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sábado, 13 de abril de 2019

CANÇÃO PARA MARION

Nota 6,0 Na onda da valorização de talentos veteranos, longa se apóia em carisma dos protagonistas

A arte como ferramenta para educar, entreter e até mesmo dar sentido para a vida é um tema corriqueiro no cinema e a música se encaixa perfeitamente nessa vertente. Geralmente o tema é associado à educação de crianças e adolescentes, mas como o mundo está envelhecendo a temática também se aplica para ajudar os idosos a permanecerem ativos na sociedade. Se dedicar ao artesanato, à escrita ou a música são atividades que implicam no objetivo da superação, assim tornam-se grandes aliadas da terceira idade trazendo benefícios para a auto-estima e qualidade de vida dessas pessoas que, em geral, vivem seus últimos anos de forma melancólica seja pela solidão, marcas de um passado sofrido ou acometidas por doenças. Este último problema é o caso da personagem-título do drama  Canção Para Marion interpretada com sensibilidade ímpar pela veterana Vanessa Redgrave. Batatas fritas e sorvetes. Esta é a recomendação da médica para esta senhora que ama a vida, mas sofre com um agressivo câncer que já não tem mais possibilidades de cura. Em outras palavras, ela estava liberada para fazer o que quisesse com o tempo de vida que lhe resta e decide então se dedicar ao que mais lhe dá prazer: cantar. Ela passa a fazer parte do coral de um clube da terceira idade e é incentivada pela animada regente Elizabeth (Gemma Arterton), uma jovem que encoraja seus maduros pupilos a não se intimidarem e mostrar à sociedade que podem e devem se divertir cantando e dançando. Contudo, mesmo sabendo que tal atividade devolveu a alegria à sua esposa em um momento tão difícil, o fechado e rabugento Arthur (Terence Stamp) se opõe a tal exposição. Ele a acompanha nos ensaios, mas a espera fora da sala de aula e sempre faz questão de ser arredio com os outros velhinhos do coral que, ao contrário dele, esbanjam simpatia. A forma como o roteirista e diretor Paul Andrew Williams conduz a trama não deixa brecha para surpresas. Embora bastante previsível, não deixa de ser agradável acompanhar a rotina deste casal, o típico caso dos opostos que se atraem.

Apesar do título destacar uma personagem feminina, quem protagoniza este longa é um homem. O grande mote do roteiro é apresentar a jornada de transformação de Arthur. Inicialmente ranzinza, porém, dedicado ao máximo para oferecer bem estar à esposa, pouco a pouco ele muda seu comportamento conforme vivencia algumas situações que lhe exigem sabedoria, paciência e espírito de solidariedade, incluindo a reaproximação com o filho James (Christopher Eccleston). O motivo de uma relação estremecida entre eles não é revelado, mas pelo comportamento deduzimos que Arthur foi um pai ausente. A música se faz presente pontuando a transformação deste homem que aprende a não ter medo de expor seus sentimentos, medos e vontades, contudo, a mudança não é do tipo da água para o vinho. Ele cede um pouco para realizar uma vontade da esposa, porém, no fundo ainda mantém suas características que em um primeiro momento causa estranhamento ao espectador que demora um pouco a criar um vínculo com o personagem. Stamp e Redgrave, embora ela com participação relativamente curta, mas essencial ao enredo, são o grande trunfo da produção. Ele consegue demonstrar uma emoção contida no olhar enquanto ela extravasa seus sentimentos em meio a espasmos por conta de sua debilidade. Suas atuações emocionam e provam que os atores maduros podem sim encabeçar um elenco, um movimento ainda tímido, mas que já tem alguns expoentes como Elsa e Fred e O Quarteto. Aliás, com esse último, Canção Para Marion guarda certa semelhança. Ambos usam a música como pano de fundo para abordar como a terceira idade tem importância e pode ser perfeitamente incluída na sociedade contemporânea. Foi-se o tempo em que para um velhinho ficar esperando a morte chegar era a única opção. Há muito que se produzir e oferecer, mesmo com dificuldades físicas. A alma não envelhece e pede para ser ouvida, representada.

Drama - 93 min - 2014
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