quarta-feira, 25 de maio de 2016

CAKE - A RECEITA DO AMOR

NOTA 3,0

Além de apostar em clichês e
personagens estereotipados,
longa fica devendo em humor e
seu romantismo não convence
Geralmente o ingrediente básico de uma comédia romântica é uma mocinha a procura de seu príncipe encantado, mas o gênero está tão saturado que nem mesmo as donzelas rebeldes conseguem mais injetar algum ânimo em histórias do tipo. Isso acontece porque o comportamento fora dos padrões delas só vai até a página dois, ou melhor, até lá pelos vinte ou trinta minutos do filme quando fatalmente elas encontram os amores de sua vida. Obviamente elas vão se fazer de difícil ou até se entregam ao amor rapidamente, mas não tardam a cometer algum erro para os mocinhos darem o fora da relação, mas nada que não se resolva nos cinco minutos finais. Quantas produções seguem uma estrutura semelhante? Pois é, Cake – A Receita do Amor não foge a regra, porém, peca por ter raros momentos engraçados e uma protagonista que não é das mais cativantes. Pippa (Heather Graham) é uma solteira convicta que adora levar uma vida completamente livre de regras e limites, o que implica poder ter a companhia íntima de um ou mais homens por noite procurando nunca repetir o cardápio. Para demarcar sua personalidade, o longa começa com ela chegando atrasada ao casamento de uma amiga, provavelmente após mais uma noitada daquelas finalizada com um salto de pára-quedas. Como madrinha da noiva ela deveria respeitar a cerimônia, mas a todo o momento faz questão de expor seus comentários irônicos quanto ao conceito do que é um casamento e tudo o que o envolve, até que chega no fim da festa completamente bêbada e tentando encontrar ao menos um convidado com quem ela já não tivesse dormido. Todavia, sua vida louca está com os dias contados. Seu pai, o Sr. Malcolm (Bruce Gray), acaba sofrendo um enfarte e terá que ter um substituto no comando de uma revista justamente sobre casamentos. Embora deteste o tema, Pippa, que é formada em jornalismo, resolve se oferecer para ser a diretora temporária com o intuito de melhorar seu relacionamento com o pai que nunca aprovou sua vida sem limites. Com ideias revolucionárias que no fundo iriam contra os objetivos da publicação, a moça acaba conseguindo convencer seus colegas de trabalho que o foco deveria ser falar sobre e para a mulher moderna que está mais preocupada em ser livre e bem sucedida profissionalmente. Para ela, escolher docinhos, decoração ou trajes de gala é uma forma que o mercado encontrou para lucrar e iludir as pessoas que não param para pensar que estão prestes a se unirem a estranhos.

Seu trabalho no comando da revista será acompanhado bem de perto por Ian (David Sutcliffe), justamente o rapaz que ela paquerou na última festa de casamento que compareceu. Braço direito do diretor da revista, ele é conservador e conhece a fama liberal da moça, tanto que conseguiu fugir de suas garras no primeiro e casual encontro, ainda que não soubesse quem ela era, mas a primeira impressão é a que fica, seja ela herdeira da editora ou não.  Para não fugir da receita de sucesso, é óbvio que a revista sob a batuta de Pippa será um enorme sucesso. Bem, de fato isso acontece, é previsível, mas em um primeiro momento a edição inaugural gera críticas negativas principalmente de Roxane (Cheryl Hines), a produtora da publicação. Paralelo ao fracasso profissional, o aparente inabalável escudo contra casamentos da jovem começa a mostrar sinais de desgaste quando ela percebe que outras amigas solteironas convictas acabaram cedendo ao amor, todas menos Lulu (Sandra Oh), mas esta mulher é tão insossa que só mesmo um homem desesperado para casar poderia tomar tal decisão. E acredite, tem louco para tudo. Sentindo-se um peixe fora d’água e quase chegando aos 30 anos de idade, finalmente Pippa passa a ver Ian com outros olhos e ele também parece disposto a se aproximar dela, mas aos poucos o rapaz vai demonstrando não ser uma pessoa das mais íntegras. Além de vira e mexe estar se encontrando com sua ex-mulher, o vice-presidente do grupo editorial (que parece sobreviver à custa de uma única publicação) está trabalhando secretamente para Bob Jackman (Carlo Rota), um rico empresário que já possui pouco mais da metade das ações da empresa e está torcendo para o fracasso da revista de casamentos para finalmente Malcolm desistir de trabalhar e vender suas ações. Essa foi a gota d’água para definitivamente Pippa esquecer qualquer mínima esperança que tinha na instituição do casamento e concentrar todas as suas forças para recuperar e modernizar a revista e assim evitar que seu pai desista do sonho de toda uma vida. Bem, a sinopse é bem básica e promete um filme igual a tantos outros do gênero. Realmente, o longa dirigido por Nisha Ganatra não traz novidade alguma, mas consegue ficar um dois degraus abaixo do patamar de regular. Heather Graham está há anos na praça, mas é um nome que não aconteceu. Geralmente atuando em comédias com piadas pouco inspiradas, erotizadas ou até mesmo escatológicas, a atriz parece estar condenada a viver para sempre o papel da mocinha avoada pelo seu visual angelical, algo acentuado pelos seus grandes e brilhantes olhos azuis. Ela não compromete a fita, mas existe algo nela que incomoda, talvez sua interpretação no melhor estilo piloto automático. 

Bem, julgar interpretações neste caso é em vão. Todos os personagens são estereotipados no roteiro de Tassie Cameron e interpretados sem muito esmero. Além da protagonista desregrada que inevitavelmente entrará nos eixos após um choque de realidade, o galã aparentemente mau caráter (nem dá para saber se realmente Ian é ganancioso devido a má construção do personagem) no final das contas irá se redimir, conclusão com direito a cenário paradisíaco para emoldurar o encontro do casalzinho, apesar de um estranho objeto em cena se destoar do conjunto. Temos também a amiga de todas as horas cujos conselhos geralmente são descartáveis, o cara do trabalho pelo qual todas as mulheres suspiram e toda comédia romântica que se preze tem que ter um homossexual em cena para dar uma “purpurinada” no ambiente quando o clima está tenso, mas neste caso até ele não consegue brilhar visto a falta de humor da narrativa. Enredo previsível e personagens mal construídos ou genéricos infelizmente já se tornaram problemas toleráveis do gênero visto a mediocridade da maioria dos longas de comédia romântica, mas o que mais incomoda em Cake – A Receita do Amor é justamente seu título que não corresponde ao enredo. A escolha é horrível, parece ter sido feita na última hora? Neste caso a distribuidora nacional só teve culpa do subtítulo. O tal “bolo” é de fábrica, mas é curioso que chamar um filme dessa forma seria conveniente se a protagonista fosse uma doceira especializada em guloseimas de casamento, mesmo que odiasse festejos do tipo. Por mais que não sejam intelectuais que vão assistir um produto como esse, o mínimo que se espera é que respeitem a inteligência do público e seja escolhido um título que sintetize a ideia principal, algo básico para se vender um filme. Não é a toa que a obra foi lançada em silêncio no Brasil diretamente em DVD e nem mesmo os fãs românticos parecem terem sentido muita vontade de experimentar o sabor deste bolo. Literalmente ofereceram gato por lebre, ou melhor, bolo por revista. Até o trocadilho sai tosco. De qualquer forma mata o tempo livre dos aficionados por receitas açucaradas, ainda que nem mesmo o romance do casal principal consiga convencer o espectador plenamente. 

Comédia romântica - 94 min - 2005 

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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