domingo, 10 de setembro de 2017

A BOLA DA VEZ

Nota 8,0 Esta é mais uma história de uma criança amadurecendo diante dos percalços da vida

Como é agradável quando encontramos algum filme que estava encostado na locadora ou começamos a assistir na TV sem grandes pretensões e no final das contas temos uma boa surpresa. É curioso, mas muitas produções com elenco famoso e sucesso nos cinemas não chegam aos pés de outras que são lançadas diretamente em DVD. Esse é o caso de A Bola da Vez, uma deliciosa comédia com toques dramáticos pouco conhecida e cujo único nome relevante entre os atores é o de Helena Bonham Carter, que quando não atua em algum filme do marido Tim Burton dá a oportunidade do público conhecer suas verdadeiras feições, evitando o uso de maquiagens e figurinos espalhafatosos. Aqui todo o elenco manda muito bem, mas quem rouba a cena é o ator-mirim Gregg Sulkin com um personagem que sofre com problemas comuns aos garotos de sua faixa etária, mas digamos que ele tem um dilema um tanto particular a resolver. O roteiro de Bridget O’Connor e Peter Starughan, mesma dupla que anos mais tarde concorreria ao Oscar pelo texto de O Espião que Sabia Demais, procura retratar o clima de euforia que contagiava a Inglaterra em 1966, ano em que ela sediava os jogos da Copa do Mundo. No entanto, pelo menos um habitante do país não está ligando para o evento esportivo, pois está muito mais ocupado em pensar em algo que marcará sua vida. Bernie Reubens (Sulkin) é um garoto judeu que não é feliz totalmente. Ele não é popular na escola, é ofuscado pelo irmão mais velho, Alvie (Ben Newton), e seus pais, Manny (Eddie Marsan) e Esther (Carter) também parecem não ter muita consideração por ele. Todavia, ele acredita que tudo será diferente em pouco tempo, assim que ele comemorar o seu Bar Mitzvah, uma tradição judaica que marca a transição dos garotos para a vida adulta. O jovem estava animado com seu ritual de passagem acreditando que tendo o direito de assumir suas responsabilidades e atos finalmente receberia o respeito e notoriedade que merecia. Contudo, em meio a empolgação de organizar casa detalhe da festa, uma notícia lhe chega aos ouvidos como uma verdadeira bomba: a data da comemoração coincide com a final do campeonato de futebol.

Se a Inglaterra se classificasse para o último jogo iria por água abaixo o grande dia de Bernie, pois todas as atenções estariam voltadas para o evento esportivo. Por se tratar de uma comemoração religiosa, o Bar Mitzvah não pode ser realizado em data diferente do aniversário e então o garoto inocentemente começa a tentar buscar o máximo possível de informações sobre futebol para compreender melhor os jogos e as estatísticas para assim descobrir quais as reais chances de seu país vencer o campeonato. Além de torcer contra sua pátria enquanto todos a sua volta vibram e içam bandeiras nas janelas, Bernie ainda terá que lidar com outros infortúnios pelos quais sua família passa, fatos que pouco a pouco vão minguando a grandiosa festa que ele sonhava em ter seguindo as tradições judaicas de proporcionar comemorações suntuosas para apresentar seus herdeiros à sociedade. O diretor Paul Weiland, de O Melhor Amigo da Noiva, consegue equilibrar seu trabalho perfeitamente entre momentos de humor lacônico e outros de drama leve através de diálogos e situações bem construídos e de quebra ainda dá uma pincelada singela sobre fatos históricos que dependendo do ponto de vista podem não ser tão importantes, mas sem dúvida dão um charme a mais à obra principalmente quando são inseridos vídeos de arquivos dos jogos da época. Podemos dizer que no fundo este trabalho é uma versão diferenciada de um viés corriqueiro em filmes de guerra. Aqui temos mais uma criança amadurecendo, mesmo que a força, diante dos fatos que a vida lhe expõe e tendo como pano de fundo um fato histórico. Divertido e emocionante, A Bola da Vez é recomendado para todas as idades, mas é bem interessante para aqueles que sempre querem que as coisas sejam ou aconteçam de acordo com suas vontades, ou seja, perfeito para formar o caráter de crianças que já dão sinais de soberba extrema, embora muitos adultos ainda precisem aprender a baixar a bola. Como fica claro no final, às vezes menos é mais.

Comédia - 93 min - 2006

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