros títulos de ação e
suspense policiais, incluindo a repetição de erros como o excesso de
personagens e situações desnecessárias que só servem para confundir o público e
tornar o programa tedioso. A trama se desenvolve na fictícia cidade que
intitula a produção, uma metrópole que aparentemente oferece oportunidades de
crescimento a todos e chama a atenção de grandes corporações, porém, a
corrupção e o abuso de poder podem estar por trás de tantas conquistas. Aqui
vive Josh Pollack (Justin Timberlake), um jovem e ambicioso jornalista que está
iniciando sua carreira como repórter investigativo em um pequeno jornal
comunitário. Após descobrir fraudes na polícia local, o rapaz deseja ir a fundo
nesta investigação e publicar uma grande matéria, mas enfrenta a relutância de
seu chefe, Moses Ashford (Morgan Freeman), que decide demiti-lo. O grande alvo
deste repórter é a FRAT, uma unidade de elite da polícia que corresponde à
sigla inglesa de Força Tática de Defesa e Ataque. Em Edison seus membros podem
agir como bem entenderem e abusam do poder de autoridade que a ordem impõe,
assim arrogância e violência são as marcas registradas do grupo que combate
principalmente o tráfico de drogas, mas chega até a forjar provas para não ter
sua imagem manchada. Em uma ação liderada pelo sargento Frances Lazerov (Dylan
McDermont) um traficante acaba morto. O policial Raphael Deed (L.L. Cool J.)
testemunhou o ocorrido e acabou sendo torturado, mas defendeu o réu durante seu
julgamento alegando autodefesa.
Pollack
desconfia das atitudes de Deed e do que realmente aconteceu na noite do crime e
está decidido a investigar a fundo o caso e escrever uma grande matéria que
pode ser a sua porta de entrada para trabalhar em um grande jornal. Na
realidade ele não tem tal ambição, mas assim como qualquer jornalista
recém-formado ele quer fazer valer a máxima do compromisso com a verdade, por
isso ele não se conforma com o comportamento de Ashford e vai a sua procura
para pedir explicações de como um repórter qualificado e vencedor de um Prêmio
Pulitzer pode deixar um assunto tão quente passar em branco. Edison durante
muitos anos foi dominada pelo crime e tráfico de drogas, mas o momento agora
inspira mais calmaria aparentemente pelas ações da FRAT cujos membros agem sem
pensar duas vezes e atiram para valer, mas ainda assim são vistos como heróis.
Como tomo veículo de comunicação, o jornal em que Ashford é editor chefe
precisa respeitar alguns compromissos que não correspondem aos fundamentos do
jornalismo, mas caso não os cumpra a empresa pode sofrer consequências,
inclusive ir a falência com a falta de incentivo do governo e perda de
publicidades. Desmascarar possíveis policiais corruptos dentro da unidade,
portanto, vai contra as políticas internas do jornal que prefere publicar
apenas uma pequena nota com o veredito do julgamento de Lazerov. Todavia, a
força de vontade de Pollack para trabalhar nesta investigação acaba animando
Moses em ajudá-lo, mas o grande auxílio vem mesmo de Wallace (Kevin Spacey), um
investigador da promotoria com muita gana de desmantelar essa rede de
corrupção. O motivo que faz Deed proteger Lazerov pode soar tolo, mas quando se
está em um ninho de cobras todo o cuidado é pouco para acabar não sendo picado
também. Ele não quer ser um delator, mas precisa achar um jeito de se desligar
dessa turma sem se sentir culpado e assim poder levar uma vida normal.
Esquematizada assim, a sinopse realmente não é das piores e ainda se mantém
atual e interessante até para os estudantes de jornalismo que podem ver um
pouco de seu sonho ruir ao constatarem que o que aprendem na faculdade
infelizmente não condiz com a realidade do mercado. A trama também deve agradar
aos aficionados pelo gênero, mas de um modo geral o longa deve somar um maior
número de desafetos.
O diretor e
roteirista David J. Burke, com experiência em séries de TV, fez sua estreia no
cinema acreditando que bastava fazer um episódio de seriado esticado e se
cercar de nomes famosos para alcançar o sucesso, mas o tiro saiu pela culatra.
Apesar de encerrar o Festival de Toronto 2005 e marcar o aguardado debute do
astro da música pop Justin Timberlake nas telonas, o longa saiu direto em DVD
na maioria dos países e chegou ao Brasil antes mesmo de entrar em cartaz nos
cinemas norte-americanos, sinais não muito positivos. O cantor até que se sai
razoavelmente bem em seu primeiro papel contrariando expectativas, talvez até
porque divida as atenções inicialmente com o mais experiente L.L. Cool J. que
interpreta um personagem bem de acordo com seu biotipo e estereótipo de durão,
inclusive sua dedicação foi tanta que ele chegou a estudar algumas técnicas
antigas de luta para a realização de uma única cena. Timberlake, que diz a
lenda precisou dublar suas falas para encobrir uma voz levemente fina que não
coincidia com o personagem, também poderia ter dado uns rolês com alguns jovens
jornalistas que pautam assuntos do cotidiano para se entrosar mais com o
universo de Pollack, mas a certa altura até nos acostumamos com seu entusiasmo
típico de um “foca” (jargão usado para se referir aos repórteres em início de
carreira). As grandes decepções ficam por conta dos oscarizados Spacey e
Freeman cujos currículos já tão cheios de tramas policiais não precisavam de
mais este título que não agrega absolutamente nada de novo. Aliás, ambos
parecem trabalhar no piloto automático. Wallace é bonzinho e racional demais e
só se mexe quando a situação já está em ebulição. Já Ashford deixa latente sua
decepção com a profissão, mas sua repentina vontade de ajudar um pupilo não
traz credibilidade ao personagem. Edison – Poder e Corrupção até tem
um início interessante assim como seu argumento, mas infelizmente torna-se
tedioso quando os supostos “criminosos do bem” percebem que a matéria de
Pollack podem colocá-los em maus lençóis. Além dos clichês visuais e
narrativos, a produção ainda sofre com alguns diálogos mal escritos e com a
falta de carisma dos personagens. Chega a um ponto que pouco importa o que eles
estão fazendo em cena e um tiroteio fatídico entre todos viria a calhar para
despertar a atenção. Todavia, no conjunto, não é dos piores do gênero, mas
comprovadamente está fadado a mofar nas prateleiras de locadoras e ocupar as
madrugadas da TV aberta e abastecer os ilusórios canais pagos.
Suspense - 109 min - 2004
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