NOTA 2,5 Tentando tirar leite de pedra, longa tenta dar novos rumos à história de máscara com poderes, mas peca em diversos pontos |
Quando um filme faz sucesso é quase certo que uma continuação
já está sendo prevista enquanto os produtores somam os primeiros lucros, sendo
que alguns gêneros são privilegiados nesse ponto como as comédias. Quase sempre
protagonizadas por personagens carismáticos, suas tramas costumam sempre deixar
um gancho para possíveis desdobramentos, alguns lançados em tempo recorde, mas
outros demoram alguns anos para serem finalizados, principalmente por problemas
envolvendo a contratação do elenco original e/ou a busca por um roteiro decente
equiparável ao primeiro. Analisando estes pontos de vista chegamos a conclusão
de que O Filho do Máskara jamais deveria ter saído do papel, mas
diante da crise de criatividade que Hollywood parece sofrer constantemente
encontramos respostas para tal deslize. É uma pena constatar que visando o
público infantil e consequentemente atraindo seus familiares mais velhos, o
diretor Lawrence Guterman, de Como Cães e
Gatos, esperava repetir o sucesso de Chuck Russell com o seu O Máskara. Nada contra a estratégia, mas
o problema é que o cineasta subestimou a inteligência de seus espectadores
oferecendo um produto fraquíssimo em termos narrativos e nem mesmo tomou
cuidado com o visual, afinal de contas para ter uma alternativa para entreter
seus anjinhos por algumas horas os pais topam qualquer sacrifício, até mesmo
perder dinheiro e tempo com algo que precisam fingir ser legal. Bom ou ruim não
importa, com a ajuda do título o projeto já estaria praticamente com suas
despesas pagas e esse pensamento medíocre certamente influenciou produtores a
investirem nesta bobagem sem avaliar os riscos, a começar pela demora de mais
de dez anos para lançar uma continuação e ausência do astro Jim Carrey, o que
já não são bons sinais. Na realidade, e para não pegar tão pesado com Guterman
e companhia, é preciso dar o braço a torcer e confirmar que pelo menos o enredo
tem a decência de não manchar a boa memória que temos do original,
esquivando-se de qualquer tipo de alusão direta ao seu predecessor. O tal filho
do título não é uma referência ao herdeiro do personagem Stanley Ipkiss que
Carrey eternizou, até porque ele termina o filme sem planos de formar uma
família, mas sim faz uma ligação com o verdadeiro dono da máscara, o deus Loki.
O roteiro de Lance Khazei tem uma introdução passada em um
museu no qual um professor está fazendo explanações para um grupo a respeito de
peças da antiguidade, entre elas a tal máscara criada pelo deus nórdico Odin
(Bob Hoskins), este que surge de vez em quando como se fosse uma projeção
holográfica para seu filho Loki (Alan Cumming), a quem tal objeto foi
especialmente confeccionado. O problema é que o rapaz é meio rebelde e avoado e
perdeu o artefato, sendo obrigado pelo seu pai a encontrá-lo o mais rápido
possível. Ainda que o velho com seus poderes saiba o paradeiro, sua intenção é
que seu filho finalmente aprenda a ter juízo e responsabilidades. No original,
a máscara era um objeto histórico, de origem viking e ligado a rituais, agora ele
já virou caso literalmente de outro planeta obrigando Loki a vagar pela Terra
em sua busca. Em meio a tanta confusão visual e narrativa, pode passar batido
que esta relação sobrenatural entre pai e filho é o único ponto relevante do
roteiro que não se esforça a desenvolvê-lo. Mas voltando ao enredo, o cachorro
Ottis é quem encontra primeiro o disfarce e leva para seus donos, o pacato
casal Tonya (Traylor Howard) e Tim Avery (Jamie Kennedy), ela louquinha para
ser mamãe enquanto ele ainda não se sente preparado para ser pai,
principalmente porque sua carreira como cartunista de TV não decola e ele
deseja que seu filho tenha orgulho dele e não vergonha de seu fracasso. O rapaz
recebe a máscara com ironia, afinal já disse mil vezes ao cãozinho que se for
roubar algo que ao menos seja alguma coisa valiosa, mas no final das contas
resolve utilizá-la em uma festa Halloween. Assim que a coloca imediatamente ele
vira outra pessoa, extrovertida e capaz de colocar centenas de pessoas para
dançar conforme seus passos, arrancando elogios no dia seguinte quanto ao seu
desempenho na pista. Vale um parêntese para deixar registrado o péssimo visual
do rapaz quando transformado, aparentando estar usando uma chinfrim máscara
carnavalesca adornada por uma cabeleira ruiva idem. Medonho! Quando finalmente
decide ceder aos anseios da esposa e tentar engravidá-la, Tim resolve usar a
máscara, talvez por sentir que com ela ganha mais autoconfiança. O fato é que
só foi preciso uma tentativa e Tonya engravidou e logo pelos primeiros
sintomas, como vomitar bolhinhas de sabão, já dava para sentir que um bebê
diferente estava à caminho. Alvey (papel revezado pelos gêmeos Ryan e Liam Falconer)
nasceu aparentemente como uma criança normal, porém, dotado de poderes
especiais, como se fosse uma herança genética do disfarce que seu pai usou
quando o concebeu. Pouco a pouco ele vai dando sinais de que é diferente, mas o
ápice só ocorre em uma ocasião em que ficou sozinho com seu pai enquanto sua
mãe viajava a trabalho. De inflar a cabeça feito uma bexiga a passear pela casa
saltitando pelas paredes, chega um ponto que Tim já não sabe mais o que fazer,
além do estresse de tentar recuperar sua carreira que, ironicamente, irá
reascender graças a inspiração que virá do próprio pimpolho endiabrado.
