Nota 6,0 Na onda da valorização de talentos veteranos, longa se apóia em carisma dos protagonistas
A arte como ferramenta para
educar, entreter e até mesmo dar sentido para a vida é um tema corriqueiro no
cinema e a música se encaixa perfeitamente nessa vertente. Geralmente o tema é
associado à educação de crianças e adolescentes, mas como o mundo está
envelhecendo a temática também se aplica para ajudar os idosos a permanecerem
ativos na sociedade. Se dedicar ao artesanato, à escrita ou a música são
atividades que implicam no objetivo da superação, assim tornam-se grandes
aliadas da terceira idade trazendo benefícios para a auto-estima e qualidade de
vida dessas pessoas que, em geral, vivem seus últimos anos de forma melancólica
seja pela solidão, marcas de um passado sofrido ou acometidas por doenças. Este
último problema é o caso da personagem-título do drama Canção Para Marion interpretada
com sensibilidade ímpar pela veterana Vanessa Redgrave. Batatas fritas e
sorvetes. Esta é a recomendação da médica para esta senhora que ama a vida, mas
sofre com um agressivo câncer que já não tem mais possibilidades de cura. Em
outras palavras, ela estava liberada para fazer o que quisesse com o tempo de
vida que lhe resta e decide então se dedicar ao que mais lhe dá prazer: cantar.
Ela passa a fazer parte do coral de um clube da terceira idade e é incentivada
pela animada regente Elizabeth (Gemma Arterton), uma jovem que encoraja seus
maduros pupilos a não se intimidarem e mostrar à sociedade que podem e devem se
divertir cantando e dançando. Contudo, mesmo sabendo que tal atividade devolveu
a alegria à sua esposa em um momento tão difícil, o fechado e rabugento Arthur
(Terence Stamp) se opõe a tal exposição. Ele a acompanha nos ensaios, mas a
espera fora da sala de aula e sempre faz questão de ser arredio com os outros
velhinhos do coral que, ao contrário dele, esbanjam simpatia. A forma como o
roteirista e diretor Paul Andrew Williams conduz a trama não deixa brecha para
surpresas. Embora bastante previsível, não deixa de ser agradável acompanhar a
rotina deste casal, o típico caso dos opostos que se atraem.
Apesar do título destacar uma
personagem feminina, quem protagoniza este longa é um homem. O grande mote do
roteiro é apresentar a jornada de transformação de Arthur. Inicialmente
ranzinza, porém, dedicado ao máximo para oferecer bem estar à esposa, pouco a
pouco ele muda seu comportamento conforme vivencia algumas situações que lhe
exigem sabedoria, paciência e espírito de solidariedade, incluindo a
reaproximação com o filho James (Christopher Eccleston). O motivo de uma relação
estremecida entre eles não é revelado, mas pelo comportamento deduzimos que
Arthur foi um pai ausente. A música se faz presente pontuando a transformação
deste homem que aprende a não ter medo de expor seus sentimentos, medos e
vontades, contudo, a mudança não é do tipo da água para o vinho. Ele cede um
pouco para realizar uma vontade da esposa, porém, no fundo ainda mantém suas
características que em um primeiro momento causa estranhamento ao espectador
que demora um pouco a criar um vínculo com o personagem. Stamp e Redgrave,
embora ela com participação relativamente curta, mas essencial ao enredo, são o
grande trunfo da produção. Ele consegue demonstrar uma emoção contida no olhar
enquanto ela extravasa seus sentimentos em meio a espasmos por conta de sua
debilidade. Suas atuações emocionam e provam que os atores maduros podem sim
encabeçar um elenco, um movimento ainda tímido, mas que já tem alguns expoentes
como Elsa e Fred e O Quarteto. Aliás, com esse último, Canção Para Marion guarda certa semelhança.
Ambos usam a música como pano de fundo para abordar como a terceira idade tem
importância e pode ser perfeitamente incluída na sociedade contemporânea.
Foi-se o tempo em que para um velhinho ficar esperando a morte chegar era a
única opção. Há muito que se produzir e oferecer, mesmo com dificuldades
físicas. A alma não envelhece e pede para ser ouvida, representada.
Drama - 93 min - 2014
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