domingo, 25 de abril de 2021

TUDO PARA FICAR COM ELE


Nota 1 Unindo clichês de comédias românticas e humor apelativo, longa perde o rumo totalmente


No início dos anos 2000 a atriz Cameron Diaz já tinha seu talento reconhecido e era sondada para atuar em produções de maior relevância que suas habituais comédias românticas, assim não há justificativas para ter aceito estrelar Tudo Para Ficar Com Ele, uma verdadeira mancha em seu currículo. Aparentemente a ideia seria experimentar um novo tempero para o manjado gênero sem excluir o felizes para sempre, mas a receita falhou e um sabor amargo de decepção é inevitável. A trama gira em torno de amigas que compartilham as mesmas opiniões e sentimentos quanto aos relacionamentos amorosos e se aventuram para conquistar cada uma seu par ideal. Bem, elas não são mais menininhas, já passam da casa dos trinta anos, mas a maturidade parece passar bem longe delas. Comportando-se como adolescentes vivendo suas primeiras experiências amorosas, elas alternam ingenuidade com altas doses de libido. Diaz encabeça o trio interpretando Christina, uma moça linda, gostosa e divertida, o tipo que tem todos os parceiros que quiser a seus pés, ainda mais porque ela só pensa em curtir a vida com liberdade e foge de compromissos sérios. Courtney (Christina Applegate) também pensa e age de maneiras semelhantes, mas já faz planos de encontrar um companheiro fixo e sossegar, mas é claro que quanto mais tarde isso acontecer melhor. Por fim, Jane (Selma Blair) está sofrendo com o término de um namoro, mas nada que a impeça de procurar diversão e novas aventuras sexuais.

Certa noite, as moças vão a uma balada dispostas a beber e dançar muito, além de ampliar suas listas de conquistas, nada fora de suas rotinas, isso se Christina não tivesse conhecido Peter (Thomas Jane), um bonitão com pinta de pegador que surpreendentemente esnoba a loiraça que desse momento em diante não o tira da cabeça confundindo seus sentimentos entre orgulho ferido ou paixão verdadeira. Disposta a conquistá-lo de qualquer maneira, ela viaja com as amigas rumo a uma cidadezinha próxima a São Francisco onde descobre que o irmão do rapaz irá se casar, uma ótima oportunidade para declarar seu amor ou no mínimo dar a chance dele se redimir do gelo que lhe deu. No entanto, na afobação não checaram as informações corretamente, pois quem vai se casar é o próprio Peter. Já é de se esperar que o matrimônio vai por água abaixo, o problema é a maneira ridícula com que os ventos sopram a favor da protagonista. Tudo é muito simplificado e porque não dizer até ofensivo à inteligência do espectador, culpa do roteiro mal estruturado de Nancy Pimental, estreando nos cinemas após a experiência com a polêmica e anárquica série de TV animada "South Park". É perceptível que a escritora procurou manter o estilo com o qual criou afinidade sem se preocupar com fatores de censuras, no entanto, não soube definir com qual público desejava dialogar com esta comédia romântica que foge dos padrões que consagraram o gênero.


