NOTA 3,0 Drama reúne bons ganchos dramáticos, mas desperdiça todos em trama superficial e talhada para mocinha brilhar |
Um ator depende de um bom filme
para agregar algo a mais ao seu currículo ou é o longa em si que precisa de um
nome de um artista de peso ou em evidência para tornar-se realidade? São
inúmeros os exemplos de produtos que nasceram da junção destas duas
necessidades e Doces Encontros é um deles. Com a Saga Crepúsculo ainda dando seus primeiros passos cinematográficos,
mas já ostentando uma enorme legião de fãs, a atriz Kristen Stewart não dormiu
no ponto e procurou participar paralelamente de projetos menores e
independentes, assim não comprometeria sua imagem de ídolo dos teens e teria a
chance de interpretar papéis mais densos que seriam importantes para sua
experiência profissional, mesmo que fossem fracassos de bilheteria, seguindo
assim os passos de atrizes consagradas como Nicole Kidman e Cate Blanchett, mas
é óbvio que ainda tem chão para a jovem chegar aos pés delas. Todavia, ela se
esforçou chegando ao ponto de cortar suas longas madeixas para dar mais
veracidade ao sofrimento de Georgia Kaminski, uma adolescente de 15 anos que
sofre de um tipo de atrofia neuromuscular que compromete sua locomoção, dicção
e com o tempo pode causar sérios problemas cardíacos e até levar a morte.
Ciente de seu estado de saúde delicado, ela leva uma vida melancólica ao lado
dos pais. Sua mãe, Violet (Talia Balsam) é fotógrafa e adora que a filha pose
para ela como modelo, assim documentando com imagens a progressão ou as vezes
as leves regressões de sua doença sonhando que um dia esse trabalho seria
reconhecido internacionalmente lhe trazendo fama travestida de serviço social.
Enquanto esse dia não chega, Geórgia ajuda a avó Marg (Elizabeth Ashley) a
vender fotos e bugigangas em uma
feirinha e é lá que ela conhece Beagle Kimbrough (Aaron Stanford), um jovem um
pouco mais velho que ela que trabalha na mesma escola em que ela estuda, mas
até então eles nunca haviam conversado. Afoita, a garota acaba pedindo ajuda do
rapaz para fazer a lição de casa já que nem sempre consegue escrever, mas na
realidade ela tem segundas intenções. Sabendo que sua vida é curta ela não vê a
hora de saber como é se apaixonar. Beagle reage bem a investida da moça, mas
seu momento de vida não parece oportuno para começar um relacionamento. Há
pouco tempo sua mãe faleceu e parece haver um conflito velado entre os outros
membros de seu clã.
Desde que a mãe ficou gravemente,
Beagle não teve praticamente tempo para cuidar de si mesmo. O irmão Guy (Jayce
Bartok) partiu há três anos para tentar realizar o sonho de ser um astro da
música na cidade grande, mas agora está de volta e aparentemente disposto a
fincar raízes visto que rapidamente procura Stephanie (Miriam Shor), a antiga
namorada que abandonou sem mais nem menos logo após pedi-la em casamento. Já o
pai dos rapazes, Easy (Bruce Dern), preferia dedicar-se ao seu açougue a cuidar
da esposa, chegando ao ponto de confessar que não suportava nem mesmo dividir
mais a cama com ela e que era um alívio que o filho caçula cuidava e tomava
todas as providências necessárias para o tratamento da mãe. Mesmo com toda a
sobrecarga de responsabilidades, Beagle levava tudo numa boa, só demonstrava um
pouco de mágoa do irmão por ele ter partido justamente em um momento difícil
para todos da família, mas ele perde a cabeça quando descobre um segredo a
respeito do pai. A trama roteirizada por Jayce Bartok é basicamente açúcar
puro, mas a diretora Mary Stuart Masterson não soube fazer o doce perfeito.
