NOTA 2,5 Versão feminina das comédias que investem em personagens mais maduros decepciona por extrapolar limites da liberalidade |
No final dos anos 90, American Pie mexeu com os hormônios do
público jovem, principalmente dos meninos, e uma série de produtos similares
surgiu. Pouco tempo depois, essa turminha cresceu e então o gênero comédia
voltou suas atenções para os homens acima dos trinta anos de idade, assim eles
se viram bem representados em produções como O Virgem de 40 anos, A Ressaca e Passe
Livre. Mas e as mulheres nesta história? As órfãs dos antigos filmes
água-com-açúcar protagonizados por Julia Roberts, Meg Ryan, Sandra Bullock e
companhia bela simpatizaram-se com os dilemas vividos pelo grupo feminino
protagonista de Missão Madrinha de Casamento e assim um novo caminho para o
humor no cinema parece ter sido inaugurado, embora tentativas de emocionar e
divertir o público com os problemas e as alegrias de grupos de amigas de longa
data não sejam nenhuma novidade. É por esse caminho que Quatro Amigas e um
Casamento tenta conquistar principalmente as plateias femininas que já passaram
da idade de acreditar em príncipe encantado, mas infelizmente o longa não
consegue atingir plenamente seus objetivos, pelo contrário, fica muito longe de
suas pretensões. Tentando manter o espírito do citado filme das madrinhas de
casamento acrescentando ainda um quê de inspiração oriundo de Se Beber Não Case,
este trabalho escrito e dirigido por Leslye Headland, estreando como diretora, acaba
investindo muito tempo (embora a duração seja curta) em situações grotescas e
escatológicas que acabam aborrecendo ou até mesmo envergonhando o espectador
que encontra poucos motivos para se divertir. Não é a toa que sentimos a mão
pesada de um dos produtores da fita, o ator Will Ferrell, conhecido por seu
humor por vezes agressivo. Baseado numa peça teatral da própria Leslye, o
roteiro se prende ao reencontro de quatro amigas para o casamento de uma delas.
Na época do colegial, Regan (Kristen Dunst), Katie (Isla Fisher) e Gena (Lizzy
Caplan) eram garotas muito populares, conhecidas como as abelhas-rainhas, e
adoravam perturbar a gordinha e deslocada Becky (Rebel Wilson), mas mesmo assim
formavam um quarteto inseparável. Elas cresceram e certo dia uma notícia
surpreendente surge. Justamente a garota menos popular do grupo vai ser a
primeira a se casar. Essa introdução captamos em poucos minutos, mas é a partir
desse ponto que os problemas já começam a surgir.
Regan é a mulher mais bonita e desejável do grupo com sua
pele e olhos clarinhos, corpo esguio e cabelo bem tratado. Ela é a primeira a
saber do casamento da “cara de porco” (apelido da gordinha nos tempos do
colégio) e fica enciumada que justamente a amiga menos popular seja a primeira
a colocar uma aliança no dedo, ainda mais porque o noivo, Dale (Hayes
MacArthur), não é nenhum tribufu para combinar com seu par. É ensaiado então um
diálogo preconceituoso dando a entender que Regan quer jogar litros de água
fria nos ânimos de Becky insinuando que o rapaz só quer se aproveitar dela e
que o casamento não passaria de uma ilusão. A conversa não avança para este
lado clichê, porém, bem mais interessante que o escolhido por Leslye para dar
continuidade a sua narrativa. Após várias fofocas via telefone, o trio de
amigas se reúne para festejar os últimos momentos de solteirice da gordinha
feliz. Seguem-se então uma festinha pré-nupcial com muita bebida, papo furado,
vergonhosos discursos de votos de felicidade e a tradicional piada do dançarino
que chega de surpresa para tirar a roupa e atiçar a castidade da noiva. Apesar
de tais situações apontarem para uma comédia besteirol, a diretora acaba
insistindo em levar a sério demais sua obra e a todo instante tenta inserir
conflitos vazios para trazer um tom de realismo desnecessário à trama. Assim,
entre um momento feliz aqui ou ali, cada uma das amigas revela suas reais
reações diante da notícia do casório, deixando latente a insegurança que sentem
por terem sido “passadas para trás”. Nessa ladainha não chegamos talvez nem a
metade do filme e já estamos aborrecidos. O tédio aumenta ao descobrirmos o
fiapo de roteiro que tentará prender a atenção dos espectadores por cerca de
mais uma hora. Bêbadas e possivelmente drogadas, as amigas infelizes resolvem
se divertir com o vestido da noiva, obviamente fazendo piadas quanto a silhueta
avantajada da moça, e acabam estragando acidentalmente o traje. Agora elas têm
que correr contra o tempo para conseguirem reparar o que fizeram em poucas
horas antes que Becky se dê conta do que aconteceu e perceba o quanto é
desprezada por aquelas mulheres que ela inocentemente convidou para serem suas madrinhas,
teoricamente pessoas que deveriam ser próximas e a favor da felicidade da noiva.