Se encontra aqui e ali referências conhecidas de histórias do tipo, mas no geral o mau gosto é predominante e a evolução da trama é totalmente comprometida por não criarmos vínculos com os personagens que acabam protagonizando uma série de esquetes pretensiosamente divertidos, na verdade uma sequência de piadas vexatórias desconectadas. As protagonistas passam por diversos apuros a caminho do tal casório, situações idiotas que nos fazem torcer para que sejam estupradas, assaltadas ou até mortas, qualquer coisa que nos faça se importar com suas vidas insignificantes. Pimental errou feio ao retratar as mulheres balzaquianas solteironas como desmioladas, descontroladas emocionalmente e, o pior de tudo, por vezes se portando como prostitutas. Pode até ser que aconteça por aí, mas convenhamos que não é lá muito natural encontramos amigas conversando em locais públicos e em alto e em bom som sobre tamanhos e potências dos pênis de seus ficantes. Pimental vai além dos diálogos chulos e até cria um número musical sobre o assunto dentro de um restaurante, uma das cenas mais constrangedoras da carreira de Diaz, e olha que ela já desfilou com um topete modelado com esperma em Quem Vai Ficar Com Mary?, comédia que a catapultou ao sucesso em 1998. Aliás, o roteiro de Pimental poderia tranquilamente ser mais  um dos trabalhos estapafúrdios dos irmãos Bobby e Peter Farrelly, visto que entre as diversas cenas grosseiras temos, por exemplo, Jane virando atração pública ao ser flagrada tendo certos probleminhas enquanto fazia sexo oral em um parceiro com um piercing bem naquele lugar e a mesma se envergonha quando precisa levar um vestido na lavanderia para limpar a mancha da ejaculação de um qualquer. 

O diretor Roger Klumb já foi bem mais feliz ao abordar a promiscuidade e até mesmo os desejos sexuais femininos no sedutor Segundas Intenções. Já nesta comédia não encontramos o menor vestígio de seu outro trabalho, nem mesmo o apuro técnico. Tudo é filmado como se fosse um episódio de seriado de televisão de quinta categoria, aliás, a curta duração da fita e o ritmo enfadonho passam realmente a ideia de um fiapo de história esticado ultrapassando seus limites. Certamente acreditaram que bastava a carismática Diaz para segurar o rojão. Exagerando nos discursos (e também visualmente) sobre liberdade sexual feminina, a produção em alguns momentos é quase como uma versão da comédia juvenil American Pie sob a ótica das mulheres. Pelo que já foi citado de momentos constrangedores, isso sem falar em certa bagunça que as madames aprontam em um banheiro público, por pouco elas também não dão um jeito de se masturbar com uma torta. Pode parecer bobagem, mas depois de cantarolarem sobre a possibilidade de um pênis caber ou não dentro delas tudo é possível. É uma pena que o argumento principal seja tratado com total deboche. No fundo Christina, e talvez suas amigas também, sofra com algum tipo de distúrbio ou trauma que a impede de se entregar totalmente a um relacionamento, uma espécie de bloqueio sentimental para evitar futuras decepções. Pela personalidade forte e destemida, também deve ter receio de ser dominada ou controlar a relação, não saberia equilibrar forças e uma crise seria inevitável. 


Diaz, obviamente muito mal dirigida, não sabe trazer estopo emocional a sua personagem e faz as mesma caras e bocas de sempre enquanto Blair prova mais uma vez sua inexpressividade. Feliz, triste ou irritada está sempre com o mesmo semblante apático. Applegate é de longe a que se sai melhor do trio e apesar de combinar com as comédias românticas nunca teve a oportunidade de se destacar, o que poderia ter acontecido aqui caso amparada por um bom texto ou direção. E o que falar de Thomas Jane? Fora a pinta de galã, não vemos motivos para alguém fazer loucuras por sua atenção ainda mais quando o conhecemos um pouco mais por meio das conversas que tem com o amigo Roger, uma ponta de Jason Bateman antes da fama. Entre os papos está uma discussão filosófica sobre o porquê de uma indústria de alimentos alertar nas embalagens de seus produtos sobre o risco de diarreia (oi?)! E assim, buscando unir o açúcar dos romances tradicionais estrelados por gente como Sandra Bullock ou Julia Roberts, e a escatologia característica dos citados Farrelly, excluindo suas piadas sarcásticas obviamente, Tudo Para Ficar Com Ele caminha em total descompasso rumo a m... Já dá para entender.

Comédia romântica - 84 min - 2002

TUDO PARA FICAR COM ELE - Deixe sua opinião ou expectativa sobre o filme
1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
Votar
resultado parcial...

Nenhum comentário: