NOTA 6,0 Não era a intenção, mas trajetória de jovem e bem nascido traficante soa como uma apologia às drogas e aos crimes, um perigo para mentes fracas |
Muito se fala sobre os problemas
de educação dentro de casa e suas consequências e este filme mostra bem tal
conflito. Aparentemente, Johnny levava uma vida de luxos e promiscuidade às
custas de crimes apoiado pelo pai, interpretado por um canastrão Bruce Willis,
que devia se orgulhar do jeito machão do filho, certamente resquícios também de
uma péssima criação familiar. Já a mãe de Zach, vivida por Sharon Stone, lhe
ofereceu uma educação mais sufocante, porém, quando o garoto teve a
oportunidade de viver uma realidade diferente não pensou duas vezes e se jogou.
O longa faz um contundente retrato da futilidade que impera entre a classe
média norte-americana e cujo padrão de vida acaba se refletindo na cultura de
outros países como no Brasil onde os filhinhos de papai tentam copiar ao máximo
hábitos e se afogam no consumismo de bugigangas ianques. Enquanto a
americanização se concentra na aquisição de bens de consumo e culturais tais
como vestimentas e música as coisas podem ser controladas, mas o problema é
quando o comportamento também é copiado, seara que engloba as drogas, bebidas e
libertinagens. Aquela inocente “ficada” na balada é um reflexo disso, mas o que
parece só curtição em excesso pode se tornar um problemão e é isso que o
diretor Nick Cassavetes quis mostrar neste trabalho. Filho do conceituado e
saudoso cineasta e ator John Cassavetes, que atuou no clássico O Bebê de Rosemary, é espantoso ver sua
travessia pelo gênero da denúncia social após dirigir o romântico e lacrimoso Diário de Uma Paixão. Parece outra
pessoa atrás das câmeras para contar uma história que repudia, mas ao mesmo
tempo conquista. Apesar de tantos palavrões, orgias, violência, químicas e ócio
que preenchem o universo dos jovens do filme, ainda assim ficamos tentados a
saber qual será o desfecho da trama, ou melhor, descobrir quais os eventos que levaram
à prisão de Johnny, mas não é qualquer um que tem paciência para acompanhar o
cotidiano porra louca dessa rapaziada. Difícil não se imaginar como um
personagem onipresente tentado a mandar bala nos miolos dessa turma ou
esfaqueá-los como os seriais killers mascarados de antigamente que puniam os
jovens desvirtuados. Eita, não é filme de terror, que viagem! Se bem que rola
tanta bagaça alucinógena que os personagens parecem estar constantemente fora
da realidade. De qualquer forma, por trás de toda a babaquice que enche boa
parte do longa, no fundo temos uma boa crônica da juventude burguesa e alienada
contemporânea, mesmo a ação se passando em meados dos anos 90. De lá pra cá
pouca coisa mudou e se mudou foi para pior. Talvez por isso a fita não tenha
sido um sucesso. A molecada que se empolgou com o chamativo trailer não deve
ter gostado nada de se ver retratada de maneira tão ordinária, mas a realidade
infelizmente é essa.
Também responsável pelo roteiro,
Cassavetes criou uma obra de difícil classificação. Por se tratar de uma
história real e no fundo trágica, a rigor rotula-se como um drama, mas há
espaço para o thriller policial e até toques de documentário. O diretor teve
acesso a toda documentação arquivada pela polícia a respeito de Johnny, embora
a trama se concentre nos três dias que marcaram para sempre sua vida e também a
de seus amigos. O promotor que liberou o material foi punido, mas como já dito
o diretor driblou possíveis processos substituindo os nomes das
pessoas envolvidas, contudo, ainda manteve o aspecto realista investindo em
depoimentos de acusados e testemunhas em formato jornalístico (algo dá errado
no sequestro de Zach), um recurso válido, porém, que neste caso teve um encaixe
falho. Os personagens dialogam com a câmera, mas o conteúdo não soa
interessante, sendo a mais chamativa destas cenas quando Stone surge exageradamente
maquiada para lamentar o que aconteceu com a família Mazursky, tentando sorrir
enquanto chora, uma clara crítica ao jogo de aparências que faz com que muitos
problemas sejam varridos para debaixo do tapete. É a abordagem do desajuste
social e suas consequências que dão valor à fita. A certa altura, por exemplo,
uma garota indignada com o sequestro vai conversar com a mãe, mas a ajuda é
negada porque simplesmente os pais estão trancados no quarto chapadões. Os
excessos são usados como válvula de escape e entre a classe média ianque as
drogas são de fácil acesso por todos, a melhor opção para fugir da realidade.
Mais cedo ou mais tarde essa menina também se envolveria com entorpecentes
incentivada dentro da própria casa ou por outros jovens que aceitariam lhe
ouvir desde que desse um trago. Experimentou uma vez e já era. Parece bobagem,
mas casos do tipo são muito comuns e a explicação para tantos jovens bem nascidos
caírem nesse mundo sujo, afinal não basta os pais deixarem dinheiro em casa
para seus filhos terem independência. A grana acaba virando a munição para eles
procurarem a pior forma de serem notados. O próprio Frankie é a personificação
do jovem que nada conforme a maré sem ter tempo para calcular riscos, assim
vive cada dia como se fosse o último e não mede as consequências de seus atos.
No conjunto, Alpha Dog não diverte, tampouco emociona, mas ainda assim não
conseguimos ficar inertes, pois consegue despertar reações negativas por conta
de seu conteúdo que mostra com naturalidade como adolescentes são absorvidos
facilmente pelas armadilhas do submundo que aqui não é apresentado na penumbra
e cercado por lugares fétidos, pelo contrário. Aqui os bandidos andam de cara
limpa, exibem corpos sarados e tatuados e bebem e flertam à beira da piscina,
um convite e tanto para mentes fracas. Mesmo reiterando ao fim que o crime não
compensa, o filme acaba deixando uma imagem contraditória para lembrança.
Drama - 116 min - 2006
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