Abobalhado, Tim não percebe as causas de Alvey ser assim, mas Ottis, bem mais esperto, logo descobre o segredo e resolve usufruir dos poderes da máscara para se vingar do bebê que tem recebido muito mais atenção dos seus donos. O cão é o vilão? Ou é o Loki, embora sua missão seja em nome da paz dos humanos? Nenhum dos dois. O lado malvado desta produção é representado pelos produtores e companhia bela que resolveram tirar leite de pedra e acharam que abusando do colorido e dos efeitos computadorizados conseguiriam enganar o público. Tentando manter a vibe surreal do original, com influência em cartoons da TV, este filme atira para tudo quanto é lado sem ter um alvo definido. É perceptível os esforços em reativar a memória dos espectadores abusando de piadas já vistas na comédia anterior, mas a maioria soa como fake, algo propositalmente inserido para forçar o riso fácil, e o pior, tudo com uma injeção extra e desnecessária de adrenalina que fazem os personagens parecerem estar tendo um ataque epilético quando munidos dos poderes ocultos. O bebezinho, o real protagonista teoricamente, nada mais é que um boneco com o qual a equipe de efeitos (ou seriam defeitos?) especiais se divertiu controlando a seu bem querer, assim como fez com o cachorro. Aliás, a todos que usaram o disfarce facial nesta produção faltou uma das principais características do Máskara segundo o perfil criado para os cinemas em 1994: seu humor e ações politicamente incorretas, reforçando assim o caráter estritamente infantil da obra. O Filho do Máskara reúne todos os elementos necessários para atrair a atenção da criançada, não esquecendo nem mesmo de adicionar um bichinho fofinho à narrativa, diga-se de passagem, melhor ator que os próprios humanos, mas por outro lado peca em alguns aspectos como o uso de elementos que remetem a violência, como explosões e armas, piadas escatológicas, como o exagero da clássica cena do papai inexperiente trocando fraldas e levando um super banho de urina, e ainda as citações a sucessos do cinema, como relembrar o estilo John Travolta em sua fase discoteca ou uma alusão ao terror O Exorcista. De qualquer forma, tem louco para tudo e criancinhas inocentes espalhadas por aí para talvez acharem alguma graça nisso tudo e para aqueles que costumam criticar as dublagens brasileiras, vale o lembrete de que Loki “ganha vida” com a voz do roqueiro Supla. A que ponto chegamos! Em meio a tantos pontos a serem analisados elogiar semelhante coisa não é um bom sinal.
Abobalhado, Tim não percebe as causas de Alvey ser assim, mas Ottis, bem mais esperto, logo descobre o segredo e resolve usufruir dos poderes da máscara para se vingar do bebê que tem recebido muito mais atenção dos seus donos. O cão é o vilão? Ou é o Loki, embora sua missão seja em nome da paz dos humanos? Nenhum dos dois. O lado malvado desta produção é representado pelos produtores e companhia bela que resolveram tirar leite de pedra e acharam que abusando do colorido e dos efeitos computadorizados conseguiriam enganar o público. Tentando manter a vibe surreal do original, com influência em cartoons da TV, este filme atira para tudo quanto é lado sem ter um alvo definido. É perceptível os esforços em reativar a memória dos espectadores abusando de piadas já vistas na comédia anterior, mas a maioria soa como fake, algo propositalmente inserido para forçar o riso fácil, e o pior, tudo com uma injeção extra e desnecessária de adrenalina que fazem os personagens parecerem estar tendo um ataque epilético quando munidos dos poderes ocultos. O bebezinho, o real protagonista teoricamente, nada mais é que um boneco com o qual a equipe de efeitos (ou seriam defeitos?) especiais se divertiu controlando a seu bem querer, assim como fez com o cachorro. Aliás, a todos que usaram o disfarce facial nesta produção faltou uma das principais características do Máskara segundo o perfil criado para os cinemas em 1994: seu humor e ações politicamente incorretas, reforçando assim o caráter estritamente infantil da obra. O Filho do Máskara reúne todos os elementos necessários para atrair a atenção da criançada, não esquecendo nem mesmo de adicionar um bichinho fofinho à narrativa, diga-se de passagem, melhor ator que os próprios humanos, mas por outro lado peca em alguns aspectos como o uso de elementos que remetem a violência, como explosões e armas, piadas escatológicas, como o exagero da clássica cena do papai inexperiente trocando fraldas e levando um super banho de urina, e ainda as citações a sucessos do cinema, como relembrar o estilo John Travolta em sua fase discoteca ou uma alusão ao terror O Exorcista. De qualquer forma, tem louco para tudo e criancinhas inocentes espalhadas por aí para talvez acharem alguma graça nisso tudo e para aqueles que costumam criticar as dublagens brasileiras, vale o lembrete de que Loki “ganha vida” com a voz do roqueiro Supla. A que ponto chegamos! Em meio a tantos pontos a serem analisados elogiar semelhante coisa não é um bom sinal.
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