Nota 4 Reciclando conto do falso milagreiro, longa perde rumo tentando ser mais do que pode
A perda da fé abrindo portas para as forças do mal penetrarem é um dos temas mais corriqueiros das produções de terror e suspense, mas a crença exagerada também pode se tornar um problema. A enganação de populares através de cultos religiosos é o cartão de visitas do suspense O Visitante. Baseado no livro homônimo de Frank Peretti, a história roteirizada por Brian Godawa tem suas ações concentradas na pequena cidade de Antioch que há alguns anos teve sua aparente tranquilidade abalada por causa da morte de uma mulher em circunstâncias estranhas. Sabe-se que ela foi assassinada, mas o crime acabou sendo arquivado por falta de pistas, o que levou o pastor Travis Jordan (Martin Donovan) a se decepcionar e abandonar a religião, afinal Deus o desamparou no momento em que mais clamava por justiça.
Anos depois, o jovem Michael Eliot (Noah Segan) sofre um grave acidente de carro a noite numa estrada deserta, mas milagrosamente escapa da morte. Ele se lembra que enquanto estava no local do incidente teve uma visão. Três homens surgiram do nada e um deles o avisa que Ele está chegando à cidade. Na mesma noite o trio também é visto na igreja e o zelador do local que sofria com problemas nos joelhos repentinamente se cura e novamente é repetido que Ele está chegando. Tais notícias se espalham com rapidez pela região e a população fica alvoroçada. Jordan é procurado por outros membros religiosos para debater o assunto e seu ceticismo é colocado em xeque, ainda mais depois que ele próprio teve a visão misteriosa. Enquanto o grupo conversa a portas fechadas um novo milagre ocorre dentro da própria igreja e em um curto espaço de tempo também acontece em uma loja de conveniências.
As evidências apontam que os eventos inexplicáveis coincidem com a chegada de um novo morador à cidade, o jovem Brandon Nichols (Edward Furlong), que diz trabalhar em uma fazenda nas redondezas. O forasteiro parece conhecer bem os moradores locais e não demora muito para que consiga reunir um grande número de pessoas em torno de si em busca de suas mensagens de fé e curas milagrosas. O próprio Nichols diz que a cidade de Antioch estava na escuridão antes de sua chegada e o povo tem sua fé reacendida com um milagre aqui e outro acolá. Contudo, não espere grandes aprofundamentos nesta inflamada discussão, mesmo que o rapaz em suas apresentações tenha um comportamento semelhante a certos pastores evangélicos que se apresentam na televisão oferecendo coisas impossíveis.
Até o xerife Brett Henchle (Richard Tyson) passa a acreditar em tudo isso, mas Jordan tem certeza de que existem coisas erradas nesta história e não vai deixar de investigar até o fim e vai contar com a ajuda de Morgan (Kelly Lynch), a mãe de Eliot que também não está convencida de que um profeta enviado dos céus está entre eles. Depois da primeira e grande reunião de Nichols com seus fiéis, a trama sofre uma ligeira queda de interesse pelo fato de enveredar por uma trama de investigação confusa com cartas nas mangas para amarrar a atenção e mudança de comportamento de certos personagens que não parecem muito verossímeis. Infelizmente, o diretor Robby Henson acaba reunindo uma grande quantidade de ganchos narrativos e parece não saber o que fazer com eles no final. Milagreiro com olhar demoníaco, anjos mensageiros sinistros, curas inexplicáveis, possessões, assassinatos e desaparecimentos, charlatanismo e discursos profanos. Tem de tudo um pouco no longa.
Henson começa este seu trabalho de maneira promissora, ainda que a introdução falando da morte da mulher de Jordan inicialmente não pareça ter ligações com os eventos misteriosos que passam a acontecer anos depois. Ele consegue deixar o espectador intrigado com a visão do trio de entidades e constrói um bom clima para a trama apostando na cenografia de uma cidade que parece parada no tempo e perdida em uma região campestre, o palco ideal para um charlatão fazer suas aparições e abusar da ingenuidade dos moradores. Embora no final das contas seja difícil alguém se sentir plenamente satisfeito com o filme, O Visitante não é dos piores de sua linhagem, cumprindo de forma razoável seus objetivos. O diretor talvez tenha procurado poupar o espectador da violência gráfica excessiva, mas sua honrosa opção por investir mais no desenvolvimento da narrativa acabou terminando frustrada caindo numa resolução fácil e que recorre a clichês. De qualquer forma, um produto que entretém os fanáticos pelo gênero ou temática.
Suspense - 104 min - 2006
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