Nota 8,0 Esta é mais uma história de uma criança amadurecendo diante dos percalços da vida
Como é agradável quando encontramos algum filme que estava encostado na
locadora ou começamos a assistir na TV sem grandes pretensões e no final das
contas temos uma boa surpresa. É curioso, mas muitas produções com elenco
famoso e sucesso nos cinemas não chegam aos pés de outras que são lançadas
diretamente em DVD. Esse é o caso de A Bola da Vez, uma deliciosa
comédia com toques dramáticos pouco conhecida e cujo único nome relevante entre
os atores é o de Helena Bonham Carter, que quando não atua em algum filme do
marido Tim Burton dá a oportunidade do público conhecer suas verdadeiras
feições, evitando o uso de maquiagens e figurinos espalhafatosos. Aqui todo o
elenco manda muito bem, mas quem rouba a cena é o ator-mirim Gregg Sulkin com
um personagem que sofre com problemas comuns aos garotos de sua faixa etária,
mas digamos que ele tem um dilema um tanto particular a resolver. O roteiro de
Bridget O’Connor e Peter Starughan, mesma dupla que anos mais tarde concorreria
ao Oscar pelo texto de O Espião que Sabia Demais, procura retratar o
clima de euforia que contagiava a Inglaterra em 1966, ano em que ela sediava os
jogos da Copa do Mundo. No entanto, pelo menos um habitante do país não está
ligando para o evento esportivo, pois está muito mais ocupado em pensar em algo
que marcará sua vida. Bernie Reubens (Sulkin) é um garoto judeu que não é feliz
totalmente. Ele não é popular na escola, é ofuscado pelo irmão mais velho,
Alvie (Ben Newton), e seus pais, Manny (Eddie Marsan) e Esther (Carter) também
parecem não ter muita consideração por ele. Todavia, ele acredita que tudo será
diferente em pouco tempo, assim que ele comemorar o seu Bar Mitzvah, uma tradição
judaica que marca a transição dos garotos para a vida adulta. O jovem estava animado
com seu ritual de passagem acreditando que tendo o direito de assumir suas responsabilidades
e atos finalmente receberia o respeito e notoriedade que merecia. Contudo, em
meio a empolgação de organizar casa detalhe da festa, uma notícia lhe chega aos
ouvidos como uma verdadeira bomba: a data da comemoração coincide com a final do
campeonato de futebol.
Se a Inglaterra se classificasse para o último jogo iria por água abaixo
o grande dia de Bernie, pois todas as atenções estariam voltadas para o evento
esportivo. Por se tratar de uma comemoração religiosa, o Bar Mitzvah não pode
ser realizado em data diferente do aniversário e então o garoto inocentemente começa
a tentar buscar o máximo possível de informações sobre futebol para compreender
melhor os jogos e as estatísticas para assim descobrir quais as reais chances
de seu país vencer o campeonato. Além de torcer contra sua pátria enquanto
todos a sua volta vibram e içam bandeiras nas janelas, Bernie ainda terá que
lidar com outros infortúnios pelos quais sua família passa, fatos que pouco a
pouco vão minguando a grandiosa festa que ele sonhava em ter seguindo as
tradições judaicas de proporcionar comemorações suntuosas para apresentar seus
herdeiros à sociedade. O diretor Paul Weiland, de O Melhor Amigo da Noiva,
consegue equilibrar seu trabalho perfeitamente entre momentos de humor lacônico
e outros de drama leve através de diálogos e situações bem construídos e de
quebra ainda dá uma pincelada singela sobre fatos históricos que dependendo do
ponto de vista podem não ser tão importantes, mas sem dúvida dão um charme a
mais à obra principalmente quando são inseridos vídeos de arquivos dos jogos da
época. Podemos dizer que no fundo este trabalho é uma versão diferenciada de um
viés corriqueiro em filmes de guerra. Aqui temos mais uma criança amadurecendo,
mesmo que a força, diante dos fatos que a vida lhe expõe e tendo como pano de
fundo um fato histórico. Divertido e emocionante, A Bola da Vez é
recomendado para todas as idades, mas é bem interessante para aqueles que
sempre querem que as coisas sejam ou aconteçam de acordo com suas vontades, ou
seja, perfeito para formar o caráter de crianças que já dão sinais de soberba
extrema, embora muitos adultos ainda precisem aprender a baixar a bola. Como
fica claro no final, às vezes menos é mais.
Comédia - 93 min - 2006
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