Nota 7,0 Produção com tom popular mostra que o cinema argentino quer vencer barreiras
Para quem ainda pensa que o
cinema latino sobrevive de produções pobres e que se dedicam a mostrar uma
realidade tão paupérrima quanto seus próprios orçamentos, é preciso rever seus
conceitos. Há muitas produções que se não fosse pelo detalhe do idioma
passariam tranquilamente como um filme americano do tipo independente. O cinema
argentino tem se destacado nesse cenário e explorando diversos gêneros. Não
é Você, Sou Eu é uma despretensiosa comédia do diretor Juan
Taratuto, então estreando no cargo, que agrada com seu texto rápido e repleto
de boas piadas. Sua estética é simples e algumas situações lembram a clichês de
comédias norte-americanas, porém, o teor do humor é bem mais leve e não deixa
ninguém ruborizado com piadas de mau gosto ou escatológicas. A história criada
pelo próprio diretor em parceria com Cecília Dopazo gira em torno do cirurgião
Javier (Diego Peretti) que mesmo estando na casa dos trinta anos de idade ainda
não consegue deixar de levar a vida como um adolescente sonhador. Ele é muito
apaixonado por María (Soledad Villamil) e acaba fazendo um casamento às pressas
simplesmente para que a moça possa fazer uma viagem para os EUA. Ela foi na
frente para ir se ajeitando e tentar algum trabalho. Enquanto isso, seu marido
ficou em sua terra natal se desdobrando para conseguir dinheiro para viajar
também e poder dar a ela uma vida com tudo o que há de bom e de melhor. Depois
que vende até seu próprio apartamento e já está de malas prontas, Javier tem
uma grande decepção. María o troca por outro e o mundo do rapaz desaba, mas
mesmo assim ele não consegue tirá-la da cabeça. A partir de então, ele precisa
passar por um processo de amadurecimento forçado e procura alternativas para
esquecer sua paixão. Procura a terapia, tenta encontrar uma nova garota e até
busca a companhia de um cachorro. É justamente por causa do bichano que ele acaba
conhecendo Julia (Cecilia Dopazo), funcionária de um pet shop, a garota que
pode lhe ajudar a esquecer as mágoas e amadurecer. O relacionamento que começa
com desentendimentos acaba se transformando em algo positivo para estas duas
pessoas solitárias.
Reciclando fórmulas manjadas
das comédias românticas, o cineasta conseguiu uma forma fácil de aproximar sua
obra do espectador, mas não dá crítica. Certamente os especialistas em cinema
devem odiar esta produção ou achar no máximo bonitinha, pois para a maioria dos
intelectos o cinema estrangeiro (entenda-se fora dos EUA) deve ser algo sublime
e cheio de mensagens subliminares e a aproximação de um estilo comum no
mundo todo seria uma tremenda perda de tempo. O fato é que Taratuto nos oferece
uma história batida, porém, com a qual todos podemos nos identificar. De
qualquer forma ele até tenta inovar ao centrar seu enredo no personagem
masculino, aprofundando-se em seu mundo e sentimentos. Muito bem interpretado
por Peretti, o protagonista passa por uma viagem de autoconhecimento até
perceber que ele não teve culpa do fim de seu relacionamento. Até ter
consciência disso e que haveria outra pessoa no mundo que o amasse do jeito que
ele era, o rapaz passa por muitas situações divertidas que devem fazer o
espectador dar boas risadas. O encontro frustrado com a colega de escola, a
conversa com uma secretária eletrônica de uma moça que declaradamente não o
queria por mais de uma noite, a distração na hora de fazer seu trabalho e a
adaptação em conviver com um grande cachorro levando fé no ditado popular que
afirma que o cão é o melhor amigo do homem. Estas são apenas algumas
das situações totalmente verossímeis, divertidas e cotidianas pelas quais
ele passa. Sem florear muito as coisas ou contar com um momento avassalador ou
inesperado, Não é Você, Sou Eu é uma simplória comédia
romântica que tem tudo para agradar quem gosta de boas histórias humanas, mas
sem aquele verniz que atrai intelectuais e espanta os espectadores mais
simples. É o cinema argentino mostrando que pode ultrapassar fronteiras e ser
ofertado em todo o mundo de forma comercial.
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