Sim, a atriz que ficou famosa no passado com filmes como Tomates Verdes e Fritos fez o mesmo caminho que tantos outros da
sua geração: experimentar o outro lado das câmeras. Ela aposta em um estilo
neutro de filmagem, estética de telefilmes, mas sem os cortes perceptíveis para
intervalos, mas não consegue arrancar emoção de seu elenco que parece trabalhar
no piloto automático. Aí voltamos ao início do texto. Kristen, a queridinha dos
teens americanos e quiçá do mundo todo, procurava mostrar que podia ir além de
flertar e fazer caras e bocas diante de vampiros e lobisomens. Já os produtores
do longa, provavelmente cientes do roteiro pobre que tinham em mãos, sabiam que
só uma figurinha quente do momento poderia fazer com que o longa ao menos
cobrisse suas despesas. Juntaram a fome com a vontade de comer, não é a toa que
a jovem atriz é destaque na publicidade do filme sendo que o drama de sua
personagem é paralelo ao mote principal. Ou deveria ser assim. Embriagados pelo
clima bucólico da cidade interiorana onde a narrativa se desenvolve, tocados
pelo gancho de um indivíduo doente e para os fãs de Kristen um deleite a mais,
é fácil em um primeiro momento não identificarmos problemas narrativos, mas
difícil mesmo é chegar ao final e negar que a obra é irregular.
Os problemas começam pelos
desperdícios de caminhos dramáticos que a premissa abria frente a favor de uma
condução mais açucarada, afinal o público-alvo da fita quer ver Kristen feliz e
beijando na boca no final. Realmente a atriz se sai muito melhor que de
costume, mas sem dúvida seu personagem cresce na trama graças a sua química com
Stanford que interpreta um jovem que convence com sua natural introspecção e
surpreende quando resolve colocar para fora tudo o que está sentindo em relação
ao mal estar que envolve sua família. O casal protagoniza uma bela cena na qual
estão passeando de moto e ela abre os braços como se estivesse se livrando de
amarras deixando a brisa envolvê-la. Realmente pela primeira vez ela se sentia
feliz e um ser humano comum como outro qualquer. De qualquer forma, esse
romance é pequeno diante do que poderia ser desenvolvido com os conflitos dos Kimbroughs.
Poderia ser mais explorada a pressão que Beagle sente por ter cuidado durante
anos da mãe o que consequentemente o afastou do pai, este que também sofria a
seu modo com a situação. Os tão rechaçados flashbacks bem que viriam a calhar
neste caso trazendo altas doses de emoção a trama que acaba não conseguindo
envolver completamente o espectador que assiste passivamente a discussão entre
pai e filho sem ter subsídios suficientes para tomar partido de um ou de outro.
Os problemas de Guy também deixam a desejar. Não convence tentando voltar a
fazer parte de sua família tampouco arriscando reatar com a ex-namorada que
sabiamente deu novos rumos a sua vida ao invés de esperar por algo incerto. Por
fim, na casa dos Kaminskis, o conflito entre mãe e filha também é jogado fora.
A vaidade de uma explorando a deficiência da outra poderia render um bom caldo,
mas quando as coisas vão esquentar a diretora parece temer o fogo e logo aciona
o extintor. Até o curioso quadro de saúde da adolescente merecia um tratamento
com mais seriedade trazendo mais informação ao público, mas a curta duração da
produção (não chega a 90 minutos) já denuncia o seu poder de alcance. Deixando
os fãs de Kristen satisfeitos, ao absurdo ponto de alguns manifestarem
indignações quanto a sua ausência nas premiações, os objetivos foram alcançados.
O título Doces Encontros por fim cairia melhor a uma comédia romântica
óbvia envolvendo culinária. “Encontros Insossos” seria uma melhor opção.
Um comentário:
Gostei da atriz em O Quarto do Pânico.....no resto, inclusive em seu grande sucesso achei mais ou menos.
Se o filme errou no caminho.....piorou minha chance de assistir.
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