Problemas de última hora antes de um casamento são temas recorrentes das
comédias românticas, mas é preciso saber trabalhá-los. Talvez pensando em fugir
do lugar comum, Leslye optou por mostrar que nem só de alegrias são feitos os
momentos pré-cerimônia, mas também rola muito estresse e corre-corre. O fato é
que os eventos equivocados escolhidos acabam não tendo efeitos diretos na
noiva. As madrinhas estão envolvidas em situações escabrosas simplesmente
visando seus próprios interesses que, provavelmente, nesse momento sejam afogar
suas mágoas na bebida ou achar um companheiro de última hora para não chegarem
desacompanhadas no casório. E tudo isso com um volumoso pano branco para
assombrá-las de vez em quando e lembrá-las de que precisam remendar ou
conseguir um novo vestido de noiva em poucas horas.
O elenco feminino até se esforça, ainda que as personagens
pareçam presas aos tempos do colegial, mas não consegue dar alguma dignidade a
um roteiro capenga e arrastado, prejudicado ainda mais pela edição que tenta
dar conta de tantas tramas paralelas. Sim, após a brincadeira desastrosa com o
vestido, as “abelhas-rainhas” assumem cada qual uma subtrama. Becky que
teoricamente seria o centro das atenções é jogada para escanteio, voltando
apenas nas cenas finais para a previsível conclusão, assim sendo um personagem
vazio. Katie é a beberrona do grupo, aquela ovelha negra que também é adepta de
entorpecentes e que faz escândalos sem pudor algum. Gena reencontra na véspera
do casório seu ex-namorado, Clyde (Adam Scott), por quem ainda é apaixonada,
mas problemas do passado envolvendo uma gravidez indesejada a impedem de reatar
os laços e a transformaram em uma mulher desregrada que adora começar uma
noitada sozinha e terminá-la na cama ao lado de um desconhecido. Já Reagan
assume naturalmente o papel de líder do grupo (ou talvez por ter a intérprete
de maior bagagem profissional), uma jovem desbocada e que mesmo tendo um namorado
em outra cidade se entrega literalmente a uma paixão repentina e avassaladora
por Trevor (James Marsden), um rapaz que acabara de conhecer. Ela ainda carrega
o fardo de sofrer de bulimia, um mal que se agrava no decorrer desta noite
fatídica. O pior de tudo é que todas as loucuras pelas quais elas passam nas
poucas horas que antecedem a festa, mas que para o espectador parecem vários
dias, são atitudes justificadas simplesmente pelo excesso de bebida e drogas.
Embora aposte em situações grotescas, discutíveis, muitos palavrões e apresente
as mulheres por vezes de forma repugnante, escolhas que já seriam bastante
ofensivas para o público, Quatro Amigas e um Casamento tenta nos minutos finais
entrar nos eixos de uma típica comédia romântica, mas já é tarde demais, ainda
que fique claro a mensagem de que uma mulher só será completamente feliz ao
encontrar o amor ao lado de um homem. As liberdades que a diretora tomou ao
longo de todo o filme em relação as conquistas femininas acabam sucumbidas por
uma ideia machista no final. Enfim, alternando momentos de humor, cinismo,
drama e escatológicos, o filme infelizmente nunca encontra o tom certo o que dificulta
a comunicação com quem assiste assim o espectador acaba não encontrando
subsídios suficientes para torcer pela felicidade de alguma dessas mulheres.
Bem, por esse ponto de vista até que Becky se dá bem. Pode ser a ingênua da
turma, mas pelo menos teve a esperteza de não prolongar sua despedida de
solteira e escapou do show de horrores.
Comédia romântica - 87 min - 2012
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