domingo, 21 de agosto de 2022

MAIS DO QUE VOCÊ IMAGINA


Nota 5,0 Comédia é correta e simpática, mas fora de seu tempo com suas situações ultrapassadas


Quando você decide assistir a uma comédia romântica automaticamente já compra a ideia de um final feliz e é justamente isso o que procura. A receita é praticamente sempre a mesma. Troca-se alguns elementos aqui ou acolá, adiciona uma dose de ação ou drama, mas o gênero sobrevive sobre alicerces inabaláveis tendo que obrigatoriamente ter um casal simpático e bonito para torcermos para que fiquem juntos no final. Mais do Que Você Imagina passa longe da pretensão de revitalizar esse tipo de produção, mas consegue fazer um razoável casamento entre humor e uma trama de espionagem, porém, ao término fica a estranha sensação de nostalgia. O longa escrito e dirigido por George Gallo, de O Mestre da Vida, tem um quê de lembranças de filmes produzidos nos anos 1980 e início da década seguinte e por pouco não conseguimos ouvir o chiar dos cabeçotes do videocassete durante a projeção, mas isso não é necessariamente um problema. 

A fita simplesmente se resume a uma história um tanto ingênua, previsível e datada, um passatempo ligeiro que certamente bombaria nos áureos tempos de sessões de filmes a tarde na TV. O filme começa com a despedida de Henry Durand (Colin Hanks), um jovem agente do FBI que está saindo de casa para morar e trabalhar em outra cidade e, seguindo o protocolo da profissão, deve manter sigilo absoluto sobre suas atividades de agora em diante, assim não pode nem mesmo manter contato som sua própria mãe. Marta (Meg Ryan) vive infeliz desde a morte do marido, um fora-da-lei com quem não viveu um casamento de sonhos, e acabou se entregando aos vícios do cigarro, bebidas e guloseimas, tornando-se uma mulher obesa, de aspecto fatigado e sem vaidade alguma. Não à toa ela chega a ser confundida com uma mendiga. Três anos se passam e finalmente Durand pode voltar para a casa da mamãe, agora trazendo a tiracolo a sua noiva, Emily (Selma Blair), também metida com missões de espionagem. Embora não soubesse da novidade, Marta não se espanta, ao contrário, ela mesma é quem surpreende o filho. 


Após ganhar um bom dinheiro investindo na bolsa de valores, a cinquentona decidiu mudar sua rotina radicalmente, passou por algumas plásticas para ficar gostosona e decidiu curtir a vida sem medo de ser feliz colecionando paqueras, principalmente flertes com garotões com idade para serem seus filhos. Até o nome ela mudou para Marty, algo mais apropriado para essa sua nova fase. Cheia de energia e libido, Durand concorda que a mãe deve e merece ser feliz, mas não tolera seu jeito despudorado atual. O bicho pega quando eles conhecem por acaso Tommy Lucero (Antonio Banderas), um sujeito misterioso, porém, muito sedutor e que imediatamente conquista a viúva recauchutada. Seria apenas mais um caso para a coleção de conquistas dela, isso se o filho não fosse obrigado a investigar o tal homem por suspeita de envolvimento com uma quadrilha especializada no roubo de obras de arte. 

Sem poder contar sobre a missão nem mesmo para a esposa, o rapaz acaba se metendo em situações constrangedoras já que passa a vigiar sua mãe, compartilhando de momentos da intimidade dela principalmente por intermédio de microfones ocultos. Daí por diante dá-lhe confusões, mal-entendidos e soluções rocambolescas para dar finais felizes tanto para a trama romântica quanto para a policial. Explorando personagens caricatos, o filme ao menos tem a seu favor o fato de fugir da escatologia e do humor físico, mas nem por isso abre mão das piadas previsíveis. Sabendo de antemão que o happy end está garantido, só nos resta a diversão de ver como as situações se desenrolam, porém, Gallo mostra-se preguiçoso aparentemente apoiando-se na fama e carisma de Banderas e Ryan. É certo que há anos ambos não emplacavam alguma produção relevante, mas ainda eram nomes de apelo junto ao público, no entanto, a fita não agradou aos produtores e nos EUA foi lançada diretamente para consumo doméstico. No Brasil houve uma modesta passagem nos cinemas, ainda que fosse uma produção acima da média para o gênero carente de criatividade. 


Felizmente, o artifício de transformar a bela loira de olhos claríssimos em um tribufu não foi usado como chamariz, até porque os enchimentos das roupas não enganam ninguém. Sua versão acabadona fica na tela por uns cinco minutos, tempo suficiente para compreendermos os sentimentos da personagem e justificar sua guinada de vida. A relação de Marty com seu amante latino, papel que é uma especialidade de Banderas, é bem desenvolvida, porém, Mais do Que Você Imagina mergulha na paranoia de Durand e esquece que ele tem uma esposa, assim mais uma vez o talento de Blair é desperdiçado em um papel dispensável. Para quem gosto de açúcar em doses generosas, talvez não seja a melhor opção. Já para aqueles saturados de filmes de espionagem, pode agradar trepudiando em cima de situações como as do filho ouvindo a própria mãe susurrando gemidos libidinosos. Faz parte do trabalho investigativo neste caso, diga-se de passagem, um tanto vexatório. 

Comédia romântica - 97 min - 2008

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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